Said Ali e a Língua Portuguesa



Said Ali e a língua portuguesa

 

Neste artigo, transcrito da revista vozes e publicado na série dispersos, Mattoso Câmara busca dar relevo à grande contribuição dos estudos gramaticais de Said Ali para os estudos da língua portuguesa. Vale a pena ressaltar que Said Ali era professor de alemão, contudo, este fato não o impossibilitou de ser o grande mestre que foi.

Mattoso Câmara revela-nos o grande autor que fora Said Ali em seu tempo, sendo o mais alto estudioso dentre grandes nomes da lingüística mundial, lutando com afinco contra o excesso do método de estudos histórico-comparativo. Apesar de ter bebido nesta fonte, Said Ali simpatizava com os estudos sincrônicos “nos moldes propugnados por Saussure”.

Dentre suas obras, é necessário destacar a Gramática Histórica e a Gramática Secundária da língua Portuguesa, esta um compêndio com formas escritas e faladas pelas pessoas cultas à época da elaboração; aquela estuda a evolução dos diversos fatos da língua desde a sua origem até a época presente.

O artigo expõe ao leitor três contribuições singulares de Said Ali, em primeiro lugar, as formas verbais em –ria; Em segundo, Ali trata dos tempos compostos e, por último, problematiza o emprego da partícula se.

Said Ali analisa as formas verbais em –ria a partir da expressão disse que viria e atesta ter esta forma um caráter irreal, ou seja, dois momentos, o primeiro, o momento em que se fala, a finalidade é de anunciar um fato futuro, algo que poderia acontecer e o segundo, o momento em que se ouve, com o fato já ocorrido ou não, “isto é, é fato passado ou fato irreal”.

Para Epifânio Dias, apesar de ter notado o caráter de futuro do pretérito, não “descartou a antiga noção de ‘modo condicional’”, propõe uma possível homonímia para cada verbo, de acordo com o tipo da frase "disse que viria"  como futuro do pretérito e "se pudesse, viria" como modo condicional. Porém Said Ali, mais coerente, prende a segunda construção à primeira, mostrando uma possível relação entre ambas: “mostrando que viria, na segunda, está condicionada ao pretérito pudesse, tanto que com pode, ou puder vamos ter respectivamente outra forma – ‘se pode, vem’, ‘se puder, virá’.”

Em segundo lugar, ali analisa os tempos compostos com ter e haver e, coerentemente, considera-os como formas simples, indicando ação concluída, a saber “Tenho cantado” inicia e finaliza o ato de cantar em relação ao momento presente, e “tinha cantado” iniciava e concluía o ato de cantar até o momento considerado no passado.

Por último, Said Ali estuda a partícula se em construções do tipo aluga-se, quebrou-se, dir-se-á, e sugere serem estas orações sem sujeito e não “partículas apassivadoras”. Para sustentar seus argumentos, ele exemplica-os com a seguinte comparação: “‘Vende-se uma casa’, observa ele, não significa  que a ‘casa é vendida’ , mas sim que ‘está para vender’”.

Mattoso, no final, ressalta, ainda, o “espírito arejado e lúcido com que (Said Ali) encara os fenômenos lingüísticos”. Ali não era purista da língua nem preconceituoso, mas sim, um crítico vivaz, sendo a favor da língua de sua época, cotidiana e viva em detrimento dos clássicos dos séculos XVI e XVII, visto que basear o estudo nestes, apenas, poderia desambientar a cultura vigente em seu tempo.

Portanto, a preferência de Ali para os estudos exegéticos de autores contemporâneos seus como Júlio Diniz, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós e do grande mestre Machado de Assis, presentes na obra Meios de expressão e alterações semântica. Ainda houve fôlego para Ali perceber e apreciar o fenômeno fonético da “entonação” ou modulação da voz na frase Em um artigo em sua pioneira obra Dificuldades da língua portuguesa.


Autor: Daniel Martins


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