Eternidade



 

233 - ETERNIDADE

 

 

Em um mundo instável, que evolui sem parar, tudo se desfaz e se refaz dia após dia, hora após hora. Nada mais encontramos, de sólido ou permanente.

 

Mas ainda assim, permitimos-nos imaginar e raciocinar em termos de eternidade.

 

Não há quem não tenha usado, ao menos algumas vezes na vida, a batida imagem:

 “Vou amar você para sempre, por toda a eternidade!”

É apenas uma imagem, é verdade; uma figura retórica, uma licença poética; com ela queremos dar a idéia de uma grande quantidade de tempo, um tempo tão comprido

que não se acabe no primeiro ano de casamento, ou na primeira briga com a sogra.

Mas sabemos mesmo do que estamos falando? 

 

Temos uma vaga, pálida idéia do que significa a palavra “eternidade”?

Ou estamos arriscando assim, só para dizer que a amamos muito, imensamente, que nunca deixaremos de amá-la, confundindo tempo com quantidades, minutos com volumes?

 

Eu não tinha alcançado o sentido da palavra “eternidade” até ouvir essa explicação:

 

Em alguma parte do Universo, encontra-se uma montanha de granito, com mil quilômetros de altura, mil de largura e mil de comprimento.

Uma única vez, a cada mil anos, um passarinho vem limpar o bico na pedra e vai embora; só voltará mil anos depois.

Quando, com esse trabalho, tiver consumido a pedra inteira, terá passado apenas um segundo da eternidade.

Um tempo aterrador, terrível.

 

Por isso, não acredito que qualquer um de nós possa ser condenado facilmente às penas do Inferno, qualquer que seja o crime que cometeu.

Seria uma punição desproporcional, uma cobrança exagerada, uma vingança cruel.

E eu não consigo acreditar em um Deus cruel e vingativo.

Ainda mais que  as provas que ele tenha ditado uma Lei geral de comportamento são tênues e pouco confiáveis.

São até conflitantes, dependendo do povo ao qual foram transmitidas.

 

Única exceção, uma espécie de código moral, que acredito sentir dentro de mim, e pelo qual controlo minhas ações. 

Eu sei, quando faço qualquer coisa errada. Independente das críticas dos outros.

Creio até que todos possuímos esse código ; só precisamos encontrá-lo.

Mas, de qualquer forma, eu, por mim, tento andar na linha.

Mesmo porque me ocorreu que de repente os Céus podem ter-se equipado com câmeras de vigilância e estar gravando o tempo todo, tudo o que fazemos aqui, para cobrar-nos depois, quando chegarmos lá.

Será que devemos recear o olhar dos anjos, enquanto revisam o que fizemos?

Que vexame, não?. 

 


Autor: Romano Dazzi


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