O Medo da Morte e a Capacidade de Resiliência



O Medo da Morte e a Capacidade de Resiliência ¹SILVA, Maria da Conceição Saminêz.

Resumo:

Este artigo tem por objetivo falar do medo da morte, não como assunto mórbido, mas como parte do desenvolvimento humano, um caminho que todo ser vivo um dia há de trilhar, entender, questionar, fazer reflexões, buscar uma compreensão psicológica a respeito da morte. A pesquisa bibliográfica aqui apresentada nos levará ao mundo exploratório do tema e ao entendimento deste assunto tão misterioso que nos amedronta. Relataremos o que é a morte no desenvolvimento humano, tipos de luto que estamos suscetíveis ao longo de nossa existência, bem como a capacidade de resiliência que o ser humano tem diante de perdas finitas. A invulnerabilidade que temos diante de perdas certamente nos influencia em nossa forma de ser. Mostrar que o ser humano possui recursos inacreditáveis, para vencer adversidades. As pessoas resilientes são “feridas” pela vida, no entanto desenvolvem uma profunda sensibilidade em relação a tudo que a cerca, sendo capazes de superar traumas profundos até mesmo o medo da morte.

Palavras – chave: Morte. Medo. Resiliência.

 

INTRODUÇÃO:

Existe uma morte, aquela do final da vida, da qual, de início não temos consciência durante seu processo, pois “ninguém volta para contar”, como diz o povo. As religiões e a filosofia sempre procuram questionar e explicar a origem e o destino do homem. Por tradição cultural, familiar ou mesmo por investigação pessoal, cada um de nós traz dentro de si “uma morte”, ou seja, a sua própria representação ou interpretação da morte. Sendo assim damos a ela qualidades e formas. A morte é para nós perda, ruptura, desintegração, podendo ser também fascínio, sedução, uma grande viagem, entrega, descanso ou alívio. A forma como a vemos certamente nos influenciará a nossa forma de ser. Desde todos os tempos em busca de uma imortalidade, o homem desafia e tenta entender a morte; mas o homem é um ser mortal, cuja principal característica é a consciência de sua finitude.

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¹Acadêmica do 4º semestre de Psicologia da Faculdade de Quatro Marcos – FQM

Segundo Maria Helena Bronberg (1999), não é somente a morte que causa dor do luto. ”Enlutamo-nos diante de pequenas perdas ao longo da vida, a começar pelo desmame de nossa mãe”, explica.

 

Morte e Desenvolvimento Humano

A morte faz parte do desenvolvimento humano, desde a mais tenra idade, segundo Maria Júlia Kovács, nos primeiros meses de vida a criança vive a ausência da mãe. Estas primeiras ausências da mãe são vividas como mortes, a criança se sente só e desamparada. Sente que não é capaz de viver sem a mãe isso no sentido de afetividade, mesmo que a mãe volte a aparecer a primeira impressão é a que fica marcada como uma das representações mais fortes de todos os tempos que é a morte como ausência, perda,  separação e, conseqüentemente, vem o desamparo. Na adolescência a palavra chave é desafiar, com um corpo mais forte e uma mente mais aguçada e todas as possibilidades de criação não há lugar para a morte, que para ele represente derrota, fracasso a incompetência. Pode o adolescente viver várias mortes concretas como perdas de amigos, colegas, em acidentes, assassinatos, doenças. Ao mesmo tempo em que se sente poderoso também se sente fraco diante da morte, apesar de dificilmente externar essas fraquezas. Na fase adulta, pode ser considerado um período do desenvolvimento do qual o mundo contemporâneo, em meio a uma sociedade capitalista, não temos muita clareza sobre seu início e seu término. O espaço da morte na consciência pode estar muito distante. Assim, quanto ao desenvolvimento chegamos à fase da velhice, esta é a fase do desenvolvimento humano que carrega mais estigmas e atributos negativos muitas vezes vista como fase das perdas, do corpo das finanças, da produtividade e até da própria família. No entanto, a maneira de vivenciar essas perdas se vincula ao processo de desenvolvimento e a consciência de cada um. Onde está colocada a ênfase ou o valor desta fase na vida ou na morte? Temos observado muitas pessoas que vivem de forma significativa o final da vida, pois nesse tempo todas as experiências se somam.

A morte como limite nos ajuda a crescer, mas a morte vivenciada como limite, também é dor, perda da função, das carnes, do afeto. É também solidão, tristeza, pobreza. Uma das imagens mais fortes da morte é a da velhice, representada por uma velha encarquilhada, magra, ossuda, sem dentes, feia e fedida. É uma visão que nos causa repulsa e terror.

 

Medo da Morte e Luto

O homem possui um corpo que sente dor, adoece, envelhece e morre. O homem vive toda sua existência com a morte presente em seus sonhos, fantasias. Segundo Fiefel e Nagy (1981), nenhum ser humano está livre do medo da morte, e todos os medos que temos estão de alguma forma, relacionados a ele. Medo e ansiedade são sentimentos que estão intimamente ligados, porém, a ansiedade não tem causa aparentemente definida; já o medo geralmente está ligado a uma causa mais específica. Segundo Hoelter (1979), a ansiedade pode ser definida como um estado geral que precede uma preocupação mais específica do homem com a morte. Verificou-se, então, que pessoas que tem um nível maior de ansiedade apresentam mais medo da morte, ou seja, o medo da morte evoca ansiedade. Na verdade, o ser humano possui dois grandes medos: o medo da vida e o medo da morte. O medo da vida se vincula ao medo da realização, da individualização e, portanto, está exposta a extinção. Por isso, o indivíduo se torna vulnerável a acidentes e deslize. Desde que nascemos sofremos perdas e lutos, não necessariamente ligados a morte, segundo Bronberg (1999) toda perda gera luto como o divórcio, a aposentadoria, a imigração, a mutilação, o aborto, a menopausa, a impotência, mas é possível conviver com lutos e ser feliz afirma.

 

Capacidade de Resiliência

O Termo Resiliência provém do verbo, em latim, resilire, que significa “saltar para trás” ou “ voltar ao estado natural”. Historicamente, este conceito foi utilizado pela Física e pela Engenharia. Um dos pioneiros de tal utilização foi o cientista Inglês Thomas Yong, em 1807. Mostrando a relação entre tensão e compressão de barras metálicas, ele usou o termo para dar noção de flexibilidade, elasticidade e ajuste as tensões. O nosso Dicionário Aurélio define a resiliência como a “propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvido quando cessa a tensão causadora dessa deformação elástica”. O adjetivo resiliente se aplicaria, então, a tudo aquilo “que apresenta uma resistência aos choques”, (Yunes, 2003).

O conceito de resiliência, segundo Kotliarenco Alvarez e Cáceres (1995), através da compreensão das diferenças individuais existente entre indivíduos e de como estas diferenças interagem, dependendo de vários fatores, como per exemplo, a idade do indivíduo, o nível de desenvolvimento do sistema nervoso, o gênero, a genética, o contexto cultural e ambiental. Para a Medicina, a resiliência é conceituada como a capacidade de o organismo humano recuperar – se de algum acidente ou trauma. Um doente resiliente é aquele que tem condições de compreender, superar, administrar e criar um novo sentido de vida, diante de uma dura experiência de sofrimento. Para a Psicologia, o conceito define um conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam às pessoas manifestarem o máximo de inteligência, saúde e competência em contextos complexos e adversos, sob pressão (Poletto, Wagner & Koller, 2004).Tanto na Medicina quanto na Psicologia, os estudos de resiliência focam o desenvolvimento de recursos saudáveis e inteligentes de que as pessoas dispõe, e não nas psicopatologias. O ser humano possui recursos inacreditáveis, os quais é preciso descobrir, cuidar e potencializar. Busca-se uma compreensão do segredo de como determinadas pessoas enfrentam e superam experiências adversas ou mudanças traumáticas de vida que poderiam simplesmente destruí-las, mas que, pelo contrário, fazem com que elas saiam dessas situações transformadas e mais fortalecidas que antes.


 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Todo ser humano é obrigado a se confrontar com esse dilema, o medo da morte. Como viverá, porém vai depender em parte de sua história de vida, das características de sua personalidade, mas também de seu esforço pessoal para enfrentar os desafios que a vida nos proporciona, pois somos responsáveis por nossa vida e nossa morte. Também somos resilientes quando capazes de ir além da “ capacidade de superar”. Temos duas dimensões: de um lado a resistência à destruição, a capacidade de proteger nossa integridade física e pessoal, sob fortes pressões; e de outro lado a capacidade de construir, de criar uma vida digna diante de situações difíceis de ser enfrentada como: perdas de entes queridos, doenças incuráveis, acidentes e outros. Saber superar, saber que é possível continuar a viver dignamente, apesar de tudo, dar a volta por cima e descobrir o encanto da vida dom de Deus. É preciso também ser solidários ao sofrimento do outro e tornar o mundo um lugar melhor para todos.


 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRONBERG, Maria Helena. A Psicoterapia em situações de perdas e lutos, São Paulo SP: Casa do Psicólogo, 1999.

DELL`AGLIO, Débora Dalbosco; KOLLER,Silvia H; YANES, Maria Angela. Resiliência e psicologia positiva: interfase de risco e proteção. São Paulo, SP. Casa do Psicólogo, 2006.

KOVÁCS, Maria Júlia. Morte e desenvolvimento humano. 5 ed. São Paulo.SP, Casa do Psicólogo, 1992.


Autor: Maria da Conceição Saminêz Silva


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