PROFESSOR, UM PROJETO DE VIDA, UMA PRÁTICA POLÍTICO-PEDAGÓGICA



Este artigo tece algumas considerações sobre o corpo escolar, enfatizando o ser educador, levando em conta a prática docente num ato de reflexão crítica e consciente do seu papel. Analisa alguns pontos relevantes para a vida do educador e os desafios de educar num contexto diverso e inovador, não esquecendo do sonho e da magia que envolve o ato de educar, visando uma prática político-pedagógica.

Introdução

A escola constitui-se em um ambiente de constantes envolvimentos com a construção do saber, gerado pelo diálogo em uma visão democrática e colaborativa, dentro de um novo paradigma educacional que coloca como foco o aprendiz, definindo-o como ser totalitário, autônomo, incluso e que possui relação dialética com o mundo. Porém primando que a interação social não parta de interesses apenas individuais ou locais e sim vinculados a um contexto maior de sociedade emancipatória do sujeito.

Esse tipo de educação exige a construção da escola como um sistema aberto, "pois há um movimento constante de seus membros". (Oliveira 2004, p.15) uma modalidade que oportuniza o acesso à educação para todos, respeitando as diversidades existentes.

Pensar e construir uma escola é, essencialmente colocar em prática uma concepção política e uma concepção pedagógica que se realimentam e que se corporificam na sua proposta político-pedagógica.

(Bordignom/Gracindo, 2000:154)

Nessa perspectiva Morin (2001) propõe a dialógica dialética. De modo que o método seja mais flexível, para que os (as) alunos (as) não se intimidem, mas sintam-se estimulados a desafiar o novo. A correr riscos, a construir novas alternativas para aprender a aprender, aprender a fazer, a viver e a conviver com dignidade.

Há de se pensar no ser educador

Como, pois traduzir a condição de educar, ser mestre não por ter título, mas por opção. Como pensar dedicar-se por inteiro a uma tarefa infinita de ser? A pessoa-professor é "tão" aquele que acredita no ser humano e acima de tudo no seu fazer docente sobre a sociedade que interage, tornando possíveis sonhos que se eternizam na história de cada educando.

Nesta perspectiva de ser um profissional que trabalha com o oficio de ensinar é ser alguém que se apodera de uma missão divina e de certa forma próxima da eternidade, posto que, "ensinar é um exercício de imortalidade". De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia de nossas palavras. O professor assim não morre jamais (Alves, 2004).

Pensar no ser educador é vê-lo como um "ser humano", capaz de errar, chorar e até se entregar as desilusões; capaz de ter raiva e capaz de amar. É gostar de ser gente "porque a história em que me faço com os outros e cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo".

(Freire, 2008:53).

O professor-educador é aquele que assumi-se como um ser social e histórico, que possui uma postura crítica e exigente, (que não confunde autoridade com autoritarismo) mas sempre reflexiva e democrática.

Relembrando os pensamentos de Ruben Alves, é aquele que aventura-se pelos sonhos em busca de mares desconhecidos, entretanto sem deixar de assumir-se como sujeitos éticos, mas há de se pensar que é além de todas as coisas, "humano".

Por uma prática política pedagógica.

Sabe-se que um fazer docente compromissado com um desenvolvimento amplo do individuo deve focar-se no sujeito tendo como meta a interação, pois o sujeito marca sua originalidade epistemológica por meio de um duplo deslocamento. Um ancora a consciência na palavra: "a consciência de si é sempre verbal" (Bakhtim/Voloshinov, 1980:183). E outro que ancora o sujeito na comunidade: " eu só pode se realizar no discurso, apoiando-se em nós" (Bakhtim, apoud Todorov, 1981:68).

Vê-se, assim, que a amplitude do sujeito sócio-historicamente construído é de principal importância para o desenvolvimento da prática docente, não concebendo o sujeito como algo pronto e acabado e sim aprendizes que retratam seu meio e sua história.

Desta forma o educador torna-se um articulador da aprendizagem, num processo onde o educando esteja constantemente inventando, explicando, elaborando, produzindo e entendendo seus pensamentos e defendendo suas posições, tornando-se um indivíduo critico e reflexivo, capaz de intervir e interagir na sociedade.

À luz de Morin (2005:59) podemos afirmar que é preciso fortalecer o processo de ensinagem com uma prática que viabilize o educando a questionar e indagar sobre suas dúvidas e sobre o seu contexto, numa dialética que problematize o objeto, redundando num conhecimento de curiosidade e inovação, pois "conhecer e pensar não é chegar a uma verdade absolutamente certa, mas dialogar com a incerteza".

Nesse contexto a educação torna-se uma prática político pedagógica, compreendida em sua dimensão social da formação humana, segundo Freire (2008:26).

Percebe-se, assim, que a importância do papel do educador, o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos mas também ensinar a pensar certo.

Sendo assim, acredita-se que uma das competências básicas inerentes ao trabalho docente é a de decidir sobre a qualidade e a quantidade de conhecimentos, idéias, conceitos e princípios a serem explorados nas atividades curriculares, estabelecendo uma relação intrínseca com a realidade social que está inserida, contextualizando assim o ensino. Sobre o assunto Morin (2005 15:22) afirma:

A educação deve favorecer a aptidão natural da mente para colocar e resolver os problemas e, correlativamente, estimular o pleno emprego da inteligência geral. (...) podemos dizer até que o conhecimento progride não tanto por sofisticação, formação e abstração, mas, principalmente, pela capacidade de contextualizar e englobar.

O desafio de viver educando.

Ser educador frente aos desafios e as dinâmicas interativas deste novo contexto tecnológico mundial é como viver um novo desafio a cada manhã. É procurar redescobrir novos caminhos. E cada vez mais caminhos diferentes: planos, suaves, íngremes, tortuosos, fáceis, difíceis… caminhos, que se perdem de vista… caminhos que, se cruzam na prática pedagógica.

É aceitar os desafios e saber retirar deles o melhor, e olhá-los apenas como um aprendizado somatório de uma prática que se constrói a cada dia, a cada metodologia e a cada nova leitura, no seu fazer e refazer para um reconstruir amanhã.

Considerações finais

Considerando que a educação induz a organização social e permite ao ser humano inserir-se no mundo por meio de redes complexas de relação e interesse, automaticamente para exercer a função de educador é preciso ter acesso aos saberes para articula-os com o objetivo de "criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente de repetir o que outras gerações já tenham feito. Homens que sejam criativos, inventivos e descobridores". (Piaget, 1973:186)

Diante desses pressupostos, o professor percebe-se como um educador sensível à beleza da prática educativa, entregando aos desafios permanentes da prática, sem permitir-se ser um burocrata. Enfim, um ser que não procura esconder suas limitações, mas que busca superá-las, todavia, sem tentar esconde-las até mesmo em nome do respeito que tem a seus educandos e ao seu ser educador. Portanto, o professor é aquele que o fantástico da vida é a aprendizagem e que por ela vivemos, podemos, e seremos, sempre, eternos aprendizes.

REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens.Alegria de ensinar. São Paulo: Papirus. 2004.

BAKHTIN, Mikhail; VOLOSHINOV, V.N. Écrits sur Le freudisme. Paris, L'age D'homme, 1980.

BORDIGNON, Genuíno, GRACINDO, Regina Vinhaes. Gestão da Educação: o município e a escola. In: Gestão da Educação: impasses, perspectivas e compromissos / Naura Syria Carapeto Ferreira, Márcia Ângela da S. Aguiar (orgs.) – São Paulo: Cortez, 2000

FREIRE, Paulo. A educação na cidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1991.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

Morin, Edgar. Introdução a pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget. . 2001

PERRENOUD, P. A prática reflexiva no ofício do professor: profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002.

PERRENOUD, P. práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas sociológicas. Lisboa: Dom Quixote, 1997.

Piaget, J.  Para onde vai á educação? Rio de Janeiro: Olympio - Unesco. 1973

TORODOV, T. Mikhail bakhtine. Le principe dialogique. Paris, Seuil, 1981.

VIGOTSKY, L. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1987.


Autor: Janaina Cordeiro


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