Quem desiste do próximo desiste de si próprio



Todos nós já passamos por alguma situação em que erramos e precisamos nos retratar, seja pedindo desculpas, seja mudando de atitude, seja procurando outra forma de fazer as coisas para, simplesmente, não cometer o mesmo erro.

E muitas vezes fomos julgados por cometer erros. Mas pior que isso é que fomos julgados, rotulados e condenados. Que direito alguém tem sobre nós para nos julgar e depois não nos dar direito de resgatar nosso erro?

Como fazer, então, para que entendam que nós podemos mudar, que estamos nos retratando? Para isso não tenho resposta, mas... e quando nós percebemos que alguém que nós julgamos, condenamos e rotulamos está melhorando?

E quando, por qualquer motivo, algo que nos parece ruim em alguém simplesmente desaparece? E quando alguém dá sinais de mudança, de melhora? O que nós fazemos?

Nós não achamos correto que nos julguem, nos condenem, não nos dêem oportunidade de melhora. É, portanto, muita hipocrisia de nossa parte se simplesmente julgarmos, condenarmos e não procurarmos os sinais de melhora no outro.

O funcionário que normalmente causa problemas passou uma semana sem causar nenhum; uma pessoa que vive reclamando repentinamente deixa de reclamar; o colega que sempre faz críticas negativas de uma hora para outra deixa de fazê-las... essas pessoas podem estar melhorando. Ou não?

É no mínimo nossa obrigação, sob pena de sermos condenados pela própria hipocrisia, abrir espaço, apoiar, oferecer alguma forma para que essas pessoas continuem seu caminho e melhorem.

Não quero dizer com isso que não devemos nos proteger dessas pessoas, que não devemos levar em conta o que foram e fizeram até o momento. Sim, devemos, pois já foram no passado pessoas pouco confiáveis, mas elas não podem melhorar?

Entendo! Nós podemos, elas não? Podemos errar e nos redimir, e os outros?

Nós não gostamos de ser julgados, mas julgamos. Não gostamos de ser condenados, mas condenamos. Que lógica é essa? De onde vem isso?

Todos nós já fizemos xixi na cama, mas por um acaso algum pai ou mãe colocou a fralda novamente no filho e desistiu, deixando-o de fralda para o resto da vida? Não, eles sempre perseveraram e, por fim, nós não fazemos xixi na cama há algum tempo, não é verdade?

Mas essa não foi uma vitória só sua não é somente graças a você que a cama fica seca a noite toda.

Quantas vezes nós cometemos um erro e ninguém nos perguntou se estávamos com algum problema, ou se podiam ajudar? Quantas vezes alguém estendeu a mão?

De que situação gostamos mais, o que é mais fácil de nos ajudar na mudança, nos ajudar a crescer: quando só nos elogiam pelos nossos acertos, quando só nos criticam pelos nossos erros ou quando nos ignoram?

Será que conhecemos a real dimensão e importância da mudança na vida de alguém? Independente de sua crença você com certeza conhece a parábola do Filho Pródigo. Também lembra que em outro artigo citei uma frase que a cada dia me parece mais importante: “Não se julga ninguém pela queda, mas sim pela forma como se levanta.”

Nós sabemos que o esforço de qualquer um para voltar à tona, para levantar-se após uma queda é muito maior do que o esforço daquele que já está na superfície, daquele que já está em pé. E se sabemos é porque já caímos, porque já afundamos vez ou outra.

E quando precisamos levantar, como foi? Alguém nos estendeu a mão? Se estendeu, sabemos do valor, da importância daquela mão nos ajudando a ficar em pé. Caso contrário, também sabemos da falta que a mão amiga fez naquele momento.

E se sabemos pelo prazer ou pela dor, pela presença ou pela falta, então nos tornamos responsáveis por garantir que aquele que agora tenta se levantar seja bem recebido em sua jornada, que haja espaço para seu crescimento, que erga a cabeça como nós fizemos um dia (e talvez precisemos fazer novamente).

É nossa responsabilidade incentivar. Seja através de um gesto, de uma palavra ou da mudança de atitude é importante motivar, não desmotivar. Ele precisa sentir que vale a pena mudar, melhorar.
Reunimos-nos para criticar o presidente, o síndico do prédio, o chefe, o parente, enfim, todos. Mas quando qualquer um anteriormente criticado toma uma atitude correta, quando demonstra querer mudar, nós ainda assim olhamos e criticamos. Por não acreditar, ignoramos, e fazemos como São Tomé.

Claro que nossa experiência de vida, o passado e as atitudes que certas pessoas tiveram, a forma como elas se apresentaram faz com que desacreditemos, não tenhamos tanta segurança e certeza da mudança. Mas se lembrarmos dos momentos em que nós tivemos dificuldade, em que não tivemos credibilidade para levantar, em que não nos ofereceram uma mão amiga, acabaremos por estender a mão, por dar apoio para que o outro possa melhorar.

É importante mostrar a quem tenta mudar que vale sim a pena. E isso só acreditando para provar.

Se assim não agirmos, estamos pedindo para que os outros também, no momento em que errarmos, desacreditem de nós; estamos pedindo para sermos deixados de lado no primeiro erro; estamos pedindo, implorando, para que as pessoas hajam da mesma forma conosco.

Se não perdoamos ou tentamos perdoar, se não buscamos o que há de melhor no outro, se não procuramos o menor indício de melhora, estamos desistindo do outro e, por conseqüência, pedindo que façam o mesmo conosco, ou seja, que desistam de nós. Indiretamente estamos desistindo de nós mesmos.

Eu não vou desistir de mim mesmo. Eu acredito que ainda vou errar muito, que tenho muito a aprender, muito a melhorar, e que vou sim precisar que acreditem, que confiem em mim quando eu precisar mudar de rumo, quando eu precisar me retratar. Eu acredito que mereço apoio para levantar após minhas quedas, desde que a minha melhora seja sincera, desde que eu me esforce por isso, desde que eu não caia repetidamente pelo mesmo motivo indefinidamente.

A minha mudança de atitude tem que ser valorizada, pois atitude é algo que aprendemos durante a vida, e não é fácil mudar.

Eu quero que minhas desculpas sejam aceitas, eu quero ser realmente perdoado. E só há uma forma de obter isso: perdoando, permitindo o erro e dando possibilidade para que os outros também mudem, melhorem e se levantem.

Eu não vou desistir de mim e gostaria que você não desistisse de mim, para que ninguém desista de você, para que você não desista de si próprio.

Se não sou capaz de entender, de perdoar, de estimular o crescimento dos outros, então não é meu direito exigir isso. Se eu não acredito em ninguém, ninguém acreditará em mim. Por isso quando desisto de alguém, desisto um pouquinho mais de mim mesmo.

E você, de quantas pessoas você já desistiu? De quantas pessoas você não aceitou as desculpas? Quantas pessoas você não permitiu e aceitou a mudança? Quantas vezes, enfim, já desistiu de si próprio? E quanto ainda pretende desistir?
Autor: Alexandre Aschenbach


Artigos Relacionados


Para AlguÉm Que EstÁ SÓ

O Drama Da Perdição

Nada De Mais

A Cabana - Força Do Perdão

O Amor Ao Próximo

A Arte De Ser Feliz

Os Nós Do Eu