Pra ver se cola



Palavras carregam em si significados construídos historicamente, ainda que sejam os significados recentes. Elas podem denotar alegria, tristeza, raiva, emoção e muitos outros sentimentos humanos, refletindo opiniões ou contando casos. Palavras podem ser confiáveis ou não, a depender do tom com que se falam ou do contexto em que são escritas e, claro, de quem as profere. Atualmente, no entanto, muitas pessoas – importantes, até mesmo, ocupando altos cargos políticos ou administrativos – abusam de seu poder de fala e machucam não apenas outros indivíduos, mas também códigos morais do país.

Não sei se para aparecer com acusações bombásticas, ou por puro e simples descaso com as palavras – "pra ver se cola" mesmo – muitas figuras distintas do nosso Congresso nacional envolvem-se em brigas horríveis com seus colegas parlamentares, chegando ao ponto de xingarem-se de "coronel de m." ou ainda piores. Ora, se estas casas legislativas haveriam de ser a moradia do decoro e do respeito, a que ponto chegamos? Quem irá defender esses princípios?

Há também os que depõem para jornalistas afirmando que a nação vai "muito bem, obrigado"; que a crise econômica foi leve, o governo está mais forte que nunca e nossos méritos internacionais só irão crescer no ano. É claro que devemos reconhecer os pontos fortes da nossa pátria, exaltando as iniciativas sociais e as conquistas de âmbito mundial; mas também não podemos esquecer as misérias da população, que passa fome nas esquinas e implora por trocados no sinal. Não podemos ignorar, por mais altos que estejam os índices de alfabetização em relação aos anos anteriores, que há crianças saindo das escolas direto para as ruas, correndo o risco de envolverem-se com drogas e violência. E não podemos fingir que parte da culpa não é nossa.

A elite brasileira "comedora de si", segundo sábias palavras de Cristovam Buarque, é a principal responsável pelo fortalecimento do tráfico de entorpecentes, expansão da violência, miséria e fome, homicídios e assaltos em todo o país. Afinal, são conseqüências diretas ou indiretas da enorme concentração de renda que impera no Brasil, desde que chegaram aqui os primeiros portugueses com quinquilharias para os índios, desejando em troca o pau-brasil.

Da letra de Marcelo Yuka: "as grades do condomínio são pra trazer proteção/mas também trazem a dúvida se não é você que está nessa prisão" (Minha Alma/A paz que eu não quero, O Rappa). As classes A, B e mesmo a famigerada classe média do nosso país vivem a se esconder do medo, mas quanto mais se escondem, mais afundam nesse sentimento. Gastam muito se protegendo dos monstros que criaram, pouco a pouco, e colocam vidro fumê no carro para não enxergarem os pedintes na rua.

Há solução? Marcola, famoso narcotraficante "filiado" ao Primeiro Comando da Capital (PCC), adverte que não: entre muitas outras coisas, "teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais. E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução".

É tarde demais? Não acredito nisso... Antes tarde do que nunca, arregacemos as mangas para mudar nosso futuro. Sua primeira arma, legítima e poderosa: o voto.


Autor: Mariana Ferraz


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