Palavras na areia



Tarde de um dia quente na Judéia.

Sol, calor e poeira. Paisagem típica da região.

Jesus estava à beira mar junto com seus amigos, seus discípulos. Parecia mais uma tarde normal. Se é que estar com Jesus pode se chamar de normal!

De repente ouve-se um grande barulho: vozes, gritos, choros.

Um grupo de homens barbudos, suados e enfurecidos trazem, arrastada, uma mulher em prantos.

Ela está humilhada, machucada e ferida. Por fora e por dentro.

Tivera sido espionada. Violaram sua vida intima. Espiaram seu quarto, sua vida.

Os religiosos da época se auto declaravam zeladores da moral de Jerusalém.

E, com o propósito de encurralar o mestre, pegaram a mulher.

Mais uma vítima do farisaísmo.

Naquela tarde quente, Jesus olha e vê uma mulher ferida e carente. E antes que Ele abrisse sua boca, a sentença é dada: “pegamos essa mulher em adultério, e na Lei manda que nós apredejemos, ela é uma imoral, adúltera, profana. Uma pedra no sapato, uma mosca na sopa, a laranja podre do cesto”.

Adultos, velhos e crianças tinham em cada uma das mãos uma pedra. Não uma pedra qualquer, mas uma “senhora pedra”, escolhida a dedo para ferir, para matar.

O inimigo faz isso, ele escolhe a pedra que vai nos atirar!

Imagino pais jogando pedras em latas ensinando seus filhos a atirar, pra não errar o alvo “é assim que se faz meu filho, aprenda com o papai – mire bem na cabeça e atira com toda sua força. Isso garoto, quando você crescer será um grande atirador de pedras.”

Pode ser que esse diálogo não esteja na bíblia, mas provavelmente era esse o sentimento do povo com relação à mulher.

“Estamos fazendo um serviço a Deus. E você Jesus, o que diz?”

Jesus olha cada face e vê pessoas nervosas, desafiadoras. Apenas aguardando uma palavra para que se comece o espetáculo.

Jesus olha as pedras. Ele olha pra mulher.

E dá a sentença: “quem não tem pecado seja o primeiro a atirar a pedra”.

E sem se preocupar, começa a escrever na areia.

Uma má noticia para o inimigo: Jesus detesta esse tipo de espetáculo!

Imagino os fariseus com cara de tacho. Um olhando para o outro como quem diz “e agora?”

As crianças perguntam: pai, podemos começar? E o pai respondendo: não meu filho vamos ver quem vai jogar primeiro, eu não posso porque estou cheio de pecados.

Um falava com o outro: você não tem pecado? E você, tem? Um a um foram deixando as pedras no chão e indo embora pensativo. Nunca haviam pensado nisso antes.

Os fariseus se calaram. Não tinham argumento. Não tinham coragem de pronunciar uma só palavra.

E o mestre continuava escrevendo na areia.

De repente um silêncio. As vozes só ao longe são ouvidas. E um suspiro.

Suspiro de quem escapou da morte por pouco, muito pouco. Um alívio misturado com uma paz jamais sentida.

Jesus rompe o silêncio e pergunta: “mulher, ninguém te condenou”.

“Ninguém senhor”

“Pois eu também não te condeno, vai e não peques mais”.

Acabou a festa! Fim de espetáculo. O diabo mais uma vez derrotado.

A mulher sentada na areia, com um circulo enorme de rochas em sua volta.

Nenhuma chegou até ela. Nem um ferimento. Nem um cascalho atingiu sua cabeça.

Não sei o que sucedeu logo em seguida, mas posso imaginar.

Um longo abraço em Jesus, lágrimas quentes de gratidão. Um profundo arrependimento pelos pecados, misturado com a certeza da santidade.

Um “muito obrigado” pronunciado não com a boca, mas com a alma.

Imagino Jesus enxugando o rosto daquela mulher, ajeitando seus cabelos e dizendo “mulher, hoje você começa uma nova vida. Vai em paz, não peques mais. E lembre-se: sempre que precisar pode contar comigo”

Jesus sabia do pecado da mulher – mas sabia também do seu profundo arrependimento.

Ele sabe que você e eu temos pecados, talvez até maiores.

Mas ele sempre está disposto a perdoar, a curar, a nos proteger!

Sei que hoje temos muitos que atiram pedras para nos ferir.

Invejas, intolerâncias, fofocas, difamações.

Quantas vezes sofremos, choramos por causa disso?

Pessoas invadem nossa intimidade, nossa casa, nossa família, apenas pelo prazer de atirar uma pedra. Ou várias.

Mas não se esqueça. Jesus está contigo.

Quando Ele se cala, está apenas escrevendo na areia.

Teus acusadores tem prazo de validade. Tem hora marcada. Logo sairão correndo.

As mãos de Cristo, com certeza enxugará mais uma vez tuas lágrimas.

Ele te dá mais uma chance.

O único que poderia te acusar, não o faz. E por amor te diz “eu também não tem condeno”.

Daqui a pouco as vozes ruidosas não serão mais ouvidas, e você poderá ler as palavras escritas pelos dedos do Criador:

 

I – N – O – C – E – N – T – E

 

“E não se esqueça, pode contar sempre comigo...”


Autor: Luis Alberto Santos Silva


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