Aspéctos da Epistemologia bachelardiana



EPISTEMOLOGIA - Bachelard

 

“O Novo Espírito” na epistemologia bachelardiana. De fato, Bachelard é marcado como sendo o filósofo do novo espírito científico. A chave para a compreensão dessa expressão – novo espírito – se encontra, justamente, ligada à sua obra – expressão material de seu pensamento. Basta olhar para os títulos de algumas de suas obras – como, por exemplo: “o novo espírito científico”, “a filosofia do não”; - para perceber o quanto a novidade aparece presente em sua filosofia. Por novo espírito podemos entender uma nova pré-disposição. A ciência atual é convidada a mudar, de certa forma, o seu discurso para atender às, cada vez mais novas, expectativas dos tempos. A ciência atual é fruto de um constante movimento de inovação. Não mais podemos nos sustentar sobre os alicerces de um racionalismo puro ou de um realismo exacerbado; é tempo de mudança – caso queiramos alcançar resultados satisfatórios. O caminho das descobertas científicas se estabelece no choque das antigas metafísicas, não mais sobre uma ou outra unicamente, unicamente. Diante disso, pode-se perceber que quanto mais a ciência evolui, mais necessidades adquire de abrir-se ao novo espírito. Não é tempo de pensar em uma evolução ordenada das ciências antigas tendo como resultado a ciência contemporânea. A ciência atual é fruto da novidade, conceito que traz consigo a idéia e rompimento, de inovação. A adesão a esse novo espírito científico é condição para o contínuo avanço das ciências. Bachelard, ao construir sua epistemologia, sustentada por esse pilar, demonstra que a novidade, o novo, é a única esperança para o progresso da ciência; esperança que deve ser construída e solidificada. Graças a isso é definido como o filósofo do novo espírito científico.

O progresso e o “não”. Para que a ciência progrida faz-se imprescindível sua ligação com a história. O progresso é o que possibilita o avançar da ciência, isso pressupõe que não é possível dar passos adiante sem conhecer o que já foi construído, a história, o passado. A história das ciências tem como objeto de suas pesquisas a discursividade do pensamento científico; a ciência pensa e esse pensamento se apresenta no discurso elaborado ao longo do tempo. Ao tentarmos compreender essa relação, nos deparamos com várias teorias que foram criadas a partir da história das ciências. Muitas delas, apresentavam o progresso científico como sendo o fruto do processo de continuidade entre as diversas épocas da ciência. Em contrapartida, Bachelard apresenta o rompimento, a descontinuidade, como sendo a verdadeira explicação para a evolução das ciências. Diante disso, parece que nos é estabelecido um paradoxo, afinal, são contrárias as palavras progresso e rompimento. Contudo, na filosofia bachelardiana o rompimento, a descontinuidade, são apresentados como condição para o progresso. Ainda mais, são apontados como os meios pelos quais o progresso da ciência se instaura. Assim, torna-se possível relacionar história e progresso com o não da filosofia de Bachelard. Para ele, o não não é apresentado com caráter negativo. Ao contrário, pretende fazer uma afirmação. O não é a afirmação dos limites de determinado método de investigação. Daí estabelecer a relação não e progresso. Para Bachelard, uma vez que conhecemos os limites – o não -, temos as condições necessárias para ultrapassá-los. Assim, o progresso se torna sempre nosso objetivo. Uma vez conhecido o não, ou seja, o limite, provocamos o rompimento com a antiga ciência e inauguramos a novidade do espírito científico, tendo como resultado o constante progresso das ciências.

Crise, ansiedade, drama. A estabilidade da ciência, muitas vezes, pode gerar segurança. Entretanto, no mundo científico, segurança é sempre sinal de estagnação, e não de progresso. Daí a valorização positiva de palavras como: crise, ansiedade, angústia, drama... Basicamente, representam um arrancar a ciência de seu ponto seguro; um fragilizar as seguranças tidas até então. Como já disse, segurança é sinal de congelamento, a ciência não caminha enquanto se vê satisfeita diante de suas descobertas. Uma vez que se encontre fora de seu terreno seguro – na crise ou na angústia – terá a possibilidade de buscar a inovação, ou seja, a resposta necessária para tal momento. Isso é o que garante o constante crescimento das ciências; o seu movimento de busca pela novidade. Assim, os conceitos acima mencionados, comumente tidos como negativos, são os que garantem o constante avançar da ciência rumo a novos horizontes. Por isso sua valorização. É da crise que surgem as maiores descobertas. A ciência perderia seu caráter de novidade, caso não pudesse passar por momentos de incertezas e inseguranças.

Epistemologia Não-Cartesiana. Dizer uma epistemologia não-cartesiana não significa negar as descobertas da epistemologia cartesiana. Longe disso, esse não é tido como uma afirmação e não uma negação. A epistemologia não-cartesiana é aquela capaz de afirmar os limites da epistemologia cartesiana e, ao mesmo tempo, não se limitar a afirmá-los, mas ir além deles. Afirmar os limites significa perceber todas as realizações feitas pela epistemologia cartesiana, mas também, apontar suas limitações. Assim, a epistemologia não-cartesiana é a proposta de ser outra frente à cartesiana e não negá-la. A partir daquilo que foi elaborado pela filosofia cartesiana a epistemologia não-cartesiana poderá dar seus passos. Uma vez que os ditames são ultrapassados o constante progresso da ciência é garantido.

Por fim, a epistemologia é a ciência que pensa o pensamento científico. A própria ciência pensa e, uma vez que se viu nova, percebeu a necessidade de criar a filosofia capaz de refleti-la. Daí surge a epistemologia: uma filosofia que nasce da ciência, ao mesmo tempo que a tem por seu objeto. A ciência, por sua vez, se preocupa em descrever, da maneira mais segura o possível, a própria natureza. Nisso caminha constantemente em busca da verdade. Assim, a verdade acerca das ciências torna-se, também, objeto da epistemologia. A epistemologia visa uma autonomia das ciências. Parte do método histórico, em especial a epistemologia européia, rumo à compreensão do progresso científico que é fruto da descontinuidade, do novo. Assim, se constrói o pensamento epistemológico, uma constante reflexão acerca da ciência, natureza e fenômenos naturais.

 


Autor: José Reinaldo Felipe Martins Filho


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