DA UNE À UNEMAT:



Quando falamos despretensiosamente de movimento estudantil, lembramos imediatamente de grêmios estudantis, da União Nacional dos Estudantes, da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, e do DCE Livre Paulo Freire, entidade que representa os acadêmicos da UNEMAT, de um modo que nem sempre temos consciência dos processos historiográficos que constituíram a identidade do movimento estudantil como ele é hoje. A juventude brasileira sempre respirou ares revolucionários, seja através da inconfidência mineira, seja pela revolução farroupilha. Seguindo esta tendência, eis que estouram ainda no Brasil - Império os primeiros gritos do Movimento Estudantil (doravante ME). Já no século XX, em 11 de agosto de 1937, os estudantes brasileiros resolvem, na tentativa de organizar e fortalecer suas lutas pela melhoria da educação, fundar a União Nacional dos Estudantes, no I Congresso Nacional dos Estudantes. Durante a Ditadura Militar, a partir de 1968, a Lei Suplicy de Lacerda coloca na ilegalidade a UNE e as UEE’s (Uniões Estadual dos Estudantes), que passam a atuar na clandestinidade. Todas as instâncias da representação estudantil ficam submetidas ao MEC. Mas a luta continua e, em 1965, a UNE convoca uma greve de mais de sete mil estudantes, que paralisam a Universidade de São Paulo (USP). É impossível debater a UNE e não falar de seus mártires, jovens que deram suas vidas por seus ideais: em 28 de março de 1968, o estudante Edson Luís Lima Souto é morto durante uma manifestação contra o fechamento do restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro. No dia seguinte, mais de 50 mil estudantes saem às ruas do Rio em cortejo fúnebre. Para muitos, 1968 ainda é conhecido como “o ano que não terminou”, devido à centena de confrontos e embates do ME com o Governo militar. Honestino Guimarães, jovem estudante de Geologia da UnB, assumiu a presidência da entidade no mesmo ano em que foi dado como desaparecido pela ditadura, após ser preso em 1973, pela Central de Informações da Marinha. Enquanto os universitários brasileiros se articulavam para a reconstrução da UNE, em julho de 1978, através do decreto 703, o então prefeito municipal de Cáceres, Ernani Martins, autoriza a criação do Instituto de Ensino Superior de Cáceres, com o objetivo de promover o ensino superior e a pesquisa no âmbito do município. No ano seguinte, em 1979, a UNE se reorganiza, ao realizar o congresso de reconstrução em 29 e 30 de maio na Universidade Federal da Bahia, em Salvador; concomitantemente, no Instituto de Ensino Superior de Cáceres, é fundado e regularizado o Diretório Acadêmico “Pedro Alexandrino Pinheiro de Lacerda”, através da Portaria nº 2, de 4 de janeiro, tendo como, primeiro presidente, o acadêmico do curso de Letras, Pedro Paulo Pinto de Arruda Filho. De 1979 pra cá, muita coisa mudou. Escândalos políticos à parte no cenário nacional, o IESC trocou de nome 5 vezes. Atualmente, a Universidade do Estado de Mato Grosso, com o lema “Do interior para o interior”, possui 11 campi e 5 Núcleos Pedagógicos espalhados pelo interior do Estado. Hoje, no meio universitário, muito se ouve falar da UNE, sem que haja uma clara apresentação de sua história, seus valores e seus conceitos, cabendo a uma imprensa que se auto-intitula “livre”, manipular e alienar nossa sociedade, solapando a importância política e histórica desta entidade. Assim como a própria Universidade sofreu mudanças na nomeação, por diferentes determinações, o Diretório Acadêmico também foi renomeado como Diretório Central dos Estudante Livre “Paulo Freire”. Sempre interessado nos assuntos pertinentes à academia, há muitas controversas sobre seu posicionamento político dentro da instituição, inclusive em situações eleitorais. No primeiro semestre de 2009, processos judiciais deram posse às duas chapas concorrentes – a primeira foi empossada e a segunda, após ser cassada, retomou a direção da entidade. Diante deste quadro, o descontentamento da comunidade acadêmica é geral: de um lado, o DCE desacreditado; de outro, picuinhas políticas e até possíveis intervenções partidárias. A UNEMAT vive atualmente um momento de ascensão, reconhecimento em âmbito nacional como construtora de projetos e ações de ensino, pesquisa e extensão. A União Nacional dos Estudantes possui uma trajetória peculiar e de luta. A história de nosso país é recheada de conquistas graças ao empenho dos estudantes brasileiros, da UNE, do conjunto dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada. Nos manifestos “O Petróleo é Nosso” e “Diretas Já”, o movimento estudantil teve um papel de destaque, contribuindo para a construção de nosso país. Às vésperas do início da exploração do Pré-Sal, constituímos uma nova realidade neste país: verdadeiras revoluções são construídas no interior das universidades pela ação e força de vontade dos estudantes. Enquanto “unematianos”, é nossa responsabilidade zelar pela preservação de nosso patrimônio: uma Universidade pública que promova ensino, pesquisa e extensão, pensada como um bem público e de acesso a todos. Talvez tenha chegado a hora da nova Universidade do Brasil nascer. Talvez nós, acadêmicos, sejamos capazes de formar essa nova universidade, baseada em princípios de uma educação pública voltada para o desenvolvimento do ser humano e do país. Bibliografia GURGEL, Antonio de Pádua. (1952). A rebelião dos estudantes. (Brasília, 1968)/Antonio de Pádua Gurgel. 2. ed. Editora Revan – 2004, Brasília, 2002. UNB 30 ANOS/ Universidade de Brasília. Assessoria de Planejamento - - Brasília: Editora UnB, 1992. ZATTAR, Neuza Benedita da Silva. Do IESC à UNEMAT: uma história plural. 1978 – 2008. Cáceres-MT: Editora da UNEMAT, 2008. ZATTAR, Neuza B. da S.; TEIXEIRA, Danielle T.; ARTIOLI, Luíza B. (Orgs.). UNEMAT 30 Anos: pelos caminhos de Mato Grosso. Cáceres-MT, Editora da UNEMAT, 2008. ZANETI, Hermes. Juventude e revolução: uma investigação sobre a atitude revolucionária juvenil no Brasil. Brasília: Editora da UnB, 2001. < http://pt.wikipedia.org/wiki/DCE > Acesso em 20/08/2009. < http://pt.wikipedia.org/wiki/UNE > Acesso em 15/08/2009.
Autor: Glauco Miranda


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