INTERNET: DETERMINANDO A SOCIABILIDADE CONTEMPORÂNEA



INTRODUÇÃO

 

No processo histórico contemporâneo, a comunicação é o agente construtor da realidade, nossa percepção do mundo é uma construção cultural, sendo a comunicação quem produz e interfere nas percepções. Nos meios de comunicação não se reproduz apenas ideologia, mas se constrói a cultura, constitui-se uma mentalidade coletiva. A mídia, de forma geral, é a base de trocas simbólicas, além de ser também, abrangente, com imensurável capacidade de alcance no meio social.

A junção entre os meios de comunicação de massa e a microinformática, aliada ao crescimento das redes comunicacionais, modificam não só no cotidiano, como também na maneira como o homem percebe o mundo e o seu semelhante.

Analisando o retrato atual da sociedade, torna-se impossível falar de mídia sem mencionar a que, hoje, é a sua maior expressão: a Internet. Com o surgimento da mesma, que é o mais completo meio de comunicação já concebido pela tecnologia humana, temos assistido uma reconfiguração das culturas e o nascimento de uma nova estrutura da sociabilidade contemporânea.

 

Comunicação e Sociedade

 

Vemos emergir, na sociedade global, o cenário de uma nova hegemonia baseada no poder da informação e da tecnologia, poder do qual a comunicação é detentora. As relações de força se apóiam nas forças de sedução, no convencimento das massas por meio de informações e argumentos carregados de influência emocional e sensorial. Como produtoras de cultura, as mídias não apenas influenciam normativamente os públicos, mas se tornam uma espécie de suporte das consciências à medida que os fluxos comunicativos dialogam, reorganizam e, até mesmo, inventam percepções. A produção de símbolos gera subjetividade, e assim, nossas impressões sobre os mais diversos assuntos são criadas.

Os meios de comunicação constituem um âmbito decisivo de socialização, pautando o pensamento dos públicos, ditando comportamentos, e assim formulam a mentalidade coletiva. Segundo Jesús Martín-Barbero (2003, p.63): “A comunicação é percebida, em todo caso, como o cenário cotidiano do reconhecimento social, da constituição e expressão dos imaginários”.

Num tempo em que nossa sociedade é regida por uma cultura globalizante, somos conduzidos pela aprendizagem vinda de novas experiências com diferentes campos, desenvolvidos pelas tecnologias da globalização. Benjamin R. Barber, ao falar sobre a cultura McWorld, afirma que seu projeto se baseia em um futuro reunindo todos os países em um vasto parque de temática global, colocado totalmente em rede pelas tecnologias da informação, pelas trocas comerciais e pela indústria do espetáculo (2003, p.42). Fala-se, portanto, de uma reconfiguração das culturas: a evolução dos dispositivos dominadores e intensificação da comunicação, logo, interação com as outras culturas de cada país e, então, do mundo. Daí, a afirmação de Martín-Barbero (MORAES, 2003, p.68): “As culturas vivem enquanto se comunicam umas com as outras e esse comunicar-se comporta um denso intercâmbio de símbolos e sentidos”.

Como conseqüência do desenvolvimento de novas tecnologias da informação e comunicação, observamos a transformação do sentido de “presença” e uma redefinição dos conceitos de espaço e tempo, por exemplo. A sociabilidade contemporânea tem como forte marca a mobilidade, “que mesmo virtualmente atravessa fronteiras geográficas, culturais, profissionais, hierárquicas, e que é capaz de estabelecer contatos pessoais com diversos e muitas vezes desconhecidos atores” (2008). Hall (2001) complementa que, quanto mais a vida social das pessoas torna-se mediada pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, por exemplo, mais as relações sociais se tornam desvinculadas do aspecto geográfico e social, e isso possibilita os indivíduos optarem por uma forma diferente de interação e sociabilidade, sendo possível escolher a que grupo quer se pertencer. Assim, os novos meios de comunicação, criam novas formas de ação e interação. E também novos tipos de relacionamentos sociais, que podem se dissociar do ambiente físico.

 

Internet: modificando as relações sociais

 

A construção de um social em rede, caracterizado por circuitos informativos interativos, nos obriga a repensar as formas e as práticas das interações sociais fora da concepção funcional-estruturalista baseada em relações comunicativas analógicas.

Hoje as redes de informática não são unicamente onde circula o capital, são também “lugares de encontro” dos mais variados grupos sociais. Os jovens, principalmente, estão vivendo, segundo Martín-Barbero (2003, p.66),

 

[...]emergência das novas sensibilidades, dotadas de uma especial empatia com a cultura tecnológica, que vai da informação absorvida pelo adolescente em sua relação com a televisão à facilidade para entrar e mover-se na complexidade das redes informáticas.

 

Pierre Musso define rede como um vínculo, devido sua função de ligação. Sendo que as estruturas que o ciberespaço põe em rede são cérebros e computadores, obtendo-se, assim, uma hibridação homem-máquina, além de uma “inteligência coletiva” por meio e no ciberespaço (2006, p.191).

Neste contexto é que destacamos a Internet como uma das principais forças reguladoras da sociabilidade contemporânea. Para Castells (2006, p.255), a “Internet é o tecido de nossas vidas neste momento. Não é futuro. É presente. Internet é um meio para tudo, que interage com o conjunto da sociedade”. Ela é um meio de comunicação, de interação e de organização social; é um instrumento eficaz que desenvolve comportamentos. Ainda, para Castells (2006, p.255), “a Internet é – e será ainda mais – o meio de comunicação e de relação essencial sobre o qual se baseia uma nova forma de sociedade que nós já vivemos”.

O impacto que a Internet causou, e ainda causa, sobre os demais meios de comunicação é significativo. A rede planetária da Internet possibilita a circulação instantânea de informações e elimina a separação tradicional entre emissor e receptor, pressuposto fundamental de todas as principais práticas comunicativas desenvolvidas na história. Na Internet, as informações chegam em tempo real e continuam a ser processadas em tempo real – contínua e interativamente. É o meio de comunicação direcionado não a receptores isolados uns dos outros, anônimos, passivos. Seus usuários têm acesso instantâneo, fazem perguntas, criticam e debatem. Ela põe em jogo espaços comuns onde cada um pode trazer a sua parte e retirar o que lhe interessa, como se fossem mercados de informação.

Castells (2006, p.274) amplia esse pensamento ao afirmar que

 

 A sociabilidade está se transformando através daquilo que alguns chamam e privatização da sociabilidade, que é a sociabilidade entre pessoas que constroem laços eletivos, que não são os que trabalham ou vivem em um mesmo lugar, que coincidem fisicamente, mas pessoas que se buscam,

 

Logo, mais que o surgimento de uma sociedade on line, presenciamos uma apropriação da Internet por redes sociais. Com isso, uma nova forma de organização comunitária está surgindo utilizando-se das novas tecnologias: as comunidades virtuais. “Essas comunidades envolvem indivíduos que possuem interesses em comum, em um espaço onde a comunicação é fundamental no processo de aceitação e integração dos mesmos”, segundo Baldanza.

E é no ciberespaço onde as comunidades virtuais se desenvolvem e as novas bases das relações sociais se concretizam, e sobre ele Moraes (2002) afirma que

 

         Funda uma ecologia comunicacional: todos dividem um colossal hipertexto, formado por interconexões generalizadas, que se auto-organiza e se retroalimenta continuamente. Trata-se, pois, de um conjunto vivo de significações, no qual tudo está em contato com tudo: os hiperdocumentos entre si, as pessoas entre si e os hiperdocumentos com as pessoas.

 

Esse espaço, feito unicamente de redes, se caracteriza pela interconexão infinita: interconexão mundial dos computadores e cérebros. No ciberespaço são produzidos laços de cooperação entre os indivíduos, podendo se tornar um ambiente participativo, além de construtivo. Essas relações desenvolvidas e, até mesmo, nele intensificadas, constituem o resultado do impacto das novas tecnologias de comunicação na estrutura social.

 

Internet: além das comunidades virtuais

 

Com o desenvolvimento dessa nova sociabilidade, vemos emergir uma nova economia. Deve-se destacar que a nova economia não diz respeito às empresas produtoras da Internet, estritamente, mas daquelas que funcionam através dela (CASTELS, 2000).

O que vem acontecendo é que o trabalho interno, em sua totalidade praticamente, as relações com clientes e com provedores estão se fazendo pela rede. Por exemplo, certas empresas de construção civil têm como centro um website, onde os usuários têm acesso aos projetistas, construtores e arquitetos. Assim, a primeira grande transformação que a Internet vem implantando na economia, é a mudança dos modelos padrões de empresa.

Além de modificar a economia, a Internet tem, hoje, profunda relação com os movimentos sociais e políticos do mundo. Independente do que defendem, eles utilizam a rede como forma privilegiada de ação e organização. Segundo Castells (2000),

A Internet é a estrutura organizativa e o instrumento de comunicação que permite a flexibilidade e a temporalidade da mobilização [social], mantendo, porém, ao mesmo tempo, um caráter de coordenação e uma capacidade de enfoque dessa mobilização.

 

Ela assume o posto de nova forma de controle e de mobilização social, já que é a conexão global-local. Logo, a articulação dos projetos, primeiramente, locais acontece através dos protestos globais devido a influência da Internet nesse meio.

Entretanto, o sistema político ainda deixa a desejar no que diz respeito à sua prática interativa cotidiana com os cidadãos. Ainda, para Castells (2000), “os partidos políticos confundiram a Internet com um quadro de anúncios”. Porém, nesse caso, é preciso uma mudança no campo político, para que a Internet passe de um instrumento unidirecional, que transmite a publicidade dos partidos, para um instrumento dinâmico de mudança social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

São incontáveis as observações a serem feitas sobre a Internet como fator modificador da sociabilidade. Neste artigo, procuramos explanar os principais elementos da sociedade que têm sofrido considerável mudança a partir da influência da rede.

A Internet é a infra-estrutura tecnológica e o meio que possibilita o desenvolvimento de novas formas de relação social. A sociabilidade contemporânea tem base nas redes de informação a partir da tecnologia de informação microeletrônica, apoiadas na Internet. Ratificamos o que afirmou Muniz Sodré em “Etnicidade, Campo Comunicacional e Midiatização” (2003, p.23): “a tecnocultura implica uma nova tecnologia perceptiva e mental, portanto, um novo tipo de relacionamento do indivíduo com as referências concretas e com a verdade, ou seja, uma outra condição antropológica”.

Em suma, a extensão do ciberespaço acompanha e acelera os passos da economia e da sociedade, em geral. A Internet, com suas peculiaridades, reconfigurou o nosso sistema de pensamento e, ainda, nossos conceitos de comunicação.

O que ela faz é transportar para nossa realidade a virtualidade, e constituir, assim, a sociedade em rede, à qual pertencemos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

 

BALDANZA, Renata Francisco - Comunicação e interação on-line como nova forma de sociabilidade: analisando uma comunidade virtual de turismo, Rio de Janeiro: UERJ 2007. Dissertação, Mestrado em Comunicação, Faculdade de Comunicação Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2007. Disponível em <http://www.bdtd.uerj.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=321> Acesso em: 19 mai. 2008.

 

BARBER, Benjamin R.. Cultura McWorld, In: MORAES, Dênis de (org.). Por Uma Outra Comunicação : Mídia, mundialização cultural e poder, Rio de Janeiro: RECORD, 2003.

 

BARBERO, Jesús Martín. Globalização Comunicacional e Transformação Cultural, In: MORAES, Dênis de (org.). Por Uma Outra Comunicação: Mídia, mundialização cultural e poder, Rio de Janeiro: RECORD, 2003.

 

CASTELLS, Manuel. Inovação, Liberdade e Poder na Era da Informação, Porto Alegre, 2005. In: MORAES, Dênis de (org.). Sociedade Midiatizada, Rio de Janeiro: MAUAD, 2006.

 

CASTELLS, Manuel. Internet e Sociedade em Rede, In: MORAES, Dênis de (org.). Por Uma Outra Comunicação: Mídia, mundialização cultural e poder, Rio de Janeiro: RECORD, 2003.

 

HALL, Stuart. A Questão Multicultural. In: DA DIÁSPORA: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003

 

MUSSO, Pierre. Ciberespaço, Figura Reticular da Utopia Tecnológica, In: MORAES, Dênis de (org.). Sociedade Midiatizada, Rio de Janeiro: MAUAD, 2006.

 

SODRÉ, Muniz. Etnicidade, Campo Comunicacional e Midiatização, In: MORAES, Dênis de (org.). Sociedade Midiatizada, Rio de Janeiro: MAUAD, 2006.

RAMONET, Ignácio. O Poder Midiático, In: MORAES, Dênis de (org.). Por Uma Outra Comunicação: Mídia, mundialização cultural e poder, Rio de Janeiro: RECORD, 2003.

 

RECUERO, Raquel da Cunha. A INTERNET E A NOVA REVOLUÇÃO NA COMUNICAÇÃO MUNDIAL, Rio Grande do Sul, 2000. Ensaio, disciplina de história das Tecnologias de Comunicação, Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUC/RS, 2000. Disponível em <http://pontomidia.com.br/raquel/revolucao.htm> Acesso em: 21 mai. 2008.


Autor: Maithê Scherrer


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