Imprensa Alternativa



Jornalismo Alternativo


Denomina-se Jornalismo Alternativo a prática jornalística feita por veículos e instituições fora do campo da Mídia, e muitas vezes ele existe para cobrir fatos e informações ignoradas ou negligenciadas pela mídia hegemônica. O Jornalismo Alternativo pode ou não ser comercial. Também não obrigatoriamente, esta esfera do jornalismo está geralmente associada ao terceiro setor (como ONGs, institutos culturais e entidades filantrópicas).

Por se contrapor às pautas da mídia hegemônica e corporativa, o Jornalismo Alternativo é muitas vezes associado a ideologias e correntes políticas de esquerda. Em ocasiões mais raras, os veículos de imprensa alternativa podem escolher não defender uma ideologia ou outra e assumir posições neutras ou ambíguas.

No Brasil, os principais veículos (jornais e revistas) dedicados ao tema são os jornais de esquerda Brasil de Fato e Correio da Cidadania, além dos extintos Jornal da Cidadania, Opinião e Jornal da República.

Carta Maior e Brasil de Fato


O financiamento dos veículos da imprensa alternativa tem sido sempre uma das maiores dificuldades vividas pelos que têm a coragem de colocar na rua meios para divulgar informações confiáveis, que ouvem fontes diversificadas e dão destaque às iniciativas dos atores sociais do país.

Dois veículos lutam para se manter: a agência Carta Maior e o Brasil de Fato (jornal impresso e agência). A Carta Maior nasceu em 2001, por ocasião do I Fórum Social Mundial, oferecendo artigos, notícias, coberturas televisivas e outras inovações. Recentemente lançou um S.O.S alertando os leitores para sua difícil condição financeira, que poderia levar inclusive ao fechamento da agência. Para sair da situação atual, a equipe da agência enfatiza que é necessário divulgar os editoriais da Carta Maior sobre suas dificuldades como forma de aumentar o número de pessoas que se cadastram para receber o boletim eletrônico. O aumento no número de leitores aumenta o poder de negociação da agência.

O jornal Brasil de Fato começou a circular em 2003, no III Fórum Social Mundial, gestado a partir de proposta dos movimentos sociais. Com tiragem aproximada de 10 mil exemplares, o jornal chega aos assinantes em todo o país pagando o mesmo preço. Brasil de Fato virou uma agência de notícias também: na internet, informações atualizadas sobre os movimentos sociais nas mais diversas áreas.

Histórico


Durante os anos 70, circularam no Brasil inúmeros jornais de tamanho tablóide, que se caracterizaram pela oposição ao regime militar, ao modelo econômico, à violação dos direitos humanos e à censura. Essas publicações ficaram conhecidas como imprensa alternativa, de leitor, nanica, independente ou underground.

Ao fim de 15 anos de ditadura militar brasileira, haviam nascido cerca de 160 periódicos de vários tipos – satíricos políticos, feministas, ecológicos, culturais – que tinham como traço comum a intransigente oposição ao governo. Hoje pertencem à história. Todos desapareceram. Leitores que não conheceram esses jornais não têm idéia dos momentos de encantamento que provocavam, de como incomodaram os militares, de como começavam bem e acabavam invariavelmente mal. Não imaginam o que poderia levar jornalistas consagrados a embarcarem, com um punhado de focas, ativistas políticos e intelectuais, naquelas naus incertas “sem aviso prévio e sem qualquer itinerário”, como disse o poeta (KUCINSKI, 1998).

Kucinski (1998), integrante do movimento jornalístico alternativo da época e, atualmente, prestigiado pesquisador do tema, lembra que esses periódicos foram chamados, inicialmente, de imprensa nanica, devido ao formato pequeno adotado pela maioria, como o dos tablóides. A palavra alternativa, com maior densidade semântica, já usada nos Estados Unidos e na Inglaterra, para designar arte e cultura não-convencionais, foi aplicada por Alberto Dines, em janeiro de 1976.

Além de designar práticas não ligadas à cultura dominante, alternativa também significa optar entre duas coisas reciprocamente excludentes, a única saída para uma situação difícil e o desejo de protagonizar transformações. A imprensa alternativa dos anos 70 era tudo isso ao mesmo tempo. Em contraste com a complacência da grande imprensa para com a ditadura militar, os jornais alternativos faziam a crítica sistemática do modelo econômico. Inclusive nos anos de seu aparente sucesso, durante o milagre econômico, de 1968 a 1973, destoando, assim, do discurso triunfalista do governo ecoado pela grande imprensa, construindo dessa forma todo um discurso alternativo (KUCINSKI, 1998).

Para Caparelli (1986), a imprensa alternativa, apesar de ter sido bastante expressiva durante o regime militar, está presente em muitos outros momentos da história política e social, não só do Brasil, como de vários outros países. No entanto, foi nesse período de exceção e, especialmente, de forte controle dos meios de comunicação de massa, que esses veículos se multiplicaram e atuaram com maior intensidade. Os conflitos humanos, assim como novas categorias para explicar a vida, serviram como pano de fundo para a criação de periódicos nessa linha. Beijo (Rio de Janeiro, 1977), por exemplo, discutia abertamente questões como homossexualidade e prazer. Os ideais feministas também tiveram lugar nas páginas desses jornais: Brasil Mulher (Londrina, 1975) e Nós Mulheres (São Paulo, 1976) foram alguns dos representantes desse núcleo, inspirado, especialmente, nos textos de Simone de Beauvoir.

Kucinski (1998) pontua a influência de três atores sociais na formação da imprensa alternativa brasileira: as esquerdas, com seu desejo de protagonizar transformações; jornalistas buscando alternativas ao fechamento de seus espaços na grande imprensa; e intelectuais, encurralados pelo ambiente repressivo que se instalou nas universidades. "É na dupla oposição ao Estado militar e às limitações à produção intelectual-jornalística sob o autoritarismo que se encontra o nexo dessa articulação entre jornalistas, intelectuais e ativistas políticos" (KUCINSKI, 1998). De acordo com o autor, o papel dos humoristas foi fundamental para a imprensa alternativa, pois, para eles, o espaço de publicação nos jornais fechou-se quase por completo, dada a contundência natural do humor crítico, exatamente num momento em que os traços grotescos do golpe de 1964 detonaram dentro deles uma fúria criativa.

De 1964 a 1985


A Ditadura Militar implantada no Brasil entre 1964 e 1985 com seus instrumentos de exceção, tais como a Lei de Segurança Nacional, a famosa Lei de Imprensa, a censura prévia e outros, acabou impulsionando um dos fenômenos que marcou a história do jornalismo brasileiro e, por que não afirmar, a própria história do País: a chamada imprensa alternativa ou imprensa nanica.

Como tudo no país estava amordaçado pelo regime militar, a única forma de a sociedade tomar conhecimento do que estava acontecendo era pela imprensa alternativa, que noticiava, em seus periódicos, quando furava o cerco da ditadura, os graves crimes praticados no Brasil, como as mortes de presos políticos, as formas de torturas, a ostensiva conivência do Estado com grupos nacionais e multinacionais que controlavam a economia, a violação dos direitos humanos, a dívida externa e outros temas de interesse geral da população.

Em um importante levantamento referente à imprensa alternativa, nos anos da Ditadura Militar no Brasil, especificamente no período (1964-1980), Kucinski (1998) cita que, nessa época, nasceram aproximadamente 160 periódicos das mais várias tendências: “satíricos, políticos, feministas, ecológicos, culturais”. Um verdadeiro surto que teve início no eixo Rio-São Paulo, mas logo atingiu outras capitais. Esses pequenos jornais, em geral semanários, quinzenários e mensários, foram duramente perseguidos pelo aparelhamento militar. Entre eles destacam-se O Pasquim e Opinião, do Rio de Janeiro; Movimento, de São Paulo; e Resistência, originário de Belém do Pará. “Hoje pertencem à história. Todos desapareceram” (Kucinski, 1998).

Mas, a imprensa alternativa não é um fenômeno exclusivo dos 21 anos da Ditadura Militar. Ela aparece, em outros tempos da história, como as publicações “dos pasquins irreverentes e panfletários do período da Regência, que atingiram o seu apogeu em 1830 com cerca de cinqüenta títulos” (Sodré, 1968 apud Kucinski, 1991), “e dos jornais anarquistas de operários, meio século depois (1880-1920), com quase quatrocentos títulos” (Ferreira, 1978 apud Kucinski, 1991).

Kucinski, que viveu como jornalista a aventura alternativa na ditadura de 64, afirma que esta imprensa originou-se da articulação de duas forças igualmente compulsivas: o desejo das esquerdas de protagonizar as transformações institucionais que propunham e a busca, por jornalistas e intelectuais, de espaços alternativos à grande imprensa e à universidade. É na dupla oposição ao sistema representado pelo regime militar e às limitações à produção intelectual-jornalística, sob o autoritarismo, que se encontra o nexo dessa articulação entre jornalistas, intelectuais e ativistas políticos (1991).

É o próprio Kucinski que informa o porquê de os jornais alternativos começarem a fechar as suas portas com a abertura política que se inicia no governo do presidente da República João Batista de Figueiredo em 1979, escolhido no ano anterior pelo Congresso, com mandato de seis anos:

[...] a grande imprensa não foi só recriando uma esfera pública, como o fez apropriando-se de temas até então exclusivos da imprensa alternativa, e recontratando muitos dos seus jornalistas. Opor-se ao governo deixou de ser monopólio da imprensa alternativa. Além disso, a retomada da atividade política clássica, no âmbito dos partidos e de seus jornais, que após a decretação da anistia saíram da clandestinidade, esvaziou a imprensa alternativa de sua função de espaço e realização sócio-política (Kucinski, 1991).

A imprensa alternativa brasileira contemporânea


Em meio a mudanças políticas, econômicas e tecnológicas, o jornalismo enfrenta diversos obstáculos para seguir seu curso, principalmente em termos de concorrência, de altos gastos com novas tecnologias e mudanças constantes nos padrões das grandes mídias. Da mesma forma, a imprensa alternativa que surge a partir da abertura política sofre grandes dificuldades. Mesmo vivendo em uma realidade social democrática, sem os empecilhos da censura, agora os fatores econômico e tecnológico pesam muito sobre os grupos que se formam em busca de outra forma de fazer jornalismo. Algumas publicações resistem e permanecem por um tempo maior, outras duram apenas alguns meses e algumas edições. Como exemplos desses novos periódicos alternativos, tem-se as revistas Caros Amigos e Bundas, e o jornal OPasquim21, que surgem a partir do final da década de 90. São títulos que ganham destaque no cenário nacional, apesar de não estarem ligados a grandes grupos editoriais. Existe ainda uma outra imprensa alternativa, restrita a públicos menores, geralmente de entidades políticas e sindicais, bem localizados geograficamente, sem expressividade no país em geral, com uma linha editorial político-partidária, muitas vezes mantidos economicamente por uma organização superior. Destes, apenas Caros Amigos mantém-se em circulação.

Caros Amigos: a precursora da imprensa alternativa pós-abertura política


Lançada pela editora Casa Amarela, a revista Caros Amigos chega às bancas em abril de 1997. Dirigida pelo jornalista Sérgio de Souza, a revista, segundo sua própria definição, traz, em cada edição, uma grande entrevista com personalidade de destaque em determinado campo de atividade, como o econômico, o político, o religioso, o artístico, o esportivo, o filosófico etc., sempre alguém de opinião independente, pronto para criticar o próprio meio em que atua. Um dos principais problemas que Caros Amigos enfrenta desde o seu surgimento é a sua pouca expressividade em comparação às outras publicações nacionais.. No entanto, com o passar dos anos, a revista acaba sofrendo um processo de “guetização”, tanto pelo seu claro posicionamento político, como também pelos temas abordados e pelos enfoques dados a eles pela revista.

Bundas: oferecendo o outro lado da realidade


Com 100 mil exemplares, Bundas chega às bancas em 15 de junho de 1999, com distribuição no Brasil e em Portugal.A revista procura, assim, fazer um contraponto opinativo à sociedade e satirizar o jornalismo estilo Caras. Ao longo das edições, a crítica política torna-se o seu forte, principalmente no deboche e na sátira do então presidente FHC. Os cartuns e charges políticas às vezes ocupam páginas inteiras, retratando os problemas do governo federal. Uma bem humorada crítica de costumes também faz parte da revista, herança do velho Pasquim.

Os desafios da imprensa alternativa atual


Com o surgimento das novas tecnologias e do aumento da concorrência, o investimento necessário nas empresas de comunicação passa a ser muito maior. Em contrapartida, com o ritmo acelerado da sociedade, provocado em parte pelas novas tecnologias, os leitores dedicam menos tempo a suas leituras e passam a fazê-las diretamente no computador, pela Internet, causando uma menor vendagem de publicações impressas. Além disso, há a retração no mercado mundial de publicidade. Uma parcela da verba publicitária fica concentrada apenas nos grandes títulos, já que a grande soma dos anúncios se encontra principalmente nos ambientes online e televisivo.

Nesse quadro, além das inovações tecnológicas que exigem um alto investimento, o aumento do custo do papel é um agravante. No Brasil, com a desvalorização do real em relação ao dólar, houve um significativo aumento dos custos de produção. Como o preço do papel subiu no mundo inteiro, e o produto é comprado em dólar, as empresas precisam gastar mais para adquiri-lo. Caparelli (1986) analisa a antiga imprensa alternativa dentro do panorama da indústria cultural. Para ele, no Brasil da época da ditadura, essa indústria teria grandes capitais imobilizados e precisaria impulsionar sua rentabilidade, vendendo serviços a terceiros e não deixando máquinas ociosas. A principal solução é efetivamente diminuir as impressões e, assim, os gastos com papel, por meio da redução das páginas dos jornais e da migração de alguns espaços impressos, como os classificados e serviços, para o ambiente virtual. Nesse sentido, o desafio da imprensa alternativa encontra-se justamente em se adaptar às mudanças mundiais ou tentar descobrir formas criativas para ir contra a corrente do jornalismo.

Internet, blogs e a crise do jornalismo


Para muitos autores, os diários online são uma nova ferramenta de comunicação virtual que vêm oferecendo perspectivas promissoras ao jornalismo, por ser uma forma de divulgação de informações muito mais democrática e alternativa à grande imprensa, na medida em que dá chance a qualquer pessoa de se expressar por meio da Internet. Porém, cabe também compreender que todas as novas possibilidades de comunicação surgem promovendo fortes modificações também no jornalismo como tal, independentemente de seu suporte físico. Da mesma forma que a “imprensa impressa” passa por grandes dificuldades atualmente, incluindo também a imprensa alternativa, o jornalismo como atividade social vive momentos delicados diante das novas tecnologias.

Blogs e o jornalismo online


Percebe-se que, assim como os sites noticiosos, os blogs, por meio de sua rápida expansão, conquistaram um patamar jornalístico na rede, tanto pela sua popularização, como pela evolução em termos de qualidade de conteúdo e layout. Nos meios acadêmicos, contudo, o caráter jornalístico dos blogs ainda permanece em discussão, já que, por serem de livre acesso, possibilitam que qualquer pessoa possa fazer uso de ferramentas até então de exclusividade de jornalistas, como a divulgação de notícias. A principal crítica é a ausência, em blogs caseiros feitos por cidadãos comuns, de análise e apuração dos fatos, capacidade de síntese e intermediação entre as fontes, em suma, da atividade jornalística na preparação de uma notícia.

Autor: Mayra Lima


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