OS DOCENTES, OS DISCENTES E OS PAIS FRENTE A LEITURA FRUITIVA.



Desde cedo à criança faz leitura de mundo, retirando do meio no qual está inserida as imagens, que interpretadas apresentam significados que possibilitam um aprendizado; evidenciando que o desenvolvimento da leitura dá-se através da interação indivíduo/meio, onde estão presentes as mais variadas formas de leitura. A leitura ocupa sem dúvida, um papel de relevante importância na vida da criança, quer seja na escola, em casa ou nas interações que faz no cotidiano com indivíduos com os quais convive diariamente. Este estudo tem como eixo central o modo como vem sendo tratada a leitura em sala de aula, em casa e na sociedade, a fim de ressaltar a necessidade do investimento na leitura fruitiva. O mesmo aborda ainda a significação da formação do leitor através da intervenção docente eficaz no processo ensino-aprendizagem, abordando a mudança de postura para real intensificação no trabalho lúdico, reflexivo e sócio-interacionista. No desenrolar deste tem-se como resultado esperado uma diferenciação na hora de oportunizar o momento de leitura tanto no seio familiar, como no contexto escolar através da intervenção docente, buscando desencadear uma nova forma de ler, o ler pelo prazer. PALAVRAS-CHAVE: Educação, Leitura fruitiva, Intervenção pedagógica, Docentes e Pais.

INTRODUÇÃO

A leitura é uma atividade significativa e essencial ao ser humano, permitindo à criança criar e recriar situações corriqueiras, que, quando passadas para o papel em forma de escrita, contemplam toda a sua grandeza e significado no aprendizado.

A leitura possibilita uma amplitude na maneira de se ver o mundo. A criança começa a interpretar, formular hipóteses, expor ideias e criar, usando a imaginação e o faz-de-conta.

Nessa perspectiva, a criança deve buscar na leitura não apenas a informação, mas, o prazer. O que a criança é capaz de sentir ao folhear um livro é significativo no processo da leitura. O ato de ler deve ser um momento mágico, de troca de conhecimento e também de emoções.

No ato de ler a criança desenvolve habilidades específicas de leitura, adquirindo conhecimentos de maneira prazerosa e eficaz, visto que, a leitura quando oferecida à criança de forma sutil, através do manuseio constante de escritos, desencadeia o hábito de leitura fruitiva.

Para Martinéz (1998), "Cada livro, cada página, frase ou palavra é uma chave para o conhecimento. Portanto, estimular alguém a exercer o prazer de ler é estimulá-lo a se emocionar e a descobrir novas idéias."

As escolas e os centros de educação infantil e suas bibliotecas com acervo literário precário, contribuem para o desinteresse da criança pelo ato de ler, pois deixam de proporcionar a criança novas opções de leituras, de conhecimento, entretenimento e lazer.

O desenvolvimento deste artigo, convida-nos a refletir sobre valores e importantes posturas de cidadania, tão ausentes na comunidade escolar, que podem e devem ser resgatadas por meio da literatura infantil, oportunizada de forma fruitiva.

OS DOCENTES, OS DISCENTES E OS PAIS FRENTE A LEITURA FRUITIVA.

Surgiram no século XVIII, os primeiros livros direcionados ao público infantil, tendo como precursor Charles Perrault, enfocando principalmente os contos de fadas. A literatura infantil então, passou a ocupar um espaço de relevância, desencadeando o surgimento de muitos autores, como Hans Christian Andersen, os irmãos Grimm, no Brasil, Monteiro Lobato, imortalizados pela grandiosidade de suas obras.

De lá pra cá, os laços entre a escola e a literatura começam a se estreitar, pois para adquirir livros era preciso que as crianças dominassem a língua escrita e cabia a escola desenvolver esta capacidade.

Relevante, destacar que as literaturas eram produzidas para os adultos e aproveitada para as crianças. Seu aspecto didático-pedagógico de grande importância, baseava-se numa linha moralista, paternalista, centrada numa representação de poder. Uma literatura para estimular a obediência à igreja, ao governo ou ao senhor. Uma literatura, cujas histórias acabavam sempre premiando o bom e castigando o que era considerado mau, ou seja, seguindo à risca os preceitos religiosos desconsiderando o olhar da criança, importando apenas o desejo dos que a educam, podando-lhe o direito de opinar.

A obra literária infantil não tinha o objetivo de tornar a leitura como fonte de prazer, retratando apenas a aventura pela aventura. Havia poucas histórias que falavam da vida de forma lúdica, ou que faziam pequenas viagens em torno do cotidiano, ou a afirmação da amizade centrada no companheirismo, no amigo da vizinhança, da escola, da vida. Até as duas primeiras décadas do século XX, as literaturas infantis produzidas para a infância, apresentavam um caráter ético-didático, ou seja, o livro tinha a finalidade única de educar, apresentar modelos, moldar a criança de acordo com as expectativas dos adultos.

Esta realidadecomeça ser modificar por volta dos anos 70 e a literatura infantil passa por uma revalorização, em grande parte, pelas obras de Monteiro Lobato, no que se refere ao Brasil. Ela então, se ramifica por todos os caminhos da atividade humana, valorizando o cotidiano, a família, a escola, o esporte, as brincadeiras, as aventuras, as minorias raciais, penetrando no campo da política e suas implicações.

Atualmente a literatura infantil possui uma dimensão muito mais ampla e importante, proporcionando à criança um desenvolvimento emocional, social e cognitivo indiscutíveis.

Abramovich (1997) afirma que, quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara, sentimentos que têm em relação ao mundo. As histórias trabalham problemas existenciais típicos da infância, como medos, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor, perda, além de ensinarem infinitos assuntos.

Nos últimos anos inúmeros pesquisadores têm-se empenhado em mostrar aos pais e professores a importância de se incluir aliteratura infantil no dia-a-dia da criança, relembrando que a infância é o melhor momento para o indivíduo iniciar sua emancipação mediante a função de ler e escrever.

É entre os oito e treze anos de idade que as crianças revelam maior interesse pela leitura, pois descobrem que ler onde e quando mais lhe convém, no ritmo que mais lhe agrada, podendo retardar ou apressar a leitura; interrompê-Ia, reler ou parar para refletir, a seu bel-prazer; proporcionaum gostinho especial de ludicidade. Flexibilidade que garante o interesse continuo pela leitura.

Neste sentido, quanto mais cedo a criança tiver contato com os livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior será a probabilidade dela tornar-se um adulto leitor, adquirindo uma postura crítico-reflexiva, extremamente relevante à sua formação cognitiva.

A criança é atraída pela curiosidade, pelo formato, pelo manuseio fácil e pelas possibilidades emotivas que o livro pode conter, estimulando no pequeno leitor a descoberta e o aprimoramento da linguagem, desenvolvendo sua capacidade de comunicação com o mundo. Esses primeiros contatos despertam na criança o desejo de concretizar o ato de ler o texto escrito, facilitando o processo de alfabetização.

Segundo Abramovich, É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica. É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula.

Pesquisas atuais vem demonstrando que o acesso aos livros ainda é dificultado por uma conjunção de fatores sociais, econômicos e políticos. Atualmente são raras as bibliotecas escolares com acervo diversificado e atualizado periodicamente, e as existentes, não dispõem de um acervo adequado, e/ou de profissionais aptos a orientar o público infantil no sentido de um contato agradável com os livros.

Mais raras ainda são as bibliotecas nos lares, visto que os pais, quando se interessam em comprar livros, muitas vezes os escolhem pela capa, por falta de uma orientação, direcionando a escolha às preferências das crianças.

Diariamente, constata-se que é de extrema importância para os pais e educadores discutir o que é leitura, a importância do livro no processo de formação do leitor, bem como, o ensino da literatura infantil como processo para o desenvolvimento do leitor crítico.

Assim, pais e professores devem explorar a função educacional do texto literário: ficção e poesia por meio da seleção e análise de livros infantis; do desenvolvimento do lúdico e do domínio da linguagem; do trabalho com projetos de literatura infantil em sala de aula, utilizando as histórias infantis como caminho para o ensino multidisciplinar.
Estratégias para o uso de textos infantis no aprendizado da leitura, interpretação e produção de textos também são exploradas com o intuito final de promover um ensino de qualidade, prazeroso e direcionado à criança. Somente desta forma, transformaremos o Brasil num país de leitores.

Cabe ao professor transformar a sala de aula num ambiente estimulante, com as mais variadas situações, oferecendo os mais diversificados materiais de leitura, possibilitando a criança manifestar-se livremente a sua compreensão e os seus questionamentos.

O professor deve contar histórias, criando um clima afetivo e de aproximação entre as crianças. Ao ler uma história, o professor também proporciona esta aproximação com a vantagem de o texto trabalhar com a linguagem e produção literária, permitindo que a criança conheça o fascinante mundo da Literatura Infantil.

Através da leitura de histórias pelo professor, a criança deve ser incentivada a se manifestar, a participar ativamente, fazendo perguntas, comentários e a interpretação oral da história. Quando a criança ouve ou lê uma história e é capaz de comentar, indagar, duvidar ou discutir sobre ela. No olhar de Bakhtin (1992), o confrontamento de idéias, de pensamentos em relação aos textos, tem sempre um caráter coletivo, social.

É importante que o professor selecione livros infantis no nível de interesse das crianças, e ao mesmo tempo incentive-as a escolher livremente sua leitura para que, aos poucos, possam fazer a seleção, tendo liberdade de fazer a sua própria leitura. Que o livro seja tocado pela criança, folheado, de forma que ela tenha um contato mais íntimo com o objeto do seu interesse, percebendo que ele faz parte de um mundo fascinante, onde a fantasia apresenta-se por meio de palavras e desenhos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira. Sendo assim, pode-se dizer que a capacidade de ler está intimamente ligada a motivação. Infelizmente são poucos os pais que se dedicam efetivamente em estimular esta capacidade nos seus filhos, e o mesmo acontece no contexto escolar; ou seja, os professores compreendem a necessidade, mas investem muito pouco na leitura.

Para tanto, importante salientar que neste prisma, um fator que contribui positivamente em relação à leitura é a influência do professor, onde nesta perspectiva, cabe ao professor desempenhar um importante papel: o de ensinar a criança a ler e a gostar de ler. Necessitamos de professores que ofereçam pequenas doses diárias de leitura agradável, sem forçar, mas com naturalidade, e certamente desencadearão na criança um hábito que poderá acompanhá-la pela vida afora.

Outro fator relevante é que para se desenvolver um programa de leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça uma variedade de livros de literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor observe a idade cronológica da criança e principalmente o estágio de desenvolvimento de leitura em que ela se encontra.

Enfim, a literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige do professor conhecimento para saber adequar os livros às crianças, gerando um momento propício de prazer e estimulação para a leitura.

A grande missão do professor é acreditar que além de informar, instruir ou ensinar, o livro pode dar prazer, cabendo a ele encontrar meios de mostrar isso à criança; que vai se interessando gradativamente, buscando no livro esta alegria e prazer, pois tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o livro proporciona.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. 4.ed. São Paulo: Scipione, 1997.

ANTUNES, Walda de Andrade. Ledo e formando leitores: orientações para o trabalho com a literatura infantil: Circuito Campeão. São Paulo: Global, 2007.

BAKHTIN, Mikhail V. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. 3.ed. Brasília: A secretaria, 2001.

MARTÍNEZ, Lucila. Escola, sala de leitura e biblioteca criativas. 3a ed. Petrópolis, RJ. Autores &Agentes&Associados, 1998.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

NASCIMENTO, Elvira Lopes e outros. Gêneros Textuais: questões teóricas e práticas. Formação Continuada de Professores – Plano de Ações Articuladas. Ponta Grossa: UEPG/ CEFORTEC, 2004.


Autor: Andrey Soares


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