Do que um ser humano precisa?
Wilson Correia*
Essa pergunta-título me chegou meio deslocada, em uma conversa sobre outro assunto, que não vem ao caso. Mas ela ficou solta apenas no e-mail, porque, na minha cabeça, martelou desde que a li, há três dias. Pois é! Do que o ser humano precisa?
Na filosofia existem algumas respostas. Sócrates e Platão entendiam que o ser humano precisa de sabedoria, substância da virtude e do humano numa pessoa. Aristóteles afirmou que o humano nasceu para a felicidade, na qual pode se realizar. Racionalistas vários firmam o cultivo da razão como caminho para a realização humana, diferentemente dos empiristas, os quais centram a experiência de viver no mundo a trilha para o humano fazer-se. Nietzsche identificou na vontade de potência a via para o humano fazer-se ao criar valores para além do bem e do mal cristalizados na cultura.
Na perspectiva sociológica, Marx apontou a busca da justiça como a verdadeira tarefa do humano no mundo. Em sua maioria, os liberais dão ênfase à liberdade individual como fundamento da humanização. Alguns positivistas não arredaram pé do entendimento de que o humano se encontra e se sente bem quando se adapta à realidade e ao "status quo", uma vez que a sociedade preestabelece aquilo de que uma pessoa necessita para se realizar.
Na ótica da psicologia, Freud enfatizou o prazer como condição de possibilidade à realização do homem e da mulher. Adler, discípulo e dissidente da psicanálise freudiana, afirmou que o ser humano nasceu para obter poder, sem o qual não é. Frankl foi um estudioso que defendeu a tese de que toda pessoa só se realiza plenamente quando encontra o motivo pelo qual vive, quando constrói um sentido para a própria vida, indo mais fundo em sua resposta sobre o que um ser humano precisa. De fato, como viver sem um "porquê"?
Ainda no campo da psicologia, Maslow teorizou que uma pessoa apresenta um conjunto de necessidades que vão das fisiológicas (comer, beber, dormir, fazer sexo...), passa pelas de segurança (física, social, psicológica), alcança as socioafetivas (de pertencimento a grupos humanos), requer as de 'status' e auto-estima (reconhecimento humano por seres humanos), indo se completar nas necessidades de auto-realização (quando a pessoa concilia aquilo que é e faz com o gostar daquilo que é e faz no mundo). Essas seriam algumas coisas de que o ser humano precisa para ser.
Mas talvez apenas uma delas não nos baste. Talvez seja necessário juntar todas num tudo-ao-mesmo-tempo-agora e entendê-las como um pacote sem o qual a pessoa não obtém aquilo com o que alcançar a estatura humana e cidadã.
De minha parte, além de reconhecer o valor e o significado de cada um desses bens a todos nós, estou consciente de que a justiça é um valor fundamental em tudo isso. Sem justiça fica complicado falar de liberdade. Suprimida a liberdade nenhum ser humano pode se sentir em paz, feliz e realizado, vivendo um sentido existencial.
Se assim é, que a verdade do que somos e podemos ser no mundo nos fortaleça nessa busca, sempre sabendo que "ser" humano não é algo dado, muito menos destino, mas uma obra a resultar da construção e da conquista de cada um de nós. Esse não se constitui, para nós, um instigante desafio?
Autor: Wilson Correia
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