Um Macho Chamado "maria"



O seu nome científico é “Adansonia digitata” e ela pertence à família das “bombacáceas”, que é muito disseminada nas savanas africanas. Ela é uma árvore macho e é por isso que não dá frutos, mas apenas flores, que têm em média 20 cm de diâmetro e parecem estar penduradas de cabeça p’ra baixo, parecendo um sino.

E essas flores, que só se abrem à noite, têm apenas 24 horas de vida e o seu cheiro forte atrái moscas varejeiras e outros agentes polinizadores, dentre os quais alguns macacos que, durante o dia, se escondem no seu ôco e gigantesco tronco, além de morcegos que, à noite, percorrem longas distâncias para virem sugar o doce nectar das flores dessa árvore, atuando assim como vetores para o pólen que adere aos seus pelos faciais, da mesma forma como também aderem às patas de moscas e de vários outros insetos que costumam igualmente visitar essas flores.
Nós estamos falando da “Maria Gorda”, o grande baobah que existe em Paquetá, na Praia dos Tamoios, em frente ao n 425 ( quase na esquina com a Ladeira do Vicente ), o qual foi trazido de Manáus, em 1907, quando ainda era uma pequena “muda”, pelo Dr. José Caetano de Almeida Gomes, médico, professor e famoso pesquisador em Botânica, que foi quem a plantou em Paquetá, podendo-se, pois, dizer que a nossa “Maria Gorda” tem 99 anos de idade, pelo que é ainda uma ávore jóvem, visto que essa espécie costuma viver de três a seis mil anos ...
O baobah é uma árvore originária das savanas africanas e celebrizou-se por existir no asteróide B612 do livro “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry ...

A “Maria Gorda” é muito conhecida em Paquetá não só por ser aqui a maior representante do reino vegetal e também pela beleza da sua forma e das suas flores mas, principalmente, pela lenda que se desenvolveu em torno dela:

- “Maria Gorda era como os escravos chamavam Maria Apolinária da Nação Cabinda, uma mucama simpática, de sorriso largo, e que trabalhava na casa de um rico comerciante português que morava na Ilha e que tinha muitos escravos.
Maria Apolinária não se conformava com a escravidão e, principalmente, com o que chamava de ingratidão dos seus senhores brancos, que moravam nas casas construídas pelos negros, andavam pelas ruas abertas pelos negros, usufruiam do trabalho escravo realizado pelos negros, mas não mostravam sequer um ato de gratidão que marcasse a lembrança do trabalho africano por aqui ...

E Maria Apolinária sempre dizia que marcaria essa estória e que, quando morresse, pediria aos seus orixás para que providenciassem uma forma qualquer de deixar enraizado em nossa Ilha essa lembrança da África negra que, se não era reconhecida nos nomes das ruas, das praças e dos monumentos, de alguma forma o seria pela própria Natureza de Paquetá ...

E assim realmente aconteceu ... Numa manhã de Primavera, a rede de Maria Apolinária na senzala da casa do seu dono português amanheceu vazia e ninguém nunca mais viu Maria, a “Gorda”, mas alguém notou que nessse mesmo dia, em frente à casa onde morava Maria, apareceu um arbusto que nunca existira em Paquetá e, ainda mais, que ao contrário do que sempre ocorre, este era um exemplar solitário, diferente do que costuma acontecer no seu local de origem: as savanas da África ... E dizem que no mesmo dia em que Maria Apolinária morreu, a “Maria Gorda” nasceu, fincando assim raizes profundas da África em Paquetá” ...

Mas cabe também aqui um outro registro:Se os baobahs são árvores que têm exemplares machos e exemplares fêmeas e se o exemplar de Paquetá é sabidamente um exemplar macho, o seu nome não deveria ser “Maria Gorda” e sim “Mario Gordão”, ou “Mario - O Gordo”. Fica pois aqui a sugestão e também a lembrança de que em 2007 a nossa “Maria Gorda” completou 100 anos de idade, o que foi comemorado aqui no “dia da árvore”, em 21 de setembro ...


Autor: Marcelo Cardoso


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