A religião é o ópio do povo



O sofrimento religioso é, a um único e mesmo tempo, a expressão do sofrimento real e um protesto contra o sofrimento real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condi;cões desalmadas. "É o ópio do povo."

Você vai perceber de imediato duas coisas. Primeiro, Marx não diz que a religião é o narcótico, o entorpecente do povo, mas sim que é o ópio -- um narcótico específico.

Caracterizar a religião como uma droga que anestesia a dor, por mais chocante que seja para muitos, hoje, foi ainda mais radical em sua época. E no entanto, mais do que condenando a religião em si, Marx na verdade estava criticando a condição de uma sociedade que levaria as pessoas a um entorpecimento. De qualquer modo, a partir daí, não paramos de ouvir as críticas aos comunistas sem Deus, implicando que o pensamento marxista não tem valores nem moralidade.

Isso não é bem verdade. O que Marx queria dizer é a religião funciona no sentido de pacificar os oprimidos; e a opressão é definitivamente um erro moral. A religião -- dizia ele -- reflete o que falta na sociedade; é uma idealização das aspirações do povo que não podem ser satisfeitas de imediato. As condições sociais da Europa nos meados do século passado tinham reduzido os trabalhadores a pouco mais que escravos; as mesmas condições produziram uma religião que prometia um mundo melhor na outra vida.

Ainda segundo Marx, a religião não é apenas uma superstição ou uma ilusão. Ela tem uma função social: distrair os oprimidos da realidade de sua opressão. Enquanto os explorados e espezinhados acreditarem que seus sofrimentos lhes granjearão liberdade e felicidade no futuro, estarão considerando a opressão como parte de uma ordem natural -- um fardo necessário e não uma coisa imposta pelos outros homens. É isso o que Marx queria dizer ao chamar a religião de "ópio do povo": ela alivia sua dor, mas ao mesmo tempo, torna-os indolentes, nublando sua percepção da realidade e tirando-lhes a vontade de mudar.

O que Marx queria? Ele queria que as pessoas abrissem os olhos para as duras realidade do capitalism0 burguês do século dezenove. Os capitalistas estavam extraindo mais e mais lucros a partir do trabalho do proletariado, ao mesmo tempo que "alienavam" os trabalhadores de sua auto realização. O que os trabalhadores mereciam, e poderiam obter se acordassem de sua sonolência, era o controle de seu próprio trabalho, a posse do valor que geravam com esse trabalho e, conseqüentemente, auto estima, liberdade e poder.

Para atingir esse fim, Marx clamava pela "abolição da religião como felicidade ilusória do povo." Ele queria que eles buscasse a "felicidade real", que na filosofia materialista de Marx era a liberdade e a realização neste mundo. Já que os ricos e poderosos não iriam entregar isso de graça, as massas teriam de tomá-lo. Daí, luta de classe e revolução.


Autor: Gizeudo Marcos de Lima


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