Comportamento Humano



Algum dia você certamente já precisou levar seu currículo para alguma empresa ou instituição, com o objetivo de conseguir um emprego ou participar de algum concurso público.

Nesse currículo existiam informações do tipo: “Sou uma pessoa que sabe se relacionar bem com minha equipe de trabalho.” Ou: “Tenho uma excelente capacidade de ouvir os outros.” Ou ainda: “Sou transparente e flexível nas minhas opiniões e colocações.” E mais ainda: “Tenho facilidade em me encaixar na cultura, nos valores e no ambiente da organização.” ?

Não????

Provavelmente, não. Lá existiam, certamente, além de seus dados pessoais como nome completo, data do nascimento, endereço, números dos documentos e outros, informações do tipo: “Cursei o primeiro (ou segundo ou terceiro) grau no colégio tal”, “Terminei meu curso superior de (profissão) na Faculdade tal”, “Possuo Pós-Graduação em....”, “Trabalhei nas empresas ‘A’, ‘B’ e ‘C’ nas áreas de...”, “Participei dos seguintes Congressos e Seminários (relação)” e assim por diante.

O que significa que, se você foi contratado, certamente o foi por causa de suas excelentes habilidades e qualificações técnicas. Esses são, na verdade, e na grande (mas grande, mesmo) maioria dos casos, os motivos pelos quais as organizações contratam: porque o profissional tecnicamente é um excelente vendedor, um excelente engenheiro, um excelente auditor fiscal, um excelente analista de sistemas e assim por diante. Só depois, e nem sempre, é que as organizações se preocupam em verificar características como aquelas que citei no início desta matéria (aquelas que provavelmente não estavam no seu currículo). Aí pronto, já está gerado o maior problema: “O cara é complicado. E agora? O que fazer para demiti-lo? O que dizer a ele?”.

Na edição de maio de 2000, a revista Você S/A publicou uma matéria a respeito dos comportamentos e atitudes das pessoas, dando ênfase em seu lado profissional, que afirmava o seguinte: “Diplomas e competência não bastam: 87% das empresas demitem por problemas de conduta”. Ou seja, apenas 13% das demissões são provocadas por falta de competência técnica dos profissionais.

Agora, o que é pior: Segundo a pesquisa, 61% dos profissionais entrevistados acreditam que perderam seus empregos por problemas de atualização, de conhecimento e de habilidade técnica ou por falta de experiência, e apenas 20% afirmaram ter sido demitidos por problemas comportamentais. Ou seja, na hora de demitir, quase ninguém chega para o profissional e diz a ele os reais motivos pelos quais ele está sendo demitido. E assim, o profissional sai do emprego achando que precisa melhorar em termos de conhecimentos, precisa se capacitar mais tecnicamente, e não percebe que precisa, na verdade, buscar melhorias como pessoa, e não como técnico. Precisa se conhecer melhor, analisar suas atitudes, enxergar as situações onde alguns comportamentos seus estão trazendo resultados positivos e/ou negativos em sua vida pessoal e/ou profissional. Consegue uma outra colocação e corre o grande risco de tornar a acontecer tudo de novo...

Mas, esqueça um pouco essa coisa da demissão...

Até porque, ruim mesmo é conviver diariamente com pessoas que possuem atitudes opostas, por exemplo, às citadas lá em cima. Pessoas assim não vão, certamente, colaborar para um bom clima no ambiente de trabalho, concorda? E como é que você se sente tendo que ir ao trabalho, encontrar alguns “complicados” e conviver com eles durante dias, semanas, meses, anos?

Agora, vou jogar um pouco de lenha na fogueira: E se VOCÊ for uma dessas pessoas?

Não??? Impossível???

Não, não é impossível. Já parou pra pensar nisso? Que, assim como os demais, talvez você não esteja percebendo claramente quais são as suas atitudes no dia-a-dia? E como elas podem estar ajudando ou atrapalhando você como pessoa e/ou como profissional?

Isso pode, sim, estar acontecendo com você e só você pode mudar isso. Todos nós possuímos uma coisa chamada “base condicionada de comportamento”, ou seja, todos nós temos uma base comportamental que foi adquirida ao longo do tempo, e que nos condiciona a agirmos repetidamente de algumas maneiras. Isso nos leva, na maioria das vezes, a não perceber que estamos praticando algumas atitudes. Fazendo algumas coisas, digamos, mecanicamente. Algo assim como você dizer para alguém: “Por que você só fala gritando com as pessoas?” E esse alguém responde (aos gritos): “Eu? Tá louco? Eu, gritando com as pessoas?”.

Isso é um exemplo de base condicionada de comportamento. Aquela atitude já se tornou mecânica, a pessoa faz e já nem percebe mais. E se não percebe mais, não sabe se isso está sendo positivo ou negativo para ela.

Nesse momento, você pode estar se perguntando: “E agora? O que fazer? Será que ainda tenho salvação?”.

Claro que sim... Hoje, muitos profissionais e organizações estão investindo no aprimoramento do Desenvolvimento Comportamental através de trabalhos especializados. Seminários comportamentais, que se utilizam normalmente da andragogia (ciência que trata da aprendizagem do adulto) e baseados em alguns modelos do CAV – Ciclo de Aprendizagem Vivencial estão sendo amplamente procurados para formar cada vez mais profissionais capacitados a buscar um melhor auto-conhecimento de suas atitudes e comportamentos. Não são Seminários de auto-ajuda, e sim de métodos que fazem, através de vivências, o profissional enxergar mais claramente a necessidade de produzir mudanças em seu dia-a-dia, se ele assim o desejar.

Finalizando, não quero aqui desmerecer a técnica. Ela é importante (e muito, muito importante), e enfaticamente utilizada em nossa formação profissional. Só que a técnica normalmente é igual para todos, o que faz a diferença é o que você está fazendo com toda esta técnica. Se não fosse assim, todos sairiam das faculdades e universidades excelentes profissionais. E todos teriam muito sucesso. Mas não é bem assim...

Temos hoje uma grande variação na qualidade dos profissionais, sejam de qual área forem, e essa variação não acontece, na maioria das vezes, por causa das habilidades técnicas. Acontece por causa da maneira como esses profissionais se comportam em seu ambiente de trabalho. O comportamento, que começa a ser formado desde que nascemos, é a base de tudo. Antes de sermos profissionais sempre fomos (e somos) pessoas. E pessoas diferentes umas das outras.
Autor: Antonio Carlos Salles


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