Avaliação Física De Praticante De Halterofilismo: Relato De Caso



INTRODUÇÃO

A musculação é uma área de atuação do profissional de Educação Física muito abrangente, devido às inúmeras finalidades que ela possui (GODOY,1994). É uma atividade física que por sua eficiência tem conquistado cada vez mais adeptos em todo o mundo, sendo utilizada em busca de estética corporal, melhoria da saúde ou para fins profiláticos e terapêuticos. Sendo que, através dela pode-se modelar o corpo de acordo com os objetivos de cada individuo (COSSENZA, 1995; GODOY, 1994; SANTOS, 1989).

Diversos são os benefícios que a musculação nos proporciona, e a musculação como meio de preparação física visa desenvolver as qualidades físicas de forma adequada relacionada às estruturas neuromusculares, a prevenção de lesões músculo-articulares, desvios posturais e distúrbios oriundos. Porém, a hipertrofia pode vir a gerar alterações de flexibilidade, pressão arterial e alterações posturais.

Araújo (2000) define flexibilidade como a amplitude máxima passiva fisiológica de um dado movimento articular. No campo do desempenho motor, tenta-se definir flexibilidade como a capacidade de as articulações realizarem movimentos especificamente de uma posição em extensão para flexão, ou vice versa (Guedes, 2006).

Desenvolver a flexibilidade articular, ou seja uma boa flexibilidade evita tensão, dor nos joelhos e tornozelos, isso deve ser uma preocupação para todos os atletas e praticantes de musculação (BOMPA,2001).   

Alter (1999) relata que um programa de treinamento de flexibilidade pode resultar em benefícios que podem ser qualitativos ou quantitativos, como diminuição da tensão, relaxamento muscular, melhoria da aptidão corporal, melhoria da postura e simetria.

Músculos não alongados e com pequena capacidade de alongamento tem uma menor força. A força e a flexibilidade são importantes para a saúde neuromuscular e auxiliam no combate as lesões (WEINECK, 1999)

Com relação às alterações posturais, segundo Moraes e Bankoff (2001), a coluna vertebral sustenta o corpo na posição vertical sendo necessário uma                   

Estabilidade, força e tensão. Tribastone (2001) diz que qualquer desequilíbrio gerado de força e tensão nestes componentes ocasiona o que denominam-se desvios posturais.

Com base nessas informações, a postura é muito importante para pessoas que treinam em academias. Segundo Hartmam e Tunnemann (1988), é necessário manter uma postura corporal ereta e as costas planas em todos os exercícios, especialmente naqueles que envolvem levantamentos, pois a coluna, particularmente os discos intervertebrais estão sob uma pressão excessiva. Um atleta que ergue um peso de 50 quilos com as costas curvadas da aos discos intervertebrais uma tensão mais ou menos 65% mais alta do que quando esta com as costas retas.

Com isso a procura do corpo perfeito, principalmente os homens, que para conquistar o aumento excessivo de massa muscular, apelam para treinos intensos podendo ocasionar desvios posturais, tais como escoliose, hipercifose torácica e hiperlordose lombar.

A má postura pode levar à comprometimentos musculares como o enfraquecimento dos músculos, pouca resistência e fadiga nos músculos posturais, restrições nos movimentos articulares ou na flexibilidade articular. Tais alterações podem limitar a habilidade funcional do individuo para realizar atividades repetitivas ou manter posturas sustentadas sem causar dores e lesões, (Kisner e Colby, 1998).

Em relação à pressão arterial, durante o exercício, a musculatura ativa recebe um fluxo sangüíneo maior e o coração recebe mais estimulação, comparativamente com o estado de repouso. Os parâmetros fisiológicos mais comuns para aferições acerca da saúde do sistema cardiorrespiratorio durante o esforço físico são pressão arterial e freqüência cardíaca (SOUSA, 2001).

Os conhecimentos atuais sobre a pressão arterial (PA) baseiam-se na aplicação criteriosa dos princípios da hidrodinamica ao sistema circulatório, as possíveis extensões da física para a compreensão da fisiologia cardiovascular decorrem do fato de não ser sistema circulatório. A pressão arterial é aquela existente no interior das artérias e comunicada às suas paredes.

A hipertensão arterial (pressão alta) é uma doença crônica que afeta cerca de 20% da população adulta, sendo que a metade dos hipertensos desconhece a própria enfermidade. A doença pode evoluir sem sintomas por mais de 20 anos, e quando não tratada causa lesões em diversos órgãos e sistemas produzindo graves complicações.

A bomba plantar do retorno venoso é um aparelho que tem a função de esvaziar as bolsas valvulares da planta do pé, mediante ação pulsatil nas veias posteriores, e femoral, semelhante à marcha humana. A baixa pressão arterial do sistema venoso cria um problema especial que é solucionado em parte por uma característica impar de veias. Dentro das veias existem varias válvulas finas, membranosas e em forma de asas, distribuídos a pequenos intervalos dentro delas, permitindo apenas o fluxo unidirecional do sangue em direção do coração. A compressão do músculo sobre as veias, o relaxamento alternativo das mesmas e a ação unidirecional de suas válvulas proporcionam uma ação de "ordenha" semelhante à ação do coração (MCARDLE at al, 2003).

Então, se a massa muscular torna-se mais forte mediante a realização de exercícios com pesos (musculação), isso facilitara muito o retorno venoso aumentando o enchimento das cavidades cardíacas, fazendo com que em uma mesma quantidade de batimentos cardíacos, o coração ira conseguir ejetar uma quantidade maior de sangue sobrecarregando menos o miocárdio.

Teoria esta explicada por Frank e Starling dois grandes fisiologistas que descreveram o mecanismo facilitação do retorno venoso pela bomba muscular onde, quanto maior a força de um determinado grupo muscular, maior a capacidade de "ordenha" para o retorno do sangue para o coração (denominada de teoria de Frank-Starling).

Portanto o objetivo do presente estudo de caso é verificar os efeitos da musculação quanto à manutenção da flexibilidade, postura e pressão arterial.

RELATO DE CASO

Realizou-se um estudo de caso com um participante de Halterofilismo , sexo masculino, 23 anos de idade , peso 97,800kg , Altura 1,67 e IMC de 35,13

Foi realizado uma avaliação postural completa sendo avaliado o alinhamento de todas as estruturas.

Observaram-se os seguintes desalinhamentos:

Hiperlordose lombar;

Hipercifose torácica;

Hiperlordose cervical;

Escoliose em S;

Escapulas – Abduzida;

Protusão de Ombro.

Alem disso, foi avaliada a flexibilidade, utilizando-se do teste de banco de wells.

O teste é realizado com uma caixa de madeira especialmente construída para essa finalidade, com dimensões de 30cm x 30cm, parte superior plana com 56cm de comprimento, sobre a qual se fixa a escala de medida com amplitude de 50cm, de tal forma que o valor 23 coincida com a linha onde o avaliado acomodará os pés.

Quanto aos procedimentos, o avaliado deve estar descalço e sentado em frente ao aparelho, com as pernas embaixo da caixa, joelhos completamente estendidos e as plantas de ambos os pés totalmente em contato com a caixa. O avaliador deve apoiar os joelhos do avaliado para que no movimento de extensibilidade os mesmos fiquem em contato com o chão. Os braços são estendidos sobre a superfície da caixa, as mãos posicionadas uma sobre a outra com a ponta dos dedos coincidindo. O avaliado deve estender-se ao longo da caixa sobre a escala de medida a fim de alcançar a maior distancia possível, em movimento lento e sem solavancos.

O avaliado em nosso presente estudo alcançou dentre as três tentativas a melhor marca de 33 cm.

Com relação à pressão arterial o resultado foi 190/130. A qual foi aferida por três vezes, sendo três avaliadores diferentes.

DISCUSSÃO

A avaliação postural demonstrou desvios posturais que possivelmente podem ter iniciado com a prática do treinamento intensivo da musculação,

Considerando que o treinamento ocasiona um aumento de força muscular alterando o equilíbrio de forças, o mesmo deve ser realizado de forma equilibrada.

Nesse sentido, o resultado encontrado de protusão de ombro e abdução de escapulas sugerem um desequilíbrio, sendo que os músculos peitorais maior e menor, cujas funções são de realizar a rotação medial do úmero, podem estar se sobrepondo sobre os adutores da escapula, ou seja, romboides e trapézios (KENDALL,1995).

Já, a escoliose que segundo Verderi (2001) ocorre devido a um desvio assimétrico lateral da coluna vertebral, resulta na ação de um conjunto de forças assimétricas que incidem sobre a coluna é algo decorrente ao processo de crescimento e não deve estar associado com a prática da musculação.

Em relação a flexibilidade são dois fatores importantes para saúde neuromuscular e que auxiliam no combate as lesões. Muito se fala sobre a questão hipertrofia x flexibilidade, e a principal questão seria a de que a hipertrofia, com o aumento do tônus muscular, deixe a flexibilidade articular naturalmente mais debilitada funcionalmente. Porém há controvérsias, e já existem muitas pesquisas que desmistificam essa questão.

Muitos autores afirmam que exercícios resistidos para grande hipertrofia muscular promovem o aumento da flexibilidade quando realizados em grandes amplitudes articulares e o mesmo acontece ao contrario, quando o individuo faz um bom trabalho de flexibilidade, isso ajuda no ganho de força (DANTAS, 1995; SANTARÉM, 2001; ALTER, 1999; FLECK; KRAEMER, 1999; BOMPA; CORNACCHIA, 2000). No entanto devem-se realizar os exercícios com máxima amplitude do movimento para que se consume tal fato, Santarém (2001) entende que os exercícios com pesos podem tornar os músculos mais elásticos e a partir do momento que forçam os limites das amplitudes articulares e promovem o aumento do tecido conjuntivo juntamente com a hipertrofia. Para Dantas (1995) e para Archour Junior (1998) a hipertrofia resultante de um trabalho com pesos, aumenta o diâmetro das fibras, e essa secção transversa volumosa aumenta a extensibilidade muscular o que conseqüentemente acarreta uma maior flexibilidade.

Vale ressaltar que a musculatura quando já está em um certo nível de hipertrofia oferece uma resistência maior a exercícios de flexibilidade, o que leva muitas pessoas a crer que o excesso de músculos limitam a flexibilidade. Existem outros fatores limitantes da flexibilidade, tais como:o formato das superfícies articulares,adesões, contraturas e cicatrizes nos tecidos moles, componentes contrateis,ligamentos e tendões, restrição neural,excesso de gordura.

O ideal seria realizar paralelamente com o treinamento resistido exercícios de flexibilidade, desde o inicio, para se obter maiores resultados de ambas as partes, já que um auxilia no desenvolvimento do outro.

Com relação aos valores da pressão arterial, outros dados são necessários afim de avaliar a causa, porém considerando o aumento acarretado pelo volume de ejeção, conseqüente a ação da "bomba muscular", pode contribuir com a diminuição da luz da artéria e consequentemente elevando a pressão arterial.

No entanto Powers/Howley (2000) cita a "bomba muscular" como um importante fator na regulação do volume de ejeção do sangue para o coração por meio das contrações rítmicas da musculatura esquelética, prevenindo o aparecimento de possíveis doenças cardiovasculares, sendo necessários mais estudos para esclarecer os possíveis efeitos da hipertrofia na pressão arterial.

CONCLUSÃO:

A musculação demonstra ser um exercício de grande valor à saúde, porem pode provocar alterações caso não seja realizado de forma supervisionada e segura.

Mais estudos são necessários para mais esclarecimentos.


Trabalho de Conclusão de Curso faculdade Uirapuru Sorocaba
Curso: EDUCAÇÃO FÍSICA  ANO  2007
Alunos:  Osmar Claudino Junior
             Marcos Vinicius
             Marcio Gouvêa           
Orientador: Prof. Ms. Hugo Pasini Neto

Autor: Osmar Claudino Jr


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