Culpada ou inocente?






            Periodicamente a mídia brasileira, com uma maior ênfase a televisiva, na busca de audiência, acaba por interferir na decisão do poder judiciário em casos bastante complexos. Essa influência ficou mais evidente em 1992 com a morte de Daniella Perez, filha da autora de novelas da Rede Globo, Glória Perez. De lá para cá, muitos outros casos foram utilizados pela TV com intuito de aumentar a audiências de suas programações – o caso da jovem Suzane von Richthofen e os irmão Cravinhos (2006) e a morte do menino João Hélio Fernandes (2007) são exemplos.

 

            Neste mês o caso da menina Isabella de Oliveira Nardoni de apenas 5 anos de idade que fora jogada da janela de um apartamento no 6º andar em um prédio em São Paulo, foi o que nos levou mais uma vez a abordar o intrigante tema da interferência da mídia em decisões do judiciário – neste caso, o pai e a madrasta da menina tiveram prisão preventiva decretada, que posteriormente fora revogada por um Habeas Corpus, ficando demonstrado que a prisão foi incentivada pela comoção popular insuflada pela emissoras de TV – teve algumas que chegaram a explorar o caso de forma exaustiva e sensacionalista durante um dia inteiro de transmissão.

 

            A mídia, com um viés acusatório acaba por exercer algum tipo de influência implícita e explícita em casos jurídicos, desde a sua fase investigativa até o veredicto de um tribunal de júri - sem contar os males ocasionados pelo excesso de exposição dos envolvidos -, além de exercer uma forte influência no atual sistema penal brasileiro, um sistema antidemocrático por ser seletivo e estigmatizar o pobre.

 

            É momento de se abrir um amplo debate nacional sobre um meio de comunicação com potencial extraordinário, que ao invés de ajudar a sanar as deficiências culturais e sociais com dados precisos e notícias realmente informativas, como direito dos consumidores, meio ambiente, etc., vem utilizando uma divulgação massiva de notícias de caráter acusatório que acabam gerando eventuais distorções em julgamentos em matérias criminais, além da já mencionada estigmatização dos pobres – a demonização das classes populares. Essa atitude irresponsável dos veículos de comunicação é uma forma de rotular um estigma que acaba simplificando questões muito profundas, como a ineficiência do Estado em áreas como a educação de jovens, dentre outras responsabilidades.

 

            A mesma irresponsabilidade nefasta vem sendo utilizada na divulgação de escândalos políticos criando o senso comum de que 'todo político é ladrão', o que é uma inverdade, uma questão que não pode ser generalizada, principalmente em um país que possui analfabetismo. Muitas pessoas estão sem estímulo para votar, o exercício de um dos mais importantes atos que legitimam um Estado Democrático.

 

            A mídia instiga uma política criminal reativa – que é o modelo norte americano - por parte do judiciário e do legislativo, forçando penas mais duras, sem criar a tão importante efetividade dessas leis. Esse sensacionalismo barato acaba por facilitar na construção social e simbólica da criminalidade, gerando insegurança para a população.

  

            O Brasil está doente política e socialmente, e os mesmos veículos que durante 30 anos ensinaram os brasileiros a conviver com a ditadura militar, são os maiores facilitadores dessa democracia doente, sem oferecer a cura real e auferindo lucros imensos na venda de um remédio amargo e ineficaz...


 

*Texto com base em apresentação do autor em monografia intitulada, “A influência dos meios de comunicação para o aumento da violência”, no curso de Criminalística ministrado pela Professora e Defensora Pública, Dra. Coraci Pereira da Silva em 2007. O texto foi posteriormente publicado em jornal impresso local na edição nº. 41 do Jornal Chico, que circulou no Tocantins em março de 2008.


Autor: HERÁCLITO NEY SUITER


Artigos Relacionados


Theo De Carvalho - Segundo AniversÁrio

O Processo Da Independência Do Brasil

Camaleão

Ontem O Amor Chorou...

Sonhar é Viver

Gata Mineira

Igualdade Exata