OS ESPAÇOS E TEMPOS DAS ESCOLAS



RESUMO:

O presente artigo pretende discutir os espaços e tempos escolares, e como valores e interesses estão embutidos no dia-dia da escola, nas séries de repetições mecânicas, solidificando relações que devem ser tomadas como eixo central pelos alunos ou em construções espaciais que desprivilegiam as inter-relações e diminuem as possibilidades de reação ao esquema estabelecido.
Palavras-chave:1.espaço;2.tempo;3.escola;4.arquitetura

ABSTRACT:

This article discusses the school space and time, and how values and interests are embedded in everyday school day, the series of mechanical repetitions, solidifying relationships that should be taken as the centerpiece for students or building space that the inter underprivileged -relationships and decrease the possibilities of reaction to the scheme established.
Keywords: 1.space;2. time;3. school,4. architecture

INTRODUÇÃO: A INSTITUIÇÃO ESCOLA

A escola é, sem dúvida, uma das instituições mais antigas. Foi no Século IV a.C. que a educação se institucionalizou com a fundação das primeiras Escolas: Isócrates abriu a sua Escola em 393a.C. e Platão fundou a Academia em 387a.C. Surgiam então as Escolas filosóficas da qual, o período pré-socrático está marcado por uma constelação delas, situadas em diferentes regiões do mundo grego, então geograficamente mais vasto que o da Grécia atual. De lá para cá, muita coisa mudou na instituição escola, no Brasil historicamente, o modelo de escola que temos hoje desenvolve em seu seio uma visão de mundo hierarquizada e disciplinadora, onde nossos espaços e nossos tempos permitem mecanismos de controle. No plano científico e filosófico, essa maturação da escola é por demais obediente às visões mecanicistas do nosso mundo físico e social, em que o centracionismo e a repetição são constantes.

Em relação às práticas economicistas e políticas, a instituição escola servia para formar trabalhadores e cidadãos disciplinados e alienados dos poderes do Estado e seus aparelhos ideológicos observando padrões morais e éticos construído, alicerçado e extremamente consolidado. Uma escola por deveras rigorosa para um mundo rigoroso.

1. A ESCOLA E SEU PADRÃO DE ARQUITETURA COMO FUNÇÃO SOCIAL

Para essa escola, adquiriu-se um sistema padronal de arquitetura e mobiliário,para atender o sistema funcional que a eles se pedia, contribuindo no plano simbólico, a confirmação de como a escola representava a disciplina e a grande ordem social. "Sendo a escola, metaforicamente, uma morada, uma habitação, com um feixe de relações recíprocas que se estabelecem entre os múltiplos atores, podemos pensar na sua inflexão sobre os hábitos, costumes, atitudes, que serão transmitidos aos alunos(...). (EIZIRICK, 2001, p.73)

Se olharmos um pouco para trás, veremos certas características das nossas salas de aula, observando como fatores, arquitetura e design estão entrelaçados com os métodos e técnicas e modo de ensino ideologizando as suas formas aparentes. O ponto fundamental de nossa conversa, são os valores e interesses enraizados em atividades cotidianas e corriqueiras, em séries de repetições supra mecanizadas, realimentando relações com os alunos ou em suas formas espaciais que desequilibram as nossas interações e minimizam as possibilidades de uma reação ao esquema estabelecido.

Faz-se muito tempo, que ao vislumbrarmos as nossas escolas, e como centro, às salas de aula, poderemos observar um dia-dia hierarquizado, de alunos com uma distribuição uniforme em fileiras, amarrados sem inter-relação, sem trocar olhares e pensamentos entre si, com os olhos atentos a figura "impávida" do professor ou na lousa, donde devia convergir toda a atenção e interação. O Professor destacava-se do conjunto e seu olhar era o único a vislumbrar a totalidade da sala de aula.

Em todo o Brasil de uma sala a outra, de uma escola a outra, o sistema padronal se repetia. A mesma estrutura física, arquitetônica, de todo o mobiliário, sem esquecer das famosas práticas: a uniformidade na disposição de nossos alunos, a figura vigilante do professor, o seu discurso autoritário, a falta de interação entre os alunos, a seqüência das aulas. Para efetivar a forma de repetição e a paz, esquemas de vigilância e punições. Velhos códigos de conduta diferenciados para os mestres e alunos. O Mestre fala quando quer; o aluno deve pedir humildemente sua licença. Se abusar, não existe tolerância. Reprovação, suspensões e até expulsão da escola.

2. OS TEMPOS MUDARAM

Parece que os tempos mudaram... O ambiente familiar é mais flexível. Vemos crianças e adolescentes conversando com seus pais deveras assuntos. Tatuagens, tintas nos cabelos, brincos e outros acessórios são incorporados ao modo de vestir e a outros hábitos. Festinhas, música, videogames, celulares da moda, mp3, diminuição da repressão à sexualidade etc. A velha palmada fora abolida na educação familiar, em consonância com o silêncio na ora das refeições. Na escola também, acontecem suas mudanças. Segundo Goodman (1992, p.44):

A educação dos (as) meninos (as) é um fenômeno complexo que implica estruturas organizativas, identidades pessoais, dinâmicas interpessoais e comunicações simbólicas. Compreender o que acontece numa determinada escola não é facilmente acessível por meios simples e diretos. Em conseqüência, a educação como experiência viva deve ser compreendida através da observação das pessoas, quando se implicam em diferentes tipos de experiências comunicativas, quando manifestam suas identidades pessoais, quando criam estruturas, rituais e símbolos que expressam seus valores e idéias.

É obvio que tanto professores como alunos já não são os mesmos. Nossos alunos jovens de hoje quando vão às escolas levam consigo suas novas experiências de vida e seus novos padrões comportamentais – ou deveras a ausência de padrões. A maioria dos professores vão na contramão de modelos pedagógicos exigentes de passividade aos alunos e a fragmentação do currículo escolar determinando o esforço por quebrar os nós dos quais estão atados. É salutar perguntarmos: o padrão de gestão do espaço e do tempo escolares continua o mesmo?

3. A CONFIGURAÇÃO DO ESPAÇO

A configuração do espaço sempre será de suma importância para a caracterização da instituição escolar e a própria sociedade num dado momento da história, porque faz a materialização e trás a tona, as aspirações, determinados conflitos e incertezas vividas. No entanto sua evolução estacionou, visto que, o mesmo modo de escola vem sendo construído e mobiliado, bastante desatualizado, levando a reflexão de qual razão desse abismo criado e quais são suas intenções existentes atrás da própria descontextualização do espaço escolar. Entre um ou outro elemento que se diferencia do conjunto, a visão que temos de uma sala de aula remete-nos a um espaço tempo a priori, levando-nos a crença que o processo de ensino se "engessou" e as suas reações nessa situação são mecanizadas e impensadas.

Para Eizirick(2001, p. 104) A não aceitação da mudança, a estagnação,pode constituir-se numa doença institucional; até, talvez, pudéssemos lhe dar um nome-narcisismo institucional-, pois, assim como Narciso, a instituição deseja ficar se olhando na superfície da água e reconhecendo sempre a mesma figura, não permitindo que se quebre sua beleza, não admitindo qualquer transformação.

Estamos vivendo um momento de transformação principalmente no Ensino Médio Brasileiro muito radical principalmente no redimensionamento da própria utilização dos prédios dos espaços escolares e os investimentos financeiros em obras e equipamentos, sendo então interessante colocarmos a baila a discussão da própria organização espacial interna das escolas. É importante que não exorbitemos em propostas inovadoras, sobretudo inviáveis, por trazerem despesas infindáveis e não executáveis por parte dos sistemas educacionais. Urge repensarmos o sistema padronal arquitetônico e mobiliário de nossas escolas, não podemos gastar o pouco dinheiro com o que já era - ou deveria ter ido, precisa-se fazer desde a própria escola, uma vez que os agentes da educação que nela atuam sempre precisem estar conscientes dos benefícios da adoção de um norte flexível do espaço e tempo pedagógicos e que, os nossos gestores dos sistemas não criem dificuldades ao novo.

As nossas escolas precisam estar equipadas com espaços diferentes, como laboratórios de ciência, informática, música e oficinas de arte e, principalmente a Biblioteca, dimensionando uma nova dinâmica e otimizando esses espaços. O grande problema está que tais espaços não são colocados como prioridades. Não podemos aceitar que uma escola funcione sem uma biblioteca ou se funciona, seja tratada como depósito de livros "imprestáveis". Precisamos desenvolver o hábito da leitura em nossos alunos e, a investigação bibliográfica é de suma importância para a formação do jovem estudante do Ensino Médio e até mesmo dos Universitários, que dificilmente tem acesso ao livro no ambiente familiar.

Não precisamos discorrer que a ausência da biblioteca não deve ser fator de impedimento para essa prática. Existem bibliotecas de outras instituições ou podem-se criar acervos móveis para que sejam utilizados pelos alunos dentro da sala de aula. Essa transformação desse espaço da aula em uma sala-ambiente vem sendo desenvolvida com sucesso em muitas escolas públicas, dando uma resposta a uma provável subversão ao rígido espaço escolar.

4. A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA

Diversos são os fatores que contribuem para a eficiência escolar, (...) "de modo que uma vez isolados possam ser promovidos intencional e sistematicamente na organização escolar de qualquer centro educativo, seja qual for seu nível ou seu contexto sociocultural"...)(GOMEZ, 2001, p. 151).Diante do exposto, citemos Hargreaves (1992, p. 114): (...) " O proveito que os alunos podem tirar de suas oportunidades de aprendizagem está claramente relacionado com as formas de organizar o trabalho escolar na sala de aula e fora dela. A gestão do trabalho escolar inclui desde a definição dos papéis ao estabelecimento das regras que governam as interações, o espaço e o tempo" (...).

Podemos citar a organização da escola por salas-ambiente, o espaço se adapta as necessidades e anseios das diversas áreas contribuindo para criar mecanismos diferentes de interação entre a clientela, se intervindo na colocação e arrumação do mobiliário. No lugar de carteiras individuais enfileiradas, poderíamos criar bancadas coletivas que facilitaria as tarefas, e a própria disposição das cadeiras em círculo, permitindo o livre debate, a participação e intervenção oral de todos e todas junto ao educador. Penso que essa mudança de rotina é de suma importância para uma melhor socialização do conhecimento e da democracia entre os atores envolvidos até porque, "É muito mais cômodo para um educador ser autoritário em classe porque a prepotência não exige competência, nem respeito e dispensa explicações" (FREIRE, 1984, p.03)

Outro problema na organização da escola, são os parcos recursos face às necessidades de aprendizagem dos alunos, nesse caso, é preciso romper os muros escolares em seus entornos.Lembremos que a falta de recursos não estão só ligados aos recursos materiais e de investimentos em equipamentos.Por mais rico e abundante que sejam os acervos de uma escola,eles jamais substituirão a realidade vivida pelos nossos alunos fora dela. Então, ou a escola vai à rua, ou a rua vem à escola. Ou seja, precisamos organizar trabalhos junto a outras instituições e atores sociais e abrirmos a escola para recebermos a comunidade externa, com situações de aprendizagem dentro do espaço escolar. Precisamos envolver realmente essa comunidade em projetos desenvolvidos pelos alunos, como fontes de consulta, de debates e de caráter público.

5. ORGANIZAÇÃO DO TEMPO

Precisamos perceber que não podemos discutir o espaço escolar sem falar da organização do seu tempo. Um currículo de forma organizada em um modelo de interdisciplinaridade não decreta que todos os professores estejam em todas as salas de aula ao mesmo tempo. Seria utópico se pudéssemos reunir em uma mesma sala de aula um contingente de professores responsáveis por uma mesma turma de alunos, realçando o potencial de orientação, observação e desenvolvimento de trabalhos. Como bem realçam Carr e Kemmis(1988), currículo e ensino são situações que estão sempre historicamente localizadas, pois são práticas sociais que possuem um imanente caráter político, modificando os sujeitos que intervêm nas práticas e sendo estes por elas transformados (...).

A interdisciplinaridade deve estar sempre presente na organização corriqueira do ritmo entrecortado, as maravilhosas aulas de quarenta minutos desafiando a lógica da didática ou por que não dizer da lógica natural. O que importa é que os professores estejam conscientes do que fazem e de que participam de um mesmo projeto pedagógico. Não precisamos nem dizer que a escola precisa ter um projeto pedagógico explícito. Já pensou, um professor que dá a mesma aula de história há vinte anos e não querer que se tenham mudanças. Será que a história nos últimos vinte anos não mudou?

Quando fazemos coisas novas e boas dentro das velhas estruturas, precisamos de uma flexibilização na organização do currículo com mais ambição e criatividade no uso do nosso tempo. Nada assegura que aulas de quarenta ou cinqüenta minutos sejam necessárias para o poder de aprendizagem. Precisamos superar as repetições. Cinqüenta minutos pode ser de suma significância no processo de aprendizagem como também pode significar pouco. Para a concepção "bancária" cortávamos o conhecimento em fatias distribuindo ao tempo da aula de cinqüenta minutos. O que tínhamos de importância era a quantidade de informação, em detrimento da qualidade da formação. Ao contrário, queremos que o ser do educando construa sua própria competência e conhecimento de suma importância para a sua vida social reconhecendo que a complexidade da vida social exige-se, uma aprendizagem também muito complexa sem poder abandonar a perspectiva de novas práticas pedagógicas.

CONCLUSÃO

Não estamos pedindo transformações mirabolantes no cotidiano da escola. Toda mudança requer um mínimo de planejamento e que este seja flexível prevendo a possibilidade de rompimento com a prática rotineira quando se fizer necessário, para o bem da aprendizagem dos alunos. Mas, para que isto venha ocorrer, será preciso reinventar o ambiente e o trabalho na escola, colocando de lado para sempre a estagnação e o próprio conservadorismo.

REFERÊNCIAS

CARR, Wilfred; KEMMIS, S. Teoria critica de la enseñanza.Barcelona, Martinez Roca, 1988.

EIZIRICK, Marisa Faermann. Educação e escola: a aventura institucional/Maria Faermann Eizirick. – Porto Alegre: AGE, 2001.

FREIRE, P. A liberdade em aula. Interação, v.1, n.4, jun./jul. 84

GÓMEZ, Pérez, A. I. A cultura escolar na sociedade neoliberal / A. I. Pérez Gómez; trad. Ernani Rosa. – Porto Alegre: ARTMED Editora, 2001.

GOODMAN, N. (1984). Of Mind and other Matters. Cambridge, Mass. Harvard University Press. Trad. Cast: De la mente y otras matérias. Madrid, Visor, 1995.

HARGREAVES, A. (1992). " Contrived Collegiality: The Micropolitics of Teacher Collaboration", em N. BENNETT, M. CRAWFORD, C. RICHES. Managing Change in Education. Londres, Open University Press.


Autor: Lúcio Landim


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