PRESENÇA DO ANALISTA: AS RESSONÂNCIAS DOS OBJETOS



Marco Wildt.

Psicanalista.

Maiêutica Instituição Psicanalítica.

Florianópolis

  • O ANALISTA OBJETO a.
  • O ANALISTA OBJETO DE AMOR.
  • O ANALISTA OBJETO DE IDENTIFICAÇÃO.

O analista e sua presença presente dão início ao desenrolar inicial da sessão?

Neste texto examinaremos três referências: a relação com o desejo analisante em direção ao objeto a, matemizado no discurso do analista como a/S2: a relação com o desejo analisante em direção à transferência articulada ao Outro definido comoSsS(Sujeito suposto Saber), e, finalmente, o desejo analisanteao ideal do eu – I(A);uma relação com a identificação.

O ANALISTA OBJETO a.

Por pequena introdução, que seja, (ou não) dia 15 de janeiro de 1964, Jacques Lacan, (Paris) da a aula inicial, marca a abertura dos seminários do ano, na École Nationale Supérieure, onde, na presença de celebridades como Claude Lévi-Strauss, Althusser e Fernand Braudel entre outros, Lacan fala sobre a censura sobre o seu ensino e de sua excomunhão dos círculos psicanalíticos oficiais (IPA) e, a seguir, desenvolve o que considera os quatro conceitos fundamentais da psicanálise a partir da grande obra Freudiana: o inconsciente, a repetição, a transferência e a pulsão.

Introduz o tema comentando que a psicanálise é sobre uma "práxis que coloca o sujeito em uma posição de lidar com o real através do simbólico",

E mais especificamente, no capítulo X, nos fala sobre a Presença do analista e implicações decorrentes. Esse conceito está ligado diretamente com a emergência dos conceitos fundamentais.

Basta a simples presença do analista para que se produzam os significantes que anunciam a presença do sujeito e dê o andamento inicial para um tempo de análise. Este sujeito ainda nas relações tortuosas de seu desejo. ( e as que denunciam os sintomas ).

. Inscrito como objeto totalmente submetido ao desejo do analisante, sabe que está ali como pequeno a, mas não sabe que pequeno a significante.

E o primeiro discurso do analisante mostra uma demanda em uma fala instalada na transferência. Mas causa de desejo, o analista é o "portador" do agalma buscado pelo sujeito. Não sendo nem real, nem simbólico, nem imaginário, o objeto pequeno a é o real da falta. O Objeto a é algo do qual o sujeito, a fim de se constituir, se separou, e é o símbolo da falta.

Aqui encontramos a articulação radical e inovadora proposta por Lacan. Assim retira o analista dos lugares que lhe são atribuídos pelo analisante e constrói para o analista logicamente o lugar onde este deve se localizar. Assim evidente o analista é sujeitado a um semblante de objeto a, e o agente do discurso do analista neste instante transferência que penso no que seria uma intervenção "padrão" do analista, aquela na qual ele intervém no simbólico gerando efeitos de linguagem, tais como condensação de palavras, lapsos, etc., É com o movimento da cadeia de discurso que se desprendem significantes, e se dá o efeito de sujeito. São destas palavras, vindas deste suposto pequeno a, que irá surgir o corte que produz um novo significante. Penso que neste momento o analisante deverá se posicionar diante da angústia e da castração.

O objeto a é privilegiado, parece ter uma consistência lógica, uma realidade topológica, em torno do qual a pulsão delineia contornos fugazes. É este objeto que na experiência analítica, sustentado pela pulsão transferencial, que se funda em um estatuto especial, onipresente na situação analítica, central na organização do desejo através da arquitetura da pulsão. É de onde o analista opera, sustentado pela pulsão transferencial e o suposto saber (S2) estabelecido assim no lugar da verdade.

O ANALISTA OBJETO DE AMOR.

.Em La relation d'objet, Lacan assinala uma forma de entender a função paradoxal da transferência para uma cura analítica. Ele utiliza o Simpósio de Platão, (seminário VIII) que a descoberta da transferência foi feita antes de Freud, por Platão. Para ilustrar o que ocorre entre analista e analisando exemplifica como Alcibíades compara Sócrates a uma caixa que contem um objeto precioso, agalma. Da mesma forma o paciente vê no analista o objeto de seu desejo. Sócrates tivesse podido ler que o desejo é o que há por trás do que se formula primeiro no discurso do analisando como demanda e que ai esta subjacente à transferência. Neste mesmo texto, de imediato começa a falar de transferência. Lacan comenta que comumente a definimos como um afeto, mas, dizer isso, não nos ajuda a avançar muito. Isto é, não só, não define a transferência, como não nos aproxima intimamente desse termo.

Não, é um saber que se constitui fugazmente, um saber que só se dá com a fala do outro, através do outro, através da atenção flutuante. Se dê um lado, Freud fala que a regra básica para o paciente em análise é da associação livre, neste mesmo nível, para o analista, ele dá o seu corolário, escutar minimizando ao máximo o trabalho da consciência e criando a expectativa no analisante, que alimenta uma ilusão fundamental, própria da estrutura, de que o seu saber, o saber inconsciente, está todo contido no analista.

O ANALISTA COMO OBJETO DE IDENTIFICAÇÃO.

Um ponto de suma importância que Lacan nos convoca a pensar é que, a presença do analista é ela própria uma manifestação do inconsciente. A presença do analista convoca que Eros e Tanatos manifestem-se, e não somente isso, como também, toda a batalha que vai ser travada na transferência, em todos os campos da experiência psíquica, suas repetições, repressões e recalcamentos. O inconsciente não é individual, ele é trans-individual, só se dá na relação com um outro. Mostramos uma fórmula: significante – sujeito – significante. (S-S-S). Essa pode ser modificada por: sujeito –significante – significante, ou ainda, como numa fórmula matemática: significante – significante – sujeito. Poderíamos perguntar, um só sujeito nessa equação? A resposta de Lacan é que não existe relação intersubjetiva, agente vê o outro sujeito sempre como um objeto. O sujeito sempre sou eu, o outro nunca é tratado como sujeito. Mas, poderíamos argumentar: Existe encontro com objeto? É claro que existe! A pulsão é que não tem objeto.

Lacan parte do princípio que nós temos uma idéia vaga do que seja o significante, talvez pela importação da própria lingüística. Agora, para nós, analistas, o significante não significa nada, não é nada, enquanto representante ele vai depender das articulações onde está inserido. Da mesma forma, o sujeito, ele só é alguma coisa em relação ao significante. O sujeito é só uma representação entre dois significantes. A primazia não é do significado, é do significante. O significado não serve para nada, quem da sentido é o eu, e o eu é o lugar do engano. Agora, o significante pode passar a ser um sujeito. Mas, o sujeito só se relaciona com objetos. O sujeito não pode ser definido pelo sentido que ele dá ao que ele fala, conseqüentemente, podemos formular que, o inconsciente não pode ser definido pelo sentido, isso, é exatamente o que ele não é. O real forclui o sentido, ou seja, exclui o sentido. Complementando, o ser, nos diz Lacan é o nada, porque o núcleo do ser consiste em desejar, diferentemente de Sartre do "Ser e o nada". O ser de Freud é aquele que deseja, e desejar é a própria presentificação da falta. Só pode haver desejo se houver falta. Mais especificamente, se fossemos formular, teríamos esta série: Falta – desejo – falo. O falo é o representante da falta.

Por outro lado, existe inconsciente. O Isso é o inconsciente. O ics é a soma dos efeitos da fala, neste nível em que o sujeito se constitui pelos efeitos do significante, que é, o seu representante (o que representa o sujeito para outro significante). Efeitos do significante, são os efeitos da representação..., fica meio nebuloso, como entender algo que é da ordem do real, parece que os psicanalistas não sabem explicar. Isso é da ordem do real, então não é o fato de que outra teoria explicaria melhor. Das críticas a psicanálise, muitos giros foram feitos, elocubraram que Freud teria dito que, por exemplo, a mulher é castrada. Freud nunca disse isso, ele falou que uma teoria infantil é de que a mulher é castrada, mas existem outras teorias neuróticas infantis, a da mulher castrada, não é a única e, nem a primeira, existem outras.

O inconsciente está perdido, não vamos a procura dele, o que vamos procurar é o retorno do reprimido, é isso que nos interessa. O sonho também está perdido, o que o sujeito fala dos seus sonhos é o que vamos analisas. O inconsciente tem efeito de báscula, ele abre e fecha, num movimento de pulsação, é neste momento que o inconsciente aparece, nesta fenda, e que nos fazemos as intervenções. Então a presença do analista para o inconsciente, é a testemunha desta perda. O analista é testemunha também que o sujeito é barrado, que ele necessita da castração, que essa castração é constitutiva em sua vida. É testemunha de que o sujeito é tórico e não esférico é testemunha de sua alienação no discurso do outro, e testemunha da arrogância do eu que pensa ter certeza do que ele é. Testemunha, portanto da falta e das possibilidades de desejo.

A relação de transferência é uma relação de amor, mas como nos diz Lacan, amar é dar o que não se tem. O que o analista pode oferecer ao analisante? Parece uma enganação, não temos nada a oferecer?O que oferecemos só pode ser a escuta. Ora, o analisante quer restabelecer o gozo que crê perdido ao entrar na cultura – cria um mito que tinha um gozo total e alguém o tirou. Então o sintoma é uma tentativa de restabelecer esse gozo perdido, alguém lhe deve esse gozo. Se, ele ama seu sintoma como a si mesmo, seu pedido ao analista é justamente que ele possa gozar no seu sintoma sem sofrer com isso. O analista por sua vez, não pode dizer nem que sim, e nem que não. Nesses paradoxos é que se constitui a clínica, essa profissão impossível, com nos diz Freud. Então, subverter esse objetivo inicial do sujeito é transformar sua queixa em sintoma. A construção do sintoma é a retirada dessa posição Alma Bela (Hegel) e efetivamente implicá-lo com sua vida. Isso só pode acontecer na presença do analista que pode perguntar-lhe: "qual a sua parte nesta historia!".

CONCLUSÃO: A LÓGICA ELÁSTICA, A DISSONÂNCIA.

A presença do analista e seu silencio sustentam os significantes que se desdobram no Imaginário do analisante. Quando o analista fala revela a dessimetria dos lugares e privilegiando o que o analisante disse pensando querer dizer outra coisa, se produz um corte que neste instante apresenta a falta e a angústia. Esta intervenção produz desequilíbrio, conforme diz Lacan a respeito, que "ninguém melhor do que o neurótico para ensinar o que é adaptação", atado ao logro adaptativo que nos mostra e diz os seus sintomas.

Do discurso do analista surge o desejo deste, desejo de renuncia ao domínio, pois não se quer no lugar de mestre, ou de todo o saber, ou da estagnação de ideal, ou de educador, buscando ainda escapar da prisão da significação.A transferência vinda do lado do analista é o seu desejo, que se furta ao amor de transferência, torna raro e volátil o objeto a pequeno, mantendo viva a demanda da pulsão sem engordar o Imaginário do analisante.

Florianópolis, 2 de dezembro de 2006.


Autor: marco aurelio wildt


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