Conta mais, conta mais...



Conta mais, conta mais!

                                          Data: 24/9/2009

 

Andei pensando sobre algo que a gente escuta muito, mas pouco fala; ou então, fala muito, e pouco escuta; ou, enfim, faz as duas coisas. Esse algo nada mais é do que aquela incontrolável sensação de formigamento na língua, aquela “vontade de se expressar”, de partilhar com os outros uma informação...bem, estou sendo educado demais e claro de menos. Esse algo nada mais é do que a fofoca, o mexerico, a “síndrome de fifi”. Não importa em que país, cidade ou bairro você mora. Fofoqueiro, com o perdão da minha santa mãezinha (que não gosta disso), é igual a mãe: só muda de endereço.

Onde houver uma janela ou portão pra se encostar, aí um fofoqueiro de plantão estará. É uma atividade mais antiga que aquela que não podemos falar (e que causa muito tra-lá-lá). Na época das cavernas, já havia alguém pra criticar a forma de o homem puxar a mulher pelo cabelo e arrastar.  Alguns comentários sobre essa “profissão”, posso destacar.

A vontade de falar do próximo é quase um mandamento da Bíblia. Afinal de contas, quem ama ao próximo cuida da vida dele, né? Aliás, se até o Maradona tem a sua religião, a fofoca por que não? (se souber alguma de argentino, conte com toda emoção)  

A origem da fofoca está sempre numa ação: ação de comprar (até mesmo no supermercado mais barato), de ganhar na mega-sena, de matar (ainda que seja a aula), de namorar (inclusive várias pessoas ao mesmo tempo), de casar, se divorciar... e, como diz a lei da física (cujo autor ainda não me contaram o nome), toda ação gera uma reação. Nenhum comentário desfiado é em vão (nem mesmo o com má intenção).

Porém, só contar a ação não basta. Às vezes, um verbo (só pra dar uma de gramático) não traz quase nada. Há muito mais palavra a ser gasta. Aí entra o fantástico, o maravilhoso (ou nem tanto) detalhe, coisa tão importante que, muito antes de mim, Roberto já cantava assim: “Detalhes tão pequenos de nós dois...” “São tantas emoções!!” É verdade...mas às vezes, o pior (ou melhor), o principal está justamente no detalhe. Ele é como os dentes para o Ronaldo, as luvas e os sapatos para o Michael Jackson, a charmosa pinta na perna da Angélica... (precisava usar para a mulher um adjetivo, “fazer uma média”, pois daqui a poucas linhas todas me chamarão de machista, canalha, agressivo).

Pela tradição (que já não é mais tão tradicional assim...), as mulheres se prendem mais aos detalhes do que os homens. Um exemplo: falar amorzinho, ao invés de “amô” (ou simplesmente “mô”) faz toda a diferença. Então, pela lógica, se a essência da fofoca está no detalhe, as mulheres são mais fofoqueiras (ativas – aquelas que contam – ou passivas – aquelas que escutam) do que os homens. Elas são mais adverbiais, mais circunstância; eles, mais verbais, mais ação. Por isso ambos se completam, como arroz e feijão.

Por falar nisso (e para praticar um pouquinho), vou relatar só uma situação, só um casinho. Assim vocês vão ver, para tomar emprestado outro ditado, o seguinte: da mesma forma que existem aqueles que perdem o amigo, mas não perdem a piada, existem aquelas que perdem a amiga, mas não a fofoca. Depois, vou encerrar e deixar essa história pronta, pois não há coisa mais chata que passar da conta.

Uma jovem moça, casada há poucos anos, sem filhos,  desempregada, esperava o marido chegar do trabalho. Ele era contador, e, como era época do imposto de renda, já viu...trabalho até o pescoço. Ela, com pena, pensando:

Coitado! Pra nos sustentar, ele tem que roer o osso.

Então, toca o telefone. É a sua melhor amiga, a sua confidente, uma mulher solteira e independente, que anuncia:

-Amiga, tenho um “babado novo”. Escuta, que essa é quente. Eu vi duas pessoas entrando num lugar de carro.

A outra:

-Entrando onde?

-No motel.

-Como foi isso?

-Eles entraram muito discretamente, mesmo. Pareciam amantes...uma loucura!!

-Caramba, que emoção! Nunca vi um casal entrando num lugar assim. Quer dizer, só vi na televisão. Quando cê viu isso?

-Agora há pouco, quando eu tava voltando do trabalho.

-Conta mais, conta mais.

-Tá bom, vou contar. Eu consegui reconhecer a pessoa que tava com a mulher.

-Você conhece? A mulher entrou no motel com quem??

-É triste, amiga, mas ela entrou lá com o seu marido.

-(silêncio)

-O que foi? Eu te deixei muito triste com a notícia?

-(soluçando) Você não sabe o que fala!Quer destruir meu casamento!Amiga da onça!!

-Ué, você pediu os detalhes...

 


Autor: André Gabrich Tesch


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