O CAMINHANTE



Num mister de esperança e devoções, vai o CAMINHANTE, aquele que passa de passos lentos, na calma do pensamento. Louva a paz, a energia, a multidão, o infinito, o balsamo da vida, o arbusto verdejante, o límpido riacho...e aí para medita, interioriza, energiza-se numa sintonia com alvas nuvens sob o azul celestial. Recompõe-se para o alto, nas entranças do horizonte; acalma a sua saída do mundo humano, quase cristão, cadencia os planos.

E, no vazio da mente, neurônios precisos devastam a solidão, preso no servir, doar-se, propagar uma viril sabedoria, potencial inerente ao passo que vagueiam. Fixam em terra firme, os seus pés descalços, onde nas margens da vida, labirinto ocioso, aguarda o resultado do alto, raios esplendorosos de esperanças.

Ali, banham a fonte, os olhos, as mãos e faz genuflexo; mira a correnteza do córrego; de súbito em suas costas um sopro, reflexo de ventania, tempestade... Em cinzas partículas de milagre à iniciação da vida já transformada e vivida. Para, silencia, aprofunda-se, busca no fundo uma resposta decisiva ou argumentada. Em sua racionalidade a inteligência, não exercida, à tona o bloqueio de inutilidades: os pés apedrejados, úlceras dos descaminhos, a pobreza da alma o concreto dos sonhos invisíveis apalpa a consciência, preso no reflexo da caminhada de um caminhante.

Em sequência a água ainda brilha em sintonia, ela passeia. Agora fluidifica. Prepara. Sacramenta. Batiza. Fertiliza as aberturas de um humano servil. Ela é um alvo ao mirante solitário CAMINHANTE.

Numa retrospectiva vêm os primórdios de sua vida pelas andanças: uma infância mísera entre cinco irmãos nos campos do sertão, puberdade à juventude nos preparos agrícolas; sol e chuva nos lombos ardentes; descanso na tapera de barro a pique, estrelas cintilantes em retruques aos pirilampos, anfíbios, cágados e na passarela dos ninhos entre galhos verdes, o gorjeio dos pássaros ao encontro das fragâncias da mata astuta. E logo na sacada, em arraial vizinho, cruza em sonhos de fantasia à realidade dos dias futuros: numa festa de mutirão de fim de safra, uma esplendorosa virgem, cintila diante dos seus olhos. Nada impediria de semear o amor para que lhe brotasse a afinidade, era a musa, quase santa a esposá-lo para um lar fértil de paixão, sedução, procriação... Nilza também se encontrou, como se as estrelas aplaudissem o luar, devotou na paixão o amor sóbrio até doentio por Nivaldo e entre os dois "N", gerado em um só, a união consumada do matrimônio. A sonhadora paz, adicionada à pobreza mísera dos campos agrícolas uniram luta ao amor e tão logo aos frutos entre dois filhos homens. Patenteados ao resultado de um lindo romance, envolviam-se como servos edificados neste amor cada vez mais crescente; ânsia de vida, entre os filhos o almejo de viverem ao sabor de uma união ímpar e saudável.

O marco do destino entre infeliz desgraça trouxe a metamorfose: uma forte tempestade arrebata o seu lar e um raio descarrega sobre a cobertura de palha da pobre choupana. Um dilúvio também penetra em NIVALDO; perdeu o outro "N", sua esposa e companheira e outros dois frutos, seus filhos, todos viajam para a eternidade.

Preso a um forte devaneio fecha-se à angústia, distinto aos dias de sol e de imensa felicidade, abate-lhe trevas e muita solidão. Vingaria por impulsos revoltantes das intempéries dos astros, uma catástrofe de vida em troca de um destino perverso e bruscamente interrompido.

Devotaria toda sua repulsão por seus dias futuros não haveria barreiras por essa autorrepressão e iria se condicionar, andando pelos caminhos do mundo, sem humanidade e humanos... Seria um CAMINHANTE, mui longe de um simples cacheio viajante.

Distante de si próprio numa manhã entristecida, ameaçada por outro forte temporal pôs-se dos seus instintos revoltantes, despediu-se dos entes, passou pelo seu ex lar, jazia restos de queimada e o registro daquele episódio triste. Poucos passos além atingiram três cruzes, as tocou e numa pronúncia expressada pela dor: Sou um CAMINHANTE, aqui também JAZ, a MINHA VIDA!...Saiu daquele espaço, com uma única herança: os dias felizes reservados ao amor, companheirismo e ao exemplo responsável de sua paternidade.

Não olhou para trás, apenas ouviu claramente as palavras embargadas de despedida de sua progenitora:

Filho, um dia, certo MILAGRE o fará renascer à vida... Tenha FÈ, muita FÉ!...

Com passos lentos iniciou a sua trajetória de CAMINHANTE. Poucas foram as pousadas com teto, árduos dias de sol chuva, frio, sede, fome... Um flagelo de vida pouco vivida, uma abstinência de fortaleza para o fracasso, veio-lhe o precoce envelhecimento, entre mechas de cabelos brancos e muitas rugas.Aumentava-se a cada passo da aceitação e do reencontro. Buscava nas estradas infinitas, somente os pés almejava atingir a sua eternidade na recordação do passado. Era um ser vazio e ausente do mal viver, não divisava fronteiras ou localização de sua estadia à sobrevivência.

Como se estivesse atento em um monitor, numa autoconfirmação, volta sua consciência ao presente e como prêmio, revive o mesmo riacho, nele direciona uma rocha, olha aos céus já evaporadas as brancas nuvens, só azul celeste surgem além, tanto do plano atmosférico, como do clima de serenidade e descanso recebidos daquela água calma corrente. O CAMINHANTE banha-se de corpo inteiro, a limpidez da água lava-lhe o corpo, a alma, mata-lhe a sede, prepara-o para a retomada dos destinos, dos trilhos, das estradas, dos montes, montanhas, colinas, lugarejos, grandes centros...

Um enigma a exemplo de enzimas repletos de energia, relaxantes leva o andarilho à margem. Adormece como forma de se abastece do cansaço e a magia do sono traz-lhe no refazimento um SONHO, quase fantasia de uma realidade atual. Feliz encontra com NILZA entre os primeiros tempos do casamento, entre eflúvios de carícias, um diálogo distinto do vivido ou captado ou gravado no subconsciente. Ela solicita-lhe muitas mudanças, comparando o vento ao humano perdido no seu desencontro, como se a paz pudesse regressar com a compreensão do viver na ausência dos desaparecimentos de entes especiais e queridos; como anjos celestiais de leveza e luz como anjos celestiais de leveza e luz concluiu: Sua estrada não poderá atingir o infinito, se sua autorreflexão não se aperceber de que ainda vives para o seu íntimo amor próprio.Toda pedra que muito muda não "cria limbo", e o s na instabilidade de suas insatisfações. Rejeitar é chamado sem antes dos desígnios do ALTO. A busca sem meta é um desequilíbrio e o amor perdura entre todas as gerações. Se sente só, quem ainda não submeteu a ausência do sofrimento e isolar-se do mundo dos viventes humanos, vivenciando suas experiências é criar elos negativos quanto a harmonia de que todos os seres têm quando em contato com a NATUREZA em geral é um integrante para este relacionamento e sua racionalidade precisa estar acrescida destes pólos de intercâmbio;fazemos acontecer os milagres quando comungamos o CONHECIMENTO DAS LEIS, como oportunidade de ainda estarmos vivendo e VIVER É VIDA, ela sinônimo de entusiasmo e esperança. O ontem é o passado na recordação, momentos de prazer oferecidos para depararmos com as realezas e realidades do hoje presente em nós. O elixir do sossego é o ministério de transformar o sofrimento na cura da mente e ninguém se perde sem antes estabelecer de que é forte, saudável PERENE NA FÉ... Queira naufragar neste riacho à sua frente sem antes descobrir e questionar o "porquê" ainda vive; procure enxergar além destas águas suaves e límpidas, elas como se fossem um NINHO, bem próximo de você, portanto seja o condor para as suas transformações e procure voar para a sua PAZ INTERIOR!... Este córrego tão ínfimo convida-o atingir o oceano de suas mudanças e reinício de continuar vivendo; não caleje mais os seus pés, procure também mudar a sua obsessiva mente, a força está em ti. Não conseguirá a PAZ DAS ALTURAS, sem antes evangelizar a si próprio. Vinde a mim no amanhã na ETERNIDADE quando puder regenerar a si mesmo. Sim haverá o verdadeiro reencontro abençoado. Perca a complexidade de sua PRÓPRIA NATUREZA. Reabilite-se à vida de que ainda lhe é confiada, abra os seus olhos, alcance as nuvens, elas o levará AO SEU INFINITO. As estradas que caminha como desilusão e autossacrifício é uma insuficiência da mente, a treine para que ela o conduza à produtividade porque sua fertilidade no trabalho

Será a sua vitória do amanhã. Quero que repouse no TRAVESSEIRO DA PAZ e ela está em DEUS, APROXIME-TE DELE!...

Uma folha seca de um dos galhos da frondosa árvore que amparava NIVALDO, neste pesado sono e sonho o fez despertar. Reintegrado naquele local à beira do manso e calmo riacho, o CAMINHANTE vivenciava detalhadamente o sonho que obtivera a poucos instantes anteriores com sua ex esposa NILZA. Ainda de olhos fixos na branda correnteza do córrego lembrou fixamente por várias vezes: REPOUSE NO TRAVESSEIRO DA PAZ e ela está em DEUS, APROXIME-TE DELE!... Lembrou.

Seria a primeira vez, por longo tempo a sua caminhada que ouvia falar em DEUS. Aproximou-se por mais uma vez daquela água límpida, cristalina, mirou o riacho logo abaixo e um desejo grande de renascer veio bem do fundo de seu interior. Como num passe de mágica ou milagre, ouviu um barulho rangedor de carro de boi. Subiu apressadamente o barranco até atingir a estrada de terra que margeava aquele córrego. Não se enganara, aproximava cada vez mais dali um enorme carro puxado por alguns esbeltos e fortes bois. Um jovem chegando à sua frente parou e disse-lhe: O moço quer subir? Aonde vai? E O CAMINHANTE RESPONDEU: não carece...não tenho nenhum destino, sou da estrada, ando léguas e léguas e corro o mundo, não tenho pressa de chegar, eu chego onde canso pra depois não saber mais aonde devo ir. O jovem viajante fez semblante de admiração, um ar de ter entendido o destino do CAMINHANTE solitário, e insistiu: sobe moço faz-me companhia, talvez adiante, mesmo sem saber aonde chegar com os seus pés no alto, poderá evitar as pedras e terrões por alguns quilômetros desta estrada.

NIVALDO não resistindo a grande insistência e muito intimado pelo jovem cedeu, subindo naquele carro de bois.Perguntou:

-Mora por estes arredores moço?

-Sim, as poucas léguas daqui, estou bem perto de chegar ao meu povoado, olhe, fica ali depois daquele morro!...Estou viajando há quatro dias. Há seis meses estou ausente da família, saí para formar lavoura em arraial de terra boa. Estou feliz. Fazia muitos contos de dinheiro e ainda ganhei uma companheira pelas bandas de onde plantei. Conheci minha mulher me casei e agora volto ao aconchego do meu lar.

O CAMINHANTE com muita curiosidade rapidamente perguntou:

-E onde está ela?

-Ali debaixo daquela lona, uma cobertura de proteção, ali ao lado do seu baú de enxovais.E, foi logo chamando:

-MADALENA!...MADALENA!...ACORDE!... Venha conhecer o caroneiro que peguei no caminho a alguns quilômetros atrás...

O CAMINHANTE ao ouvir aquele nome assustou e este aumentou, quando viu sair por de trás do referido baú aquela jovem.E duas vozes soaram em gritos simultâneos: NIVALDO!... MADALENA!Dois ...Aquela jovem em viagem de núpcias tratava-se de sua IRMÃ, a caçula dentre os cinco que havia deixado lá trás, no lar dos pais. O jovem gentil, comunicativo e bondoso fez para o carro de bois, também assustado, sem saber de nada. Observou os dois irmãos abraçando-se e chorando. E ela emocionada explica ao marido:

-ZECA este é meu irmão NIVALDO, o mesmo que todos da casa lamentam e choram a sua partida e desilusão. É a história que o pai e a mãe lhe contou por várias vezes.

-Eta mundo pequeno!... Venha cá rapaz, abrace-me, estamos em família, faltava só você para eu conhecer cunhado!

O Carro de bois seguiu em frente dobrando curvas, deixando rastros para trás. MADALENA, pôs-se a indagar:

-Meu irmão com tem vivido? Como você envelheceu! Queria ser uma ave mensageira, que iria agora mesmo avisar o pai e a mãe e os nossos irmãos, que você está vivo e eu o encontrei aqui na estrada. Um MILAGRE aconteceu!

Durante a viagem MADALENA vai relatando de como ficou o arraial com a partida dele, que o seu pai resolveu mudar de lá e que foram morar para aqueles lados onde conheceu o ZECA. E que estava feliz por reencontrá-lo, ambos se abraçam e choram

Os primeiros telhados rústicos, humildes foram avistados. Era o povoado de ZECA. Foram recebidos com festança. Bem na frente um velho padre convidou a todos para que entrassem na sua simples capela daquele pequeno lugarejo. Houve uma segunda cerimônia em prol do jovem casal, contraídos em matrimônio.

NIVALDO esperou que todos saíssem daquele pequeno templo, dirigiu-se ao livro das intenções, exposto numa pequena mesa, ao lado do altar e escreveu. 'Minha NILZA encontrei DEUS! Não sou mais um CAMINHANTE SOLITÁRIO, avise aos nossos dois filhos que adquiri PAZ, no RIACHO DE MILAGRE.'

Na manhã seguinte, num cavalo emprestado pelo cunhado muito bem selado, NIVALDO se despediu dos dois entes recém-casados e explica-lhes:

- Vou correndo neste galope, volto para o pai, a mãe e os nossos irmãos. Antes me banharei novamente naquele RIACHO DO MILAGRE E DA PAZ!...

Montado em seu cavalo pronuncia bem alto: - Volto para devolver-lhe o animal, ZECA. Até Breve!...

Numa montaria de alto nível, sem competir com a DIVINA PROVIDÊNCIA, NIVALDO seguiu estrada adiante desaparecendo na primeira curva, próxima daquele povoado O trotear do lindo cavalo trazia ao CAMINHANTE bálsamos de autorrencontro, muita LUZ e PAZ enviadas por DEUS.

CONTO-AMOR-

FONTE: PASSARELA DE CONTOS

Autor do conto: Rodolfo Gaspari-Rogas-
Autor: Rodolfo Gaspari


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