Haveres
Todo o meu ser é maldade. Toda a minha natureza é perversão.
Vivo mergulhada em pensamentos secretos que não me atrevo a revelar.
Vivo imersa em projetos de conspiração da minha alma enferma.
Tudo em mim nasce de sentimentos baixos que preciso refrear.
Minha mão passeia pelo fio da navalha que faria cessar o infame.
Meu dedo quer apertar o gatilho e fazer tombar o insano ao solo.
Minha mente tudo examina e compõe esta minha triste e vã existência.
Tudo em mim é torpe, vil e humano nesse silêncio do correr das horas.
Sou um banquete para os vermes que me encontrarão noutro momento.
De mim nada fica além das angústias que carreguei na minha solidão.
E nada levo além da simples obrigação de passar por este mundo-cão!
Do berço à sepultura todo o meu ser é maldade, é dor, é desilusão.
— Recolhe esta lágrima fingida, mon amour! Respira, enfim, aliviado.
E apaga definitivamente este rascunho mal escrito que quiseste chamar amor.
Autor: Nara Junqueira
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