Renné Descartes - O Método



O objetivo desde trabalho é analisar o ponto de vista do pensamento de René Descartes e suas afirmações diante de seus métodos, apoiando-se nos conceitos que ele mesmo introduziu e que até hoje são a fundo analisados. Penso, logo existo. Uma frase na qual toda humanidade se inspira e confirma, mesmo que de uma forma ‘duvidosa’, as análises diante disso, pois não existiu no mundo ainda, outro ser - humano que conseguiu contrapor essa ideia, a qual também é tratada neste trabalho. Em sua obra Discurso do Método, escrita em 1637, percebe-se que Descartes é um filósofo matemático, sistemático, claro e distinto, e que acima de tudo procura manter sua filosofia concreta e positiva. Descartes desenvolveu uma ciência prática através de seu método matemático e racionalista, e que hoje é algo universal. Seu estilo pessoal mistura sentenças de caráter universal, que dentro da lógica, confirma sua validade, a partir de suas racionais experiências pessoais. Vamos analisar com mais detalhes a crise que se estabeleceu em sua época, o próprio método de Descartes, as explicações sobre o cogito, o inatismo do ser - humano, o dualismo que é estabelecido entre o corpo e o espírito, a questão que envolve e confirma a existência de Deus em suas teorias, e ainda a subjetividade em Descartes. De família burguesa, Descartes nasceu em La Haye, na França, em março de 1596. Já em 1628, decidiu se isolar na Holanda com a intenção de adquirir a tranqüilidade que precisava para escrever suas obras. Formou-se em direito, porém nunca exerceu a profissão, teve então contato com o matemático Isaac Beeckman que lhe inspirou para desenvolver a geometria analítica, desenvolvendo então, os eixos cartesianos. Descartes escreveu sobre vários assuntos, entre eles, sobre a fisiologia e anatomia humana e animal, astronomia, física, porém sua grande habilidade foi a matemática. Já em Estocolmo, na Suécia,1659, Descartes foi convidado pela rainha Cristina a estabelecer uma Academia de Ciências, e faleceu no ano de 1660, pois não gozava de uma boa saúde e o inverno do local não foi suportável. “A matemática é a ciência da ordem e a medida, de belas correntes de raciocínios, todos singelos e fáceis." DESCARTES.

1. A Crise

Descartes dá início a uma transformação que atinge uma crise de seu próprio pensamento. Essa crise se forma pela maneira que ele lida primeiramente com a matemática, impossibilitando qualquer tipo de controvérsia sobre isso, e que faz com que a filosofia seja, a partir de então, um modelo de pensamento visto não mais como uma forma de vida, mas como um sistema muito mais complexo do que um simples pensar, sendo a ciência que neste momento passa a agir, e que tudo deveria se apoiar nela.

Já a física e a metafísica, colocam como principal questão justamente a questão do conhecimento humano.

Na filosofia ocidental, um dos maiores ideais era a busca da verdade, e vários filósofos acreditavam que o abandono desse ideal poderia causar uma destruição dentro da cultura da época. Porém, esse ideal foi questionado já pelos primeiro filósofos, logo nos tempos mais antigos de que se têm relatos, inclusive por céticos e relativistas.

Contudo, o projeto de Descartes mostra o grande esforço que o espírito humano pôde alcançar para realizar a tarefa da busca da verdade. Entretanto, toda dedicação de Descartes foi, e é entendida até hoje, como uma forte reação que deu inicio ao ceticismo, que ocorre durante a profunda crise intelectual e espiritual que abalou a Europa entre os séculos XVI e XVII.

Diante de tantas transformações dessa época, Descartes formula as grandes inovações no campo da matemática com a álgebra e a geometria, encara todos os desafios céticos colocando o ceticismo contra si mesmo (o próprio ceticismo), e prova ainda que as certezas nascem do exercício de duvidar.

Sua obra Discurso do Método pode ser analisada como uma reflexão de seu tempo através de uma posição específica frente a uma crise que, a partir de Descartes, lançou uma nova maneira de olhar o mundo e sua realidade.

"Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis." DESCARTES.

2. O Método – Dúvida Metódica

O Método de Descartes se baseia em duvidar de tudo que existe, e não aceitar jamais opiniões ou afirmações sem que exista para isso um fator que o leve a ter certeza de sua verdade, de uma verdade que não exista nenhuma 'ponta' de insegurança e que esta seja devidamente conclusiva e provada para que se torne universal.

Para isso, Descartes elabora um processo pelo qual pode-se explicar exatamente todos os passos para estruturar uma dúvida. O primeiro passo é colocar em ordem os pensamentos e ideias das coisas mais simples para gradativamente chegar às coisas mais complexas, evidenciando-as; em seguida Descartes afirma que devemos analisar cada parte, cada detalhe dessas ideias, dividindo-as em quantas partes forem necessárias para que possamos entende-las; reordenar todas essas partes, começando da parte mais simples até se conduzir à mais complexa delas, com a intenção de entende-las como um todo, trabalhando isso como um síntese ao pé da letra; após feito todo esse processo, deve-se então, partir para o processo de enumeração, onde devem-se ser enumerados e registrados todos os detalhes para se concluir e verificar que nenhum detalhe foi omitido.

Sendo a dúvida metódica o único método possível do conhecimento humano, Descartes afirma que o fato de duvidar é menos perfeito que o fato de conhecer algo.

"Para examinar a verdade, é necessário, uma vez na vida, colocar todas as coisas em dúvida o máximo possível." DESCARTES.       

3. O Cogito

Descartes em certo momento de sua vida chega a duvidar de si mesmo, inclusive de que realmente existe, porém, Descartes elabora um pensamento que comprova que se ele havia de pensar, isto significa que havia de existir, pois se existe, este está condicionado à pensar, e portanto, se pensa, logo existe.

Colocou em dúvida todo conhecimento humano, mas não se considerava cético, apenas afirmou que se apoiava na ideia do ceticismo para que pudesse concluir seus pensamentos. Com isso, a única coisa que conseguiu concluir, é que jamais poderia duvidar de que podia duvidar, ou seja, a única certeza que tinha, era justamente a de que podia ele, duvidar. Podendo-se duvidar, a outra certeza que ele alcançou era a de que consequentemente ele pensava, concluindo então que, as únicas duas certezas que existia era a de que o ser - humano podia pensar e existir, e, portanto, se existia, pensava, e se pensava, existia, pois, se duvido é porque eu penso, e se eu penso, é porque existo, sendo esta a única afirmação de que não se pode jamais duvidar.

E a partir dessa análise, deu-se origem à tão famosa frase por ele intitulada, 'Penso, logo existo' (Cogito, ergo sum). 

"Mas o que eu sou então? Uma coisa que pensa. E o que é uma coisa que pensa?" DESCARTES.

4. O Inatismo

Descartes afirma ainda que, o ser – humano possui ideias inatas, e essa ideias são aquelas que já nascem junto de cada pessoa, e que são colocadas em nós como uma 'marca' que nos transmite ao pensamento de que somos imagem refletida e semelhante do Ser maior que criou o mundo. Essas ideias são claras e distintas, ou seja, não são inventadas, implantadas e muito menos aprendidas através das experiências vividas no decorrer da vida, seja em qual época for, são ideias que temos o livre arbítrio de poder pensar ou não pensar, mas que se encontram no profundo de nossos pensamentos, e que como o próprio Descartes diz, essas ideias apesar de ainda não existirem fora do pensamento, também não podem ser inventadas pelo próprio ser - humano.

"Não há nada que dominemos inteiramente a não ser os nossos pensamentos." DESCARTES.

5. O Dualismo

Descartes coloca um a importante aspecto de seu pensamento, que consiste no dualismo do ser - humano, e que se divide em corpo, sendo este a matéria, o que pode ser cientificamente explicado e ser explicado ainda como coisa pensada, ou seja, aquilo que é inerente ao ato de pensar; e o espírito, este que se dá como o ser pensante, aquilo que constituiu o ser pensado e que sem ele nada existiria, o que é afirmado como primeira verdade.

Todas as coisas que não é o ser pensante, Descartes trata como res extensa, ou seja, toda a matéria do mundo; e o ser pensante é justamente tratado por ele como res cogitans.

Essas duas substancias só se encontram em perfeita união no ser - humano, e daí nasce a dualidade para Descartes, pois a mente é dependente do corpo, e o corpo por sua vez é algo extremamente perfeito e que já existe muito antes da mente entender que seu funcionamento existe. É nesse momento que Descartes estuda o 'funcionamento mecânico' de corpos de animais, dilacerando-os e aplicando nesses estudos todos os seus métodos.

O que Descartes coloca como sujeito do conhecimento só seria abandonada pelo empirismo, em especial, depois de Kant. Descartes confia ainda, na capacidade da razão como a única possibilidade capaz de conhecer, e descarta por sua vez, todo e qualquer conhecimento que advenha do sensível, contrapondo assim, toda ideia de Platão.

Pensar sobre Descartes é pensar justamente sobre nossa condição atual, pois hoje a ciência apesar de aceitar outras abordagens, o senso - comum ainda permanece dentro de um dualismo não totalmente explicado, mas porém fixo, que nos utiliza como instrumento de controle em uma sociedade que ainda insiste em nos fragmentar.

"Não é bastante ter espírito lúcido, mas o principal é aplicá-lo bem." DESCARTES.

6. A Questão de Deus

Descartes concluiu a existência de Deus analisando que a própria dúvida não advém de si mesmo, mas que foi 'colocada' no ser - humano, e a única forma de se explicar essa evidencia, é afirmando que Deus então, existe, pois esse Deus é a única garantia de que o ser - humano pensa, e consequentemente, que existe, porém, Deus só existe porque é pensado pelo ser - humano, e é garantia de tudo que é claro, distinto e inato.

Este Ser, Deus, como sendo algo de inigualável perfeição, é portanto, bom e verdadeiro.

Deus criou o ser - humano e junto o livre - arbítrio de aceitar ou não suas verdades mesmo diante de suas mais claras evidencias.

 Ao não possuirmos um conhecimento direto que nos separa da dúvida como método, o que resta então é, ter a ideia da perfeição somente se existisse uma natureza mais perfeita e que estivesse acima do ser – humano. Essa natureza, portanto, é Deus. Pois, Descartes acreditava que além dele mesmo, haveria de existir outras coisas, confirmando então, a existência de um Ser maior como uma realidade objetiva.

"E é evidente que repugna tanto pensar que a falsidade ou a imperfeição procedem de Deus, quanto admitir que a verdade e a perfeição procedem do nada." DESCARTES.

7. O Paradigma da Subjetividade

Descartes inicia, então, uma filosofia que coloca o sujeito como ponto fundamental, passando a ser considerado pelo próprio pensamento (cogito), como aquele que reflete sobre si mesmo, e portanto, essa subjetividade é seu fundamento metafísico. O ser - humano, então, passa a ser visto como sujeito do cogito.

Já a substância não se predica do sujeito, e também não está contido nele, porém as substancias segundas são as espécies contidas nessa primeira explicação de substancia, como por exemplo, um indivíduo que faz parte de uma espécie chamada ser - humano, lembrando que isto é apenas um exemplo, pois não se aplica somente aos seres - humanos.

Para Descartes, o termo sujeito existe para especificar as substancias materiais, as substancias incorpóreas, e para dar suporte aos pensamentos, e é a partir disso que ele passa a ser considerado o preceptor da filosofia da subjetividade, desenvolvendo assim, uma grande revolução do pensamento, marcando uma nova época histórica do pensamento filosófico, o qual se estende até os dias atuais sendo ainda muito analisado.

Compreende ainda que afirmar algo cientificamente deve-se afastar-se de todos os conhecimentos mais próximos, opiniões, e reiniciar tudo novamente apoiando-se em métodos.

Para realizar esse processo e encontrar um princípio concreto como base do saber, Descartes se apóia no que podemos entender como "fingir", que todas as coisas que o ser - humano sabe, foi colocado no espírito e que são ilusões. Com isso, percebeu que sua ideia 'penso, logo existo' era a única coisa mais concreta que poderia pensar, ultrapassando inclusive o próprio ceticismo, e que à partir disso, poderia estabelecer esse pensamento como o ponto inicia de toda filosofia moderna.

Descartes percebe após essa afirmação que, além disso existe a certeza da existência do mundo externo à mente, e também a certeza do próprio corpo, dando então, a certeza da relação entre corpo e alma, constituindo um todo. Porém, o corpo humano, é para ele, uma máquina, assim como o corpo de um animal, mas existem diferenças entre essas máquinas, as quais ele estabelece uma a uma diante de seus métodos.

No entanto, para que o corpo ocupe o lugar de sujeito, apesar de manter o corpo e a alma num mesmo nível, Descartes afirma que é estritamente necessário que, de alguma maneira, tenha consciência de si mesmo, ou seja, que seja um Ser que pensa. Isso prova que o pensamento de Descartes afirma que o sujeito não precisa e não depende de coisas materiais, e nos permite afirmar que o ato de pensar e o ato de saber são inerentes somente ao ser - humano, e que nenhuma outra "máquina animal" é capaz de ter. 

"Desprende-te de todas as impressões dos sentidos e da imaginação, e não te fies senão da razão." DESCARTES.

8. Conclusão

Descartes inaugurou a maior revolução intelectual da história, e junto um novo paradigma introduzindo na filosofia um conjunto de problemas e conceitos que determinam o rumo da filosofia moderna e contemporânea.

Duvidou de todas as coisas para libertar-se por completo de toda dúvida, contudo, a descoberta da certeza nasce do exercício da própria dúvida.

O método de Descartes propõe provas que atacam a confiança que o ser - humano tem nas opiniões, mesmo que estas sejam apenas ingênuas confianças, dando espaço aos sentidos, à imaginação e a razão, pois não se pode ter certeza sobre os sentidos, já que eles podem nos oferecer impressões enganosas, como por exemplo, se tornar pequeno um grande objeto que está a distancia de nós.

Descartes apresenta no Discurso do Método duas importantes ideias, que são, a primeira os seres humanos como substancia pensante, e a segunda a matéria como sendo a própria extensão em movimento. É a partir dessas ideias que se da inicio ao dualismo cartesiano entre a mente e a matéria, e é graças à Descartes que hoje conseguimos analisar a mente e a matéria como coisas devidamente separadas e ao mesmo tempo tão próximas, presentes no universo em que vivemos.

Essas provas e as questões que se envolvem diante disso, oferecem lugar a inúmeras objeções, porém a busca do fundamento da Ciência, levou Descartes a inaugurar um novo princípio para as investigações filosóficas. A frase por ele instituída "penso, logo existo", ilustra o novo paradigma oferecido às questões enfrentadas até hoje pela filosofia, e o que prova explicitamente isso é o anticartesianismo aparente na filosofia contemporânea.

"Apenas desejo a tranqüilidade e o descanso, que são os bens que os mais poderosos reis da terra não podem conceder a quem os não pode tomar pelas suas próprias mãos." DESCARTES.

Bibliografia

DESCARTES, René, 1596-1650. Discurso do método; tradução Lourdes Nascimento Franco. São Paulo: Ícone, 2006.

KENNY, Anthony. O despertar da filosofia moderna, volume III. São Paulo: Loyola, 2009.

ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando, 3º edição. São Paulo: Moderna, 2007.


Autor: Priscila Figlie


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