POUCO ANTES DA PRIMAVERA



POUCO ANTES DA PRIMAVERA
   
Os meus olhos foram desdobrados. Parecia que eu já sabia ou conhecia tudo aquilo. Minha audição permanecia aguçada, queria ouvir mais e mais... Eu estava completamente incorporado àquela história de amor. Raro resplandecer, um toque lindo de emoção, com cânticos da alma levada ao coração. Eu viajava mentalmente, passo a passo, com capítulos de uma grande obra literária. Silenciosamente eu ouvia com atenção ou o historiador narrando: - DANTI vivia solitariamente envolto na sua estagiada solidão.   O seu pretérito fora radiante, sonhador, bem vivido, até muito amado. A sua viuvez o levava distanciar de tudo e de todos. Somente a lembrança do passado fazia-o armazenar recordações que o vento soprou e com poeiras formaram-se nuvens no seu vendaval de tristeza. Tudo parecia ser um amor; depois de tudo, somente um falso conformismo por uma tremenda perda, onde a eternidade deixa como saldo, sem saída, àqueles que permanecem vivos numa sofrida dor. DANTI caminhava sem perceber as margens da vida, imaginando, mesmo suspirando, nada mais haveria de ter a sua razão de ser, somente viver por viver! CATARINE na sua cidade interiorana se fazia ainda esperançosa, embora inconformada pelas decepções que o cotidiano da sua vida a pregava. Saída de perdas, depois de sonhos formulados à dedicação como doação, de bem querer e amar. Estava também com o coração fechado, inconformada pelas inúmeras quedas dos seus relacionamentos. Porém, ainda se esperançava pela chegada futura de um “anjo” que a fizesse acreditar que no amor existe intensidade e reciprocidade. De um lado DANTI procurava esquecer um passado considerado feliz; por outro, CATARINE com feridas abertas de sofrimento, almejava que elas fossem cicatrizadas.   O tempo passou rapidamente, indício de muitas flores anunciavam canteiros floridos, exalados por ricas fragrâncias. Era “POUCO ANTES DA PRIMAVERA” daquele ano vigente.   À noite estava quente, o movimento de uma cidade de porte médio, para grande, chamada de SÃO SEBASTIAN agitava os transeuntes; cada um programado para o seu destino de entretenimento e lazer. Opções diversificadas faziam do meio social, acontecimentos agradáveis do destino do ser humano para o infinito do horizonte. Cada “eu imaginário” na retrospectiva corria, outros felizardos, decididos, andavam juntos de mãos dadas. Incluídos nessa multidão, entre elevados edifícios, engenhados para o alto em direção do céu, dois seres sozinhos caminhavam com o outrem: DANTI E CATARINE. Aquela casa noturna, considerada mais uma “gaiola” reluzia de multicores entre luzes acesas; um jogo às vezes estático batia nos corpos e faces dos participantes, moldurando um ambiente alegre com som estridente, quase agredindo a audição daqueles que por ali se entretinham. Muitos apresentavam tristeza, melancolia, vazio... bem como, outros na malícia da noite ou pela própria nostalgia do meio, ansiavam por companhia ou um amanhecer bem a dois... ali ou lá fora! DANTI foi quem chegou primeiro naquele local. Socialmente se arrebanhou aos afins daquela noite. Não estava tão disposto àquele ambiente, mas a força do destino, o fazia presente de corpo e alma. Quem sabe presságios anunciados!   CATARINE chegou pouco depois, vinha com a essência pura do momento próspero, talvez a luz daquela casa refletida na abertura do seu “eu superior”. Os olhares se cruzaram nos primeiros instantes. DANTI e CATARINE numa autoexclamação: - É VOCÊ MEU AMOR! Para CATARINE, os olhos claros de DANTI cruzaram à primeira vista, num encanto de almas, quase gêmeas, mais afins. Para DANTI numa perplexidade veio um espontâneo “OI”..., prolongado como se traduzisse: - EU ESTAVA ESPERANDO POR VOCÊ!... Os olhares não se contiveram e de repente, um na frente do outro, consumaram um programado encontro, não pelo acaso, e sim pelo reencontro pré-estabelecido. Aquela casa de diversão figurativa desapareceu. Tudo a partir daquele momento direcionava para outras entranhas... DANTI e CATARINE fizeram-se de estrelas da noite; os personagens principais de uma grande história de amor. Entre os dois, saia uma luminosidade nunca usufruída ao sabor do bem estar e da reciprocidade eminente, profunda... daquele encontro. DANTI foi quem mais falou. Apresentou suas ideias e ideais, até mesmo os espinhos do passado às condutas para uma proposta a dois, ela sadia, verdadeira, transparente, regadas com AMOR. CATARINE, pouco falante, seivou as palavras ouvidas, mostrando sua sensibilidade e almejos para uma caminhada futura a dois. Não havia como desfazer de um pacto certeiro, eficaz, adequado, aguardado para a cumplicidade do sentimento, numa demonstração de pureza grande e rica descoberta a dois. DANTI concluiu consigo mesmo que aquele era o verdadeiro amor, o mesmo não vivido nas formas do ontem. Ele estava nascendo, não renascendo, bastava adubá-lo. O coração batia fortemente, o seu corpo sentia acalantado. Ambos não viram as horas transcorrerem, tudo era muito perfeito, um presente adquirido pela experiência à entrega de um, em dois. Patenteavam a verdade que o “amor existe...” basta analisá-lo pelos requisitos com que cada um desenvolve pela sua própria evolução... o esperar pelo momento da descoberta. Ainda não era primavera, mas flores já se abriam cruzando entre colunas e arcos, alvas pétalas na luz celestial que fluía entre DANTI e CATARINE. Prometidos mutuamente, o casal, de mãos dadas, saiu dali, deixando para trás luzes, assumindo a verdadeira paz a dois. Atravessaram uma grande praça. Despediram-se! DANTI ficou e CATARINE partiu! Esse AMOR AINDA SOBREVIVE de paixão. Ambos caminham entrelaçados no destino que Deus assim quis e jamais será desfeito pela própria natureza, uma pura criação, regida de leis sábias e superiores. “POUCO ANTES DA PRIMAVERA”, caminhos floridos se cruzam como arcos direcionados ao céu da esperança, porque DANTI e CATARINE representam uma GRANDE HISTÓRIA DE AMOR! 
  


CONTO DE AMOR
 FONTE: PASSARELA DE CONTOS
Autor: Rodolfo Gasapri -Rogas-
 
 

Autor: Rodolfo Gaspari


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