Crescimento não é tudo



Revista EXAME
30/3/2005

Giuliana Napolitano

Os investidores que estão avaliando se colocam ou não dinheiro nas bolsas de valores costumam basear suas decisões em indicadores económicos e empresariais. O principal indicador econômico é o ritmo de crescimento do país. Se o produto interno bruto (PIB) está crescendo, a avaliação quase unânime é que o momento é de comprar ações. Quando a economia fraqueja, muitos se preparam para sair do mercado. O que justifica esses movimentos é a percepção, correta, de que uma empresa tem mais possibilidades de ganhar dinhei¬ro quando a economia está aquecida.

Faz sentido, mas a prática dos países emergentes tem negado essa teoria. Um estudo recém-concluído da London Business School e do banco holandês ABN Amro, obtido com exclusividade por EXAME, mostra que, nas bolsas de países pobres, há pouca relação entre as variações do PIB e os ganhos dos acionistas. "Não há evidências de que os benefícios do crescimento econômico chegam aos investidores", diz Elroy Dimson, professor da London Business School e um dos autores do estudo. "Quem esperar rendimentos compatíveis com o crescimento desses mercados vai se decepcionar."
Os autores analisaram os números de 53 países por duas décadas. As conclusões do trabalho colocam algumas restrições a duas teses tidas como verdades absolutas. A primeira é que os países emergentes têm mais espaço para crescer do que os desenvolvidos.

Como suas populações em geral são mais jovens, crescem mais rápido que nos países avançados e têm menos acesso a bens de consumo, há mais espaço para que as empresas produzam e vendam. Por isso, o ritmo de crescimento dos países emergentes tende a ser maior e mais acelerado. Isso é verdade em alguns casos, como no da China e da Coréia, mas é falso quando se fala de Brasil, Rússia e Índia. "O crescimento duradouro é um sonho que pode nunca se tornar realidade nesses países", escrevem os autores do estudo.

A segunda tese que era tida como verdade absoluta e que agora ganhou algumas restrições é que o crescimento maior, mesmo quando confirmado, significa automaticamente mais dinheiro no bolso do investidor.

Os autores demonstram que há fatores mais importantes que o PIB para explicar o desempenho das bolsas de valores. E o que está acontecendo na China, por exemplo. Sua economia cresceu impressionantes 38% nos últimos quatro anos. A bolsa de Xangai, porém, não tem acompanhado essa pujança. Nesse período, seu principal índice caiu 43%. Essa disparidade pode ser explicada em parte pela regulamentação precária e pela falta de transparência da bolsa local. Muitas empresas listadas são estatais e os preços das ações são mantidos artificialmente altos pelo governo, por exemplo. Há casos de companhias chinesas que vêem seu valor de mercado cair pela metade quando são listadas em bolsas no exterior.

A interferência pesada do Estado causa as distorções na China, mas elas também aparecem em outros países sem tanta influência do setor público. Nesses casos, as distorções vêm da falta de regras claras e de transparência no mercado de capitais. "Essas restrições prejudicam o retorno dos investidores", diz Jorge Xavier, sócio da Quest Investimentos, empresa de gestão de recursos comandada pelo ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros. Um bom exemplo são os dividendos. Nos países desenvolvidos, segundo Xavier, cerca de 60% dos lucros são distribuídos aos acionistas como dividendos. "No Brasil são só 10% e na China é menos ainda."
Se as condições são tão ruins, como há investidores que ganham dinheiro com ações em países pobres? "Sorte", diz Dimson. O estudo mostra que, em 18 dos últimos 20 anos, a bolsa mais rentável do ano foi a de um país emergente. "O problema é que em quase todos os casos essa mesma bolsa foi a recordista em queda no ano seguinte", diz. Dados compilados pelo trabalho mostram que, entre 1994 e 2004, o S&P 500, um dos principais índices da bolsa de Nova York, subiu 213%. No mesmo período, o S&P Emerging Markets, que reúne ações de empresas de países pobres, teve alta de apenas 34%.
Embora apoie suas conclusões em dados estatísticos, o estudo foi criticado por alguns especialistas brasileiros. "Os países emergentes são muito diferentes uns dos outros, não dá para comparar o Paquistão com o Brasil", diz Carlos Antonio Rocca, socio da consultoria RiskOffice*. Ele também critica o trabalho por não levar em conta um fator essencial em qualquer mercado, que são as expectativas dos investidores. "Elas são muito mais importantes do que os latos em si para definir o preço das ações", diz Rocca. Para ele, o que aconteceu na China é um bom exemplo. A bolsa de Xangai caiu no ano passado, mesmo que a economia tenha crescido quase 10%. "A expectativa era de um crescimento maior ainda, então a notícia foi ruim e a bolsa, logicamente, caiu", diz Rocca.


*Um dos sócios da Risk Office é Marcelo Rabbat, um dos principais consultores de economia do País. que também é diretor da PR&A, empresa de Consultoria de Investimento, Risco de Crédito e Risco de Mercado.

Fonte: Caderno de Economia

Autor: Agência Goodae


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