EMOÇÃO E GÊNERO NA SOCIEDADE BRASILEIRA



Acadêmica Aura Danielle Dantas de Santana

Orientadora: Mestre Maria José de Azevedo Araujo

RESUMO

O presente artigo qualitativo e bibliográfico remete-nos a uma reflexão acerca das categorias emoção e gênero na construção dos papéis de "homem" e "mulher" mediada pela cultura, bem como a relação destes com os aspectos subjetivos. Vale ressaltar que propomos relacionar a subjetividade e o imaginário do ser humano na valorização do sentido e nas formas diferentes de expressar o nível psíquico das experiências histórico-social do sujeito. Questionaremos no discorrer deste trabalho algumas premissas da sociedade em diversas culturas em que refletem uma análise crítica das questões dualísticas homem/mulher, razão/emoção no qual se inscrevem relações de poder.

PALAVRAS-CHAVE

Gênero, emoção, cultura, simbólico.

ABSTRACT

This paper qualitatively and literature leads us to reflect upon the categories of emotion and gender in the construction of the roles of "man" and "woman" mediated by culture and their relation with the subjective. Note that we propose to relate the subjectivity and the human imagination in the appreciation of the meaning and different ways of expressing the psychic level of social and historical experiences of the subject. Questioned in this paper discuss some assumptions of society in diverse cultures that reflect a critical analysis of issues dualistic male / female, reason / emotion within which the relations of power.

KEYWORDS
Gender, emotion, culture, symbolic

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por objetivo aprofundar conhecimentos a respeito do tema Emoção e Gênero, propondo compreender como as relações afetivas perpassam na historicidade e nas mediações de uma dada cultura.

Nesta perspectiva destaca-se no decorrer do trabalho a conceituação dicotômica de sexo e gênero na desconstrução do determinismo biológico, possibilitando engendrarmos num pensamento não apenas "masculino" e "feminino", mas também entender as categorias socialmente construídas de "homem" e "mulher".

Discute-se também através das representações simbólicas como o corpo se impõe nas relações de gênero, bem como os aspectos subjetivos na incorporação dos significados, na divisão sexual do trabalho na sociedade ao qual pertencemos e a inferência dos modelos familiares no construto emotivo.

Ao final salienta-se de maneira reflexiva acerca de como o imaginário é algo notoriamente construtor de nossas ações quotidianas, expressados através de diversos recursos simbólicos.

O OLHAR SOBRE A MULHER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Vivemos em uma sociedade em que as nossas relações afetivas são regidas por condutas pré – estabelecidas, herdadas na maioria das vezes por "civilizações" ditas modelos a ser seguidos, e falar sobre identidades de gênero na atualidade nos remete a algo urgente e redundante.

Há uma redundância ao falarmos de identidades de gênero, pois a sexualidade acompanha o ser humano desde tempos imemoráveis. Lembremos da Vênus pré-histórica de Grimaldi há quase 30 mil anos, passando um pouco antes e depois de Cristo, bem como das festas gregas a Baco e pelo Kama Sutra indiano, até nossos dias vivenciamos os movimentos da sexy-shop, o carnaval, sobretudo, no Brasil e as paradas gays.

Ao longo da historicidade o sexo foi motivo das mais dicotômicas manifestações, foi praticado por indivíduos do mesmo sexo na Grécia, na Era Romana celebrou-se publicamente em procissões, porém no contexto medieval moralista e na Era Vitoriana foi algo ocultado e condenável.

Vale ressaltar segundo Sardenberg[i], no que se refere a gênero: "[...] a categoria analítica pretende dar conta das variadas elaborações culturais que diferentes sociedades, em diferentes épocas, constroem em torno das diferenças percebidas entre machos e fêmeas e delas se apropriam na prática social."

A visão da autora não se apóia na concepção dualística do conceito na qual se opõe biologia a cultura, mas reconhece que a conceituação de sexo e gênero constitui-se como um esforço necessário no combate ao determinismo biológico, na medida em que possibilita pensarmos não apenas o "masculino" e "feminino", mas também categorias socialmente construídas de "homem" e "mulher".

Nesta perspectiva há que inferir os papéis sociais em determinados núcleos familiares, na constituição de um espaço privilegiado para construção e desenvolvimento da vida emocional de seus componentes, sobretudo, o desenvolvimento infantil no processo de socialização e aquisição de sentidos assimilados que já existem no espaço socialmente construído, ou seja, brincadeiras tradicionalmente relacionadas às concepções de gênero e padronização de atributos representativos do ser menino e menina, que não podemos determinar enquanto regra, mas no entendimento das construções subjetivas de cada individuo.

Contudo, antes de nascer, os pais criam uma expectativa relacionada ao sexo das crianças, que serão vestidas com a cor "ideal", brincarão com os jogos e brinquedos "apropriados", e deverão se comportar segundo os padrões estabelecidos pela sociedade e, deste modo, aprendem e reproduz como devem desempenhar os papéis que lhes são atribuídos, demonstrando, assim, o quanto já absorveram das expectativas dos adultos.

Desta forma, vários estereótipos são transmitidos pela educação das crianças. Uma primeira providência tomada é a separação dos universos masculinos e femininos, ou seja, mesmo as crianças estudando ou brincando juntas, quase sempre são lembradas das suas diferenças.

Um entendimento dos gêneros como opostos não é exclusividade do mundo adulto. Meninos e meninas não têm bem esclarecidos as divisões de gênero, estando algumas vezes separados e outras vezes juntos.

O ser mulher na família está ligado à função de cuidar da casa, dos filhos, da alimentação, onde sua atuação caracteriza-se por aspectos emocionais, em que dá afeto, atenção e carinho remetem-na, na maioria das vezes, à categoria de submissão.

Já o homem tem seu papel de provedor material da família, ele trabalha e tem no trabalho sentimento de auto-realização e autonomia, sente-se livre e dono da própria vida e destinos. Deseja ser reconhecido como autoridade na família e exige respeito da mulher e dos filhos.

Vimos que essas concepções são valores herdados que determinam papéis sociais por meio das relações estabelecidas através de uma série de significações. Entretanto é imprescindível ressaltar que a visão do sexo frágil absorvida numa perspectiva patriarcalista não há sustentáculo, pois segundo Costa[ii].

Podemos dizer que a perspectiva feminista sempre esteve presente na humanidade, nas lutas sociais contra as diversas formas de opressão sexista, na resistência das mulheres as religiões androcráticas e monoteístas, na institucionalização da medicina, nos escritos das poucas literatas que conseguiram romper o cerco do patriarcalismo e deixar registrada sua resistência, entre outros.

Portanto, na visão da autora podemos atribuir que não existe concepções anatômicas determinantes que se constitua "mulher" ou "homem" em seus aparatos biológicos que possam designá-los capacitados enquanto ser superior e inferior enfatizamos pois que o corpo torna-se um elemento da prática social na medida em que são fluidosno regime disciplinar onde se constitui as relações de poder.

Nesta perspectiva as atividades sociais são entendidas como extensões do corpo humano, levando a existência da divisão sexual do trabalho tão instigadas nas discussões feministas em torno dos estereótipos em termos dos papeis sociais que encontram intimamente relacionados com o gênero, e cujos microcosmos são descritos através de marcadores simbólicos, objetos e rituais específicos. Na visão de Santana[iii],

A relação homem-mulher caracteriza a oposição entre privado e público. Essa oposição não determina estereótipos culturais ou desigualdades no jogo da valorização e desvalorização dos sexos, mas, antes, subordina a sustentar uma identificação muito geral das mulheres com a vida privada e dos homens com a vida pública. A mulher está submetida a padrões culturais arbitrários, seu poder é encarado como ilegítimo ou desimportante. Mas é necessário lembrar que, enquanto a autoridade legitima o uso do poder masculino, neste não se esgota. É importante observar que, conhecendo o fato da autoridade do homem amplamente reconhecida culturalmente, estamos buscando firmar e reconhecer a importância da mulher em todos os setores sociais.

E pensar o corpo como algo produzido na e pela cultura é um desafio necessário, pois rompe com um olhar puramente naturalista sobre o qual é observado, explicado, classificado e tratado de maneira limitante, a necessidade se dá ao desnaturalizar e revelar que o corpo é histórico na materialização do mundo e construções conferidas em diferentes marcas, em diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais dentre outros.

Ainda numa concepção do movimento feminista segundo Hall[iv], o movimento questionou: "A noção de que os homens e as mulheres eram parte da mesma identidade, a "Humanidade", substituindo-a pela questão da diferença sexual e aquilo que começou como movimento dirigido à contestação da posição social das mulheres expandiu-se para incluir a formação das identidades sexuais e de gênero. Com isso houve um real avanço na inserção da mulher no mercado de trabalho e a construção de sua autonomia, mas salientamos as disparidades no quesito gênero com relação à valorização do trabalho feminino, pois ainda hoje existe a segregação relativa à remuneração do trabalho destinado a mulher.

E neste sentido vale lembrar que a vida agitada das mulheres nos grandes centros urbanos tem aumentado o número de aparecimento de doenças cardiovasculares, pois esta teve que enfrentar as pressões da vida profissional sem deixar de lado as funções domésticas e o exercício da maternidade.

O que antes não ocorria, pois o papel que a mulher tinha na sociedade era o papel de "dona do lar", como a principal função de cuidar da casa, dos filhos e do marido, onde esses valores eram herdados culturalmente e cabia a assimilação por parte da singularidade de cada sujeito.

Levando-se em consideração o subjetivo de cada indivíduo, mesmo dentro de uma determinada cultura vão existir diversas formas de expressar sentimentos e canalizar emoções, sendo o indivíduo do gênero "feminino" ou "masculino". Partimos do pressuposto de que há fundamentos na construção das relações emocionais, sobretudo na questão do gênero em que a subjetividade será mediadora na incorporação dos significados atribuídos.

Onde as construções emotivas são desenvolvidas no universo imaginativo, pois ao libertarmos do real, podemos inventar e improvisar estabelecendo correlações entre objetos ultrapassando as representações intelectuais ou cognitivas.

Vale ressaltar que essa representação imaginaria é preenchida de afetividade e de emoções criativas e poéticas em que na sua condição existencial age como processo construtor e transformador do real, ou seja, na tradução mental da realidade exterior, sobretudo em momentos em que há uma implosão dos sentimentos transparecidos em artes literárias. Convém a observação feita por Figueiredo[v], que:

Quando há uma desagregação das velhas tradições e uma proliferação de novas alternativas, cada homem se vê obrigado a recorrer com maior constância ao seu "foro intimo" _ aos sentimentos (que nem sempre condizem com o sentimento geral), aos seus critérios do que é certo e do que é errado (e na sociedade em crise há vários critérios disponíveis, mas incompatíveis).

E neste sentido a expressão imaginativa dos indivíduos e o seu sentir-se e estar no mundo são afloradas através da incorporação dos significados construídos ao longo da nossa experiência, nas relações intersubjetivas mediadas por um conjunto de signos inclusive as funções superiores (Linguagem e Pensamento). Mediante esta questão a representação do real no mundo da ficção se estrutura e compreende-se na função simbólica, pois demonstra que se materializa no simbólico-cultural construindo as emoções quer da masculinidade quer da feminilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É imprescindível uma incessante compreensão dos múltiplos significados de gênero, em que as buscas individuais por identidades e processos de significações tornam-se limitadas por circunstancias que são melhor abordadas através da análiseestrutural da organização social e política. Desta maneira ao reconhecermos supostas diferenças devemos ter cautela no quesito da não descontextualização cultural mediante o entendimento do processo social.

Nota-se também que o imaginário reproduz os aspectos interiores do homem, bem como transforma e dar sentido a sua existência através da revelação das infinitas formas simbólicas da linguagem pressentidas no universo do humano, visando na incorporação ou extrapolação dos limites simbólicos internalizados na construção das relações afetivas.

Não esquecendo que a cultura permeia as transformações dos corpos em entidades sexuadas e socializadas, por intermédio de redes de significações de gênero, sendo que a aquisição de valores e práticas sociais esculpe e modela desejos e modos de vivenciar a sexualidade e suas formas emocionais.

SOBRE AS AUTORAS

Aura Danielle Dantas de Santana é aluna de graduação do Curso de Psicologia da Universidade Tiradentes em Aracaju/SE. A produção deste artigo científico deve-se à prática investigativa na forma de pesquisa qualitativa do tipo bibliográfico. O artigo foi produzido visando atender à exigência da disciplina "Contemporaneidade", do Curso de Nivelamento da Universidade Tiradentes e contou com a orientação da professora Msc Maria José de Azevedo Araujo. E-mail para contato: [email protected];

NOTAS




Autor: Maria José de Azevedo Araujo


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