ESTOCE nº 01 - Estudo Sintético das Obras da Codificação Espírita
INTELIGÊNCIA SUPREMA UNIVERSAL
1. Que é
Deus?
“Deus é a inteligência suprema, causa primária de
todas as coisas”
(O Livro dos Espíritos)
Deus
é conceituado como a inteligência suprema, completando-se
com a noção de causa primária de todas as coisas. Assim, Deus é a causa inteligente cujo efeito é o todo universal.
Deus
é a causa inteligente de tudo, na linguagem tradicional é o Verbo, porquanto o
Verbo é a vontade de Deus manifesta.
4. Onde se
pode encontrar a prova da existência de Deus?
“Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há
efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa
razão responderá.”
5. Que
dedução se pode tirar do sentimento instintivo, que todos os homens trazem em
si, da existência de Deus?
“A de que Deus existe; pois, donde lhes viria esse
sentimento, se não tivesse uma base? É ainda uma conseqüência do princípio -
não há efeito sem causa.”
(O Livro dos Espíritos)
O
homem jamais pôde ver o átomo, mas definiu modelos de interpretação dos
fenômenos com base no que podia observar. Agindo assim já conseguiu descobrir
muitas leis físicas do Universo, comprovando-as em experimentos posteriormente.
Menos ainda pode o homem vislumbrar acerca de Deus. No entanto, observando e aprendendo acerca de tudo o
que está à sua volta o homem se conscientiza da existência de uma causa
inteligente suprema e norteadora do todo universal. As coisas acontecem
sob padrões fenomênicos que a mera casualidade não convence ao mais incrédulo,
no reduto do seu íntimo. Mesmo os mais simples habitantes deste planeta desde
as eras remotas guardam em sua consciência a noção viva de que existe Deus, com
foros de verdade que, em sua simplicidade, não puderam definir.
8. Que se
deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação
fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso?
“Outro absurdo! Que homem de bom-senso pode
considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.”
(O Livro dos Espíritos)
O
mero acaso não poderia ser a causa de efeitos tão complexos como, por exemplo,
a formação da vida orgânica deste planeta. Na escala do ano geológico, o homem
é uma forma de vida surgida no último dia, sem embargo de ser o mais complexo
habitante deste orbe. Miríades de outros exemplos poderiam ser alinhavados.
Kardec
aponta os atributos da Divindade.
Em O Livro dos
Espíritos (pág. 55):
·
Eterno – Deus é eterno. Se tivesse tido princípio,
teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior.
É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.
·
Imutável – É imutável. Se estivesse sujeito a
mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam.
·
Imaterial – É imaterial. Quer isto dizer que a sua
natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria
imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.
·
Único – É único. Se muitos Deuses houvesse, não
haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.
·
Onipotente – É onipotente. Ele o é, porque é único.
Se não dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso
quanto ele, que então não teria feito todas as coisas. As que não houvesse
feito seriam obra de outro Deus.
·
Justo e Bom
– É soberanamente justo e bom.
A sabedoria providencial das leis divinas se revela, assim nas mais pequeninas
coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite se duvide nem da justiça
nem da bondade de Deus.
Em A Gênese
(pág. 56 e segs):
·
Deus é a suprema e soberana inteligência. É limitada
a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que
existe. A de Deus abrangendo o infinito, tem que ser infinita. Se a
supuséssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais
inteligente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim
por diante, até ao infinito.
·
Deus é eterno, isto é, não teve começo e não terá
fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada
coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por
outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe
supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente antes
dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.
·
Deus é imutável. Se estivesse sujeito a mudanças,
nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o Universo.
·
Deus é imaterial, isto é, a sua natureza difere de tudo
o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito
ás transformações da matéria. Deus carece de forma apreciável pelos nossos
sentidos, sem o que seria matéria. Dizemos: a mão de Deus, o olho de Deus, a
boca de Deus, porque o homem, nada mais conhecendo além de si mesmo, toma a si
próprio por termo de comparação para tudo o que não compreende. São ridículas
essas imagens em que Deus é representado pela figura de um ancião de longas
barbas e envolto num manto. Têm o inconveniente de rebaixar o Ente supremo até
às mesquinhas proporções da Humanidade. Daí a lhe emprestarem as paixões
humanas e a fazerem-no um Deus colérico e cioso não vai mais que um passo.
·
Deus é onipotente. Se não possuísse o poder supremo,
sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até
chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é
que seria Deus.
·
Deus é soberanamente justo e bom. A
providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas,
como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça,
nem da sua bondade. O fato do ser infinita uma qualidade, exclui a
possibilidade de uma qualidade contrária, porque esta a apoucaria ou anularia.
Um ser infinitamente bom não poderia conter a mais insignificante parcela de
malignidade, nem o ser infinitamente mau conter a mais insignificante parcela
de bondade, do mesmo modo que um objeto não pode ser de um negro absoluto, com
a mais ligeira nuança de branco, nem de um branco absoluto com a mais pequenina
mancha preta. Deus, pois, não poderia ser simultaneamente bom e mau, porque
então, não possuindo qualquer dessas duas qualidades no grau supremo, não seria
Deus; todas as coisas estariam sujeitas ao seu capricho e para nenhuma haveria
estabilidade. Não poderia ele, por conseguinte, deixar de ser ou infinitamente
bom ou infinitamente mau. Ora, como suas obras dão testemunho da sua sabedoria,
da sua bondade e da sua solicitude, concluir-se-á que, não podendo ser ao mesmo
tempo bom e mau sem deixar de ser Deus, ele necessariamente tem de ser
infinitamente bom. A soberana bondade implica a soberana justiça, porquanto, se
ele procedesse injustamente ou com parcialidade numa só circunstância que
fosse, ou com relação a uma só de suas criaturas, já não seria soberanamente
justo e, em consequência, já não seria soberanamente bom.
·
Deus é infinitamente perfeito. É
impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria
Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse.
Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister que ele seja infinito em
tudo. Sendo infinitos, os atributos de Deus não são suscetíveis nem de aumento,
nem de diminuição, visto que do contrário não seriam infinitos e Deus não seria
perfeito. Se lhe tirassem a qualquer dos atributos a mais mínima parcela, já
não haveria Deus, pois que poderia existir um ser mais perfeito.
·
Deus é único. A unicidade de Deus é consequência do
fato de serem infinitas as suas perfeições. Não poderia existir outro Deus,
salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que,
se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro,
subordinado ao poder desse outro e, então, não seria Deus. Se houvesse entre
ambos igualdade absoluta, isso eqüivaleria a existir, de toda eternidade, um
mesmo pensamento, uma mesma vontade, um mesmo poder. Confundidos assim, quanto
à identidade, não haveria, em realidade, mais que um único Deus. Se cada um
tivesse atribuições especiais, um não faria o que o outro fizesse; mas, então,
não existiria igualdade perfeita entre eles, pois que nenhum possuiria a
autoridade soberana.
A
matéria é apresentada como o instrumento do Espírito, sobre o qual
exerce a sua ação. Mas esse conceito se estende não apenas à matéria do
plano físico como também no estado etéreo, sutil, imperceptível para o homem
comum. É lícito deduzir, então, que o
Espírito é imaterial na essência, utilizando-se de instrumentos
materiais desde a matéria física até substâncias etéreas e sutis não
perceptíveis ao homem, mas ainda assim matéria.
22. Define-se
geralmente a matéria como sendo - o que tem extensão, o que é capaz de nos
impressionar os sentidos, o que é impenetrável. São exatas estas definições?
“Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não
falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais.
Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos
sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, não o seria.”
a) - Que
definição podeis dar da matéria?
“A matéria é o laço que prende o Espírito; é o
instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua
ação.”
(O Livro dos Espíritos)
Em
contraposição, o Espírito é
apresentado como o princípio inteligente do Universo, o que evidencia
estar sendo referida a essência do Espírito.
23. Que é o
Espírito?
“O princípio inteligente do Universo.”
a) - Qual a
natureza íntima do Espírito?
“Não é fácil analisar o Espírito com a vossa
linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é
alguma coisa. Ficai sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe.”
(O Livro dos Espíritos)
Existem,
assim, três elementos gerais do universo: Deus,
Espírito e matéria. Em O Livro
dos Espíritos esses três elementos são designados a trindade universal. Fica esclarecido, também, que a ação do
Espírito sobre a matéria depende de um elemento também material, porém sutil, etéreo, que lhes serve de
liame: o fluido universal (também
designado como fluido elementar
ou fluido primitivo) Esse
fluido universal é o agente de que o Espírito diretamente se utiliza.
Importante destacar que o fluido universal é indicado como necessário para que a matéria física não se desagregue, ou
seja, é um elemento intrínseco à matéria física organizada conquanto seja
sutil, etéreo.
27. Há então
dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito?
“Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas
as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que
existe, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o
fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a
matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa
exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito
classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades
especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria
para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a
matéria; é fluido, como a matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis
combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade
das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou
primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o
princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca
adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.”
(O Livro dos Espíritos)
O
fluido universal é o elemento
primordial de toda a matéria, não sendo senão por modificações suas que
os vários outros tipos de substâncias se formam. Kardec comenta que os
elementos químicos conhecidos são modificações de uma substância primitiva.
33. A mesma
matéria elementar é suscetível de experimentar todas as modificações e de
adquirir todas as propriedades?
“Sim e é isso o que se deve entender, quando dizemos
que tudo está em tudo!”
O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos
os corpos que consideramos simples são meras modificações de uma substância
primitiva. Na impossibilidade em que ainda nos achamos de remontar, a não ser
pelo pensamento, a esta matéria primária, esses corpos são para nós verdadeiros
elementos e podemos, sem maiores conseqüências, tê-los como tais, até nova
ordem.
(O Livro dos Espíritos)
Esse
fluido universal é o elemento em que várias forças na natureza atuam, como a
gravidade, coesão, atração, magnetismo etc.
Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os
corpos. Esse fluido é o éter ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e
dos seres. São-lhe inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da
matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo. Essas múltiplas
forças, indefinidamente variadas segundo as combinações da matéria, localizadas
segundo as massas, diversificadas em seus modos de ação, segundo as
circunstâncias e os meios, são conhecidas na Terra sob os nomes de gravidade,
coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade ativa. Os movimentos
vibratórios do agente são conhecidos sob os nomes de som, calor, luz, etc. Em
outros mundos, elas se apresentam sob outros aspectos, revelam outros
caracteres desconhecidos na Terra e, na imensa amplidão dos céus, forças em
número indefinito se têm desenvolvido numa escala inimaginável, cuja grandeza
tão incapazes somos de avaliar, como o é o crustáceo, no fundo do oceano, para
apreender a universalidade dos fenômenos terrestres.
(A Gênese – pág. 111)
O espaço é, por definição, infinito. Não pode ser abarcado pela razão humana um ponto
além do qual não mais haveria espaço a ser percorrido. De qualquer forma, é
reiterada a idéia de que não há vácuo
absoluto. Há uma substância etérea que a tudo permeia.
35. O Espaço
universal é infinito ou limitado?
“Infinito. Supõe-no limitado: que haverá para lá de
seus limites? Isto te confunde a razão, bem o sei; no entanto, a razão te diz
que não pode ser de outro modo. O mesmo se dá com o infinito em todas as
coisas. Não é na pequenina esfera em que vos achais que podereis
compreendê-lo.”
Supondo-se um limite ao Espaço, por mais distante que
a imaginação o coloque, a razão diz que além desse limite alguma coisa há e
assim, gradativamente, até ao infinito, porquanto, embora essa alguma coisa
fosse o vazio absoluto, ainda seria Espaço.
36. O vácuo
absoluto existe em alguma parte no Espaço universal?
“Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está
ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.”
(O Livro dos Espíritos)
Espaço é uma dessas palavras que exprimem uma idéia
primitiva e axiomática, de si mesma evidente, e a cujo respeito as diversas
definições que se possam dar nada mais fazem do que obscurecê-la. Todos sabemos
o que é o espaço e eu apenas quero firmar que ele é infinito, a fim de que os
nossos estudos ulteriores não encontrem uma barreira opondo-se às investigações
do nosso olhar.
Ora, digo que o espaço é infinito, pela razão de ser
impossível imaginarse-lhe um limite qualquer. e porque, apesar da dificuldade
com que topamos para conceber o infinito, mais fácil nos é avançar eternamente
pelo espaço, em pensamento, do que parar num ponto qualquer, depois do qual não
mais encontrássemos extensão a percorrer.
(A Gênese – pág. 104)
38. Como
criou Deus o Universo?
“Para me servir de uma expressão corrente, direi:
pela sua Vontade. Nada caracteriza melhor essa vontade onipotente do que estas
belas palavras da Gênese - “Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita.”
(O Livro dos Espíritos)
Da
mesma forma, os Espíritos ensinam acerca da transitoriedade do que é criado.
41. Pode um
mundo completamente formado desaparecer e disseminar-se de novo no Espaço a
matéria que o compõe?
“Sim, Deus
renova os mundos, como renova os seres vivos.”
(O Livro dos
Espíritos)
Por outro lado, Kardec menciona a eternidade do Universo.
Se bem compreendemos a relação, ou, antes, a oposição
entre a eternidade e o tempo, se nos familiarizamos com a idéia de que o tempo
não é mais do que uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias, ao
passo que a eternidade é essencialmente una, imóvel e permanente, insuscetível
de qualquer medida, do ponto de vista da duração, compreenderemos que para ela
não há começo, nem fim.
Doutro lado, se fazemos idéia exata - embora,
necessariamente, muito fraca - da
infinidade do poder divino, compreenderemos
como é possível que o Universo haja existido sempre e sempre exista.
Desde que Deus existiu, suas perfeições eternas falaram. Antes que houvessem nascido os tempos, a eternidade incomensurável
recebeu a palavra divina e fecundou o espaço, eterno quanto ela.
(A Gênese – pág. 113) (Grifei)
Portanto,
segundo a Doutrina Espírita o Universo é eterno enquanto objeto do Verbo
Divino. Sem embargo, Kardec expressa uma idéia também presente em outras
correntes espiritualistas: o repouso absoluto antes da primeira criação.
Existindo, por sua natureza, desde toda a eternidade,
Deus criou desde toda eternidade e não poderia ser de outro modo, visto que,
por mais longínqua que seja a época a que recuemos, pela imaginação, os
supostos limites da criação, haverá
sempre, além desse limite, uma eternidade – ponderai bem esta idéia -, uma
eternidade durante a qual as divinas hipóstases, as volições infinitas teriam
permanecido sepultadas em muda letargia inativa e infecunda, uma eternidade de
morte aparente para o Pai eterno que dá vida aos seres; de mutismo indiferente
para o Verbo que os governa; de esterilidade fria e egoísta para o Espírito de
amor e vivificação.
(A Gênese – pág. 113) (Grifei)
Essa idéia de repouso
absoluto anterior à primeira criação não contradiz a perenidade do
Universo na medida em que o repouso absoluto é do Verbo, ao qual se põe o espaço
no aguardo da vivificação.
Compreendamos melhor a grandeza da ação divina e a
sua perpetuidade sob a mão do Ser absoluto! Deus é o Sol dos seres, é a Luz do
mundo. Ora, a aparição do Sol dá nascimento instantâneo a ondas de luz que se
vão espalhando por todos os lados, na extensão. Do mesmo modo, o Universo, nascido do Eterno, remonta
aos períodos inimagináveis do infinito de duração, ao Fiat lux! do início.
(A Gênese – pág. 113) (Grifei)
Novamente
a idéia do fluido cósmico universal é apontada como o elemento que se difunde
no todo universal.
A matéria cósmica primitiva continha os elementos
materiais, fluídicos e vitais de todos os universos que estadeiam suas
magnificências diante da eternidade. Ela é a mãe fecunda de todas as coisas, a
primeira avó e, sobretudo, a eterna geratriz. Absolutamente não desapareceu
essa substância donde provêm as esferas siderais; não morreu essa potência,
pois que ainda, incessantemente, dá à luz novas criações e incessantemente
recebe, reconstituídos, os princípios dos mundos que se apagam do livro eterno.
A
substância etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos
espaços interplanetários; esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos
rarefeito, nas regiões imensas, opulentas de aglomerações de estrelas; mais ou
menos condensado onde o céu astral ainda não brilha; mais ou menos modificado
por diversas combinações, de acordo com as localidades da extensão, nada mais é do que a substância
primitiva onde residem as forças universais, donde a Natureza há tirado todas
as coisas.
(A Gênese – págs. 115/116) (Grifei)
Tema
intimamente relacionado é a Providência Divina. Kardec preocupou-se em
abordá-la diretamente em A Gênese:
A providência é a solicitude de Deus para com as suas
criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas
mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.
(A Gênese – pág. 60)
O
mecanismo dessa providência é esboçado sob a ressalva de ser uma imagem
imperfeita. Kardec fala de um fluido suficientemente sutil para tudo
interpenetrar. Tal fluido, como ocorre com o fluido do perispírito, não é a
sede da inteligência mas é o veículo da inteligência que a ele se vincula.
Kardec não tem certeza de que assim ocorra com o pensamento do Criador, mas aponta
nesse modelo a onipresença e onisciência que permitem sua pronta atuação em
tudo o que existe, como no conceito da Providência Divina. Adiante o trecho:
Seja ou não assim no que concerne ao pensamento de
Deus, isto é, quer o pensamento de Deus atue diretamente, quer por intermédio
de um fluido, para facilitarmos a compreensão à nossa inteligência, figuremo-lo
sob a forma concreta de um fluido inteligente que enche o universo infinito e
penetra todas as partes da criação: a Natureza inteira mergulhada no fluido
divino. Ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma
natureza e têm as mesmas propriedades que ele, cada átomo desse fluido, se
assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos
essenciais da Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está
submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Nenhum
ser haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não esteja saturado dele.
Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade; nenhuma das nossas
ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contacto
ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus
vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Estamos nele, como ele está em
nós, segundo a palavra do Cristo.
(A Gênese – pág. 62)
Os acontecimentos que envolvem interesses gerais da
Humanidade têm a regulá-los a Providência. Quando uma coisa está nos desígnios
de Deus, ela se cumpre a despeito de tudo, ou por um meio, ou por outro.
(A Gênese – pág. 364)
O
Panteísmo é afastado em O Livro dos
Espíritos. As orientações constantes da obra são enfáticas em apontar a existência de Deus
independentemente de toda a sua criação. Não se confundem, pois, Criador e Criação. Mas é também
destacado que o homem não pode ainda compreender certos aspectos de Deus, até
mesmo com uma advertência da falta de propósito em perder-se nas labirínticas
cogitações desse tema.
14. Deus é
um ser distinto, ou será, como opinam alguns, a resultante de todas as forças e
de todas as inteligências do Universo reunidas?
“Se fosse assim, Deus não existiria, porquanto seria
efeito e não causa. Ele não pode ser ao mesmo tempo uma e outra coisa.
“Deus existe; disso não podeis duvidar e é o
essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não
lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais
orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis.
Deixai, consequentemente, de lado todos esses sistemas; tendes bastantes coisas
que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas
próprias imperfeições, a fim de vos libertardes delas, o que será mais útil do
que pretenderdes penetrar no que é impenetrável.”
(O Livro dos Espíritos)
Tanto
quanto a ciência, em O Livro dos
Espíritos vemos alusão à existência no planeta dos elementos fundamentais à
formação da matéria viva.
43. Quando
começou a Terra a ser povoada?
“No começo tudo era caos; os elementos estavam em
confusão. Pouco a pouco cada coisa tomou o seu lugar. Apareceram então os seres
vivos apropriados ao estado do globo.”
44. Donde
vieram para a Terra os seres vivos?
“A Terra lhes continha os germens, que aguardavam
momento favorável para se desenvolverem. Os princípios orgânicos se
congregaram, desde que cessou a atuação da força que os mantinha afastados, e
formaram os germens de todos os seres vivos. Estes germens permaneceram em
estado latente de inércia, como a crisálida e as sementes das plantas, até o
momento propício ao surto de cada espécie. Os seres de cada uma destas se
reuniram, então, e se multiplicaram.”
(O Livro dos Espíritos)
Esses
elementos fundamentais são, na essência, preexistentes ao próprio orbe,
originando-se de elementos fluídicos.
45. Onde estavam os elementos orgânicos, antes
da formação da Terra?
“Achavam-se,
por assim dizer, em estado de fluido
no Espaço, no meio dos Espíritos, ou em outros planetas, à espera da
criação da Terra para começarem existência nova em novo globo.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
O
organismo humano, da mesma
forma, tem sua origem nesses mesmos elementos fundamentais, não diferindo
ontologicamente da vida em geral formada neste planeta.
47. A espécie humana se encontrava entre os
elementos orgânicos contidos no globo terrestre?
“Sim, e veio
a seu tempo. Foi o que deu lugar a que se dissesse que o homem se formou do limo da terra.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
Essa
comunhão acha-se expressa de modo indubitável.
49. Se o gérmen da espécie humana se encontrava
entre os elementos orgânicos do globo, por que não se formam espontaneamente
homens, como na origem dos tempos?
“O princípio
das coisas está nos segredos de Deus. Entretanto, pode dizer-se que os homens,
uma vez espalhados pela Terra, absorvem em si mesmos os elementos necessários à
sua própria formação, para os transmitir segundo as leis da reprodução. O mesmo se deu com as diferentes
espécies de seres vivos.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
Ainda
mais relevante, o ensino de Kardec a respeito da formação da vida orgânica
informa que a mesma lei que preside os fenômenos de cristalização do mineral
conduz à formação dos corpos orgânicos, nos limites da matéria física.
Na formação dos corpos sólidos, um dos mais notáveis
fenômenos é o da cristalização,
que consiste na forma regular que assumem certas substâncias, ao passarem do
estado líquido, ou gasoso, ao estado sólido. Essa forma, que varia de acordo
com a natureza da substância, é geralmente a de sólidos geométricos, tais como
o prisma, o rombóide, o cubo, a pirâmide. Toda gente conhece os cristais de
açúcar cândi; os cristais de rocha, ou sílica cristalizada, são prismas de seis
faces que terminam em pirâmide igualmente hexagonal. O diamante é carbono puro,
ou carvão cristalizado. Os desenhos que no inverno se produzem sobre as
vidraças são devidos à cristalização do vapor dágua durante a congelação, sob a
forma de agulhas prismáticas.
A disposição regular dos cristais corresponde à forma
particular das moléculas de cada corpo. Essas partículas, para nós
infinitamente pequenas, mas que não deixam por isso de ocupar um certo espaço,
solicitadas umas para as outras pela atração molecular, se arrumam e justapõem
segundo o exigem suas formas, de maneira a tomar cada uma o seu lugar em torno
do núcleo ouxprimeiro centro de atração e a constituir um conjunto simétrico.
A cristalização só se opera em certas circunstâncias
favoráveis, fora das quais ela não pode dar-se. São condições essenciais o grau
da temperatura e o repouso absoluto. Compreende-se que um calor muito forte,
mantendo afastadas as moléculas, não lhes permitiria condensarem-se e que a
agitação, impossibilitando-lhes um arranjo simétrico, não lhes consentiria
formar senão uma massa confusa e irregular, donde o não haver cristalização
propriamente dita.
A lei que
preside à formação dos minerais conduz naturalmente à formação dos corpos
orgânicos.
(A Gênese – pág. 194)
Dizendo que as plantas e os animais são formados dos
mesmos princípios constituintes dos minerais, falamos em sentido exclusivamente
material,
pois que aqui apenas do corpo se trata.
(A Gênese –
pág. 197)
Sem falar do princípio inteligente, que é questão à
parte, há, na matéria orgânica, um princípio especial, inapreensível e que
ainda não pode ser definido: o
princípio vital. Ativo no ser vivente, esse princípio se acha extinto
no ser morto; mas, nem por isso deixa de dar à substância propriedades que a
distinguem das substâncias inorgânicas. A Química, que decompõe e recompõe a
maior parte dos corpos inorgânicos, também conseguiu decompor os corpos
orgânicos, porém jamais chegou a reconstituir, sequer, uma folha morta, prova
evidente de que há nestes últimos o que quer que seja, inexistente nos outros.
(A Gênese – pág. 197) (Grifei)
É
o princípio vital, pois, que
caracteriza uma estrutura material como destinada à vida orgânica.
Combinando-se sem o princípio vital, o oxigênio, o
hidrogênio, o azoto e o carbono unicamente teriam formado um mineral ou corpo
inorgânico; o princípio vital, modificando a constituição molecular desse
corpo, dá-lhe propriedades especiais. Em lugar de uma molécula mineral, tem-se
uma molécula de matéria orgânica.
(A Gênese – pág. 198)
Esse
é o ensinamento dos Espíritos.
60. É a mesma a força que une os elementos da
matéria nos corpos orgânicos e nos inorgânicos?
“Sim, a lei
de atração é a mesma para todos.”
61. Há diferença entre a matéria dos corpos
orgânicos e a dos inorgânicos?
“A matéria é
sempre a mesma, porém nos corpos orgânicos está animalizada.”
62. Qual a causa da animalização da matéria?
“Sua união com o princípio vital.”
64. Vimos que o Espírito e a matéria são dois
elementos constitutivos do Universo. O princípio vital será um terceiro?
“É, sem
dúvida, um dos elementos necessários à constituição do Universo, mas que também
tem sua origem na matéria universal
modificada. É, para vós, um elemento, como o oxigênio e o hidrogênio,
que, entretanto, não são elementos primitivos, pois que tudo isso deriva de um
só princípio.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
O
homem, em seu aspecto físico, está totalmente inserido nesse mesmo contexto de
criação da vida orgânica, dele não destoando ou desbordando, não se aventando
de quaisquer privilégios.
Do ponto de vista corpóreo e puramente anatômico, o
homem pertence à classe dos mamíferos, dos quais unicamente difere por alguns
matizes na forma exterior. Quanto ao mais, a mesma composição de todos os
animais, os mesmos órgãos, as mesmas funções e os mesmos modos de nutrição, de
respiração, de secreção, de reprodução. Ele nasce, vive e morre nas mesmas
condições e, quando morre, seu corpo se decompõe, como tudo o que vive. Não há, em seu sangue, na sua carne, cm
seus ossos, um átomo diferente dos que se encontram no corpo dos animais.
Como estes, ao morrer, restitui à terra o oxigênio, o hidrogênio, o azoto e o
carbono que se haviam combinado para formá-lo; e esses elementos, por meio de
novas combinações, vão formar outros corpos minerais, vegetais e animais. É tão
grande a analogia que se estudam as suas funções orgânicas em certos animais,
quando as experiências não podem ser feitas nele próprio.
(A Gênese – pág. 203) (Grifei)
71. A inteligência é atributo do princípio
vital?
“Não, pois
que as plantas vivem e não pensam: só têm vida orgânica. A inteligência e a
matéria são independentes, porquanto um corpo pode viver sem a inteligência.
Mas, a inteligência só por meio dos órgãos materiais pode manifestar-se.
Necessário é que o Espírito se una à matéria animalizada para
intelectualizá-la.”
(O Livro dos
Espíritos)
A
inteligência é uma faculdade especial, peculiar a algumas classes de seres
orgânicos e que lhes dá, com o pensamento, a
vontade de atuar, a
consciência de que existem e de que constituem uma individualidade cada um,
assim como os meios de estabelecerem relações com o mundo exterior e de
proverem às suas necessidades.
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
Kardec
apresenta uma sintética classificação:
Podem distinguir-se
assim: 1°, os seres inanimados, constituídos só de matéria, sem vitalidade nem
inteligência: são os corpos brutos; 2°, os seres animados que não pensam,
formados de matéria e dotados de vitalidade, porém, destituídos de
inteligência; 3°, os seres animados pensantes, formados de matéria, dotados de
vitalidade e tendo a mais um princípio inteligente que lhes outorga a faculdade
de pensar.
(O Livro dos
Espíritos)
·
Seres inanimados
·
Seres animados
apenas com vitalidade
·
Seres animados
dotados de inteligência
Compreender
a vitalidade em contraposição à inteligência é simples. Em O Livro dos Espíritos Kardec questionou a distinção entre a
inteligência e o instinto, aspecto bem mais complexo.
72. Qual a fonte da inteligência?
“Já o
dissemos; a inteligência universal.”
a) - Poder-se-ia dizer que cada ser tira uma
porção de inteligência da fonte universal e a assimila, como tira e assimila o
princípio da vida material?
“Isto não
passa de simples comparação, todavia inexata, porque a inteligência é uma faculdade
própria de cada ser e constitui a sua individualidade moral. Demais, como
sabeis, há coisas que ao homem não é dado penetrar e esta, por enquanto, é
desse número.”
73. O
instinto independe da inteligência?
“Precisamente, não, por isso que o instinto é uma
espécie de inteligência. É uma inteligência sem raciocínio. Por ele é que todos
os seres provêem às suas necessidades.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
A comunhão essencial entre instinto e inteligência é um ensinamento expresso dos
Espíritos. Tanto assim que não há uma linha clara de delimitação entre instinto
e inteligência.
74. Pode estabelecer-se uma linha de separação
entre o instinto e a inteligência, isto é, precisar onde um acaba e começa a
outra?
“Não, porque muitas vezes se confundem.
Mas, muito bem se podem distinguir os atos que decorrem do instinto dos que são
da inteligência.”
75. É acertado dizer-se que as faculdades
instintivas diminuem à medida que crescem as intelectuais?
“Não; o instinto existe sempre, mas o
homem o despreza. O instinto também pode conduzir ao bem. Ele quase sempre nos
guia e algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca se transvia.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
O
ser humano comunga da formação do veículo físico orgânico, como visto, tanto
quanto do desenvolvimento de sua consciência, adquirindo sua bagagem de
instintos assim como a noção de sua individualidade, aperfeiçoando-se na
aquisição da inteligência conforme novos horizontes se abrem degrau a degrau na
escala evolutiva.
Terá o princípio espiritual sua fonte de origem no
elemento cósmico universal? Será ele apenas uma transformação, um modo de
existência desse elemento, como a luz, a eletricidade, o calor, etc.?
Se fosse assim, o princípio espiritual sofreria as
vicissitudes da matéria; extinguir-se-ia pela desagregação, como o princípio
vital; momentânea seria, como a do corpo, a existência do ser inteligente que,
então, ao morrer, volveria ao nada, ou, o que daria na mesma, ao todo
universal. Seria, numa palavra, a sanção das doutrinas materialistas.
(A Gênese – pág. 208)
O
ensinamento dos Espíritos conceitua Espírito
como sendo seres inteligentes da
criação. Isso porque o termo em si passa a referir não mais o princípio
inteligente mas sim o ser que atingiu
individualidade e consciência.
76. Que
definição se pode dar dos Espíritos?
“Pode dizer-se que os Espíritos são os seres
inteligentes da criação. Povoam o Universo, fora do mundo material.”
NOTA - A palavra Espírito é empregada aqui para designar as individualidades dos
seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente do Universo.
(O Livro dos Espíritos)
A
individualidade é expressamente colocada como atributo do Espírito.
79. Pois que
há dois elementos gerais no Universo: o elemento inteligente e o elemento
material, poder-se-á dizer que os Espíritos são formados do elemento
inteligente, como os corpos inertes o são do elemento material?
“Evidentemente. Os
Espíritos são a individualização do princípio inteligente, como os
corpos são a individualização do princípio material. A época e o modo por que
essa formação se operou é que são desconhecidos.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)
No
que toca à origem do Espírito, Kardec assevera que são criados simples e ignorantes.
O que Deus permite que seus mensageiros lhe digam e o
que, aliás, o próprio homem pode deduzir do princípio da soberana justiça,
atributo essencial da Divindade, é que todos procedem do mesmo ponto de
partida; que todos são criados simples e ignorantes, com igual aptidão para
progredir pelas suas atividades individuais; que todos atingirão o grau máximo
da perfeição com seus esforços pessoais; que todos, sendo filhos do mesmo Pai,
são objeto de igual solicitude; que nenhum há mais favorecido ou melhor dotado
do que os outros, nem dispensado do trabalho imposto aos demais para atingirem
a meta.
(A Gênese – pág. 209)
Evidencia-se,
por outro lado, que a evolução é lei fundamental para o ser espiritual.
Progredir é condição normal dos seres espirituais e a
perfeição relativa o fim que lhes cumpre alcançar. Ora, havendo Deus criado
desde toda a eternidade, e criando incessantemente, também desde toda a
eternidade teia havido seres que atingiram o ponto culminante da escala.
Antes que existisse a Terra, mundos sem conta haviam
sucedido a mundos e, quando a Terra saiu do caos dos elementos, o espaço estava
povoado de seres espirituais em todos os graus de
adiantamento, desde os que surgiam para a vida até os que, desde toda a
eternidade, haviam tomado lugar entre os puros Espíritos, vulgarmente chamados
anjos.
(A Gênese – pág. 210)
No
estudo deste tema, inevitável que abordemos a questão da dualidade Bem versus Mal. Iniciemos com a
conceituação.
629. Que
definição se pode dar da moral?
“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de
distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem
procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de
Deus.”
(O Livro dos Espíritos)
Como
regra básica, portanto, procede bem
quem procura o bem comum. A noção de Bem e Mal está no homem como atributo
de sua inteligência para discernir.
630. Como se
pode distinguir o bem do mal?
“O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal,
tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei
de Deus. Fazer o mal é infringi-la.”
631. Tem
meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?
“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu
inteligência para distinguir um do outro.”
632. Estando
sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do mal e
crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal?
“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou
não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.”
(O Livro dos Espíritos)
Talvez
uma das normas de conduta mais importantes: fazer ao próximo o que desejamos que nos façam. A distinção
entre várias situações limítrofes e confusas tem aí o seu fundamento.
Uma
abordagem muito importante foi feita por Kardec quanto à existência do Mal na natureza das coisas. A resposta dada
pelos Espíritos é muito significativa, apontando expressamente a necessidade de experiência do ser
tanto no Bem como no Mal.
634. Por que
está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia Deus ter criado
a Humanidade em melhores condições?
“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e
ignorantes (115). Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para
ele, se toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. Se não existissem
montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir e descer; se não
existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso, portanto, que
conheça o bem e o mau. Eis por que se une ao corpo.” (119) (Grifei)
(O Livro dos Espíritos)
Disso
advém a necessidade de um maior questionamento acerca da origem do Mal. Kardec
volta a abordar o tema em A Gênese (pág.
69):
Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo
todo sabedoria,todo bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de
participar dos seus
atributos, porquanto o que é infinitamente sábio,
justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que
observamos não pode ter nele a sua origem.
Após apontar a existência de dois tipos de Mal, (os
evitáveis e os inevitáveis), Kardec propõe que o conceito em si de Mal é relativo. Uma circunstância muitas
vezes pode aparentar ser um mal, quando, na verdade, se conhecidos fossem a
causa, o objetivo e o resultado definitivo, seria tida como um bem.
O homem, cujas faculdades são restritas, não pode
penetrar, nem abarcar o conjunto dos desígnios do Criador; aprecia as coisas do
ponto de vista da sua personalidade, dos interesses factícios e convencionais
que criou para si mesmo e que não se compreendem na ordem da Natureza. Por isso
é que, muitas vezes, se lhe afigura mau e injusto aquilo que consideraria justo
e admirável, se lhe conhecesse a causa, o objetivo, o resultado definitivo.
Pesquisando a razão de ser e a utilidade de cada coisa, verificará que tudo traz
o sinete da sabedoria infinita e se dobrará a essa sabedoria, mesmo com relação
ao que lhe não seja compreensível.
(A Gênese –
pág. 70)
É
bem nesse contexto que podemos entender, pois, que a experiência no Mal leva ao
Bem: dir-se-ia que circunstâncias tidas
como males leva a um bem. Mesmo no que se refere à livres opções do
ser, que freqüentemente o relega à dor por sua própria escolha, temos fatos e
circunstâncias de aprendizado pela experiência. Muitos são os aspectos da vida
em que o aprendizado não se opera senão à conta do treinamento inafastável e o
respectivo esforço e dedicação. Vejamos adiante:
Um momento chega em que o excesso do mal moral se
torna intolerável e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído
pela experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio, sempre
por efeito do seu livre-arbítrio. Quando toma melhor caminho, é por sua vontade
e porque reconheceu os inconvenientes do outro. A necessidade, pois, o constrange a melhorar-se moralmente,
para ser mais feliz, do mesmo modo que o constrangeu a melhorar as condições
materiais da sua existência. (Grifei)
(A Gênese – pág. 72)
Pode dizer-se que o mal é a ausência do bem, como o
frio é a ausência do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também
o mal não é atributo distinto; um é o negativo do outro. Onde não existe o bem,
forçosamente existe o mal. Não praticar o mal, já é um princípio do bem. Deus
somente quer o bem; só do homem procede o mal. Se na criação houvesse um ser
preposto ao mal, ninguém o poderia evitar; mas, tendo o homem a causa do mal em
SI MESMO, tendo simultaneamente o livre-arbítrio e por guia as leis divinas,
evitá-lo-á sempre que o queira.
(A Gênese – pág. 72)
Estudando-se todas as paixões e, mesmo, todos os vícios, vê-se que as raízes de umas e outros se acham no
instinto de conservação, instinto que se encontra em toda a pujança nos
animais e nos seres primitivos mais próximos da animalidade, nos quais ele
exclusivamente domina, sem o contrapeso do senso moral, por não ter ainda o ser
nascido para a vida intelectual. O instinto se enfraquece, à medida que a
inteligência se desenvolve, porque esta domina a matéria. O Espírito tem por destino a vida espiritual, porém, nas primeiras
fases da sua existência corpórea, somente a exigências materiais lhe cumpre
satisfazer e, para tal, o exercício das paixões constitui uma necessidade para
o efeito da conservação da espécie e dos indivíduos, materialmente falando.
Mas, uma vez saído desse período, outras necessidades se lhe apresentam, a
princípio semimorais e semimateriais, depois exclusivamente morais. É então que
o Espírito exerce domínio sobre a matéria, sacode-lhe o jugo, avança pela senda
providencial que se lhe acha traçada e se aproxima do seu destino final. Se, ao
contrário, ele se deixa dominar pela matéria, atrasa-se e se identifica com o
bruto. Nessa situação, o que era
outrora um bem, porque era uma necessidade da sua natureza, transforma-se num
mal, não só porque já não constitui uma necessidade, como porque se
torna prejudicial à espiritualização do ser. Muita coisa, que é qualidade na
criança, torna-se defeito no adulto.
O mal é, pois, relativo e a responsabilidade é proporcionada ao grau de
adiantamento.
(A Gênese – pág. 73). (Grifei)
Eis
que o mal (ou, melhor dizendo, muito
do que é tido como mal) é uma fase do desenvolvimento do ser. O que
outrora era um bem, torna-se um mal, conforme o ser deixa a animalidade e
adentra à noção de si conforme o seu grau de adiantamento.
Todas as paixões têm, portanto, uma utilidade
providencial, visto que, a não ser assim, Deus teria feito coisas inúteis e,
até, nocivas. No abuso é que reside o mal e o homem abusa em virtude do seu
livre-arbítrio. Mais tarde, esclarecido pelo seu próprio interesse, livremente
escolhe entre o bem e o mal.
(A Gênese – pág. 74)
A
situação do ser enquanto ainda nos limites mais primitivos é destacada por
Kardec em O Céu e o Inferno:
Como prova da sua inocência, o quadro dos homens primitivos extasiados
ante a Natureza e admirando nela a bondade do Criador é, sem dúvida, muito
poético, mas pouco real. De fato, quanto mais se aproxima do primitivo estado,
mais o homem se escraviza ao instinto, como se verifica ainda hoje nos povos
bárbaros e selvagens contemporâneos; o que mais o preocupa, ou, antes, o que
exclusivamente o preocupa é a satisfação das necessidades materiais, mesmo
porque não tem outras.
O único sentido que pode torná-lo acessível aos gozos puramente morais
não se desenvolve senão gradual e morosamente; a alma tem também a sua
infância, a sua adolescência e virilidade como o corpo humano; mas para
compreender o abstrato, quantas evoluções não tem ela de experimentar na
Humanidade! Por quantas existências não deve ela passar!
(O Céu e o Inferno – pág. 115) (Grifei)
Mais
adiante:
Se nos remontarmos a estes últimos (homens primitivos), então,
surpreendê-los-emos mais exclusivamente preocupados com a satisfação de necessidades
materiais, resumindo o bem e o mal neste mundo somente no que concerne à
satisfação ou prejuízo dessas necessidades.
(O Céu e o Inferno – pág. 116)
Mas o homem é comumente mais sensível ao mal que ao bem; este lhe parece
natural, ao passo que aquele mais o afeta. Nem por outra razão se explica, nos
cultos primitivos, as cerimônias sempre mais numerosas em honra ao poder
maléfico: o temor suplanta o reconhecimento.
(O Céu e o Inferno – fl. 117)
É
muito difícil entender exatamente em que ponto o ser adquire discernimento
suficiente para identificar o caráter ilícito de uma conduta, deixando de se
arrastar pelos instintos para decidir sobre o que deve ou não ser feito. Kardec
denomina paixões os impulsos que advêm do instinto de conservação, paixões cujo exercício constituem uma
necessidade para o atendimento das necessidades materiais das primeiras fases
da existência corpórea do Espírito. Em um dado momento, o ser entende
que deve atender a essas necessidades ao mesmo tempo em que se vai
estabelecendo uma escala de valores em sua incipiente capacidade de avaliação.
O ser passa a considerar, desde os rudimentos mais simples, a idéia de certo e
errado. Para cada aumento na capacidade de valorar entre certo e errado,
aumenta-lhe simetricamente a responsabilidade pela decisão que tomar.
Essa responsabilidade progressiva a
partir de certo grau traz a plena imputabilidade do ser humano como sujeito de
acertos e desacertos, tornando-o o legítimo destinatário das conseqüências de
seus atos.
O
ensinamento ministrado no Capítulo VI de A
Gênese foi assinado por Galileu
(esse capítulo é textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à
Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título - Estudos uranográficos e assinadas
GALILEU – nota à página 103). Ele revelou a temeridade de ofertar uma exposição
clara e pretensamente completa acerca da conquista do livre-arbítrio pelos
Espíritos. Ainda assim é um ensinamento profundo e que não podemos ignorar:
Até aqui, porém, temos guardado silêncio sobre o
mundo espiritual, que também faz parte da criação e cumpre seus destinos
conforme as augustas prescrições do Senhor.
Acerca do
modo da criação dos Espíritos, entretanto, não posso ministrar mais que um
ensino muito restrito, em virtude da minha própria ignorância e também porque
tenho ainda de calar-me no que concerne a certas questões, se bem já me haja
sido dado aprofundá-las.
Aos que desejem religiosamente conhecer e se mostrem
humildes perante Deus, direi, rogando-lhes, todavia, que nenhum sistema
prematuro baseiem nas minhas palavras, o seguinte: O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá,
simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos
destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores,
entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização. Unicamente
a datar do dia em que o Senhor lhe imprime na fronte o seu tipo augusto, o
Espírito toma lugar no seio das humanidades.
De novo peço: não construais sobre as minhas palavras
os vossos raciocínios, tão tristemente célebres na história da Metafísica. Eu
preferiria mil vezes calar-me sobre tão elevadas questões, tão acima das nossas
meditações ordinárias, a vos expor a desnaturar o sentido de meu ensino e a vos
lançar, por culpa minha, nos inextricáveis dédalos do deísmo ou do fatalismo.
(A Gênese –
pág. 117)
Entretanto,
é do Ensino dos Espíritos a seguinte abordagem da questão do homem enquanto ser
inteligente, em comparação aos animais.
592. Se, pelo que toca à inteligência, comparamos
o homem e os animais, parece difícil estabelecer-se uma linha de demarcação
entre aquele e estes, porquanto alguns animais mostram, sob esse aspecto,
notória superioridade sobre certos homens. Pode essa linha de demarcação ser
estabelecida de modo preciso?
“A este
respeito é completo o desacordo entre os vossos filósofos. Querem uns que o
homem seja um animal e outros que o animal seja um homem. Estão todos em erro. O homem é um ser à parte, que desce
muito baixo algumas vezes e que pode também elevar-se muito alto. Pelo
físico, é como os animais e menos bem dotado do que muitos destes. A Natureza
lhes deu tudo o que o homem é obrigado a inventar
com a sua inteligência, para satisfação de suas necessidades e para sua
conservação. Seu corpo se destrói, como o dos animais, é certo, mas ao seu Espírito está assinado um
destino que só ele pode compreender, porque só ele é inteiramente livre.
Pobres homens, que vos rebaixais mais do que os brutos! Não sabeis
distinguir-vos deles? Reconhecei o
homem pela faculdade de pensar em Deus.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
Ainda
assim, o Ensinamento dos Espíritos, harmonicamente com o que foi dito antes (“o
instinto é uma espécie de inteligência”), não distingue os animais como seres
apenas instintivos.
593. Poder-se-á dizer que os animais só obram por
instinto?
“Ainda aí há
um sistema. É verdade que na maioria dos animais domina o instinto. Mas, não
vês que muitos obram denotando acentuada vontade? É que têm inteligência, porém limitada.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
Compreendendo
que o livre-arbítrio é um atributo da inteligência, os Espíritos assim se
expressam quanto aos animais:
595. Gozam de livre-arbítrio os animais, para a
prática dos seus atos?
“Os animais
não são simples máquinas, como supondes. Contudo, a liberdade de ação, de que
desfrutam, é limitada pelas suas necessidades e não se pode comparar à do
homem. Sendo muitíssimo inferiores a este, não têm os mesmos deveres que ele. A liberdade, possuem-na restrita aos
atos da vida material.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
Os animais, pois, possuem
liberdade de agir, conquanto nos limites de suas necessidades
materiais. Mais do que isso, os
animais são dotados de um corpo espiritual que é a sede dessa limitada
inteligência, corpo espiritual que remanesce ao corpo físico e que conserva a sua individualidade
após a morte deste.
597. Pois que os animais possuem uma inteligência
que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio
independente da matéria?
“Há e que sobrevive ao corpo.”
a) - Será esse princípio uma alma semelhante à do
homem?
“É também
uma alma, se quiserdes, dependendo
isto do sentido que se der a esta palavra. É, porém, inferior à do
homem. Há entre a alma dos animais e
a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.”
598. Após a morte, conserva a alma dos animais a
sua individualidade e a consciência de si mesma?
“Conserva sua individualidade; quanto à
consciência do seu eu, não. A
vida inteligente lhe permanece em estado latente.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
O
princípio inteligente que progride nos corpos animais advém do elemento
inteligente universal.
606. Donde tiram os animais o princípio
inteligente que constitui a alma de natureza especial de que são dotados?
“Do elemento
inteligente universal.”
a) - Então,
emanam de um único princípio a inteligência do homem e a dos animais?
“Sem dúvida alguma, porém, no homem, passou por uma
elaboração que a coloca acima da que existe no animal.”
(O Livro dos
Espíritos) (Grifei)
De
se notar que os Espíritos ensinam que entre a alma do homem e a alma do animal
há uma imensa distância evolutiva:
[...]
Há entre a alma dos animais e a do homem distância
equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus
... no homem, passou por uma elaboração que a coloca
acima da que existe no animal.
[...]
Evidencia-se
que o princípio inteligente evolui até atingir a condição de individualidade e,
depois, a consciência de si mesmo:
607. Dissestes
(190) que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da
infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia
para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do seu desenvolvimento?
“Numa série de existências que precedem o período a que chamais Humanidade.”
a) - Parece
que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente
dos seres inferiores da criação, não?
“Já não dissemos que todo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade?
Nesses seres, cuja totalidade estais
longe de conhecer, é que o
princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia
para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho
preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização,
começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do
mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da infância se
segue a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza. Nessa
origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Sentir-se-ão humilhados os
grandes gênios por terem sido fetos informes nas entranhas que os geraram? Se
alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a sua inferioridade perante Deus e
sua impotência para lhe sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a
sabedoria das leis que regem a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de
Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na Natureza.
Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado seres inteligentes
sem futuro, fora blasfemar da Sua bondade, que se estende por sobre todas as
suas criaturas.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)
Nesse
texto de O Livro dos Espíritos, em
consonância com o anteriormente referido ensino do Espírito referenciado como
Galileu (A Gênese – pág. 117 – “O
Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente
com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver
passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se
elabora lentamente a obra da sua individualização. Unicamente a datar do dia em
que o Senhor lhe imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espírito toma lugar no
seio das humanidades.”), não parece haver outra possibilidade senão a de
ver a origem comum do homem e todos os demais seres criados. Veja-se que a pergunta pressupõe a alma como tendo sido o mesmo princípio
inteligente dos seres inferiores da criação, advindo, da resposta afirmativa,
que há identidade entre eles. Não há uma criação especial para o homem.
Sem embargo, o homem representa já uma fase, essa sim (fase), especial em
relação aos animais e seres mais simples.
De
qualquer forma, é assim expresso pelos Espíritos:
610. Ter-se-ão enganado os Espíritos que
disseram constituir o homem um ser à parte na ordem da criação?
“Não, mas a
questão não fora desenvolvida. Demais, há coisas que só a seu tempo podem ser
esclarecidas. O homem é, com efeito, um ser à parte, visto possuir faculdades
que o distinguem de todos os outros e ter outro destino. A espécie
humana é a que Deus escolheu para a encarnação do seres que podem conhecê-Lo.”
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)
Na tradução de J.
Herculado Pires:
610. Os Espíritos que disseram que o homem é um ser à
parte na ordem da Criação enganaram-se, então?
– Não, mas a questão não havia sido desenvolvida, e
há coisas que não podem vir senão a seu tempo. O homem é, de fato, um ser à
parte, porque tem faculdades que o distinguem de todos os outros e tem outro
destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que
podem conhecer.
(O Livro dos Espíritos – grifo original)
Os
Espíritos deixam assente que há informações que só devem vir plenamente no
tempo certo da maturação do conhecimento humano. Então, conquanto asseverem que
a espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que podem
atingir o conhecimento (que podem conhecê-Lo), é imperativo harmonizar-se esse informe com tudo o mais que foi
codificado pelos Espíritos. A alma, ou seja, o Espírito encarnado, foi o
princípio inteligente dos seres inferiores da criação, como já destacado mais
acima. Ademais o trecho mais significativo é:
[...] o princípio inteligente sofre uma transformação
e se torna Espírito. Entra então no período da humanização,
começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do
mal e a responsabilidade dos seus atos [...]
(O Livro dos
Espíritos – pergunta 607-A)
Na
tradução de J. Herculano Pires:
[...] o
princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. É então que
começa para ele o período de humanidade, e com este a consciência do seu
futuro, a distinção do bem e do mal e a responsabilidade dos seus atos [...]
(O Livro dos
Espíritos – pergunta 607-A)
Desse
modo, concluir nos estritos limites da parte final da resposta dada à pergunta
610, concebendo o homem como um ser originário de uma criação especial, criaria uma antinomia interna na
Doutrina Espírita, situação inconcebível ante a origem dos
ensinamentos.
Sem
dúvida a interpretação para essa resposta, no contexto de tudo o mais que foi
exposto pelos Espíritos, implica em considerar que o homem é especial aos olhos de Deus por ser homem. Ou seja,
um ser que atingiu a fase de
humanidade.
Referindo-se
ao Espírito como o ser espiritual, individualizado e consciente de si, em O Livro dos Espíritos vê-se o
ensinamento de que essa essência espiritual limita-se por um envoltório chamado
perispírito. É semimaterial e
formado pelos fluidos oriundos do
fluido cósmico universal existentes em cada planeta.
93. O
Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns,
está sempre envolto numa substância qualquer?
“Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus
olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para
poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.”
Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do
mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao
Espírito propriamente dito.
94. D e onde
tira o Espírito o seu invólucro semimaterial?
“Do fluido universal de cada globo, razão por que não
é idêntico em todos os mundos. Passando de um mundo a outro, o Espírito muda de
envoltório, como mudais de roupa.”
(O Livro dos Espíritos)
O
perispírito é, em última análise, uma modificação do fluido cósmico universal.
Kardec apresenta um conceito bem elucidativo: o perispírito é uma condensação do fluido cósmico universal em torno
de um foco de inteligência. Na verdade, o perispírito é moldado a
partir dos fluidos ambientais de cada planeta, ou seja, das modificações do
fluido universal existentes em cada planeta, como já destacado.
O perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um
dos mais importantes produtos do fluido cósmico; é uma condensação desse fluido
em torno de um foco de inteligência ou alma. Já vimos que também o corpo carnal
tem seu princípio de origem nesse mesmo fluido
condensado e transformado em matéria tangível. No perispírito, a transformação
molecular se opera diferentemente, porquanto o fluido conserva a sua
imponderabilidade e suas qualidades etéreas. O corpo perispirítico e o corpo
carnal têm pois origem no mesmo elemento primitivo; ambos são matéria, ainda
que em dois estados diferentes.
Do meio onde se encontra é que o Espírito extrai o
seu perispírito, isto é, esse envoltório ele o forma dos fluidos ambientes.
Resulta daí que os elementos constitutivos do perispírito naturalmente variam,
conforme os
mundos.
(A Gênese –
pág. 277)
A
formação do perispírito, sendo feita sobre os fluidos do ambiente em que o
Espírito se situa, obedece também a uma gradação conforme o grau evolutivo
desse Espírito. Em um mesmo planeta há
vários padrões de fluidos, uns mais grosseiros, outros mais etéreos,
ficando a constituição perispirítica
em proporção direta ao adiantamento do Espírito, tanto maior a sua
materialidade quanto menor o adiantamento e vice-versa.
A camada de fluidos espirituais que cerca a Terra se
pode comparar às camadas inferiores da atmosfera, mais pesadas, mais compactas,
menos puras, do que as camadas superiores. Não são homogêneos esses fluidos;
são uma mistura de moléculas de diversas qualidades, entre as quais
necessariamente se encontram. as moléculas elementares que lhes formam a base,
porém mais ou menos alteradas. Os efeitos que esses fluidos produzem estarão na
razão da soma das partes puras que eles encerram.
[...]
Os Espíritos chamados a viver naquele meio tiram dele
seus perispíritos;
porém, conforme seja mais ou menos depurado o
Espírito, seu perispírito se formará das partes mais puras ou das mais
grosseiras do fluido peculiar ao mundo onde ele encarna.
(A Gênese – pág. 279)
Adiante, uma nota de
Kardec lançada em O Livro dos Médiuns,
muito interesante e elucidativa:
Já foi explicado que a densidade do perispírito, se
assim se pode dizer, varia de acordo
com o estado dos mundos. Parece
que também varia, em um mesmo mundo, de indivíduo para indivíduo. Nos Espíritos
moralmente adiantados, é mais
sutil e se aproxima da dos Espíritos elevados; nos Espíritos inferiores, ao
contrário, aproxima-se da matéria e é o que faz que os Espíritos de baixa
condição conservem por muito tempo as ilusões da vida terrestre. Esses
pensam e obram como se ainda fossem vivos; experimentam os mesmos desejos e
quase que se poderia dizer a mesma sensualidade. Esta grosseria do perispírito,
dando-lhe mais afinidade com a
matéria, torna os Espíritos inferiores mais aptos às manifestações físicas.
(O Livro dos Médiuns – pág. 94) (Grifei)
Na tradução de J.
Herculado Pires:
Observação - A densidade do perispírito, se assim se pode dizer, varia de acordo com a
natureza dos mundos, como já foi ensinado. (O Livro dos Espíritos, n° 94
e 187). Parece variar também no mesmo
mundo, segundo os indivíduos. Nos Espíritos moralmente adiantados ele é mais
sutil e se aproxima do perispírito das entidades elevadas: nos Espíritos
inferiores aproxima-se da matéria e é isso que determina a persistência das
ilusões da vida terrena nas entidades de baixa categoria, que pensam e agem
como se ainda estivessem na vida física, tendo os mesmos desejos e quase
poderíamos dizer a mesma sensualidade. Essa densidade maior do perispírito,
estabelecendo maior afinidade com a matéria, torna os Espíritos inferiores mais
aptos para as manifestações físicas.
(O Livro dos Médiuns – pág. 47)
Não por outra razão,
certamente, foi destacado em A Gênese que o perispírito é constituído consoante
as características do Espírito que o forma.
Resulta disso este fato capital: a constituição íntima do perispírito não é idêntica em todos os
Espíritos encarnados ou desencarnados que povoam a Terra ou o espaço
que a circunda. O mesmo já não se dá com o corpo carnal, que, como foi
demonstrado, se forma dos mesmos elementos, qualquer que seja a superioridade
ou a inferioridade do Espírito. Por isso, em todos, são os mesmos os efeitos
que o corpo produz, semelhantes as necessidades, ao passo que diferem em tudo o
que respeita ao perispírito.
Também resulta que: o envoltório perispirítico de um Espírito se modifica com o
progresso moral que este realiza em cada encarnação, embora ele encarne
no mesmo meio; que os Espíritos superiores, encarnando excepcionalmente, em
missão, num mundo inferior, têm perispírito menos grosseiro do que o dos
indígenas desse mundo.
(A Gênese – pág. 279 - grifei)
A composição do
perispírito nos permite entender que existe efetivamente uma interação do
Espírito em relação aos fluidos em geral. O perispírito é feito a partir dos
fluidos ambientais de cada orbe, como visto. Assim, os mais variados fluidos
são movimentados, atraídos, absorvidos, enfim empregados pelo Espírito.
Impende buscarmos
compreender o que sejam os fluidos.
Uma concepção possível
acerca de fluidos é: Fluidos são irradiações manifestas no meio
em que se caracterizam.
O fluido universal se
espraia por todo o Universo. É denominado em A Gênese como fluido cósmico
universal. Conquanto a ciência não mais contemple o éter, podemos ter em mente
que é esse éter o meio universal de
irradiação do fluido primordial. Éter, aqui (independentemente de
variações que esse termo possa ter consoante essa ou aquela escola
espiritualista), é uma referência ao corpo
do fluido universal. É o meio pelo
qual o fluido é irradiado pela vontade de Deus. O próprio meio é comumente
referido como o fluido. No entanto, o fluido universal, como já visto antes,
não é uma emanação do Criador mas dele advém pelo exercício de Sua Vontade, que
o imprime no todo universal para os fins a que se destina, no concerto da
Grande Obra, que assim se irradia à eternidade e por todo o infinito. É uma
irradiação no meio.
I. Será o fluido universal uma emanação da divindade?
"Não."
II. Será uma criação da divindade?
"Tudo é criado, exceto Deus."
III. O fluido universal será ao mesmo tempo o
elemento universal?
"Sim, é o princípio elementar de todas as
coisas."
(O Livro dos Médiuns – pág. 92)
Como já visto, a trindade universal é Deus – Espírito
– Matéria. Portanto, relembremos que à exceção de Deus e do Espírito, tudo o
mais é matéria. No caso do éter universal, é a matéria quintessenciada (o termo quintessência vem de quinta essência, no sentido de ser
pertinente ao quinto elemento da natureza, além dos tradicionais
fogo-terra-água-ar). Não é de natureza espiritual, conquanto seja comum
dizer-se “fluido espiritual”. É matéria etérea, imponderável, mas matéria. É o éter.
O meio etérico em que se
propaga o Pensamento do Criador, conforme seja irradiado nessa ou naquela faixa
de vibrações, terá propriedades diferentes conforme a Vontade de Deus.
No estado de eterização, o fluido cósmico não é
uniforme; sem deixar de ser etéreo, sofre
modificações tão variadas em gênero e mais numerosas talvez do que no estado de
matéria tangível. Essas modificações constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo
princípio, são dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos
peculiares ao mundo invisível.
(A Gênese – pág. 274 – grifei)
Cada orbe, considerando as
numerosíssimas variáveis de composição e finalidade, cerca-se de fluidos tão
variáveis quanto próprios ao ambiente desse orbe. Eis que os fluidos que
existem na Terra não são os mesmos existentes em outros planetas, como já
ficara destacado.
Consoante a Codificação
Espírita:
Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados
do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera dos seres
espirituais; o elemento donde eles
tiram os materiais sobre que operam; o meio onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à
visão e à audição do Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais,
impressionáveis somente à matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar
ao mundo espiritual, diferente, pela causa e pelos efeitos da luz ordinária;
finalmente, o veículo do pensamento, como o ar o é do som.
(A Gênese – pág. 281 – grifei)
O meio etérico circundante
reage prontamente ao pensamento e à
vontade dos Espíritos. Os fluidos mudam sua cor, densidade,
subdividem-se, reaglomeram-se. Mas
não percamos de vista que os fluidos são irradiações no meio etérico, de modo
que essas irradiações podem vibrar nos mais variados patamares, gerando luzes,
sons, odores, tanto quanto podem condensar o meio até mesmo a tangibilidade
física.
Basta que o Espírito pense uma coisa, para que esta
se produza, como basta que modele uma
ária, para que esta repercuta na atmosfera.
(A Gênese – pág. 282 – grifei)
É assim, por exemplo, que um Espírito se faz visível a um encarnado
que possua a vista psíquica, sob as aparências que tinha quando vivo na época
em que o segundo o conheceu, embora haja ele tido, depois dessa época, muitas encarnações.
Apresenta-se com o vestuário, os
sinais exteriores - enfermidades, cicatrizes, membros amputados, etc. -
que tinha então. Um decapitado se apresentará sem a cabeça. Não quer isso dizer
que haja conservado essas aparências, certo que não, porquanto, como Espírito,
ele não é coxo, nem maneta, nem zarolho, nem decapitado; o que se dá é que, retrocedendo
o seu pensamento à época em que tinha tais defeitos, seu perispírito lhes toma instantaneamente as aparências,
que deixam de existir logo que o mesmo pensamento cessa de agir naquele
sentido. Se, pois, de uma vez ele foi negro e branco de outra, apresentar-se-á
como branco ou negro, conforme a encarnação a que se refira a sua evocação e à
que se transporte o seu pensamento.
(A Gênese – pág. 282 – grifei)
Importante notar que, como
o Espírito tem um perispírito fluídico, tudo o que for modelado no meio etérico
terá para ele plena existência objetiva e não apenas uma forma sem substância.
Por análogo efeito, o pensamento do Espírito cria
fluidicamente os objetos que ele esteja habituado a usar. Um avarento manuseará
ouro, um militar trará suas armas e seu uniforme, um fumante o seu cachimbo, um
lavrador a sua charrua e seus bois, uma mulher velha a sua roca. Para o Espírito, que é, também ele,
fluídico, esses objetos fluidicos são tão reais, como o eram, no estado
material, para o homem vivo; mas, pela razão de serem criações do
pensamento, a existência deles é tão fugitiva quanto a deste.
(A Gênese – pág. 282 – grifei)
Essa capacidade de
plasmagem e modelagem fluídica é comumente denominada ideoplastia. A ideoplastia traz à tona uma verdade a que o
homem comum não está habituado: nada
é mais ilusório do que a privacidade de um pensamento.
Há mais: criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório
perispirítico, como num espelho; toma nele corpo e aí de certo modo se fotografa.
Tenha um homem, por exemplo, a idéia de matar a outro: embora o corpo material
se lhe conserve impassível, seu corpo fluídico é posto em ação pelo pensamento
e reproduz todos os matizes deste
último; executa fluidicamente o gesto, o ato que intentou praticar. O
pensamento cria a imagem da vítima e a cena inteira é pintada, como num quadro,
tal qual se lhe desenrola no espírito.
Desse modo é que os
mais secretos movimentos da alma repercutem no envoltório fluídico; que uma
alma pode ler noutra alma como num livro e ver o que não é perceptível aos
olhos do corpo. Contudo, vendo a intenção, pode ela pressentir a
execução do ato que lhe será a consequência, mas não pode determinar o instante
em que o mesmo ato será executado, nem lhe assinalar os pormenores, nem, ainda,
afirmar que ele se dê, porque circunstâncias ulteriores poderão modificar os
planos assentados e mudar as disposições. Ele não pode ver o que ainda não
esteja no pensamento do outro; o que vê é a preocupação habitual do indivíduo,
seus desejos, seus projetos, seus desígnios bons ou maus.
(A Gênese – pág. 283 – grifei)
Como já observado mais de
uma vez, o fluido é uma irradiação no meio etérico. Isso é muito relevante
porque, paralelamente a tudo o que já foi dito, os fluidos tocam-se também de propriedades correlatas à qualidade do
pensamento que o imprime. Um fluido é um fluido. É matéria. Ainda que
etérica, é matéria. Mas é uma forma
de matéria que absorve vibração por vibração o pensamento modelador,
tomando-lhe os efeitos diretos de suas características boas ou ruins.
O pensamento do encarnado atua sobre os fluidos
espirituais, como o dos desencarnados, e se transmite de Espírito a Espírito
pelas mesmas vias e, conforme seja
bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos ambientes.
Desde que estes se modificam pela projeção dos
pensamentos do Espírito, seu invólucro perispirítico, que é parte constituinte
do seu ser e que recebe de modo direto e permanente a impressão de seus
pensamentos, há de, ainda mais, guardar a de suas qualidades boas ou más. Os fluidos viciados pelos eflúvios dos
maus Espíritos podem depurar-se pelo afastamento destes, cujos perispíritos,
porém, serão sempre os mesmos, enquanto o Espírito não se modificar por si
próprio.
Sendo o perispírito dos encarnados de natureza
idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma
esponja se embebe de um líquido. Esses
fluidos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta, quanto, por sua
expansão e sua irradiação, o perispírito com eles se confunde.
(A Gênese – pág. 285 – grifei)
Ainda mais importante, a ação dos fluidos modelados
pelo pensamento ruim atingem o próprio corpo físico.
Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este, a
seu turno, reage sobre o organismo
material com que se acha em contacto molecular. Se os eflúvios são de
boa natureza, o corpo ressente uma impressão salutar; se são maus, a impressão
é penosa. Se são permanentes e
enérgicos, os eflúvios maus podem ocasionar desordens físicas; não é outra a
causa de certas enfermidades.
Os meios onde superabundam os maus Espíritos são,
pois, impregnados de maus fluidos que o encarnado absorve pelos poros
perispiríticos, como absorve pelos poros do corpo os miasmas pestilenciais.
(A Gênese – págs. 285/286 – grifei)
Evidencia-se a extrema
necessidade de manter-se o mais elevado possível o nível moral dos pensamentos
predominantes em nossa mente. Eis aí o fundamento de um dos mais áureos
ensinamentos: orai e vigiai.
Referindo-se aos objetos
existentes com Espíritos na erraticidade, Kardec abordou diretamente a questão
da modelagem dos fluidos.
4. Seria um desdobramento da matéria inerte?
Haveria no mundo invisível uma matéria essencial que revestiria as formas dos
objetos que vemos? Numa palavra, esses objetos teriam o seu duplo etéreo no
mundo invisível, como os homens são ali representados pelos Espíritos?
— Não é assim que isso se dá. O Espírito dispõe, sobre os elementos materiais dispersos por todo o
espaço da vossa atmosfera, de um poder que estais longe de suspeitar. Ele pode
concentrar esses elementos pela sua vontade e dar-lhe a forma aparente que
convenha às suas intenções.
(O Livro dos Médiuns – pág. 85 - grifei)
A interação entre o
Espírito e os fluidos pode atingir níveis elevados de realização. Um objeto
moldado em fluidos terá praticamente todas as características de um objeto
material, inclusive quanto à cor, odor, tangibilidade, sabor e até mesmo outros
efeitos.
11. Suponhamos que ele quisesse fazer uma
substância venenosa que uma pessoa a tomasse. Ficaria envenenada?
— O Espírito poderia fazê-la, mas não a faria porque isso não lhe é permitido.
12. Poderia fazer uma substância salutar,
apropriada à cura de uma doença, e isso já aconteceu?
—
Sim, muitas vezes.
13. Poderia então, da mesma maneira, fazer
uma substância aliar? Suponhamos que fizesse uma fruta ou uma iguaria qualquer.
Alguém poderia comê-la e sentir-se saciado?
— Sim, sim. Mas não procures tanto para achar o que é
tão fácil de compreender. Basta um raio de sol para tornar perceptíveis aos
vossos Órgãos grosseiros as partículas materiais que enchem o espaço no meio do
qual vives. Não sabes que o ar contém vapor d'água? Condensa-os e voltarão ao
estado normal. Priva-os de calor e verás que essas moléculas impalpáveis e
invisíveis se transformam num corpo sólido e bem sólido. Assim muitas outras substâncias de que os
químicos ainda tirarão
maravilhas mais espantosas. Mas acontece que o Espírito possui
instrumentos mais perfeitos que os vossos: a vontade e a permissão de Deus.
(O Livro dos Médiuns – pág. 85 - grifei)
Outro aspecto muito
importante a se abordar é que o Espírito modela fluidos por ação de sua vontade
mesmo que não saiba que é assim que as
coisas acontecem. O Espírito traz em si condicionado pelos evos de
progresso os mecanismos de atuação no meio fluídico.
15. Todos os Espíritos têm no mesmo grau o
poder de produzia objetos tangíveis?
— O certo é que o Espírito, quanto mais
elevado, mais facilmente o consegue, mas isso também depende das
circunstâncias: os Espíritos inferiores podem ter esse poder.
16. O Espírito tem sempre consciência da
maneira pela qual produz as suas roupas ou os objetos que torna aparentes?
— Não.
Muitas vezes ajuda a formá-los por uma ação instintiva, que ele mesmo não
compreende, se não estiver suficientemente esclarecida para isso.
(O Livro dos Médiuns – pág. 87 - grifei)
É o próprio Kardec quem
nos oferece um resumo precioso acerca da interação dos Espíritos com os fluidos
circundantes.
A teoria acima pode ser
resumida assim: o Espírito age sobre a matéria; tira da matéria cósmica universal os elementos necessários para
formar, como quiser, objetos com a aparência dos diversos corpos da Terra. Pode
também operar, pela vontade,
sobre a matéria elementar, uma transformação íntima que lhe dê certas
propriedades. Essa faculdade é
inerente à natureza do Espírito, que a exerce muitas vezes de maneira
instintiva e, portanto, sem o perceber, quando se faz necessário. Os
objetos formados pelo Espírito são de existência passageira, que depende da sua
vontade ou da necessidade: ele pode fazê-los e desfazê-los a seu bel-prazer.
Esses objetos podem, em certos casos, parecer para os vivos perfeitamente
reais, tornando-se momentaneamente visíveis e mesmo tangíveis. Trata-se de formação e não de criação, pois
o Espírito não pode tirar nada do nada.
A existência de uma matéria
elementar única é hoje quase geralmente admitida pela ciência e os Espíritos a
confirmam, como acabamos de ver. Essa
matéria dá origem a todos os corpos da Natureza. As suas transformações
determinam as diversas propriedades os corpos. É assim que uma substância
salutar pode tornar-se venenosa por uma simples modificação. [...]
Desde que o Espírito, através apenas da
sua vontade, pode agir tão decisivamente sobre a matéria elementar,
compreende-se que possa formar substâncias e até mesmo desnaturar as suas
propriedade, usando a própria vontade como reativo.
(O Livro dos Médiuns – pág. 87 - grifei)
A ação dos Espíritos sobre
os fluidos em geral permite compreender que, seja o Espírito por si só, seja
com o concurso de um encarnado, é plenamente possível acumular fluido magnético
na água de um recipiente. Os fluido magnético atuará nas propriedades da água,
podendo potencializá-la com efeitos benéficos.
O encarnado, dentro de
certos limites, poderá fazer o mesmo ainda que sem a ajuda de um Espírito.
Obviamente a vontade de assim proceder deve ser mais intensa, exigindo maior
concentração.
Esta teoria nos dá a solução de um problema do
magnetismo, bem conhecido mas até hoje inexplicado, que é o fato da modificação
das propriedades da água pela vontade. O Espírito agente é o do magnetizador,
na maioria das vezes assistido por um Espírito desencarnado. Ele opera uma transmutação por meio do fluido
magnético que, como já dissemos, é a substância que mais se aproxima da
matéria cósmica ou elemento universal. E se ele pode produzir uma modificação nas propriedades da água, pode
igualmente faze-lo no tocante aos fluidos orgânicos, do que resulta o efeito
curativo da ação magnética convenientemente dirigida.
(O Livro dos Médiuns – pág. 88 - grifei)
O ensinamento dos
Espíritos aponta a encarnação como uma necessidade
de progressão. Para a
progressão do Universo em si é necessário que haja a ação de seres corpóreos
– é o que afirmam os Espíritos. Assim, ao mesmo tempo em que o Espírito
progride com as experiências no plano físico, impulsiona de sua parte a
evolução do Universo.
132. Qual o
objetivo da encarnação dos Espíritos?
“Deus lhes impõe
a encarnação com o fim de fazê-los
chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas,
para alcançarem essa perfeição, têm
que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que
está a expiação. Visa ainda outro. fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra
da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia
com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de
vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele
próprio se adianta.”
A ação
dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Deus,
porém, na Sua sabedoria, quis que nessa mesma ação eles encontrassem um meio de
progredir e de se aproximar Dele. Deste modo, por uma admirável lei da
Providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza.
(O Livro dos Espíritos) (Grifei)
Na tradução de J.
Herculano Pires:
132. Qual é a finalidade da encarnação dos Espíritos?
– Deus a impõe com o fim de levá-los à perfeição:
para uns, é uma expiação; para outros, uma missão. Mas, para chegar a essa
perfeição, eles devem sofrer todas as vicissitudes da existência corpórea:
nisto é que está a expiação. A encarnação tem ainda outra finalidade, que é a
de pôr o Espírito em condições de enfrentar a sua parte na obra
da criação. E para executá-la que ele toma um
aparelho em cada mundo, em harmonia com a sua matéria essencial, a fim de nele
cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. E dessa maneira,
concorrendo para a obra geral, também progride.
A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do
Universo. Mas Deus, na sua sabedoria, quis que eles tivessem, nessa mesma ação,
um meio de progredir e de se aproximarem d’Ele. É assim que, por uma lei
admirável da sua providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza.
(O Livro dos Espíritos – grifos originais)
A encarnação do Espírito
se dá pela união do perispírito ao corpo
que se forma após a junção dos gametas. Efetivamente a carga genética do
zigoto não é mais a de nenhum dos gametas originais, pelo que é a primeira
célula do novo ser. No zigoto vincula-se
desde o início, fluidicamente, o reencarnante através de seu perispírito.
Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em
vias de formação, um laço fluídico,
que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao gérmen
que o atraí por uma força irresistível, desde
o momento da concepção. A medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta.
Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula
a molécula, ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu
perispírito, se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma
planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é
a união; nasce então o ser para a vida exterior.
Por um efeito contrário, a união do perispírito e da
matéria carnal, que se efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen,
cessa, desde que esse princípio deixa de atuar, em conseqüência da
desorganização do corpo. Mantida que era por uma força atuante, tal união se
desfaz, logo que essa força deixa de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se unira,
e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do Espírito que
causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito.
Dado que, um instante após a morte, completa é a
integração do Espírito; que suas faculdades adquirem até maior poder de
penetração, ao passo que o princípio de vida se acha extinto no corpo, provado
evidentemente fica que são distintos o princípio vital e o princípio
espiritual.
(A Gênese – págs. 214/215 - grifei)
A união do Espírito ao
corpo físico, através do perispírito, faz com que progressivamente se reduza
sua lucidez e consciência. Cada fase posterior do desenvolvimento do corpo
importa em um aumento da perda da consciência, de tal forma que, no momento do
(re)nascimento, jaz obscurecido totalmente, somente a partir daí
reiniciando-se, em conformidade com o desenvolvimento dos órgãos físicos, a
recuperação de sua consciência.
[...] Desde que este é apanhado no laço fluídico que
o prende ao gérmen, entra em estado de perturbação,
que aumenta, à medida que o laço se aperta, perdendo o Espírito, nos últimos momentos, toda a consciência de si
próprio, de sorte que jamais presencia o seu nascimento. Quando a
criança respira, começa o Espírito a recobrar
as faculdades, que se desenvolvem à proporção que se formam e consolidam os
órgãos que lhes hão de servir às manifestações.
(A Gênese – pág. 215 - grifei)
Paralelamente às
considerações já alinhavadas quando da análise da evolução do princípio
inteligente e a sua chegada à condição humana, é preciso destacar, por outro
lado, que a encarnação não é uma condição
punitiva do Espírito.
O ser progride, adquire
condicionamentos em um complexo regime de impulsos necessários à sua
conservação. Desenvolve, assim, todo um cabedal de instintos que afinam ao
máximo as potencialidades do ser. Na linha de progresso, a individualidade e a
consciência de si mesmo fazem com que o ser passe a livremente cogitar. Tudo
isso já foi abordado no exame dos tópicos “Bem e Mal” e “Livre Arbítrio”.
Cabe apenas destacar,
aqui, que a encarnação é o palco natural e necessário para todo esse
desenvolvimento. O conceito de que a entrada no plano físico decorre
exclusivamente de uma expiação, como defendem os seguidores de Roustaing, não
encontra eco no Ensino dos Espíritos.
FINAL DO
PRIMEIRO MÓDULO
Autor: Marco Aur�lio Leite da Silva
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