A Desbanalização da Idade Média



A desbanalização da idade média:

A idade média é um período da história que abrange dez séculos mas de alguma forma foi banalizado como um simples período de trevas em meio a dois períodos de cultura resplandecente e foi caracterizado, de forma geral, pela dominação clerical da Europa. Eruditos renascentistas e principalmente iluministas com o claro intuito de romper com o poder da igreja e da monarquia taxaram este período histórico como "a idade das trevas" (KARNAL, 2005).

Dentro da mentalidade renascentista e da iluminista houveram duas épocas iluminadas, de cultura resplandecente, a antiguidade e a idade moderna que trazia de volta "a luz da razão", separada por tempos obscuros e grosseiros. Renascimento pelo próprio sentido da palavra remete a volta de algo "morto", no caso a antiguidade clássica e iluminismo passa a ideia de iluminar algo que está na escuridão (PERNOUD, 1989).

Um intervalo de 1000 anos foi dividido em um único período histórico, porem neste longo período de tempo muita coisa aconteceu e este fato nos leva a perguntar: em quantos sub períodos diferentes podemos dividir este longo espaço de tempo? Se a resposta for um único período então podemos dizer que foram 1000 anos de trevas e que nada de relevante aconteceu, mas se, ao contrário, notarmos diversos estágios de transformações sociais, políticas e econômicas estaremos nos deparando com uma extensa história a ser conhecida.

Analisando superficialmente já podemos notar diversas mudanças sociais, políticas e econômicas, pois um império unificado que dominava grande parte da Europa logo que foi destituído foi fragmentado pelos diversos grupos que o invadiam e a Europa vivia em uma situação um tanto caótica com as hordas de bárbaros invasores ainda buscando, cada uma, o seu lugar. Ainda neste tempo a igreja crista buscava guardava sua cultura que foi adotada logo mais pelos bárbaros. Na busca por espaço, surge um novo império, o império carolíngio, que domina novamente grande parte da Europa para logo mais ter o poder fragmentado entre os herdeiros sucessivamente formando diversos reinos. Estes reinos sem um poder central fortalecido teve que sofrer novas adaptações para sobreviver e assim se associa com a aristocracia rural dando início ao feudalismo ou o modo de produção feudal e este modo de produção a medida que se estabiliza e volta a produzir excedentes volta a praticar o comercio interregional começando o mercantilismo, o sistema financeiro e criando a germinação do capitalismo (ANDERSON, 2004). Rapidamente identificamos muitos períodos de diferentes movimentações sociais nestes 1000 anos de história relegados anteriormente à escuridão.

Fazendo uma análise mais detalhada e minuciosa aparecem diferenças regionais em diversos fatores, inclusive formando feudalismos bastante diferentes entre si. Culturalmente a produção foi igualmente diversificada e muitas inovações surgiram nas artes com destaque para a música, a literatura e a arquitetura mas sem o intuito de copiar o que fora feito no período clássico, sendo por isso, pela falta de identificação com a produção artística anterior, taxados os artistas medievais de inábeis e desajeitados (PERNOUD, 1989).

Não só a falta de identificação com o período clássico gerava críticas ao período medieval, tambem por motivos diversos, outros setores da sociedade criticavam esta época. Os protestantes reclamavam da supremacia católica, Os absolutistas lamentavam o poder fraco e fragmentado do período, a burguesia desprezava os séculos de baixa atividade mercante e por fim os intelectuais racionalistas deploravam aquela cultura voltada para a vida espiritual (FRANCO, 1986), ou seja,todos tinham seus motivos para desgostar da idade média.

Porem, pouco depois de firmada a idade das luzes, depois de iluminada a humanidade pelo racionalismo, surge o romantismo, movimento que vinha resgatar os tempos em que o homem fora verdadeiramente feliz, sugerindo a sobreposição da razão pelo sentimentalismo. Tal como a renascença fez com a antiguidade o romantismo pretendia fazer com a idade média, porém parece de bom tom fazer uma análise cronológica das divisões históricas medievais começando pelas invasões e seguindo pela conversão dos bárbaros ao cristianismo, retornando a um império unificado na Europa passando pela fragmentação deste poder, pela instituição do feudalismo, início do mercantilismo e o fortalecimento do poder monarquico.

Certamente a idade média tem muito a nos oferecer para estudarmos, ainda mais considerando que os tópicos supra citados não se desenvolveram de forma homogenea em toda a Europa, o que nos oferece variações e comparações interesantes de seresm vistas. O que foi considerado banal e obscuro tem muito a nos revelar.

Referencias bibliográficas:

ANDERSON, Perry: As passagens da antiguidade para o feudalismo – São Paulo: Braziliense 2004

FRANCO, Hilário Junior: A idade média, nascimento do ocidente - São Paulo: Braziliense 1986

PERNOUD, Régine: O mito da idade média – Publicações Europa-América 1989

KARNAL, Leandro: História na sala de aula – São Paulo: Contexto 2005


Autor: Julio Appel


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