Psicomotricidade



Movimento: meio pelo qual o indivíduo comunica-se e transforma o mundo que o rodeia. Tal definição nos leva a pensar o movimento como sendo muito mais do que apenas mexer partes do corpo; nos leva a um conceito consciente, considerando que através de atividades psicomotoras, auxilia a criança na comunicação com o mundo através da ação, favorecendo o desenvolvimento integral a partir de um aprendizado sistematizado, direcionado à faixa etária e de acordo com o meio em que a criança vive...

Inicialmente a psicomotricidade estava relacionada a uma concepção neurofisiológica, ancorada na neuropsiquiatria infantil, mas o interesse de estudiosos de outras áreas, como psicólogos e professores, foi mudando o enfoque deste trabalho. Os autores que mais influenciaram os psicomotricistas nesta mudança foram Wallon, Piaget e Lê Boulch, que em suas obras tratam da formação da inteligência a partir da experiência motriz da criança.

Vários estudos já foram realizados neste sentido e atestaram a importância do desenvolvimento psicomotor e cognitivo desde a primeira infância, já que o desenvolvimento psicomotor é de grande importância inclusive para o aprendizado da leitura e escrita e que as crianças com nível superior de desenvolvimento conceitual e psicomotor são as que apresentam os melhores resultados escolares.

Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (1999), psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo.

Dessa forma, tem como objetivo incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança, contribuindo para a formação e estruturação do esquema corporal; promovendo a união do ser corpo, ser mente, ser espírito, ser natureza e ser sociedade; promover a utilização do corpo na expressão de sentimentos; compreender a forma como a criança toma consciência do seu corpo, localizando-se no meio e espaço.

Assim, a Educação Infantil aparece como cenário primordial no desenvolvimento psicomotor, onde deve-se primar pelo desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo, estando garantido no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, v. 3, p. 18) que:

Quanto menor a criança, mais ela precisa de adultos que interpretem o significado de seus movimentos e expressões, auxiliando-o na satisfação de suas necessidades. À medida que a criança cresce, o desenvolvimento de novas capacidades possibilita que ela atue de maneira cada vez mais independente sobre o mundo à sua volta, ganhando maior autonomia em relação aos adultos.

A psicomotricidade pode ser classificada em dez funções psicomotoras: esquema corporal, tônus da postura, coordenações globais, motricidade fina, organização espacial e temporal, ritmo, lateralidade, equilíbrio e relaxamento, definidas abaixo:

Esquema corporal - A consciência do corpo é o reconhecimento do conjunto de estruturas representativas, simbólicas e semióticas que servem de base à ação. É a noção da imagem do corpo e dos meios de ação que estabelecem, com a memória, a formação do esquema corporal, ou seja, é a capacidade da criança de conhecer cada parte do seu corpo, sua habilidade na movimentação.

O esquema corporal desempenha um papel fundamental no aprendizado da leitura e escrita.

Tônus da postura - O tônus, está ligado com as funções do equilíbrio e regulações mais complexas do ato motor.

Coordenações globais - Chamada também de motricidade ampla, é definida como a colocação em ação simultânea de grupos musculares diferentes. É o conjunto de habilidades desempenhadas com o corpo todo, buscando a harmonia e o controle de movimentos amplos, como receber e arremessar uma bola por exemplo.

Motricidade fina - Em suma pode-se afirmar que motricidade fina resume-se a movimentação de pequenos músculos, englobando principalmente a atividade manual e digital, ocular, labial e lingual.

Organização espacial e temporal - A organização espacial é a capacidade de situar-se, orientar-se e movimentar-se em um espaço, tendo sempre como referência a própria pessoa. Refere-se às relações de perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora, etc.

Ritmo – É uma ordenação específica, característica e temporal do ato motor, ordenação esta que refere-se a processos parciais interligados no ato motor. Há ainda uma ligação entre ritmo e organização espacial e temporal.

Lateralidade - É a manifestação de um lado preferencial na ação, vinculado a um hemisfério cerebral; é necessário que não se discrimine a esquerda e a direita".

A aquisição deste conceito para a aprendizagem da leitura e escrita é de fundamental importância, sendo que sua falta implica em confusão na orientação espacial, podendo resultar em dificuldades tais como: troca de letras, palavras e escrita em espelho.

Equilíbrio - É a noção de distribuição do peso do corpo em relação ao centro de gravidade, podendo ser trabalhado estática e dinamicamente. Os exercícios de equilíbrio têm a finalidade de melhorar o comando nervoso, a precisão motora e o controle global dos deslocamentos do corpo no espaço.

Um mau equilíbrio motor afeta a construção do esquema corporal, porque traz como consequência a perda da consciência de algumas partes do corpo.

Relaxamento - Fenômeno neuromuscular resultante de uma redução de tensão da musculatura esquelética. Pode ser dividido em relaxamento total, diferencial e segmentar, sendo que o primeiro envolve todo o corpo e está diretamente vinculado a processos psicológicos, o segundo responde pela descontração de grupos musculares que não são necessários à execução de determinado ato motor específico e o último é alcançado em partes do corpo.

Com isso e apesar de vários estudos já demonstrarem a importância da psicomotricidade no desenvolvimento cognitivo, na aprendizagem da leitura e escrita e na formação da inteligência, tradicionalmente, a escola tem dado pouca importância à atividade motora das crianças, reduzindo-a à visão de que o movimento é algo essencialmente motor, destacado das outras esferas do desenvolvimento.

Como professores, precisamos pensar no desenvolvimento da criança de forma integrada, buscando atender aos aspectos físicos, afetivos, sociais e cognitivos. Assim, torna-se indispensável uma ampla utilização do movimento, realizado através de atividades psicomotoras conscientes.


Autor: Fernanda Lapenda Silveira


Artigos Relacionados


À Sociedade Contemporanea

Na Hora Certa, No Momento Exato

A Nova Grife Da Kawasaki

Disfarce

Submissão

Método Simplex

Viver Ou Sobreviver: Qual Caminho Você Escolheu