Aprender, é usar suas próprias palavras para traduzir seu conhecimento.



Quando perguntamos em sala sobre alguma coisa que o aluno sabe fazer, como por exemplo: as meninas que sabem fazer arroz, ou melhor, as que são capazes de fazer um bom arroz, vemos que muitas alunas levantam as mãos, exploramos esta experiência comparando as várias formas de se fazer o arroz, ou no caso do aluno que é capaz de instalar seu console de jogo na tv, trocar o pneu de um carro, ou mesmo trocar uma lâmpada, eles são capazes de fazer estas atividades sozinhos e sem seguir nenhuma receita, a menina é capaz de fazer arroz adequando esta atividade  a uma série de fatores, como por exemplo o tamanho da panela, a quantidade de água, sal e do próprio arroz, daí ela sabe por quanto tempo este arroz deverá ficar em fogo brando, quando está no ponto. Estas experiências colocadas desta forma parecem banais, fúteis e para muitos, de mínima utilidade para nosso estudo, porem provam de forma irrefutável a apropriação do conhecimento, já que a menina não necessita munir-se de receitas para fazer um bom arroz, o menino não precisa consultar o manual de seu vídeo game para poder instalá-lo na tv, e o que é interessante, a menina é capaz de alterar a maneira de fazer este arroz, dando-lhe outros sabores ou acrescentando itens de forma que obtenha um resultado que satisfaça seus desejos no momento, o menino é capaz de superar dificuldade, improvisando plugues, colocando multiplicadores de tomadas ( os benjamins ou Ts) desembaraçando fios de forma que a disposição dos aparelhos satisfaça sua vontade, o simples ato de se trocar uma lâmpada, traz inúmeras lições: o menino sabe que a corrente elétrica causa choques e que choques são perigosos, então toma as decisões necessária para que não sofra nenhum choque, ou quando cuida para que a lâmpada não caia, ciente da sua fragilidade, a partir daí ele toma várias decisões para conseguir trocar esta lâmpada, escolhe onde subir, providenciando escadas ou cadeiras, segura o bocal corretamente, e rosqueia a mesma no sentido correto.

Como disse, estas observações a primeira vista podem parecer banais, porem são a essência do que procuramos com tanto afinco: apropriação do conhecimento.

Trazendo para “as letras” nossas observações, temos que a criança de posse do conhecimento de palavras e seus significados, bem cedo começa a formar frases, escolhendo as palavras, a seqüência com que serão pronunciadas, o tom da voz, quando as fala e para quem as dirige, traçando mentalmente toda esta seqüência com a finalidade de obter seus objetivos, ocorre uma reação de alegria o tristeza com o resultado de sua empreitada.

A pergunta que não cala: é como trazer esta experiência que tem o tempo da humanidade para nossas salas de aula? Vamos a um pouco de história... Quando  os europeus chegaram as Américas, Pedro Álvares Cabral teria descoberto o Brasil ( coisa que não concordo pois estudos sérios indicam que Hong Bao um chinês  teria descoberto o Brasil e outro chinês Zheng He teria liderado a frota que mapeou o mundo 70 anos antes dos europeus), o aluno cria mentalmente uma imagem em que Cabral chega ao Brasil. Em outras palavras ele tem o arroz pronto, porem sem saber como isso ocorreu e conseqüentemente não pode alterar esta receita, o arroz já esta pronto, e deve ser consumido do jeito em que está. Porem imaginemos que este aluno tenha conhecimento dos processos que passaram por este momento da “descoberta”, os conflitos que estavam espremendo Portugal paulativamente para o mar, as suas tradições de grandes navegadores forçada pelo tamanho de seu pais que fazia com que o pescado fosse seu principal item de alimentação, o aumento de sua população e a necessidade “urgente” de novas colônias. Temos então todos ou no melhor vários ingredientes para construir nossa história sobre o “descobrimento do Brasil” é como se você estivesse na cozinha com vários ingredientes para fazer seu arroz, para este aluno o descobrimento não seria o final de um processo, mas a seqüência do mesmo, resultado de vários fatores, ele estaria totalmente aberto para aceitar a tese de que os chineses estariam mais bem equipados e que teriam chegado antes, mentalmente ele foi capaz de mudar a receita adequando-a aos novos conhecimentos, isso ocorre de forma natural, a apropriação de conhecimentos e a adequação aos novos, o aluno que é conduzido desta forma entende o processo e não o ata em si. Esta “coisa” tão antiga como a humanidade, ocorre em todas as áreas do conhecimento, na matemática  a criança aprende o conceito de maior e menor, mais e menos e tantos outros bem antes de aprender até mesmo a falar, e ele vai usar estes conceitos por toda a vida, adequando-os às várias situações “automaticamente” quando estas se apresentam. Quando começamos a destruir este “mecanicismo natural” ? Qual professor nunca aplicou uma prova objetiva?  Um questionário em que as respostas deveriam “bater com a chave de correção?” Ou quando o aluno “erra” o resultado de uma equação matemática após ter resolvido com sucesso uma série de operações de variados graus de dificuldade se enganando com um sinal já no final do processo? Tudo estaria errado porque o resultado que ele colocou não é o mesmo que o professor esperava?

Nas ciências, aprendemos que é o cérebro que coordena todas as funções do corpo, então como se explica o caso recente de uma criança que nasceu sem o mesmo estar se desenvolvendo e reagindo a estímulos externos? Percebam que com esta ultima pergunta nos sentimos, curiosos, intrigados e que mentalmente procuramos explicações para este problema? Assim ocorre a aprendizagem, relacionando os novos conhecimentos com os antigos, isso é natural, mas que para ocorrer é necessário ter várias soluções para os problemas apresentados de forma que a resposta seja o resultado de várias interações mentais.


Autor: Wolney Blosfeld


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