Ética e manipulação da imagem no fotojornalismo digital



O fotojornalismo é caracterizado como sendo uma parte da fotografia na qual a informação é transmitida ao público por meio da imagem fotográfica, de maneira clara e objetiva. Por meio de tal ciência a fotografia é capaz de transmitir informações devido ao enquadramento utilizado pelo fotógrafo diante do fato. Assim, a imagem é fundamental aos meios de comunicação por servir como complemento para os textos das matérias jornalísticas.

A fotografia jornalística é dividida em gêneros. Dentre esses, destaca-se a fotografia social (com imagens sobre política, economia e acontecimentos gerais), a fotografia esportiva (que deve conter várias informações), a fotografia cultural (que chama atenção para a notícia em destaque) e a fotografia policial (relacionada a imagens de combate, repressão policial, crimes, mortes).

Existe uma polêmica em relação à fotografia gerada em torno dos conceitos de tratamento e manipulação de imagem que, geralmente, são confundidos. O tratamento de uma fotografia consiste em melhorar a qualidade da imagem por meio da tecnologia, a qual permite que pontos escuros sejam clareados, alterar a saturação das cores e fazer mudanças no brilho. Porém, o conteúdo não é modificado, isto é, a mensagem transmitida pela imagem não é alterada. Já a manipulação consiste em interferir na realidade dos fatos, em que elementos podem ser acrescentados ou excluídos fazendo com que o real vire ficção ou uma ficção vire realidade. No fotojornalismo, a manipulação de imagem é condenável no ponto de vista da ética, justamente por distorcer a realidade e não apresentar todos os fatos em precisão.

A manipulação da imagem ocorre antes da era digital, com a alteração dos negativos das máquinas analógicas. Com a tecnologia digital, a percepção da manipulação da imagem torna-se mais complicada, justamente por não existir os negativos e, conseqüentemente, provar as alterações na imagem é mais difícil. "Até mesmo a questão da propriedade intelectual e a questão do controle econômico sobre a imagem digital se tornam problemáticas, pois não existem negativos" (SOUSA, Jorge Pedro. História Crítica do Fotojornalismo Ocidental, 2000, p. 216).

O livro Les commissariat aux archives – Les photos qui falsifient l´histoire (O Comissário para Arquivos - Imagens que falsificaram a história), do jornalista e escritor Alain Jaubert, retrata que muitos políticos utilizaram a manipulação fotográfica para omitir dados sobre a realidade social e política do país que governavam e assumirem posição de dominação perante a população. "O personagem que aparece ao fundo é Tibor Samuelli, enviado especial do governo revolucionário húngaro de Bela Kun, que foi à Moscou pedir ajuda ao jovem poder soviético. Para eliminar qualquer alusão a uma possível internacionalização da revolução bolchevique, o estrangeiro foi apagado da fotografia, para conferir maior poder a Lênin", afirmou o jornalista em seu livro publicado no ano de 1984, p.19.

No jornalismo é comum à manipulação de imagens, mesmo que tal ação contradiga o Código de Ética do Jornalismo, como forma de omitir uma informação que chocaria a população ou para fazer sensacionalismo e resultar em maiores vendas nos veículos impressos. "Sim, até as fotografias mentem. Basta haver um mentiroso atrás da câmara fotográfica. E uma mentira jornalística, no Líbano como por cá, pode ser mais letal que um bombardeamento", retratou o jornalista do Jornal de Notícias Manuel António Pina em relação à manipulação digital das fotografias referentes ao bombardeamento de Beirute pela Força Aérea de Israel.

No Brasil os métodos de controle dos processos de manipulação de imagem ainda são menos eficazes que no exterior. Para evitar a alteração parcial ou total do conteúdo da matéria ocasionado pelas imagens digitais, jornais como "O Globo e Folha de S. Paulo", elaboraram normas de edição interna que previna tais acontecimentos. "Em geral, a Folha não usa montagens fotográficas, fotos recortadas, invertidas, retocadas, ovais ou redondas" (MANUAL DA FOLHA DE S. PAULO. 8a edição).

No ponto de vista da Ética do Jornalismo, a manipulação da imagem é inaceitável, pois ao se alterar uma fotografia o jornalista não está fornecendo todos dados à população, ou seja, não exerce seu papel de difusor da verdade. Porém, com a influência do sistema capitalista nos meios de comunicação de massa, tal processo ocorre com freqüência, pois os proprietários dos veículos de comunicação dão prioridade aos lucros gerados com as vendas de uma imagem manipulada ao priorizarem um jornalismo ético e verdadeiro.

(Mariana Tannous Dias Batista)


Autor: Mariana Tannous Dias Batista


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