Coolhunter: perfil e características deste profissional



A pesquisa de tendências é cada vez mais necessária no desenvolvimento de produtos, assim como a sua correta interpretação. Através do conhecimento das tendências e das atitudes dos consumidores, as empresas conseguem desenvolver seus produtos de forma a aumentar a sua aceitação. O presente artigo debruça-se sobre as práticas do coolhunting, uma das metodologias mais atuais para pesquisa de tendências, sua multidisciplinaridade e também a influência da formação dos profissionais no resultado das pesquisas. A utilização de áreas como antropoligia, sociologia, marketing entre outras, revelam-se como o suporte da metodologia utilizada pelos coolhunters devido à fiabilidade dos resultados que lhes permite alcançar.

INTRODUÇÃO

As marcas necessitam investigar os hábitos de consumo de seus clientes, bem como os lugares onde novas tendências possam ter o seu início e ser difundidas, tornando-se moda. Considerando que os ciclos de vida dos produtos são cada vez mais curtos, as empresas necessitam antecipar as tendências e acompanhar as rápidas mudanças para se manterem competitivas. Este motivo impulsionou a emergência de um novo especialista, o coolhunter.

Diversas áreas estão sendo utilizadas como ferramenta na pesquisa coolhunting, a antropologia é uma das mais evidenciadas e consiste na descrição das sociedades humanas. Com o objetivo de compreender este novo método e o perfil dos coolhunters, procedeu-se ao levantamento e análise do perfil de formação profissional e das técnicas mais empregadas. A metodologia utilizada na pesquisa foi sob forma de questionário e acompanhamento de websites pessoais de cada profissional. Este artigo faz parte da pesquisa de mestrado: A influência das tendências na criação de produtos de moda, realizada na Universidade do Minho.

COOLHUNTING

O coolhunting é um sistema de pesquisa e antecipação de tendências, consiste na identificação, no presente, das sementes de movimento que começam a se formar e se tornam moda num futuro próximo (Ferrari, 2002). Movimentos culturais, atitudes, tendências e prováveis necessidades futuras são os pontos analisados neste tipo de pesquisa: “conhecer o comportamento do consumidor é sempre bom e antecipar-se às suas tendências de consumo futuro é ainda melhor” (Rohde, 2006).

Coolhunter é o termo que denomina o profissional dedicado a identificar os possíveis padrões futuros. Aventuram-se na vida dos consumidores para entendê-los e criar uma conexão emocional que as marcas necessitam (Cortez 2006). Espalhados pelo mundo, os coolhunters têm a função de descobrir movimentos culturais e estéticos que poderão influenciar a moda, a publicidade e o design. Analisam o contexto comportamental de uma sociedade, procurando informações para elaborar os conceitos empregados nas tendências.

Substituindo ou complementando as tradicionais pesquisas de mercado, especialmente as quantitativas, a caçada ao cool, visa descobrir o que está acontecendo na cultura jovem e o que será mais importante no futuro, no sentido de constituírem tendências com alta probabilidade de consumo (Hernandéz 2004).

METODOLOGIA DE PESQUISA

Segundo Hernández (2004), os coolhunters são o novo grupo de profissionais que aplicam técnicas etnográficas e sociológicas na pesquisa de mercado.

O princípio básico da investigação é não intervir no objeto de estudo, mas sim adaptar-se ao seu contexto da forma menos evasiva possível. A principal diferença entre o coolhunting e as outras ferramentas de pesquisa é que requer um processo contínuo e não cíclico. A razão que o determina são as mudanças de nível cultural e social, que incidem em primeiro lugar, sobre os grupos e indivíduos responsáveis pela importação, criação ou adaptação das novas tendências (Hernández, 2004).

No seu processo, os coohunters recorrem a uma combinação de metodologias para melhor se adequarem às necessidades dos clientes. As técnicas de antropologia e as pesquisas qualitativas são as mais utilizadas. A antropologia é usada para conhecer e entender ao nível mais profundo os comportamentos, dinâmicas, motivações e práticas dos diferentes grupos sociais (Rodrigues, 1996). A etnografia, que procura compreender a realidade através de uma perspectiva cultural, que inclui diversas tipologias de observação, entrevistas e processos de análise documental dos traços ou rastros deixados pelas pessoas ao longo de suas rotinas (Lima e tal 1996). A observação, descrição e análise das tradições da população em estudo são os passos essenciais para a compreensão de futuras tendências. A pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, estimula os entrevistados a pensar e falar livremente sobre o tema, objecto ou conceito. Está fortemente ligada ao mercado e o investigador participa do processo.

PERFIL DO COOLHUNTER

As competências do coolhunter na aplicação das teorias, métodos e técnicas de disciplinas como sociologia, psicologia, antroplogia, marketing etc, são determinantes no resultado da pesquisa, bem como a formação profissional.

Com o objetivo de definir o perfil de formação do coolhunter, procedeu-se a identificação de 10 profissionais, com idades entre os 24 a 30 anos e ao levantamento das respectivas formações. Verifica-se na Figura 1 que 50% dos profissionais têm formação nas áreas de ciências sociais, 30% nas áreas de comunicação social e 20% em moda, marketing e administração. Apesar das diferenças registradas na formação de base, todos possuem características semelhantes: apreciam música, cinema, tecnologias e estar sempre bem informado. Manifestam um particular interesse nas pessoas e em viajar, procurar novidades e observar atitudes. Segundo as suas próprias descrições, identificam-se como pessoas contemporâneas em busca do novo. Alguns destacam ainda a curiosidade, o bom relacionamento com a sociedade, a percepção de elementos que por alguns passariam despercebidos.

O processo de busca é ininterrupto, quando conseguem interpretar as informações e detectar novas tendências, reiniciam de imediato a busca de algo mais recente, pois sua função é sempre entregar novidade em continuidade aos clientes.

CONCLUSÕES

O encurtamento do ciclo de vida dos produtos de moda determina que as pesquisas cíclicas sobre o comportamento do consumidor se revelem insuficientes para acompanhar o ritmo de mudança do mercado. A pesquisa de tendências necessita ser contínua, para que as empresas desenvolvam seus produtos com apoio em informação atualizada. O coolhunting veio contribuir para complementar a informação de mercado, com uma perspectiva inovadora, focalizada no contato e observação direta dos grupos inovadores, responsáveis pela emergência de novas tendências. Os coolhunters colaboram com recolha de informação em tempo real, o que permite às empresas maior rapidez e eficácia para satisfazer as múltiplas e crescentes exigências dos seus consumidores-alvos.

A aplicação, pelo coolhunting, das teorias, métodos e técnicas da antropologia tem possibilitado maior precisão na recolha de informação e sua interpretação. A utilização dos princípios da etnografia é particularmente relevante no negócio de moda. Tal possibilita uma pesquisa mais qualificada, pois o consumidor é observado e interpretado nos diferentes aspectos, considerando suas atividades diárias, seu ambiente de trabalho e lazer, o seu convívio social, assim como sua personalidade e princípios.

A interação favorece tanto o coolhunter como as empresas. O primeiro consegue desenvolver e interpretar melhor as suas pesquisas, conhecer os grupos e movimentos que estão na origem ou difusão das novas tendências. As empresas recebem dados analisados e estudados segundo vários ângulos, e não apenas pela perspectiva de moda, o que facilita o desenvolvimento de novos produtos a partir do conhecimento aprofundado do seu público-alvo.

Referências

CALDAS, D. Observatório de sinais: teoria e pratica da pesquisa de tendências. Senac, São Paulo, 2004

CAMPOS, S, A, M. A Pesquisa de tendências. Uma orientação estratégica no design de jóias. Rio de Janeiro, 2007

CORTÉS, S. Coolhunting, Investigación cualitatica de tendências de mercado. Barcelona, 2006

FIORAVANTI, R. Etnomarketing como ferramenta estratégica de marketing. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2002.

FONTENELE, I. Os caçadores do Cool. Lua Nova: Revista de Cultura e Política. no.63, p. 1-9 São Paulo, 2004

GENTILE, V. La profissione del coolhunter. Universitá La Sapienza, Roma, 2006

HERNÁNDEZ, M. Coolhunting: nuevas propostas en la investigación de mercados. 2004

LIMA, C.M.G. de; DUPAS, G.; OLIVEIRA, I. de; KAKEHASHI, S. Pesquisa etnográfica: iniciando sua compreensão. Rev. latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 4, n. 1, p. 21-30, janeiro 1996.

RODRIGUES, G, et. al. Metodología de la investigación cualitativa. Ediciones Aljibe, España, 1996 ROHDE, C. Como surgem as tendências. Revista Época, nº: 413, p.52-54, São Paulo, abril 2006

SARBACH, Sofia. Cazadores de tendências. Aportes a su trabajo a la publicidad. Argentina.2006
Autor: julia picoli


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