MAQUIAVEL, A POLÍTICA E O ESTADO MODERNO (RESUMO)



MAQUIAVEL A POLÍTICA E O ESTADO MODERNO - PRIMEIRA PARTE (RESUMO)


O MODERNO PRÍNCIPE


Notas sobre a política de Maquiavel


O caráter fundamental do Príncipe consiste em que ele não é um trabalho sistemático, mas um livro “vivo” em que a ideologia política e a ciência política fundem-se na forma dramática do “mito”. Ele poderia ser estudado como uma exemplificação histórica do “mito” soreliano, isto é, de uma ideologia política que se apresenta não como fria utopia, nem como raciocínio doutrinário, mas como uma criação da fantasia concreta que atua sobre um povo disperso e pulverizado para despertar e organizar a sua vontade coletiva.

Mas esta vontade coletiva, assim formada elementarmente, não deixará imediatamente de existir, pulverizando-se numa infinidade de vontades individuais, que em virtude da fase positiva seguem direções diversas e contrastes?

O moderno príncipe só pode ser um organismo. Este organismo é o partido político: a primeira célula na qual se aglomeram germes de vontade coletiva que tendem a se tornar universais e totais. No entanto, é preciso também definir a vontade coletiva e a vontade política em geral no sentido moderno. Umas das primeiras partes deveria precisamente ser dedicada à “vontade coletiva”, apresentando a questão desse modo: “Quando é possível dizer que existem as condições para que possa surgir e desenvolver-se uma vontade coletiva nacional-popular?”.Uma segunda parte importante do moderno Príncipe deverá ser dedicada à questão de uma reforma intelectual e moral, isto é, à questão religiosa ou de uma concepção de mundo. Estes dois pontos fundamentais deveriam constituir a estrutura do trabalho.

A Ciência da política

A ciência política deve ser concebida no seu conteúdo concreto como um organismo em desenvolvimento. Todavia, deve-se observar que a forma dada por Maquiavel à questão política é ainda hoje discutida e contraditada, não conseguiu tornar-se “senso-comum”.

A doutrina de Maquiavel não era, no seu tempo, uma coisa puramente “livresca”, um monopólio de pensadores isolados, um livro secreto que circula entre iniciados. Portanto, pode-se supor que Maquiavel tem em vista “quem não sabe”, que ele pretende educar politicamente “quem não sabe’”.

A política como ciência autônoma

A questão inicial que deve ser colocada e resolvida num trabalho sobre Maquiavel é a questão da política como ciência autônoma.

O progresso proporcionado por Croce, a este propósito, aos estudos sobre Maquiavel e sobre a ciência política, consiste precipuamente na dissolução de uma série de problemas falsos, inexistentes ou mal formulados. Para Croce o erro tem origem numa “paixão” imediata, de caráter individual ou de grupo. Esta concepção da política-paixão exclui os partidos já que não se pode pensar “paixão” organizada e permanente. Todavia os partidos existem, e planos de ação são elaborados, aplicados e muitas vezes realizados em medida notável: há. Portanto, um “vicío” na concepção de Croce.

Se o conceito crociano da paixão como momento da política choca-se com a dificuldade de explicar e justificar as formações políticas permanentes, como os partidos e mais ainda os exércitos nacionais e os Estados Maiores, a solução só pode ser encontrada na identidade entre política e economia.

Ao lado dos méritos do moderno “maquiavelismo”, derivado de Croce, deve-se assinalar os “exageros” e os desvios a que deu lugar. No entanto, é necessário frisar que Maquiavel é inteiramente um homem se sua época; e a sua ciência política representa a filosofia do seu tempo, que tende à organização das monarquias nacionais absolutistas, a forma política que permite e facilita um desenvolvimento das forças produtivas burguesas. Pode-se descobrir in nuce em Maquiavel a separação dos poderes e o parlamentarismo (regime representativo).Porém, deve-se notar que na Itália estudada por Maquiavel não existiam instituições representativas já desenvolvidas e significativas para a vida nacional como as dos Estados Gerais na França.

Elementos de política

Primeiro elemento é a existência real de governados e governantes, dirigentes e dirigidos. Pode-se dizer, em certo sentido, que esta divisão é uma criação da divisão do trabalho, é um fato técnico.

Dado que no mesmo grupo existe a divisão entre governantes e governados, é necessário fixar alguns princípios inderrogáveis.Estabelecido o princípio de que existem dirigentes e dirigidos, governantes e governados, verifica-se que os “partidos” são até agora o modo mais adequado para aperfeiçoar os dirigentes e a capacidade de direção.

Desenvolvimento do conceito geral contido na expressão “espírito estatal”

O espírito estatal pressupõe cada ato como o momento de um processo complexo, já iniciado e que continuará. A responsabilidade deste processo, de ser ator deste processo, a solidariedade para com forças materialmente “ignotas”, mas que apesar disso revelam-se operantes e ativas e que são levadas em conta como se fossem “materiais” e presentes corporalmente, é o que se denomina exatamente, em certos casos, “espírito estatal”. Demonstrar que o espírito de partido é o elemento fundamental do espírito estatal é um dos argumentos mais elevados a serem sustentados.

O partido político

Afirmou-se que o protagonista do novo Príncipe não poderia ser, na época moderna, um herói pessoal, mas o partido político. No entanto, apresentam-se duas formas de “partidos” que, como tal, ao que parece, fazem abstração da ação política imediata: o partido constituído por uma élite homens de cultura, que tem a função de dirigir do ponto de vista da cultura, da ideologia geral, um grande movimento de partidos afins e, no período mais recente, o partido de não-élite, mas de massas, que como massa não tem outra função política que a de uma fidelidade genérica, de tipo militar, a um centro político visível ou invisível.

Mas o que é a história de um partido? Evidentemente, será necessário levar em conta o grupo social do qual o partido é expressão e setor mais avançado. Logo a história de um partido significa exatamente escrever a história de um país, de um ponto de vista monográfico, destacando um seu aspecto característico.

Em que momento um partido torna-se historicamente “necessário”? No momento em que as condições de seu “triunfo”, da sua infalível transformação em Estado estão, pelo menos, em vias de formação e levam a prever normalmente o seu desenvolvimento ulterior.

Para que um partido exista é obrigatória a confluência de três elementos fundamentais.

1.Um elemento difuso, de homens comuns, médios, cuja participação é oferecida pela disciplina e pela fidelidade, não pelo espírito criador e altamente organizativo.

2.O elemento de coesão principal, que centraliza no campos nacional, que torna eficiente e poderoso um conjunto de forças que, abandonadas a si mesmas, representam zero ou pouco mais; este elemento é dotado de uma força altamente coesiva, centralizadora, e disciplinadora e, também, talvez, por isso, inventiva.

3. Um elemento médio, que articule o primeiro com o segundo elemento, colocando-os em contato não só “físico”, mas moral e intelectual.

Dadas estas considerações, pode-se dizer que um partido não pode ser destruído por meios normais quando, existindo necessariamente o segundo elemento, cujo nascimento está ligado à existência das condições materiais objetivas, mesmo dispersas, os outros dois inevitavelmente devem-se formar; o primeiro, que obrigatoriamente forma.

È difícil afirmar que um partido político não exerce funções de polícia, isto é, de tutela de uma determinada ordem política e legal. Portanto, a função de polícia de um partido pode ser progressista ou reacionária: progressista quando tende a manter a órbita da legalidade as forças reacionárias alijadas do poder e a elevar ao nível da nova legalidade as massas atrasadas. É reacionária quando tende a comprimir as forças vivas da história e a manter uma legalidade ultrapassada, anti-histórica, tornada extrínseca.

Industriais e agricultores.

Os grandes industriais utilizam alternadamente todos os partidos existentes, mas não tem um partido próprio. Por isso eles não são absolutamente “agnósticos” ou “apolíticos”: o seu interesse é um equilíbrio determinado, que obtém exatamente reforçando com os seus meios, alternadamente, este ou aquele partido do tabuleiro político.Entretanto, se é verdade que isto ocorre na vida “normal”, nos casos extremos, que afinal são aqueles que contam, o partido dos industriais é o mesmo dos agricultores, os quais, ao contrário, tem um partido permanente.

Na construção do partido é necessário se basear num caráter “monolítico”, e não em questões secundárias: daí a necessidade de se prestar atenção à existência de homogeneidade entre dirigentes e dirigidos, entre chefes e massas. Se, nos momentos decisivos, os chefes passam ao seu “verdadeiro partido”, as massas ficam desamparadas, inertes e sem eficácia.

Alguns aspectos teóricos e práticos do “economismo”.

Economismo - Movimento teórico pela livre troca – sindicalismo teórico. Deve-se ver em que medida o sindicalismo teórico se originou da teoria da práxis e em que medida derivou das doutrinas econômicas da livre troca, do liberalismo.

A formulação do movimento da livre troca baseia-se num erro teórico no qual não é difícil identificar a origem prática: a distinção entre sociedade política e sociedade civil, que de distinção metódica se transforma e é apresentada como distinção orgânica. Assim, afirma-se que a atividade econômica é própria da sociedade civil e que o estado não deve intervir na sua regulamentação. Mas, como na realidade factual sociedade civil e Estado se identificam, deve-se considerar que também o liberalismo é uma “regulamentação” de caráter estatal, introduzida e mantida por caminhos legislativos e coercitivos.

È diferente o caso do sindicalismo teórico, quando se refere a um grupo subalterno. Através desta teoria ele é impedido de se tornar dominante, de se desenvolver além da fase econômico-corporativa para alcançar a fase de hegemonia ético-política na sociedade civil e dominante no Estado.

O economismo apresenta-se sob muitas outras formas, além do liberalismo e do sindicalismo teórico, que são muitas desde que se admita o semi-abstencionismo, um quarto, etc. Nem sempre o economismo é contrário a ação política e ao partido político, considerado, porém um mero organismo educador de tipo sindical.

Alguns pontos característicos do economismo histórico: 1)na busca dos nexos históricos não de distingue aquilo que é “relativamente permanente” daquilo que é flutuação ocasional; 2) a doutrina segundo a qual o desenvolvimento econômico é reduzido a sucessão de modificações técnicas nos instrumentos de trabalho; 3) a doutrina segundo a qual o desenvolvimento econômico e histórico depende imediatamente das mudanças num determinado elemento importante da produção.

Muitas vezes acontece que se combate o economismo histórico pensando combater o materialismo histórico.

Como disse Engels, é cômodo para muitos acreditar que podem ter a baixo preço e sem nenhum esforço, ao alcance da mão, toda a História e todo o saber político e filosófico concentrados em algumas formulazinhas.

Os erros de interpretação no sentido das pesquisas dos interesses “sordidamente judaicos” foram algumas vezes grosseiros e cômicos, de modo a reagir negativamente sobre o prestigio da doutrina original. Por isso é necessário combater o economismo não só na teoria da historiografia, mas também e especialmente na teoria e na prática política.(neste campo a luta pode e deve ser conduzida desenvolvendo o conceito de hegemonia).

Uma iniciativa política apropriada é sempre necessária para libertar um impulso econômico dos entraves da política tradicional, para modificar a direção política de determinadas forças que devem absorvidas criar um bloco histórico econômico-político novo, homogêneo, sem contradições internas.

Previsão e perspectiva

Outro ponto a ser fixado e desenvolvido é o da “dupla perspectiva” na ação política e na vida estatal.

È verdade que prever significa apenas ver bem o presente e o passado como movimento: ver bem, isto é, identificar com exatidão os elementos fundamentais e permanentes do processo. Mas é absurdo pensar uma previsão puramente “objetiva”. Assim, constitui um erro de fatuidade grosseira e de superficialidade considerar que uma determinada concepção do mundo e da vida guarda em si mesma uma superior capacidade de previsão.

O “excessivo realismo político leva muitas vezes à afirmação de que o homem de estado deve atuar no âmbito da “realidade factual”, não se interessar pelo “dever ser” mas apenas com o “ser”. No entanto, o “dever ser” é concreção: mas ainda, é a única interpretação realista e historicista da realidade, é história em ação e filosofia em ação, é unicamente política.

Análises das situações. Relações de força.

È o problema das relações entre estrutura e superestrutura que deve ser situado e resolvido para assim se chegar a uma justa análise das forças que atuam na histórica de um determinado período e a definição da relação entre elas.

Nas análises histórico-políticas, freqüentemente incorre-se no erro de não saber encontrar a justa relação entre o que orgânico e o que é ocasional. A distinção entre “movimentos” e fatos orgânicos e movimentos e fatos de “conjunturas” ou ocasionais dever ser aplicada a todos os tipos de situação

Estes critérios metodológicos podem adquirir visível e didaticamente todo o seu significado quando aplicados ao exame de fatos históricos concretos.

Na “relação de força” é necessário distinguir diversos momentos ou graus, que no fundamental são estes:

  1. Uma relação de forças sociais estreitamente ligada à estrutura, objetiva, independente da vontade dos homens, que pode ser medida com sistemas das ciências exatas ou físicas.

  2. O momento seguinte é a relação das forças políticas:a avaliação do grau de homogeneidade, de autoconsciência e de organização alcançado pelos vários grupos sociais.

  3. O terceiro momento é o da relação das forças militares, imediatamente decisiva em determinados instantes.

Outra questão ligada às precedentes é a de ver ser as crises históricas fundamentais são determinadas imediatamente pelas crises econômicas.

Interrompendo-se este processo de desenvolvimento de um momento para outro, a situação mantém-se inerte, podendo dar lugar a conclusões contraditórias. Mas, a observação mais importante a ser feita a propósito de qualquer análise concreta das relações de força, é esta: tais análises não se encerram em si mesmas, mas só adquirem significado se servem para justificar uma atividade prática, uma iniciativa de vontade.

Observações sobre alguns aspectos da estrutura dos partidos políticos nos períodos de crise orgânica.

Num determinado momento da sua vida histórica, os grupos sociais se afastam dos seus partidos tradicionais, isto é, os partidos tradicionais com uma determinada forma de organização, com determinados homens que os constituem, representam e dirigem, não são mais reconhecidos como expressão própria da sua classe ou fração de classe. Fala-se de “crise de autoridade”, mas, na realidade, o que se verifica é crise de hegemonia, ou crise do estado no seu conjunto. Esta crise cria situações imediatas e perigosas, pois as diversas camadas da população não possuem a mesma capacidade de orientar-se rapidamente e de se reorganizar com o mesmo ritmo.

Esta ordem de fenômenos está ligada a uma das questões mais importantes, concernentes ao partido político; isto é, à capacidade de reação do partido contra o espírito consuetudinário, contra ás tendências mumificadoras e anacronísticas.

Ao examinar-se esta ordem de acontecimentos, é comum deixar de colocar no seu devido lugar o elemento burocrático, civil e militar; e também não se leva em conta que em tais análises não devem entrar apenas os elementos militares e burocráticos existentes, mas as camadas sociais entre as quais, nos diferentes complexos estatais, a burocracia pe tradicionalmente recrutada. Assim, a primeira indagação que se deve fazer é esta: existe num determinado país uma camada social ampla para a qual a carreira burocrática, civil e militar, constitui um elemento muito importante de vida econômica e afirmação política?

Na análise do terceiro grau ou momento do sistema das relações de forças existentes numa determinada situação, pode-se recorrer proveitosamente ao conceito que na ciência militar é conhecido por “conjuntura estratégica”. O grau de preparação estratégica pode dar vitória as forças “aparentemente” inferiores às do adversário.





O cesarismo.

Pode-se afirmar que o cesarismo exprime uma situação em que as forças em luta se equilibram de modo catastrófico, isto é, equilibram-se de tal forma que a continuação da luta só pode levar à destruição recíproca.

Mas o cesarismo não tem sempre o mesmo significado histórico. Pode haver um cesarismo progressista e um cesarismo reacionário; mas em última análise, o significado exato de cada forma de cesarismo só pode ser reconstruído pela história concreta, e não por um esquema sociológico. O cesarismo é uma fórmula polêmico-ideológica e não um cânone de interpretação histórica.

A fase catastrófica pode emergir em virtude de uma deficiência política “momentânea” da força dominante tradicional, e não agora em virtude de uma deficiência orgânica necessariamente insuperável.

No mundo moderno, o equilíbrio com perspectivas catastróficas não se verifica entre forças, que última análise, poderiam fundir-se e unificar-se, mesmo depois de um processo fatigante e sangrento, mas entre forças cujo contraste é insanável historicamente e que se aprofunda com o advento de formas de cesarismo.

Seria um erro de método considerar que, nos fenômenos de cesarismo qualquer novo fenômeno histórico derive do equilíbrio entre as forças “fundamentais”; também é necessário examinar as relações supervenientes entre os grupos principais das classes fundamentais e as forças auxiliares guiadas ou submetidas à influência hegemônica.

Luta política e guerra militar.

Na guerra militar, alcançado o objetivo estratégico chega-se à paz. A luta política é muitíssimo mais complexa: em certo sentido, pode ser comparada às guerras coloniais ou às velhas guerras de conquista.

Na luta política, além das guerras de movimento, de cerco ou de posição, existem outras formas.O verdadeiro arditismo, o arditismo moderno, é próprio da guerra de posição, como se viu em 1914-18. Além disso, outro elemento a se levar em conta é o seguinte: na luta política não é necessário imitar os métodos de luta das classes dominantes, sem cair em emboscadas fáceis.

De tudo que se disse, resulta que no fenômeno do arditismo militar é necessário distinguir entre função técnica e função político militar,

A verdade é que não se pode escolher a forma de guerra que se quer, a menos que se tenha uma superioridade esmagadora sobre o inimigo.O próprios técnicos militares que se fixaram definitivamente na guerra de posição, como antes se fixavam na guerra de manobra, de modo algum sustentam que o tipo precedente deva ser riscado da ciência: mas que, nas guerras entre Estados mais avançados civil e industrialmente, ele deve-se reduzir a funções táticas mais do que estratégicas, deve ser considerado na mesma posição que a guerra de cerco e relação à guerra de manobra.

A mesma redução deve-se verificar na arte e na ciência política, pelo menos no que se refere aos Estados mais avançados, onde a “sociedade civil” transformou-se numa estrutura muito complexa e resistente às irrupções catastróficas do elemento econômico imediato.Portanto, é necessário estudar com “profundidade” quais são os elementos da sociedade civil que correspondem aos sistemas de defesa na guerra de posição.

Deve-se examinar se a famosa teoria de Bronstein sobre a permanência do movimento não era reflexo político da teoria da guerra manobrada.

Parece-me que Ilich compreendeu que se verificara uma modificação da guerra manobrada, aplicada vitoriosamente no Oriente em 1917, para a guerra de posição, que era a única possível no Ocidente. Só que Ilich não teve tempo de aprofundar a sua fórmula.

A teoria de Bronstein pode ser comparada à teoria de certos sindicalistas franceses sobre a greve geral e à teoria de Rosa no opúsculo traduzido por Alessandri: os opúsculos de Rosa e Bronstein, além do mais, influenciaram os sindicalistas franceses.

O conceito de revolução passiva.

O conceito de “revolução passiva” deduz-se rigorosamente dos dois princípios fundamentais da ciência política: 1) nenhuma formação social desaparece enquanto as forças produtivas que nela se desenvolveram encontrem lugar para um ulterior movimento progressista; 2)a sociedade não assume compromissos para cuja solução ainda não tenham surgido as condições necessárias, etc.

O conceito de “revolução passiva”, atribuída por Vicenzo Cuoco ao primeiro período do Risorgimento italiano, pode ser relacionado com o conceito de “guerra de posição” em confronto com a guerra manobrada? È necessário formular um juízo “dinâmico” sobre as “restaurações, que constituiriam uma “astúcia da providência” em sentido vichiano.

A relação “revolução passiva-guerra de posição” no Risorgimento italiano também pode ser estudada sobre outros aspectos. Dois são importantíssimos: o que pode denominar-se do “pessoal” e o da “reunião revolucionária”. O do “pessoal” pode ser comparado com o que se verificou na guerra mundial, na relação entre oficiais de carreira e oficiais de reserva, de um lado, e entre soldados das fileiras e voluntários-arditi, de outro. Este aspecto está ligado ao outro, da “reunião”.Deve-se observar que a dificuldade técnica contra a qual sempre se chocavam as iniciativas mazzinianas foi exatamente àquela das “reunião revolucionária”.

De qualquer forma, o curso do processo do Risorgimento, se trouxe à luz a importância enorme do movimento “demagógico” de massa, com chefes surgidos ao acaso, improvisados, etc., na realidade foi absorvido pelas forças organizadas tradicionais, pelos partidos formados ao longo do tempo, com elaboração racional dos chefes, etc.

Sempre a propósito do conceito de “revolução passiva” ou de “revolução-restauração” no Risorgimento italiano, é necessário colocar com exatidão o problema que, em algumas tendências historiográficas, é denominado das relações entre condições objetivas e condições subjetivas do evento histórico.

É preciso evitar que a questão seja colocada em termos “intelectualísticos”, e não histórico-políticos. È pacífico que a “clareza” intelectual dos termos da luta deve ser indispensável. Mas esta clareza é um valor político quando se torna paixão generalizada e constitui a premissa de uma vontade forte.

Sobre a burocracia

1) O fato de que no desenvolvimento histórico das formas políticas e econômicas viessem formando o tipo de funcionário “de carreira”, tecnicamente preparado para o trabalho burocrático, tem um significado primordial na ciência política e na história das formas estatais; 2) Vinculada à da questão burocracia e da sua organização “ótima”, está a discursão sobre os chamados “centralismo orgânico” e “centralismo democrático”.

De qualquer modo, deve-se destacar que as manifestações reformantes de centralismo burocrático ocorreram em virtude de deficiência de iniciativa e de responsabilidade na base.

O centralismo democrático oferece uma fórmula elástica, que se presta a muitas encarnações; ela vive enquanto é interpretada e adaptada continuamente às necessidades.Ela consiste na pesquisa critica de tudo que é igual na aparente disformidade, e diferente e inclusive oposto na aparente uniformidade para organizar e ligar estreitamente tudo o que é semelhante, mas de modo que a organização e a conexão pareçam uma necessidade prática e “indutiva”, experimental, e não o resultado de um processo racionalista dedutivo, abstrato, isto é, próprio dos intelectuais puros.

O teorema das proporções definidas.

Este teorema pode ser empregado com utilidade para tornar mais claros e de um esquematismo mais evidente muitos raciocínios relacionados com a ciência da organização e também com a política geral.

Seria possível servir-se metaforicamente desta lei para compreender como um “movimento” ou tendência de opiniões se torna partido, isto é, força política eficiente, do ponto de vista do poder governamental: exatamente na medida em que possui dirigentes de vários graus e na medida em que esses dirigentes adquiriram determinadas capacidades.

Sociologia e ciência política.

Tudo o que há de importante na sociologia não passa de ciência política. Se ciência política significa ciência do Estado, e Estado é todo o complexo de atividades práticas e teóricas com as quais a classe dirigente justifica e mantém não só o seu domínio, mas consegue obter o consentimento ativo dos governados, é evidente que todas as questões essenciais da sociologia não passam de questões da ciência política

O número e a qualidade dos regimes representativos.

Um dos lugares comuns mais banais que se repetem contra o sistema eleitoral de formação dos órgãos estatais é o de que “nele o número é lei suprema” e que as “opiniões de um imbecil qualquer que saiba escrever vale, para efeito de determinar o curso político do Estado, tanto quanto as opiniões de quem dedica à nação as suas melhores forças”.Mas a verdade é que, de modo nenhum, o número constitui a “lei suprema”, nem o peso da opinião de cada eleitor é exatamente igual.

Da critica ao regime parlamentarista, estas afirmações banais se estenderam a qualquer sistema representativo, mesmo não parlamentarista e não forjado segundo os cânones da democracia formal.

As utopias, o racionalismo abstrato, têm a mesma importância das velhas concepções do mundo historicamente elaboradas por acumulação de experiências sucessivas. O que importa é a critica à qual este complexo ideológico é submetido pelos primeiros representantes da nova fase histórica. Através desta critica obtém-se um processo de distinção e de modificação no peso relativo que os elementos das velhas ideologias possuíam.

Depois da formação do regime dos partidos, os processos moleculares se manifestam com mais rapidez do que no passado.

Questão do “homem coletivo” ou do “conformismo social”

Conceito político da chamada “revolução permanente”, surgido antes de 1848, como expressão cientificamente elaborada das experiências jacobinas de 1789 em Termidor. A fórmula é própria de um período histórico em que não existiam ainda os grandes partidos políticos de massa e os grandes sindicatos econômicos, e a sociedade ainda estava, por assim dizer, no estado de fluidez sob muitos aspectos. No período posterior a 1870, em virtude da expansão colonial européia, todos estes elementos se modificam e a fórmula jacobino-revolucionária da “revolução permanente” é elaborada e superada na ciência política pela fórmula de “hegemonia civil”.

A questão relaciona-se com o Estado moderno e deve ser estudada num tratado de ciência política.

Fase econômica corporativa do Estado.

Guicciardini assinala um passo atrás na ciência política diante de Maquiavel. O maior “pessimismo” de Guicciardini só tem um significado: Ele retorna a um pensamento político puramente italiano, enquanto Maquiavel alcançara um pensamento europeu. Em virtude disso, a mesma concepção da “natureza humana” nos dois é diferente.

Nas relações internas de um Estado, a situação é incomparavelmente mais favorável à iniciativa central, a uma vontade de comando, da forma como a compreendia Maquiavel.

O ceticismo de Guicciardini tem diversas origens: 1) o hábito diplomático. 2) as convicções de Guicciardini, que era conservador, no quadro geral da política italiana, e por isto teoriza sobre as suas opiniões, a sua posição política, e etc.

Hegemonia (sociedade civil) e divisão dos poderes

A divisão dos poderes, toda a discursão havida para a sua efetivação e o dogmatismo jurídico derivado do seu advento, constituem o resultado da luta entre a sociedade civil e a sociedade política de um determinado período histórico, com certo equilíbrio histórico entre as classes.













Autor: Juliana A. Santana


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