TODA CRIANÇA TEM QUE SER CRIANÇA: SAUDADES DO NOSSO TEMPO DE CRIANÇA



O povo também estava trazendo criancinhas para que Jesus tocasse nelas. Ao verem isso, os discípulos repreendiam aqueles que as tinham trazido. Mas Jesus chamou a si as crianças e disse: "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele".(Lucas 18;16-17)

O comércio está fervendo estes dias, está difícil até de chegar perto de um shopping, quem dirá estacionar. É um tempo de festas, alegrias, palhaços nas escolas, nos clubes. Sorrisos por todos os lados. Afinal é a semana das crianças. Meu menino pergunta todo dia se a folga já chegou, pois ele é criança e precisa do seu dia só para brincar.

Quando éramos crianças nossos brinquedos eram diferentes de hoje, ganhávamos bonecas, carrinhos e era uma festa na vizinhança. Quando um ganhava uma bicicleta o dia não acabava, ficávamos lá fora cada um dando uma voltinha, as mães ficavam conosco para não deixarmos destruir a bicicleta antes da hora. No dia não havia hora para dormir, não precisava sentar a mesa para comer. Era o nosso dia, dia de alegria, dia de festa.

Estamos em uma nova fase infantil, não brincamos na rua, o que se perdeu muito de amizades na vizinhança. Não brincamos de bola no quarteirão, pois os carros não param de passar. Nem podemos esticar redes de uma casa a outra, pois o vizinho não aceita que usemos a sua grade. Briga-se por brigas de crianças. Bobagem hoje elas discutem amanhã dividem o lanche na escola.

As crianças precisam voltar a serem crianças, brincar de bolinho de barro depois da chuva. Dançar na chuva fria e nem se preocupar com a gripe. Comer frutas escondido do lote do vizinho, mesmo ele sabendo e nós achado grande coisa estar comendo escondido. Tirar manga daquela galha no mais alto, com todo perigo de cair, mas quem é que teria tanta habilidade como nós crianças para tal aventura?

E os carrinhos de rolimã em plena descida, as pernas já NÃO doíam mais quando ralava. Já era comum na nossa infância. Com o calor intenso comprar geladinho com as moedas que sobraram do pão pela manhã. Pedir água na vizinha com a casa perto. Coisas que a nossa infância deixou para trás e os de hoje não conhecem, infelizmente.

As fincas já ia me esquecendo delas. Furei dois dedos com elas, e quem disse que contei para a mãe, era xingo na certa. Doía muito, mas nada como ganhar uma partida de finca depois da chuva com a terra macia e fofa, afinal nem sabíamos o que era asfalto, a não ser o da avenida que passava longe da nossa casa e só íamos lá quando tínhamos que fazer exames na cidade. Alguém vai dizer: - e as bolinas de gude, elas são o fenômeno da minha época. Um dia apanhei na rua, pois eu ganhei uma lata cheia dos meninos e isso feriu o brio deles. Tomei todos os tapas na cabeça possível, chamei meu irmão mais velho e ele deu um jeito, voltei para casa com a lata cheia e feliz da vida. Claro que não me deixaram jogar por um tempo, mas depois nos acertamos.

Infância era sinônimo de compromisso com o trabalho da casa com as mães, aprendíamos a cozinhar, lavar, passar e cuidar dos terreiros que era a parte principal da infância. Hoje nem terreiros mais se tem.

Poucas crianças hoje em dia infelizmente conhecem pé de jabuticaba, cair do pé de goiaba, pé de manga ubá, se lambuzar com amoras pretas e doces, pé da banana pendurada no alpendre esperando amadurecer, comíamos as de trás para não sermos pegos de surpresa. Quando íamos à vovó, ela fazia lingüiça e pendurava em cima do fogão a lenha para secar e pegar fumaça levantava a noite para comer escondido, fazíamos churrasquinho em lata de sardinha escondido é claro, fora outras e outras peripécias.

O papagaio ou pipa não continha cerol, então podíamos brincar a vontade. Chorava quando alguém derrubava o meu enroscado no outro. Quando quebrava.

Quando o vídeo game chegou, eu já era adolescente, mas mesmo assim não nos encantou a ponto de não irmos para a rua nos divertir, comer batata doce assada nos gravetos. Depois ele foi tomando o lugar da rua, a rua sendo inundada por meninos maus que já estavam aprendendo golpes de fliperamas.

Quanta saudade, meu filho é criado em um muro de 6 metros, nem rua vê. Não podemos deixar brincar na rua, nem passeio e muito menos freqüentar a casa do vizinho. Tenho pena dessa geração infantil. Ainda podemos deixar um grande espaço de lote nos fundos de casa, onde tem várias frutas plantadas e ele tem esse acesso, mas é a minoria. Amiguinhos dele não têm coragem de pisar na terra, medo de machucar. Não sabem o que perdem, vivem na selva de pedra dos prédios, enclausurados em seus ricos e belos apartamentos e não sabem de onde vem o leite, o doce e muito mesmo as frutas. Alguns nem gostam de frutas, pois elas são sem gosto quando compradas no mercado.

Nesta semana vale lembrar cada marca da perna, cada deliciosa viagem de trem. Cada um tem a infância que lhe cabe, mas que a nossa geração pegou a melhor parte isso não tem dúvida.

Até a próxima...

Silvia Letícia Carrijo de Azevedo Sá

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Autor: Silvia Leticia Carrijo


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