PAPAI NOEL 2009
PAPAI NOEL 2009
De Romano Dazzi
Definitivamente, não gosto de você, Papai Noel.
Já quando criança, de uma maneira confusa, eu sentia alguma restrição a seu respeito; por exemplo, o fato de vir uma só vez por ano.
Puxa, você não faz a mínima idéia de quanto tempo é um ano, para uma criança! Eu começava escrevendo num papel o número um; no dia seguinte, o numero dois, no outro, o três. Nunca consegui chegar a mais que trinta; e ainda teria que esperar outros 330 para que você chegasse.
Ai largava o papel e ia correr no jardim, tentando esquecer essa crueldade que você fazia comigo.
Depois, realmente, apesar de você querer parecer alegre e bonachão, hoje penso que até você desconfia dessa alegria toda; deve ser só uma fachada, uma montagem.
Só a sua barriga é verdadeira, imagino; porque já descobri, logo cedo, que barba, cabelo e sobrancelhas brancas são coladas; e nem sempre com cola boa.
Acho que você é alugado por gente que quer vender mais, que quer parecer o que não é, mostrar o que não sente; e a alegria falsa, é mais triste que a tristeza.
Descobri também que na sua distribuição de presentes, você é pior que o governo: dá um montão de coisas a que já tem demais e regateia com os que têm pouco ou nada.
Os pobres ficam como estão; os ricos, mais ricos ainda.
Não fossem os “tios” que no Natal correm de um lado para o outro, entregando de graça bolas e bonecas baratas e docinhos aos pobres, aos pequenos, aos humildes, por você estes passariam em brancas nuvens e nem saberiam o que é um Natal.
São estes “substitutos”, os verdadeiros Papais Noel – não você.
Aliás, uma outra coisa me aborrece: sei que fazer todo o serviço de entrega numa só noite deve ser difícil, fatigante; mas aos ricos você traz os presentes primeiro; três ou quatro dias, ou uma semana até, antes do Natal: os meninos ricos aparecem com uma bicicleta nova, um carrinho brilhante, um velocípede tinindo, uma barbie sofisticada e luxuosa. E para nós, nada.
Precisamos esperar pacientemente que chegue a noite de Natal, que o cansaço nos vença e só aí, quando os olhos ficam tão pesados que não conseguimos mais mantê-los abertos, você vem, sorrateiro em silêncio e deixa nossos humildes presentinhos na sala – porque de lareiras, em nossos casas, nunca teve nem o cheiro ....um cheiro que seria tão bom.!....
Concordo que esta espera demorada, ansiosa, durante horas que não passam nunca, é confortadora; dá mais valor ao que recebemos, dá mais gosto ao docinho, mais perfume ao panetone.
Mas dá raiva ver os riquinhos passeando e mostrando a todos os seus presentes, enquanto nós temos que esperar que cheguem, às seis horas da manhã do dia de Natal.
Por tudo isso, Papai Noel, eu não gosto de você; preferia a Epifanía, a velha “Befana” dos tempos antigos, que a cada ano trazia apenas uma bola para os meninos e uma boneca para as meninas. E se trouxesse uma bicicleta, seria usada, reformada e demoraria cinco anos antes que chegasse outra.
Enquanto isso, nós espichávamos, esticávamos, crescíamos; e a bicicleta parecia encolher um pouco a cada dia.
E outra coisa, importante. A Befana trazia também sacos de carvão, para lembrar-nos das coisas erradas que tínhamos feito durante o ano . E assim, pelo menos por alguns meses, tentaríamos comportar-nos melhor.
Já viu um Papai Noel, com um saco de carvão ? E já imaginou quantos sacos de carvão merecem as pessoas que nos cercam ?
Autor: Romano Dazzi
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