VERSOS DO OFÍCIO



Novamente há sol lá fora e minha alma canta de felicidade
Preciso escrever versos com urgência.
Urgência de quem não tem mais que a luz deste único dia.
Urgência porque os versos que rabisco me são infiéis.
E assim infiéis me abandonam no primeiro murmúrio que a rua traz.

Preciso encontrar pedaços de sentidos para as letras que desenho.
Letras que se juntam para formar nomes que logo depois esquecerei.
Letras que também me dão a sensação de que eu simplesmente copio.
Copio letras que alguém já escreveu.
Copio estrofes inteiras ou versos que ninguém entende.
Copio pensamentos e sentimentos que roubo de todos os poetas.

Meu ofício é também ver cair a chuva que é vida e é também lama.
Meu ofício é um velho cambaleante que todos seremos um dia.
Penso nas flores do caminho e os espinhos de Nosso Senhor.
Penso a terra, o calo, a enxada, rostos sujos que vejo à margem do asfalto.
Penso asas de passarinho e o menino que sorri com a morte na mão.
Penso o corpo, a alma, a dor de todo dia, um breve instante. Adormecer!

Não tenho versos de alegria honesta.
Não tenho versos puros, rimados, de enfeitar.
Meus versos sou eu. Minha mente. Minha estrada.
Todas as pedras, os sonhos, os amores, as dores.
Meus versos são idéias de brincar como as ondas na areia quente.
Meu ofício é estar comigo em letras, imagens, pensamentos.
O resto não é meu. Não sou eu. São outros poetas!


Autor: Nara Junqueira


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