A dimensão humana na composição dos dogmas



"Nas cidades pelas quais passavam, ensinavam que observassem as decisões que haviam sido tomadas pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém" (At 16,4).

De afirmações como essa nutrem-se os metafísicos para garantirem certa forma de "Poder conciliar". Desse modo decidem em seus concílios sobre verdades que julgam ocultas assim como os mistérios de sua crença evangélico-cristã.

Os Concílios sempre elaboraram essas "verdades" e aplicaram - nas de forma impositiva  sobre seus fiéis, adotando-as como distintivo da fé e da religião. Sob o atestado  Papal e a necessidade de se impor humana e territorialmente celebraram essas verdades bíblicas, quase sempre atreladas a interesses da coorporação.

Devemos lembrar que a igreja, em sua dimensão teológica, é compreendida como instituição de caráter humano e divino, por isso TEÂNDRICA. Como a espécie que a compõe, a igreja, mesmo nos ditames das leis e preceitos, julga e decide a partir dessa natureza e é passível das mesmas falhas que os seus profetas, religiosos e  líderes bíblicos. Sem querer tratar aqui do espírito de dissidência comum a todas as instituições humanas, mesmo as de cunho confessional, é bom analisar com certo distanciamento as questões que ferem a razão e o bom censo no que diz respeito aos dogmas gerados por tal instituto da fé.

Respeitadas as distorções e mesmo as possíveis intenções da eclésia percebemos aqui a capacidade imaginativa e inconsciente do ser humano ao produzir crenças e novos padrões de "verdades" segundo interpretações do indivíduo e da coletividade.

Vale lembrar, enfim, o episódio no qual se encerra a melhor demonstração desse espírito conciliar e que traria luz  sobre a vulnerabilidade na qual estão imersos todos em sua fé. Trata-se do que se poderia chamar o primeiro cisma da igreja, no qual Pedro e Paulo estão diante de um grande impasse por defenderem opiniões extremamente opostas. Nele um dogma cristão é colocado sob questionamento pelo apóstolo Paulo. Pedro e Paulo debatem e defendem apaixonadamente sua visão da graça, o que determinaria toda a missão da igreja no que se refere à realidade da salvação. Para quem seria a salvação?

Para o primeiro, baseado na pregação do Mestre, a salvação seria algo reservado somente aos judeus, os filhos da promessa e para Paulo uma graça a ser disseminada por todo o mundo indistintamente. É bom lembrar que ambos em sua dimensão humana não chegariam a um concenso facilmente, porém uma intervenção que se crê divina alteraria a visão de um em detrimento da visão de outro.

O fruto daquele confronto foi uma radical mudança na forma de ver e atuar da igreja. Unidos nessa nova visão, derrubado o dogma cristão da salvação instituido anteriormente , viu-se a partir daí a cooperação e entrega de ambos ao novo ideário. Entretanto, o que se vê hoje é que as divagações dos concílios da Igreja Apostólica só fizeram gerar ou realçar  a divisão entre os seus irmãos, fometando a dispersão e a exclusão das outras aldeias da fé.

Eis, verdadeiramente, algo a lamentar.

Autor: Bruno Resende Ramos


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