PRATICANDO A GESTÃO AMBIENTAL: PROPOSTA PARA IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA DO LIXO EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR



Este artigo tem por objetivo apresentar uma proposta para implantação de coleta seletiva do lixo produzido por Instituições de Ensino Superior (IES), visando promover junto aos discentes à vivência dos conceitos de gerenciamento do meio ambiente e a integração com a sociedade, com vistas a cumprir a função social da Academia. A proposta é composta por 8 (oito) etapas de fácil operacionalização e busca contribuir sobremaneira para a educação sócio-ambiental, despertando os discentes, docentes e técnicos administrativos das Instituições para esta temática, promovendo a cooperação das organizações não-governamentais e, por fim, incutindo práticas ótimas na comunidade.

1. INTRODUÇÃO

A gestão ambiental preconiza a mobilização das organizações, adequando-as à promoção das práticas de desenvolvimento sustentável e de respeito ao meio ambiente. Busca, incessantemente, a melhoria dos produtos e serviços a partir de uma ótica de responsabilidade ambiental e racionalização do uso dos recursos disponíveis. Objetiva a consubstanciação de métodos e processos que concorram para a conservação, preservação e redução do impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente.

A política de exploração sustentável deve estar inserida no planejamento estratégico de quaisquer organizações, sobretudo naquelas que se destinam a formar cidadãos e a coadjuvar no desenvolvimento educacional e sócio-cultural. Mister, por conseguinte, lastrear as condutas sob este manto, diminuindo ou eliminando cabalmente os desperdícios dos insumos, de modo a posicionar a organização num contexto de mercado mais moderno e responsável. Assim, a gestão ambiental pressupõe o estabelecimento de diretrizes sobre as atividades administrativas e operacionais, com vistas a obter efeitos positivos da ação humana, mitigando, pois, os danos causados por esta interferência.

O Estado tem papel fundamental na aplicação destes conceitos e na consolidação da exploração e desenvolvimento sustentáveis. Ele responde pelo estabelecimento de critérios ambientais mínimos a serem seguidos por entidades públicas e privadas. Por isso, é de capital importância apresentar posição coerente e pró-ativa nesta matéria, transformando-se em exemplo e modelo de conduta à sociedade, por meio da inserção de critérios ótimos de sustentabilidade e ética sócio-ambiental.

Assim, a inexistência de qualquer prática atinente à gestão ambiental num centro de geração e dispersão do conhecimento administrativo é, no mínimo, inconcebível. A adoção de um modelo para implantação de coleta seletiva do lixo corrigirá e inserirá as Instituições de Ensino Superior (IES) na práxis ambiental tão em voga na contemporaneidade, alinhando-o ao pensamento social comum e das instituições modernas apreciadas pela coletividade.

Diante dessa realidade, este estudo tem por objetivo apresentar uma proposta para implantação de coleta seletiva do lixo produzido por IES como forma de desenvolver junto aos discentes à vivência dos conceitos de gerenciamento do meio ambiente instruídos, promovendo a relação teoria e prática e a integração com a sociedade, com vistas a cumprir a função social da Academia.

Engajar a Academia nesta política ambiental trará benefícios à imagem e, principalmente, proporcionará uma mudança de comportamento dos discentes, estimulando-os a prover soluções práticas às debilidades institucionais, fazendo-se valer da força criativa advinda do pensamento administrativo.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Educação Ambiental

A educação ambiental (EA) é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal.

Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo:

  • Ao Poder Público, nos termos dos Arts. 205 e 225 da Constituição Federal (1998), definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover educação ambiental em todos os níveis de ensino e engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;
  • Às instituições educativas, promover educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem;
  • Aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;
  • Aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação.

No que se refere às entidades de classe, instituições e organizações públicas e privadas, sua atuação deve estar ligada a promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando melhoria e controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente e à sociedade como um todo, buscando a identificação e solução de problemas ambientais.

Mais do que resolver conflitos ou preservar a natureza através de intervenções pontuais, a educação ambiental entende que a transformação das relações dos grupos humanos com o meio ambiente está inserida dentro do contexto de transformação da sociedade. O entendimento do que sejam os problemas ambientais passa por uma visão do meio ambiente como um campo de sentidos socialmente construído e, como tal, atravessado pela diversidade cultural e ideológica, bem como pelos conflitos de interesse que caracterizam a esfera pública.

Ao enfatizar a dimensão do ambiente nas relações sociais, a educação ambiental propõe a transformação das relações com esse meio, dentro de um projeto de construção de um novo ethos social, baseado em valores libertários, democráticos e solidários.

2.2 Coleta Seletiva e Reciclagem

Ao se pensar em desenvolvimento sustentável, deve ser associado o fator qualidade de vida. Entretanto, não se pode considerar qualidade de vida como a possibilidade de consumir e adquirir um maior número de produtos. A prática desse pensamento gera cada vez mais resíduos que se não forem reutilizados ou reciclados, causam poluição no ar, nos solos e nos rios ou saturam os aterros sanitários.

Coleta seletiva do lixo consiste na segregação dos materiais recicláveis tais como papéis, plásticos, metais e vidros na forma gerada, sendo esses materiais, posteriormente classificados por categorias e encaminhados às indústrias recicláveis.

De acordo com Mota (2000), as vantagens da coleta seletiva do lixo são: a boa qualidade dos materiais recuperados, redução do volume de resíduos a serem dispostos no aterro, estímulo à cidadania, flexibilidade e parcerias. Já as desvantagens são o elevado custo e a necessidade de centros de triagem.

No Brasil, a responsabilidade de coletar lixo é dos municípios. Os programas de coleta seletiva são implantados por meio de iniciativas comunitárias ou do poder público. Entretanto, alguns municípios criam leis próprias para regulamentar a coleta seletiva.

Embora seja de responsabilidade municipal, dada a relevância, a coleta dos resíduos é uma preocupação federal. Decorrente desse contexto, foi criada a Resolução CONAMA 275/01, que estabelece o código de cores a ser adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a coleta seletiva de lixo (BRASIL, 2001).

Quando se fala de resíduos sólidos, ou seja, de lixo, existem as teorias dos R's. Alguns autores falam em 3 R's, outros em 4 R's e outros, ainda, em 5 R's, afinal qual utilizar? Antes de decidir qual conceito de R's deve-se aplicar, faz-se necessário saber o que em geral, cada uma dessas classificações significa, portanto baseado em Coelho (2008):

·3R's: Reduzir, Reutilizar e Reciclar, atualmente o mais utilizado;

·4 R's: Reduzir, Reciclar, Reutilizar e Reintegrar, está ligado a gestão dos resíduos;

·5 R's: Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Repensar e Recusar, foi adaptado para favorecer processos de Educação Ambiental, pois é um conceito mais prático e mais aplicável no nosso dia a dia como consumidores.

Portanto, pode-se inferir que a motivação para a implantação de um programa de coleta seletiva do lixo reúne vários desses aspectos. Ações práticas que, no dia a dia, podem propiciar a redução do impacto sobre o planeta, melhorando a vida atual e contribuindo com a qualidade de vida das próximas gerações.

3. METODOLOGIA

3.1 Método e Tipo de Pesquisa

Neste estudo adotou-se o modelo de estudo de caso, proposto por Tachizawa e Mendes (2004) "... um estudo de caso deve ser desenvolvido a partir da análise de uma organização". Quanto ao método, adotou-se a pesquisa bibliográfica. Segundo Vergara (2006): "Pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais eletrônicos, isto é, material acessível em geral".

3.2 Modelo

Observando que para Gonsalves (2002) "metodologia significa o estudo dos caminhos a serem seguidos, incluindo aí os procedimentos escolhidos." A seguir são apresentadas as etapas que compõem a proposta para a implantação de coleta seletiva do lixo produzido por Instituições de Ensino Superior.

As 8 (oito) ações idealizadas são de fácil operacionalização, consistindo em aplicações, majoritariamente, mecânicas das estratégias traçadas, a saber:

1.Adquirir coletores seletivos produzidos com materiais reciclados para serem instalados em espaços estratégicos da instituição, observando e não atravancando a mobilidade dos transeuntes;

2.Colocar caixas de papelão em todas as salas de aula, destinadas à recolha exclusiva de papel, retirando os cestos de lixo de plástico, como forma de habituar os atores envolvidos à prática de materiais recicláveis;

3.Produzir cartazes informativos para serem fincados em locais de fácil visualização, alertando para a importância da reciclagem e a necessidade de utilizar, adequadamente, os recursos elétricos e hídricos;

4.Promover palestras com especialistas na área de temática ambiental, de modo a congregar e conscientizar os docentes, discentes e técnicos administrativos para a importância da preservação ao meio ambiente;

5.Firmar parcerias e termo de compromisso com organizações ligadas à reciclagem para coleta, periódica e contínua, dos materiais segregados, a fim de contribuir para o desenvolvimento local sustentável das cooperativas e dos catadores de lixo;

6.Realizar a publicidade de todas as ações desenvolvidas, a partir da inserção de notas e matérias jornalísticas nos meios de comunicação de massa e nas publicações internas, divulgando, satisfatoriamente, a Instituição e estreitando os laços com a sociedade;

7.Controlar e fiscalizar as etapas de implantação da coleta seletiva na instituição visando minimizar os possíveis desvios que poderão ocorrer durante a execução do modelo e que poderão entravar o processo, e,

8.Avaliar o modelo e, se preciso, aprimorá-lo a fim de emendá-lo com vistas a torná-lo, perfeitamente, auto-exeqüível.

Salienta-se que, como trata-se de uma proposta, a metodologia poderá sofrer adaptações específicas no local a ser implantado. Ademais, há total flexibilidade no que tange à operacionalização das idéias sugeridas, sendo, portanto, suscetível a melhorias e reformulações.

3.3 Operacionalização

O modelo goza de baixo custo por assentar-se em premissas integradoras, edificadas em parcerias dentro da própria IES e organização não-governamental. O dispêndio pecuniário restringir-se-á à compra dos coletores seletivos propostos, sendo admitida, no intuito de desonerar a Academia, a hipótese de contrato de comodato com a cooperativa associada. Neste caso, em troca da doação do material reciclável, a organização interessada ofertaria os coletores, eximindo a Instituição do ônus de adquiri-las. Desta feita, a proposta apresenta custo quase zero.

Como ponto de partida desta mudança comportamental aqui proposta, convidar-se-ia especialista na área em apreço para proferir palestra com vistas a impulsionar o aceite integral da comunidade universitária à idéia, demonstrando a premência de mudar comportamentos e respeitar o meio ambiente. Não só pela reciclagem, parte palpável do projeto, mas com a redução do consumo de energia elétrica e água – acarretando redução no custeio da máquina administrativa.

Embora sejam especificados períodos para realização da avaliação completa do projeto, o processo de monitoramento dá-se de maneira ininterrupta, iniciando no próprio nascedouro do projeto.

Este acompanhamento diuturno servirá para melhorar a atuação sobre o público-alvo e sobre a própria gestão do projeto, facilitando, inclusive, sua divulgação. A avaliação contínua facultará uma tomada de decisão mais acertada, aumentando a eficácia, qualidade e eficiência da gestão interna, aprimorando o conhecimento sobre sua execução.

Consistirá, basicamente, em formular perguntas precisas acerca dos vários aspectos do programa, de modo a obter um feedback sobre a percepção dos beneficiários e certificar-se dos resultados obtidos ante as ações desenvolvidas, mensurando seu impacto.

Executar-se-ão, para consubstanciar o monitoramento, várias formas de análise: avaliação de resultados, de impacto e participativa. Todas permeadas por abordagens qualitativas e quantitativas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

"Praticando a Gestão Ambiental" não é uma proposta pioneira, tampouco inédita na sua área de atuação. A importância e essencialidade da discussão das abordagens da qualidade em quaisquer esferas na administração perpassam, indubitavelmente, pelo respeito ao meio ambiente e às boas práticas. Pensar uma Academia com cursos voltados à gestão corporativa sem incentivar e promover a vivência do desenvolvimento e exploração sustentável é formar um profissional carente dos requisitos contemporâneos.

A mera implantação de coletores seletivos e a concomitante afixação de cartazes informativos convergirão para a revisão do pensamento individual, confluindo para a mudança de atitude e conseqüente adesão ao modelo. A simplicidade da idéia, aliada à facilidade de operacionalizá-la, redundarão, infalivelmente, em êxito. Ademais, estimular-se-á o surgimento de outras práticas ambientalmente responsáveis.

A proposta da implantação da coleta seletiva do lixo produzido por IES, por conseguinte, irá contribuir para a formulação de uma consciência coletiva responsável: colaborará com a formação profissional; fortalecerá os laços com a sociedade civil, aproximando-se dela; gerará renda para populações marginalizadas e; atenderá os princípios básicos e incipientes da gestão ambiental.

Mister usar do espaço físico, poder de persuasão e influência social das IES na construção de uma sociedade equilibrada e com conceitos ambientais responsáveis. Neste sentido, "Praticando a Gestão Ambiental" contribuirá sobremaneira, despertando os discentes e docentes para esta temática, promovendo a cooperação das organizações não-governamentais e, por fim, incutindo práticas ótimas na comunidade.

5. REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em:

10 jun. 2007.

BRASIL. Resolução CONAMA nº. 275, de 25 de abril de 2001. Estabelece o código de cores a ser adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a coleta seletiva de lixo. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 19 jun. 2001.

COELHO, Luiza S. Disponível em:http://www.licenciamentoambiental.eng.br/3-rs-4-rs-e-5-rs/ Acesso em 12 agosto 2008.

DONAIRE,Denis. Gestão ambiental na empresa. São Paulo: Atlas, 1995;

GONSALVES, Elisa Pereira. Conversas sobre Iniciação à Pesquisa Científica. Campinas: Alínea, 2002.

MOTA, Suetônio. Introdução à engenharia ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro: ABES, 2000.

SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto 99.274, de 06 de junho de 1990. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/estr1.cfm/ Acesso em 30 agosto 2009.

TACHIZAWA, Takeshy; MENDES, Gildásio. Como fazer monografia na prática. 9 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2004.

VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de Pesquisa em Administração.2ª Ed.São Paulo: Atlas, 2006.
Autor: Manassés Almeida Firmino


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