HEIDEGGER: ENTRE O EDIFICAR E O CONSTRUIR



HEIDEGGER: ENTRE O EDIFICAR E O CONSTRUIR

 

Por José Reinaldo F. Martins Filho

 

 

Todo o discurso construído pela filosofia heideggeriana possui como meta o esclarecimento da questão do ser, em especial no que tange ao chamado “primeiro Heidegger”. Nesse sentido, a capacidade de pensar aparece como meio fundamental para se chegar à tal claridade: a compreensão do ser em sua plenitude. Não obstante, trata-se do ser que também se revela na obra de arte e, por isso, a investigação que deseja abordá-lo não pode prescindir de seu confronto no âmbito da estética. Com esse propósito, Martin Heidegger também constrói um discurso acerca da arquitetura, sempre tomada como protótipo de um discurso de cunho ontológico.

Em sua análise, Heidegger recorda o exemplo da ponte, utilizado por Simmel. A ponte possui uma realidade própria, dotada de autonomia frente ao próprio rio, bem como suas margens. Torna-se ela mesma o agente interpelador. Ora, como se dá tamanha expressão? A própria ponte sugere uma harmonia pré-estabelecida com o ambiente no qual se encontra. Foi construída com esse fim. A pedra se equilibra com o rio, com as margens, com a própria natureza que os circunda. Estabelecem relação entre si. Relação que sugere harmonia. Nesse sentido, sentido que traz em si mesma, a ponte cria um lugar. Para Heidegger, não se trata de um espaço. Enquanto o espaço se qualifica como o receptáculo da alienação, no qual prevalece o império do impessoal, o lugar é uma clareira que acolhe o homem. Daí a necessidade de uma arte capaz de edificar lugares e não espaços.

O lugar é a referência ao humano; o espaço remete ao desumano. Diante disso, a essência do construir é a construção de lugares e não a produção de espaços. Do mesmo modo que a essência de Dasein se qualifica como o deixar-ser, o fundamento essencial do construir é o deixar-habitar. Construir, nesse sentido, significa edificar lugares mediante a articulação dos espaços. Para Heidegger, somente em sendo capazes de habitar é que podemos construir. O habitar capaz de construir é aquele em que persiste a possibilidade de encontrar uma morada para a essência do homem. Desse modo, como o caramujo do texto de Bachelard, não habitamos porque construímos, mas construímos porque habitamos. Habitar significa estar resguardado; resguardar a essência do homem. Com esse fim, também o construir e o edificar podem ser a garantia do resguardo, no qual prevaleça tanto o deixar-ser quanto o deixar-habitar, essencialidade de todo ser humano.


Autor: José Reinaldo Felipe Martins Filho


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