Família e Escola: Sucesso do Aluno



Este texto trata da importância relacional entre a família e a escola, para o sucesso na aprendizagem do aluno. Está divido em três partes: na primeira situamos a escola e o conceito de família na contemporaneidade, bem como a importância de sua articulação no processo de desenvolvimento educacional da criança e do jovem. Logo em seguida, a constatação de que a família e a escola estão encontrando grandes dificuldades na educação de crianças e de jovens, o que se deve em grande parte, às inúmeras controvérsias a respeito das funções de cada uma dessas instâncias. Por fim, o relato da ação pedagógica junto às famílias dos alunos de uma escola pública municipal, na cidade de Rio Grande, que teve por base a conscientização de seus papéis na educação de seus filhos. PALAVRAS-CHAVE: Família, escola, aluno, desempenho.

A escola é um ambiente sócio-cultural, onde o dinamismo acontece visando resgatar o papel dos sujeitos que nela atuam. Sendo assim, a relação entre eles deve ser edificada em um circuito de intercâmbio, no qual cada um, à sua maneira, possa dar sua contribuição, recebendo apoio e ajuda para se desenvolver e aprender.

Conforme Dayrell (1992), a sala de aula é uma grande rede de interações sociais, e, para que essa organização funcione como instrumento de aprendizagem, é muito importante que haja uma boa comunicação entre o professor e os alunos; pais e alunos; professor e pais; aluno e alunos. Além disso, o professor deve ser competente e utilizar a sua habilidade em mobilizar seus próprios conhecimentos, valores e decisões para agir de modo pertinente numa determinada situação, sem deixar de considerar os conhecimentos e valores que estão na pessoa do aluno.

O diálogo entre a família e a escola, tende a colaborar para um equilíbrio no desempenho escolar. Nesse sentido, autores como Ariés (1981), Cunha (1996), Helen Bee (1997) buscaram compreender a dinâmica da relação família-escola, com destaque para a família como agente socializador, ao enfatizarem que os filhos aprendem valores sentimentos e expectativas por influência dos pais.

Alguns professores, ainda hoje, "ensinam" conteúdos crítico-social, porque acreditam que o ensino constitui-se necessariamente em um processo vertical. Desse modo, agem como reacionários que desejam gerar uma consciência política "a fórceps", na qual cabe aos "seguidores" a aceitação. Esquecem-se de que o sujeito se constrói pela interação social e que a partir disso ele sofre as influências e tem suas ações amparadas. A questão dos contextos e culturas é abordada por Helen Bee (1997), p. 413:

Cada família, e, portanto cada criança, está inserida numa série de contextos sobrepostos, que afetam a interação da família, e afetam todas as outras partes do sistema. Estes contextos incluem a posição econômica geral da família, o grupo étnico ao qual a família pertence e a cultura mais ampla em que isso existe.

Grande parte do trabalho do professor é facilitada quando o estudante já vem para a escola predisposto para o estudo e quando, em casa, ele dispõe da companhia de alguém que o estimule a esforçar-se ao máximo para aprender. No entanto, o ato de produzir é valia tanto para o aluno, quanto para o professor, e, a necessidade de fazê-lo requer o reconhecimento daquilo que de fato se deseja construir no futuro. Foucault já dissera que "a disciplina é um poder modesto, desconfiado, que funciona a modo de uma economia calculada, mas permanente" (1997:153). Nesse sentido, não precisamos pensar em grandes eventos para compreender onde e como se dá a escolarização, e, em que medida a escola produz e reproduz os sujeitos nas suas diversidades e desigualdades. Qual a condição de direitos e deveres que temos dentro de nós pelo simples fato de sermos gente, de qualquer raça, de qualquer credo, de qualquer extrato social? O mais importante está na nossa consciência, que tem a capacidade para reconhecer e respeitar as diferenças no plano individual e para combater os preconceitos, as discriminações, as ofensivas disparidades e privilégios no plano social.

Nesse sentido, através da reflexão individual e visando o coletivo aceitamos ou renegamos a produção/reprodução de quaisquer influências danosas à liberdade. Por tudo isso, nós, professores, devemos estar atentos para sermos capazes de perceber "os duplos", já que a dicotomia entre discurso e prática é a negação de qualquer possibilidade educativa eficaz.

As interações individuais produzem a sociedade, que por sua vez, retroage sobre os indivíduos.

Assim, indivíduo/sociedade/espécie são não apenas inseparáveis, mas co-produtores um do outro. Cada um desses termos é, ao mesmo tempo, meio e fim dos outros. Não se pode abolutizar nenhum deles e fazer de um só o fim supremo da tríade; esta é em si própria, rotativamente, seu próprio fim. Estes elementos não poderiam, por conseqüência, ser entendidos como dissociados: qualquer concepção do gênero humano significa desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana. (MORIN- 2002)

Desse modo, entendemos que alguma mudança será possível diante de uma postura positiva da instituição com relação aos usuários, em especial com os pais e responsáveis pelos estudantes, oferecendo ocasiões de diálogo, de convivência verdadeiramente humana, em suma, de participação na vida da escola. Levar o aluno a querer aprender implica um acordo tanto com educandos, fazendo-os sujeitos, quanto com seus pais, trazendo-os para o convívio da escola, mostrando-lhes quão importante é sua participação e fazendo uma escola pública de acordo com seus interesses de cidadãos. (PARO, 1995)

Nessa perspectiva, surgiu o projeto Um por todos, todos por uma Escola, no qual buscamos através da mediação envolver as partes humanas do processo de ensino-aprendizagem: alunos (representantes das 4ªs séries, que funcionaram como multiplicadores), pais e Serviço de Orientação Educacional (SOE).

Metodologia

OS PARTICIPANTES DA PESQUISA

Foram pesquisados quarenta e oito pais de alunos das 4as séries, em uma Escola Municipal, do município de Rio Grande. Participaram de forma colaborativa alunos dessas séries, juntamente com a equipe gestora da escola.

PROCEDIMENTOS DA PESQUISA DE CAMPO

A pesquisa teve seu início com a investigação do contexto escolar, e a finalidade de levantar demandas que nos possibilitasse desenvolver uma ação pedagógica. Desse modo, após conversas informais com a equipe diretiva, chegamos à conclusão de que a família não tem correspondido aos apelos da escola, no que tange à sua presença mesmo quando é solicitada.

Começamos então a estruturar os passos deste projeto Um por todos, todos por uma Escola, e, para efetivá-lo, algumas estratégias foram utilizadas: a primeira foi a eleição de três alunos em cada turma (multiplicadores), os quais foram conscientizados sobre a importância das relações entre a família e a escola. Para isso realizamos a atividade Teia de Relações, que serviu para a compreensão da interação entre os familiares e o ambiente escolar, favorecendo o bem estar e o sucesso do aluno, tanto na vida acadêmica quanto na vida social. Em seguida, participaram da elaboração do instrumento de pesquisa: questionário com perguntas semi-abertas, ao mesmo tempo em que selaram compromisso de transmitir a idéia entre seus colegas de turma, a fim de que eles mesmos se encarregassem de levar as questões aos pais.

Dessa maneira, o corpus analisado foi de quarenta e oito questionários.

Uma segunda estratégia foi elaborada com a finalidade de evocar sentimentos dos pais em relação à sua vida escolar. Nesse sentido, as quatro primeiras questões do questionário estavam voltadas às suas próprias vivências, pois acreditávamos ser esta uma forma de comparação e compreensão com o momento atual de seus filhos na vida acadêmica.

Como terceira estratégia colocou-se no questionário a oportunidade de escolha de três horários (manhã, tarde ou noite) para que os pais comparecessem na escola, porque a ausência deles no espaço escolar poderia estar ocorrendo devido à incompatibilidade de seus horários com os impostos pela escola.

A análise dos dados foi de forma interpretativa, já que as respostas eram subjetivas; foram agrupados por semelhança.

RESULTADOS DA PESQUISA

Em geral os pais entrevistados disseram haver escolhido esta escola devido à mesma ser próxima a casa, apenas três responderam ter conhecimento prévio sobre a qualidade da instituição. Quanto às lembranças que gostariam que os filhos levassem da experiência escolar atual, vinte e oito responderam relacionamento humano, dez desejam que seja o ensino e dez variaram as respostas, ficando enquadradas em outros.

Fazendo referência às semelhanças e às diferenças das vivências escolares dos pais e a dos filhos, tivemos respostas variadas que consideramos pontos importantes para abordagem durante o Encontro/Palestra: maior rigidez dos professores, desenvolvimento de hábito de leitura, manifestação de afetividade, medo da violência, ensino tradicional, valores culturais e sociais, espírito cooperativo: através de oficinas profissionalizantes e aulas de reforço.

Quando perguntados sobre qual a importância de os pais comparecerem na escola, apenas dois responderam não considerar importante; os outros colocaram motivos pela afirmativa: cumprir as obrigações de pais, saber do aprendizado, também para opinar, conhecer o ambiente, apoio aos filhos, integração com a escola.

Quanto à importância de auxiliar o filho com as tarefas da escola, quarenta e cinco responderam que sim e os motivos seguiram esta ordem: somente a escola é insuficiente, despreparo para fazer, obrigação, como forma de apoio importante aos filhos, forma de pressão, aprendemos junto.

Uma questão curiosa surge no questionário a partir dos alunos (multiplicadores): Se os pais consideram válido o castigo aos filhos diante de notas baixas. As respostas foram trinta e três pelo sim, com a argumentação de que se for bem fundamentado e/ou orientado, os outros quinze responderam não.

A oportunidade de escolherem um dos três horários para o comparecimento na escola ficou assim manifestada: vinte e três optou pela manhã, quatorze preferiam à tarde e onze escolheram o horário da noite.

DESENVOLVIMENTO

ORGANIZAÇÃO

A problemática do descaso da família para com a educação formal dos alunos foi a diretriz para a ação pedagógica deste projeto, ou seja, buscamos conscientizar a família da sua importância para o desenvolvimento escolar de seu filho(a). Para isso, retornamos à nossa própria infância, aonde a presença de nossos pais na escola era motivo de orgulho e, ao mesmo tempo firmava-se "um contrato de compromisso", já que cada um cumpria com a sua parte. Desse modo, elaboramos o tema do projeto: Família e Escola, uma parceria para o sucesso do aluno.

I Encontro de Integração, como já diz o nome sugere integrar todas as partes no processo educativo e esperamos ser este o primeiro de muitos encontros, já que o assunto é permanente e cíclico. Um por todos, todos por uma Escola, tem a idéia da multiplicação e da união para favorecer aos educandos.

Elaboramos convites que foram distribuídos pelos alunos (multiplicadores) em todas as turmas do diurno e do noturno, com uma semana de antecedência do evento. Este universo de alunos corresponde a quase setecentos alunos, o que não reflete o mesmo número de pais, já que muitos têm mais de um filho (a) na mesma escola. Importante dizer que devido ao resultado da pesquisa, ou seja, uma amostra de quarenta e oito pais de alunos das 4ªs séries, haver pontos importantes que consideramos de interesse geral, resolvemos ampliar para expor nosso trabalho para os pais de outras séries. Esperando um número significativo, solicitamos devolverem a segunda parte, na qual marcariam o horário de seu comparecimento.

APRESENTAÇÃO/RECURSOS

O Projeto desenvolveu-se na Sala de Ginástica da escola nos três turnos do dia 20 de novembro: de 9:00 h às 11:00 h, 14:00h às 16:00 h e 20:00 h às 22:00 h.

Confeccionamos aventais, que utilizamos (nós, as acadêmicas, e alunos, osmultiplicadores), para que estivéssemos todos envoltos pelo espírito de união e igual importância na execução do Projeto.

O multimídia foi o recurso utilizado durante todo o Encontro, dividido em seis momentos: 1) Nossa apresentação como acadêmicas do curso de Pedagogia e explicação do Projeto (como e por que surgiu) e vídeo/documentário. 2) Seguimento da apresentação dos slides que, um a um eram discutidos, havendo a participação dos pais que sempre faziam algum comentário ou relatavam as próprias experiências. Nessa etapa, buscamos "inserir" a idéia de cooperação/extensão que cada parte envolvida no processo educacional poderá contribuir, para que um novo quadro de inserção familiar possa surgir. 3) Apresentação dos alunos que participaram do Projeto, os quais leram para os pais as frases que construíram sobre o que pensam e como vêem a necessidade de a família se fazer presente na vida escolar das crianças. 4) Parada para o cafezinho. 5) Retorno ao trabalho com a abordagem das "Matrizes de Responsabilidade", para delimitar as responsabilidades da família e da escola. 6) Apresentação de alguma propostas de ações que podem vir a serem desenvolvidas no próximo ano e convite para que se engajassem nessa perspectiva, a fim de que possamos multiplicar esforços e trabalharmos juntos com o objetivo de continuar multiplicando.

CONCLUSÕES

Infelizmente, muitos pais não se conscientizam da importância do apoio deles junto à instituição escolar do filho e não conseguem ver que a escola possui outros objetivos a serem desenvolvidos nos alunos. Além disso, a família, de maneira generalizada, delega algumas obrigações da educação do filho à escola e ao professor, eximindo-se do seu papel fundamental de parceira da instituição de ensino na educação da criança. Conforme Bee 1997. p. 373

O primeiro elemento para a criança parece ser o relativo carinho [...] Um progenitor carinhoso se importa com a criança, expressa afeição, freqüente ou regularmente põe as necessidades da criança em primeiro lugar, e responde sensível e empaticamente aos sentimentos da criança.

Vale lembrar as palavras de Gianetti (apud Levisky,1997 p.25)

[...] mais do que a escola, a família é a principal responsável pela transmissão social de um sentido de valores que induza os mais jovens a desenvolver suas capacidades morais e cognitivas... nada substitui a presença dos pais que cooperem ativamente na criação dos filhos e valorizem o empenho escolar... A Família é a primeira, a menor e a mais importanteescola.

O sucesso educacional depende, e muito da atuação e participação da família que deve estar atento a todos os aspectos do desenvolvimento do educando. Por isso a necessidade de um projeto onde estimulem a participação efetiva dos pais na escola de modo constante, tornando assim a família uma aliada importante no sucesso do filho. Desse modo, concluímos este texto com a sugestão de que outros trabalhos possam unir-se a este para buscarem dirimir as dúvidas sobre os motivos que afastam a família da escola, e, outras ações venham para contribuir com o sucesso do aluno no processo de ensino-aprendizagem.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARIÉS, Phillipe.(1981) História social da criança e da família. (trad. Flaksman, Dora).Rio de Janeiro: Zahar.

BEE, Helen L. A criança em desenvolvimento. 7. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

DAYRELL, Juarez (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. 1º Reimpressão. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999.

DIAS, M. L. (1992). Vivendo em família: relações de afeto e conflito. São Paulo: Moderna.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Trad. Lígia Vassallo. 7ª ed. – Petrópolis: Vozes, 1987.

LEVISKY, D. Adolescência e Violência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Trad. Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 6ª ed. – São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2002.

PARO, Vitor Henrique.Gestão democrática:participação da comunidade na escola. Nosso Fazer, Curitiba, ano 1, n. 9, ago. 1995, p. 1.

VYGOTSKY, L. S. - A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes. 1994


Autor: Carmen Rubira


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