Fênix



Fênix

 

            Paulo, em seu leito de morte, está cercado pela família: a mulher Lilian e seus filhos, Sofia e Bernardo. Fita a todos e a cada um.  Quer falar, mas não consegue. Como gostaria de pedir perdão à esposa, por tantos atos impensados, cometidos durante o casamento, que sabia feri-la profundamente. Tinha necessidade de dizer aos filhos, o quanto os amava. Jamais conseguira expressar seu bem querer por eles. Muitas vezes, ficara envergonhado desse sentimento, tratando-os de forma rude e fazendo-os sofrer. Quando a morte lhe estende a mão, um sorriso desponta em seus lábios:

           

            O amor dá o dom da palavra.

 

            Lilian não consegue conter a emotividade ao ouvir tudo aquilo que o esposo, nunca conseguira mostrar durante a vida em comum. Ela emudece. Gostaria de dizer-lhe que o perdoava, porque sempre entendera sua dificuldade de expressão, usando uma armadura como defesa. Seus lábios silentes não conseguem emitir qualquer sílaba. Os olhos ficam marejados e as lágrimas parecem sorrir:

 

            O amor dá o dom da palavra.

 

            Sofia aproxima-se do pai, segura sua mão, beijando-a. Soluça muito ao pensar no que ele significou em sua vida: o homem honesto, disciplinado, sempre presente. Era o modelo masculino que desejava para que fosse seu eterno companheiro. Nunca dissera o quanto o amava, pois tinha medo de ser rejeitada. O receio de falar continua agora. Seu corpo treme. Encosta seus lábios naquela face pálida. O milagre acontece:

 

            O amor dá o dom da palavra.

 

            Bernardo tem o olhar fixo no vazio. Não consegue sair do lugar. Parece ter parado de pensar. Aprendeu com o pai que um homem que se preze não chora, nem demonstra seus sentimentos, pois passará uma imagem de fragilidade. No entanto, a emoção sempre sufocada, abre um rombo em seu escudo protetor. Quer dizer tudo que reprimiu por tantos anos. Quer falar de sua admiração pelo chefe de família, que lhe presenteou com valores, como: consideração e respeito com o próximo, probidade e dignificação do trabalho. Agora, um nó em sua garganta estrangula o som. O grito brota de suas entranhas:

 

O amor dá o dom da palavra.

 

Paulo abraçado à família cerra tranquilamente os olhos para sempre. A morte não cala os sentimentos, porque também a ela:

 

O amor dá o dom da palavra.

 

 

Themis

           

 

           

 

 

 

 


Autor: Themis Groisman Lopes


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