Previdência e Providência



 

057 - PREVIDÊNCIA E PROVIDÊNCIA

 

 

Sou um aposentado da previdência. Meu rendimento mensal: R$   415.00 .

Por que?

Porque durante minha longa vida profissional sobraram horas difíceis, em que tive que escolher entre um registro formal  e uma remuneração um pouco melhor.

Em outras ocasiões, as firmas não recolheram as contribuições – e quando vi, elas, os diretores, os sócios e responsáveis tinham sumido.

Mas não me queixo disso.  Foi uma escolha minha, de minha responsabilidade.

Por outro lado, se tivesse trabalhado sempre com registro, receberia hoje talvez entre uns 1.000 e 1.300.  O panorama não mudaria muito...

 

Mas a minha queixa é contra quem está lá em cima, que não quer permitir nenhuma melhora.

Se me concedessem um modesto aumento de 20% teria R$ 83,00 por mês.

Cobriria uma parte dos aumentos recentes, de que ninguém se dá conta: o pão, a condução, os remédios, a energia elétrica......

 

Mas os de cima, apesar de toda a boa vontade, não podem dar aumento algum; são tempos difíceis, duros, complicados; não tem dinheiro para ninguém – salvo, talvez, para a Argentina -  nunca estivemos tão mal; vamos ter que continuar sofrendo, tendo paciência. Um dia a coisa melhora....

Porém eles - ah,  eles podem ganhar bastante, fazendo pouco ou nada, por algumas horas,  dois ou três dias por semana. Imagine-se que cada um deles leva, só de salário, o que se pagaria a 90 trabalhadores, para cortarem cana durante um mês inteiro, de sol a sol.

Eles, os de cima,  são tão poucos !  O aumento de agora, representa  uma contribuição de apenas um real,  para cada brasileiro.

 

Mas começo a perceber que existe, por baixo disto tudo,  um plano perverso.

Tornar-nos todos a cada dia mais pobres, infelizes, desesperados; e obrigar-nos, por fim, a sair pela rua, pedindo esmola.

E é isso mesmo que os sucessivos governos têm feito; transformaram o que deveria ser uma oferta de trabalho, em concessão de migalhas; os direitos sagrados de cada brasileiro, em esmola; todos os serviços públicos são de baixa qualidade e não valem o que pagamos por eles;  para distribuir cestas básicas,  bolsa família,  vale leite, auxílio desemprego, funeral, transporte e outras mais, o estado montou uma máquina caríssima, com milhares de empregos improdutivos, em que se gasta muito mais do que o valor da própria esmola.    

 

Esta atitude é uma ofensa a este povo todo, que não precisa fazer nenhum esforço produtivo, para receber estas misérias, salvo perder dias nas filas.

Esta atitude é um câncer, porque não ensina nada a ninguém, não dá profissão, conhecimento, cultura, saúde, segurança para o futuro.  

Não mostra que para obter algo é preciso esforçar-se e dar algo em troca.

É uma esmola e como tal despe o ser humano de sua dignidade e do seu auto respeito, que são as suas melhores qualidades, as únicas que ninguém tem o direito de nos tirar.

 

Mas o que me aborrece mesmo, é que eu sou dono deste Brasil; um dos 190 milhões de donos, mas dono. Cabem-me, por direito, como a todo brasileiro, 44.000 m2 de terra.

Terá água, pedras, pântano, sobe e desce, um pouco de tudo. Mas são 44.000 metros quadrados; como nunca vendi esta terra, ela é minha.

E também sou dono de uma vaca e um terço; porque, dividindo um rebanho de 250 milhões de cabeças por 190 milhões de brasileiros, sobra uma vaca e mais um bom churrasco para cada família...

 

Não acredito em conversas do tipo  “esta é terra de ninguém” ou  “este pedaço é meu, porque cheguei primeiro, pus a minha bandeira aqui e ninguém me tira”.

 

Se não o exigi, é porque estava convencido que outros podiam usá-lo melhor do que eu, tirar mais proveito, e reverter os benefícios em favor de toda a comunidade.

 

Vou lembrar que existem duas teorias , terrivelmente perversas e malignas.

 

A primeira é a da porcentagem:

Se o custo de vida aumenta, damos 20% de aumento e tudo volta ao normal.

Certo? Não! Errado!

Com 20% no meu benefício eu recebo 83 reais, e levo para casa uns 30 quilos de feijão

Com 20%, o deputado recebe 4.800 reais e leva  para casa mais de 1700 quilos de feijão.

A porcentagem só nos distanciou. Ele cada vez mais rico, eu cada vez mais pobre.

Estamos tão longe, que perdemos contato e ele, que deveria trabalhar para mim,  não enxerga mais a situação aflitiva em que estou, literalmente, mergulhado.

 

A segunda, é a da distribuição:

Vale lembrar sempre que somos 190 milhões de pessoas.

Se eu gastar 190 milhões para comprar um avião, tirei um real do bolso de cada brasileiro.

Em uma família de 5 ou 6 pessoas, este real compraria 10 quilos de arroz.

E nenhum desses brasileiros, que pagam a conta, vai voar nesse avião, nunca.

 

Se faço um aeroporto com uma ala de passageiros que custa 380 milhões, estou tirando 2 reais do bolso de cada brasileiro. E todos sabemos que apenas 10% da nossa população porá os pés, algum dia, em um daqueles salões – os outros não entrarão, a não ser para varrê-los e tirar o pó.

 

Se compro um porta aviões, ou um submarino, ou uns caças a jato, novinhos, apesar de antigos, que custam.....bom, nem quero pensar nisso.

 

Sempre penso em quanto tiram de cada um de nós, a cada instante, para comprar coisas inúteis, a preços enormes, beneficiando apenas alguns poucos, que ficam cada vez mais ricos.

 

Nenhuma nação fica mais rica ou mais segura, nenhum povo mais feliz ou mais saudável, por ter comprado um porta aviões, ou um submarino, ou cinqüenta aviões de caça.

 

Vem o pensamento maldoso e triste que, graças ao bom Deus, todos morreremos um dia, e o que foi saqueado, roubado, subtraído, de quem quer que seja, não poderá ser levado para paraíso nenhum.

 

Mesmo porque lá, novamente graças ao bom Deus, nem existem paraísos fiscais.

 

 

 

 


Autor: Romano Dazzi


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