Carta a meu passado



 

Carta a meu passado

 

 

 

 

Campinas, 20 de março de 2003.

 

 

 

 

Já há algum tempo tenho pensado em resolver aquelas pendências que nos colocaram nos lados opostos do ringue da vida.

Hoje, meu aniversário de 33 anos, eu lhe escrevo para propor a paz, pois agora entendo que você teve toda a razão em ser o que foi. Eu é que não queria entender, nem mesmo enxergar seus motivos.

Pretendo nesta, sem muitas delongas, explicar-lhe o porquê desta decisão.

É incrível como, no decorrer dos estudos, uma pessoa possa mudar tanto de opinião a respeito da área em que pretende se desenvolver na faculdade. Hoje já posso concluir que aquela velha idéia de fazer Psicologia não passava de um reflexo da situação em que eu vivia e do modo superficial de analisar minha realidade naquele contexto.

A cada novo dia de aula, descubro um conhecimento novo ou pelo menos um jeito novo de enxergar as velhas coisas, principalmente as que tanto atormentavam a minha mente. Descobri que não adianta encarar a vida com olhos hereditários ou com referencias nos velhos modelos daquela pedagogia arcaica da nossa infância, que, juntamente com outras circunstâncias medonhas, fizeram-me fugir da escola numa corrida apavorada, repleta de indagações irrespondíveis, pela insuficiência de senso crítico bem fundamentado.

Durante a fuga o tempo não parou e o que era óbvio aconteceu: a sucessão de erros, decorrente de escolhas baseadas em crenças infundadas e também do descrédito na necessidade real de conhecimentos, prevaleceu por duas longas décadas, mas agora, aqui estou de volta à escola.

Tenho a sensação de ter morrido e renascido, pois a partir do dia que entrei novamente numa sala de aula, percebi uma nova luz que passou a clarear a minha vida.

A primeira coisa que descobri, agora com luz ao meu redor, é que o caminho estava em outro lugar e eu teria que encontrá-lo. Enquanto tateava na escuridão me perdi em atalhos que invariavelmente levavam a emaranhados os quais nunca conseguia entender. Estou agora trafegando numa estrada pavimentada e iluminada que se chama escola. Como perdi muito tempo da vida, não sei ainda exatamente onde quero chegar, mas, pelo menos, neste caminho consigo ver toda a sinalização indicando por onde ir para chegar ao lugar que eu vier a escolher.

Será bem menos duvidoso, porque agora, antes de decidir, posso examinar e experimentar tudo o que parecer atrativo, podendo escolher ou desistir da escolha, com conhecimento de causa, o que me parece um precioso recurso para evitar ou pelo menos atenuar as possibilidades de erro.

Os erros cometidos não se transformarão em acertos, mas, pelo menos agora, consigo entender suas causas, o que retira da minha consciência aquela sensação de ser o único e exclusivo culpado pelos meus próprios fracassos.

Quando dizia que queria cursar Psicologia eu tentava esconder de mim mesmo a necessidade de consultar um profissional da área.

Quero, portanto, me entender contigo para que meus passos sejam menos vacilantes, minhas escolhas sejam boas e meu futuro seja digno como tem que ser o de qualquer pessoa que faça a busca, árdua, porém necessária, de renovação pessoal e que a escola pode proporcionar tão amplamente a todos quantos queiram se aventurar na jornada do conhecimento.

Daquele que contigo esteve por longos anos,

 

 

 

 

Manoel Brandão Nobilli


Autor: " Valdir Emanoel Colo "


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