A ECONOMIA GLOBAL E A FOME LOCAL





 

Mês de maio foi o mês das calamidades climáticas em toda parte do mundo, e essas alterações de temperatura bem como a falta de chuva ou o excesso dela, serviram para apontar o início de uma escassez de alimentos em muitos países produtores e responsáveis por uma participação significativa na produção mundial de alguns produtos agrícolas.

 

            Alguns espertalhões especuladores não perderam a oportunidade, bastou o agricultor segurar um pouco o produto para aumentar seus lucros – e aqui me refiro ao setor orizícula - e os atravessadores e especuladores aproveitaram para aumentar o preço de praticamente todo tipo de produto. É só o amigo leitor comparar o preço de alguns produtos comprados no mês de abril com os preços recentes que vai perceber a diferença - para mais, dos valores gastos  no mês de maio, e o pior, em Gurupi a coisa fica ainda mais grave uma vez que grande parte do comércio local continua trabalhando com margens de lucros muito altas, uma prática que aos poucos vêm ajudando a manter o título de uma cidade com um dos custos de vida mais elevados do país, sem, no entanto, oferecer um mínimo em opção de compras, saneamento básico, qualidade de serviços de atendimento médico, qualidade de energia elétrica, e tantos outros itens que talvez poderiam compensar  o alto custo de vida...

     

            O atual modelo econômico de exportação para o mercado globalizado, ao invés do incremento da produção para o consumo interno foi apregoado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) como eficiente para a erradicação da pobreza e da fome, o que na realidade não passa de uma 'balela' que simplesmente garante um paraíso de lucros aos intermediários do setor produtivo e do mercado. Na verdade percebemos que quem ganha dinheiro mesmo, e não só aqui no Brasil, é o atravessador e o especulador e não quem realmente produz...

 

            De repente, o Banco Mundial, incentivador desse modelo de 'desenvolvimento', anunciou aos quatro cantos que vai haver motins da fome em 33 países, e a OMC alarma-se com um regresso ao protecionismo, notando que vários países exportadores de gêneros alimentícios (Índia, Vietnan, Egito, Cazaquistão, entre outros…) decidiram reduzir as suas vendas ao estrangeiro de modo a garantir – que imprudência! – o sustento de suas populações. O Hemisfério Norte, mais  rico ,  de  imediato  sentiu-se chocado com o 'egoísmo' dos países mais miseráveis – como se esse sentimento, o do egoísmo, fosse uma prerrogativa exclusiva deles. A 'conversa fiada' de crescimento econômico sustentável – não confundir com desenvolvimento sustentável - deu nisso, bastou o chinês passar a comer um pouquinho mais, porque passou a ganhar um pouquinho mais, e foi o suficiente para agravar a escassez de alimentos no mundo todo... 


           
Nessa economia 'moderna' nunca se perde nada, é só 'ganha-ganha', até a fome rende bons lucros, é só esperar pra ver. Tudo se recicla: uma especulação substitui a outra.           Depois de ter alimentado a bolha da Internet, a política monetária da Reserva Federal (Fed) – o Banco Central Americano estimulou os estadudinenses a endividarem-se, e a bolha imobiliária inchou. Em 2006, o FMI ainda dava indicações de que os mecanismos de atribuição de crédito no mercado imobiliário dos Estados Unidos continuariam a ser relativamente eficazes. O final dessa história?  Após a rebentação da bolha imobiliária nos EUA, os especuladores reabilitaram um velho 'eldorado', os mercados de cereais, adquirindo contratos de fornecimento de trigo, arroz e outros cereais para uma data futura, para revendê-los com uma alta de lucros significativamente maiores, o que prolonga o aumento dos preços, e conseqüentemente a fome no mundo…

 

            E o FMI, que se considera como tendo a melhor equipe econômica do mundo continua insistindo de que uma das formas de resolver as questões da fome é aumentar o comércio internacional. Isso me lembra uma frase que o poeta, músico e anarquista Léo Ferré escreveu um dia: “Para que o próprio desespero se venda, basta encontrar a fórmula”. Parece que a fórmula já foi encontrada...


*Texto do autor publicado em jornal impresso em maio de 2008.


Autor: HERÁCLITO NEY SUITER


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