Crítica de Hegel ao Dualismo Moderno



Ao trabalhar a compreensão de como era vista a teoria do conhecimento pelos pensadores da modernidade, faz-se imprescindível mencionar o nome de quatro grandes filósofos que colaboraram de forma direta para a elaboração do pensamento moderno. São eles: René Descartes (1596-1650), David Hume (1711-1776), Immanuel Kant (1724-1804) e Georg F. Hegel (1770-1831). Dentre estes nomes citados anteriormente nos será de maior importância o que afirma Hegel, isto no que diz respeito ao dualismo moderno.

Destes filósofos que marcaram a modernidade com seu estilo e compreensão da possibilidade de detenção do conhecimento por parte do homem, Hegel se diferencia dos demais ao criticar a forma de pensamento que propunha um dualismo entre o sujeito e o objeto pelo qual o eu busca a inclusão.

Vale a pena fazer alusão ao quadro de apreensão das maneiras de conhecer propostas na modernidade. René Descartes partindo da razão propõe a existência do sujeito e do objeto. Entretanto, estes se relacionavam de modo dual. Para chegar ao objeto o sujeito necessitava de um método. Uma vez que este método fosse cumprido em sua totalidade fazia-se possível o conhecimento do objeto. Descartes, através de sua concepção, marca a modernidade com o racionalismo, corrente que ganharia evidencia e influencia no pensamento da época.

David Hume se iguala a Descartes no que diz respeito à separação entre o sujeito e o objeto, que agora passa a ser chamado de mundo sensível. Todavia, enquanto para Descartes a verdade era Deus, para Hume não existe verdade. Além disso, a forma usada por ele para se chegar ao mundo sensível é a sensação. Assim, Hume é tido como pertencente ao grupo dos filósofos empiristas, que se aproxima em muito ao mundo da ciência experiencista. É importante ressaltar que embora os céticos afirmem a não existência de uma verdade já se valem a afirmar tal pensamento como sendo uma verdade. Deste modo esta afirmação passa a ser uma verdade desqualificando-a a si mesma.

Diante destas duas formas de concepção da possibilidade do conhecimento entra em cena o pensador Immanuel Kant, que através de uma união entre características do pensamento de Hume e Descartes, elabora sua tese de como se dá o conhecer humano.

Kant parte da união entre a sensação e a razão para se poder conhecer. Dá continuidade à existência do sujeito, embora passe a o chamar de eu-pensante, e assume sua relação com o mundo sensível. Todo este percurso se faz com a finalidade de alcançar a verdade que é denominada esquematismo da Imaginação. Inaugura-se a forma de compreensão intitulada criticísmo, que vem colaborar no processo de busca pelo conhecimento.

Os três filósofos anteriormente mencionados possuem em comum o dualismo existente entre o eu e o mundo com o qual eu me relaciono. Além disso, a essência das coisas, que outrora com os Gregos e Medievais, estava dentro do homem juntamente com sua própria essência, agora se torna distinta do mesmo existindo particularmente em cada objeto. Por este motivo Hume afirma não existir uma verdade absoluta. Portanto esta separação entre o homem e a verdade buscada por ele provoca o dualismo existencial entre o objeto do conhecimento e o homem e, ao mesmo tempo, entre o homem e a verdade que ele mesmo busca.

Hegel entra em sena justamente neste contexto de dualidade. Contudo não corrobora este pensamento, mas ao contrário, tece uma crítica ao mesmo alegando a impossibilidade de um dualismo na compreensão do conhecimento.

Sua crítica ao dualismo moderno se dá pelo fato de considerar que o sujeito e o objeto não podem se separar. Isso porque para que o sujeito fale sobre o objeto com o qual ele se relaciona é preciso que o mesmo use de argumentos verdadeiros, ou seja, a verdade precisa estar presente em si mesmo. Se a verdade é um todo, obrigatoriamente o homem, ao argumentar a respeito de algo, deve estar nela. Qualquer argumento levantado fora da verdade é falso. Assim, é imprescindível a união entre o sujeito e a verdade sobre a qual ele fala, estabelecendo esta relação de unidade.

Em sua obra Fenomenologia do Espírito (Phenomenologia des Geistes) ressalta que os que afirmam a existência de uma dualidade entre o absoluto e a parte estão altamente equivocados. Não há a possibilidade que o absoluto esteja colocado de uma parte e o conhecimento, mesmo sendo algo real, de outra parte, unicamente para si e separado do absoluto.Afirma Hegel: "Diese Konsequenz ergibt sich daraus, daB das Absolute allein wahr, oder das Wahre allein absolut ist." [1]Assim se pode perceber que a verdade não se separa do absoluto, nem o absoluto da verdade, porque se tratam de uma única coisa.

Ao trabalhar o conhecimento como uma forma de possuir o absoluto, Hegel demonstra, mais uma vez, a existência de uma unidade. Como já foi dito, não é possível falar de algo usando de argumentos verdadeiros sem estar absorvido na verdade. Assim, é possível afirmar que o homem está na verdade e ela está nele.

Esta afirmação gera uma série de conseqüências e provocações. Afinal de contas se o homem está na verdade, porque tem a necessidade de falar sobre ela e, até mesmo busca-la? Diante desta questão Hegel assume um posicionamento mister. Para ele a resposta para esta questão é o fato de que o homem está no absoluto – verdade – mas não o é em sua totalidade, por isso tende por buscá-lo sempre mais.

Sendo assim, a proposta de unidade apresentada por Hegel se faz mais viável para a compreensão da possibilidade de captação do conhecimento. Uma vez que o conhecimento se faça fora da verdade não é verdadeiro. Segundo Hegel: "Pressupõe, assim, que o conhecimento, estando fora do Absoluto e, portanto, fora da verdade seja, não obstante, verídico. Com tal pressuposição, o que se denomina receio do erro se mostre, antes, como receito da verdade." (Fenomenologia do Espírito, parágrafo 74) Não é possível argumentar fora da verdade, por isso, o conhecimento e a verdade formam juntos uma relação entre si de maneira a não poder se separar.




Autor: José Reinaldo Felipe Martins Filho


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