ENSINO DE LITERATURA: A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA E SUAS FUNÇÕES



UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ-UVA

CENTRO DE LETRAS E ARTES

CURSO DE LETRAS

*[i]MARIA JOSIANE DA COSTA

ENSINO DE LITERATURA: A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA E SUAS FUNÇÕES

Para melhor compreendermos a importância da literatura e suas funções faz-se necessário conceituarmos literatura. Desde conceitos atribuídos na teoria literária, é possível compreender que não há como separá-la da vida do homem, visto que, esta se constrói a partir do universo do próprio homem, reproduzindo de forma ilustrativa, aspectos humanos. Como ilustra Moisés (1997, p. 25), "[...] sinteticamente, e duma forma como se vulgarizou o pensamento Aristotélico: literatura é 'imitação' (mimese) da realidade." Mediante este primeiro conceito, percebemos que, desde a antiguidade, a literatura se entrelaça a vida do homem porque a mesma se realiza num universo paralelo ao seu.

Sobre o conceito de literatura Moisés (1997, p. 27) ressalta ainda:

Admitindo a literatura como para-realidade, resta examinar o modo como a realidade paralela se organiza. O mundo para-real em que o texto se constitui é latente: o texto não o contém,-evoca-o; não o encerra, - sugere-o; não é o universo para- real, - mas o sinal que aponta e a matéria que o enforma. O universo para-real não esta no texto, o que seria confundir com esse enquanto objeto, mas num espaço que o texto engendra com a cumplicidade do leitor.

A partir da leitura de uma obra literária há, inevitavelmente, um intercâmbio das informações apreendidas com a experiência vivida e real. Essa relação processa- se pela intuição deste leitor, o qual acolherá o texto segundo sua subjetividade. Percebemos, então, que uma das características da literatura que a torna mais ampla é a possibilidade de várias interpretações num mesmo texto. Trata-se da plurisignificação, um magma literário que encontra em cada sujeito um espaço diferente. Temos uma realidade que é construída pelo próprio homem, permitindo, assim, uma aproximação do artista para com o receptor da obra criada. Mesmo que esta não relate fatos de sua vida ele acaba se prendendo ao texto por sua natureza humana. Porque um texto não ilustra fatos particulares de um dado sujeito, mas explora sempre assuntos inerentes ao ser humano e habita no homem a necessidade deste elo com o imaginário, com o fictício.

Numa conceituação distinta, porém, complementar, Pound (2002, p. 33) diz que a "[...] literatura é linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível." Neste sentido o autor de debruça principalmente, numa análise da linguagem do texto literário quanto ao seu poder de persuasão e de encantamento através das palavras. Factualmente, a linguagem literária possui uma especificidade, construindo- se diferente de outros textos e isso é um dos aspectos que contribui para que a literatura se distinga. Podemos considerar, que o primeiro impacto que o texto literário exerce sobre o leitor concretiza- se pela linguagem.

Adiante Eagleton (2001, p. 2) em representação a corrente formalista manifesta o seguinte:

Talvez literatura seja definível não pelo fato de ser ficcional ou 'imaginativa', mas porque ela emprega a linguagem de forma peculiar. Segundo essa teoria, a literatura é a escrita que, nas palavras do russo Roman Jakobson, representa uma 'violência organizada contra a fala comum'.

Nessa perspectiva, Eagleton (2001) também aborda a literatura no seu aspecto diferencial quanto à linguagem. O mesmo ressalta a peculiaridade da linguagem literária e especula a possibilidade do texto literário entreter mediante este diferencial. Torna-se pertinente mencionar que o autor não despreza o fato da ficcionalidade e do caráter imaginário do texto literário, aliás estas são características que tornam o texto, literário, e , portanto, não poderiam de fato, serem ignoradas.

Não obstante acrescentamos o que Castagnino (1969, p. 209), buscando conceituar literatura afirma que a mesma trata- se de:

Uma arte postiça adquirida unicamente pelo domínio externo de uma técnica, como alguma vez se concebeu com critério estático ,antes obedece a um ditame profundo do ser- criador ou receptor- que procura expressar-se. É um pouco do espírito do homem que, com ânsia de buscar contato com outros seres ou de prolongar-se a si mesmo, de firmar-se em seu ambiente ou evadir-se dele [...]

Torna- se bem evidente nas considerações do autor as diversas possibilidades com que o escritor cria e como o leitor recepciona o texto. Nessa abordagem Castagnino (1969) volta-se tanto para a natureza imaginaria do texto literário quanto a sua técnica quanto ao uso da linguagem. E ressalva o caráter expressivo do texto literário que se realiza na necessidade do homem de vivenciar algo novo. Por meio da evasão, permitida pela literatura o homem sacia seu desejo de experimentar emoções diferentes. Mesmo o leitor , que apropria- se de um texto que não é seu, busca por estas experiências e portanto, o mesmo ilustra a obra mediante uma visão própria.Muitos autores falam em 'co- autoria', pra representar para justificar que o leitor dá fim ao texto conforme suas expectativas,seu conhecimento.

Mediante a consideração de Constagnino (1969) e as demais citadas anteriormente é perceptível a relação que a literatura mantém com suas funções faremosadiante uma exposição d função psicológica, educativa e social. Ressaltamos, porém, que estas não se esgotam nestas atribuições. Aliás, assim como é inconcebível um único conceito para literatura, da mesma forma é inviável limitarmos suas funções.A única verdade ou evidência explícita é seu vínculo com o homem, as demais considerações, quanto a conceitos, funções, características, dentre outros prismas irão oscilar conforme o teórico.

Torna- se pertinente esclarecermos que embora enfatizando nesse estudo a função psicológica, a educativa e a social da literatura existem outras funções e outras atribuições a estas que focaremos a seguir. As mesmas são relacionadas por Candido (2006) meio a sua importância quanto à literatura e é mediante as idéias deste autor que lançaremos as discussões seguintes.

Atribuindo à literatura seu valor estético ressaltamos seu vinculo com a vida do ser humano, aliás, com o próprio ser humano que através de sua sensibilidade consegue evadir- se a um universo fictício, saciando assim sua aspiração por novas experiências ou diferentes de sua realidade.

A função psicológica da literatura está relacionada à ânsia do homem em vivenciar novas experiências como forma de evasão a uma realidade cruel e pálida. Acrescentamos, então, a importância deste ensino não ser apresentado numa perspectiva mecânica e em outra hipótese como um conjunto de obras que se enquadram num dado estilo de época. A literatura eleva-se a estas considerações e nem pode limitar-se a essa abordagem meramente pedagógica que exclui, na maioria das vezes, seu valor artístico. Evidentemente, em consonância a sua estrutura, os dados históricos, ideológicos e morais de uma obra não podem ser desprezados, são aspectos que não podem ser privilegiados, visto que, a literatura deve ser concebida como objeto estético e não histórico ou moral.

Braga (2003, p .01)coloca o seguinte:

É importante pontuar que o texto literário dialoga e poetiza a história social, mas nunca a reproduz fielmente . Sendo assim, é preciso promover o ensino de Literatura focalizando-a enquanto produção estética, e não enquanto retratos históricos articulados por uma linguagem bem elaborada: e, ainda evidenciar que sua função é promover antes da formação moral, a experiência estética.

Observamos, a partir deste fragmento, que a literatura vista como arte proporciona, num primeiro momento, o prazer estético que é produzido simplesmente quando o leitor consegue interagir com o texto. Desta interação consolida-se a função psicológica, baseada na aspiração do homem em abstrair-se a um mundo fictício, imaginário, o qual se evoca, muitas vezes, por um desejo do inconsciente. Salientamos que existem outras formas de satisfazer esta necessidade de evadir- se, fugindo de sua dura rotina ou na ânsia de vivenciar outras experiências. Porém, enfatizamos a importância da literatura como via imprescindível e espontânea para que esta necessidade humana se concretize.

Sobre a imaginação, Guerra (1947, p. 2) expõe que esta se trata da "faculdade de representar, sob uma forma sensível, os objetos ausentes." Esta representação referida é o espaço que o leitor dimensiona, atribuindo-lhe características evocadas conforme sua subjetividade e sensibilidade.Nestas circunstâncias, destacaremos o conceito de sensibilidade, segundo o próprio Guerra (1947 , p .18). Esta reforçará as colocações feitas anteriormente ao dizer que "a sensibilidade o mesmo é que o poder de sentir.Compreende as sensações, ou percepções dos sentidos corporais,e os sentidos internos da alma, tais como a alegria, a tristeza, o desejo, o temor, a ira, a esperança".

Num prisma literário, a sensibilidade permite ao sujeito dar vida e movimento às coisas, pois, somente a partir desta é que o universo literário poderá ser sentido e, prazerosamente, desfrutado. A partir do momento em que isto acontece, a imaginação frui e o fictício passa a ter novas linhas, novos contornos advindos de quem o invade através da leitura. Colocamos assim, que esse contorno ao universo fictício agrada o homem e satisfaz uma necessidade do seu psicológico.

Segundo expõe Cândido (2002, p. 81) :

Por via oral ou visual, sob forma curtas e elementares, ou sob complexas formas extensas, a necessidade de ficção se manifesta a cada instante; aliás, ninguém pode passar um dia sem consumí-la, ainda que sob a forma de palpite na loteria, devaneio, construção ideal ou anedota.

Conhecendo a necessidade diária do homem de experimentar novas sensações e emoções através do fictício. Ressaltamos que existem outros meios que satisfazem este desejo humano, de isolar- se do mundo real. No entanto são meios que entretêm na medida em que alienam , a partir do momento que não permitem ao sujeito o uso de seu conhecimento, não na proporção que a literatura possibilita. Esteschegam ao acesso das pessoas de forma mais fácil. Por isso e que é preciso que a literatura seja compreendida como um objeto de valor estético, o qual o leitor irá recepcionar e interferir no texto usufruindo de seus conhecimentos de mundo. Como nos afirma Martins (2006, p. 87) "[...] o texto literário é plural, marcado pela inter-relação entre diversos códigos (temáticos, ideológicos, lingüísticos, estilísticos etc.)". Nesta perspectiva ressaltamos a intervenção coerente do leitor no texto literário que por sua natureza multidisciplinar recepciona várias dimensões em um mesmo tecido.

É bem verdade que aspectos sociais, históricos e morais, não podem ser desprezados por completo, no entanto, não devem tornar-se foco, visto que, o valor estético da literatura não pode ser abandonado. Antes de tudo, ela deve ser difundida como arte. A história, a sociedade e a moral apenas apropriam-se da sua magnitude. Caberá ao educador atribuir um valor a cada abordagem na sua prática docente. Neste sentido, a literatura é uma das formas mais espontâneas e ricas para que o homem satisfaça sua necessidade de evasão, de vivenciar algo diferente de sua realidade, postulada com elementos peculiares à sua sensibilidade. Pois ela permite ao indivíduo uma experiência única de mundo, recriada além da sua percepção, mas concretizada pela sua intuição. A literatura trabalha coma sensibilidade do homem e é em função desta atividadeque o mesmo consegue identificar-se, pela exploração de seus sentidos e uso de suas emoções. Muitas vezes essa identificação se estende no momento em que pelo texto literário o homem perpassa um universo fictício adornado por alguns elementos da realidade factual.

Podemos agregar ou acrescentar ao estudo da função psicológica da literatura, a sua função lúdica, a qual vincula- se diretamente com os pontos até aqui mencionados.

Sobre isso, Constagnino ( 1969, p. 86) afirma:

A religião, a ciência, o direito, a guerra, de acordo com Huizinga, nascem também na esfera do jogo. Mas, pouco a pouco, nas formas mais organizadas da sociedade parecem perder seu contato com o jogo. A criação literária, ao contrário, nascendo como ela na esfera lúdica permanece sempre ali.

Neste sentido afirmamos que a função lúdica da literatura delibera-se mediante o texto literário que se distingue dos demais quanto à linguagem, a forma, o ritmo, o contexto que como salientamos não é fixo, estabelecido, mas edificado pelo artista e em extensão pelo leitor que conclui o que já havia sido iniciado. Conclusão mutável de leitor para leitor, bem como do leitor para com ele mesmo, todavia vivenciado um novo contexto e desenvolvido novos conhecimentos.

Por fim, não poderíamos omitir a função catártica que é inerente à literatura.Visto que, através da catarse o sujeito isola-se do mundo real, tendo como refúgio o universo fictício alimentado de todos os seus desejos e apesar de unido aquele que designamos "real", constrói-se passivamente. A catarse aproxima-se bastante da evasão, sendo a catarse ligada a expulsão de sentimentos, pensamentos e, portanto, realizada a partir de uma fuga para uma realidade idealizada. O expurgo estaria bem mais ligado ao escritor, mas não se esquiva o leitor, como co-autor do texto, de expulsar tudo que lhe sufoca em seu cotidiano.

A partir das colocações já realizadas, podemos dizer que a Literatura atua na formação do homem, mas não deve ser utilizada como um instrumento meramente pedagógico, na intenção de estabelecer normas, comportamentos e ideologia. Segundo Candido (2002) ela reafirma a humanidade do homem. Não "edifica" nem "corrompe" princípios, mas integra a realidade do sujeito a outra que se estabelece num plano construído segundo o que este já conhece. E nesta apreciação de reconhecer o texto literário como instrumento para educar, mediante uma seleção de obras que trazem exemplos de uma boa conduta e princípios morais, na maioria das vezes, perde seu valor estéticoe é reproduzido apenas numa perspectiva pragmática. Antes de tudo, literatura é arte e como tal "proporciona uma espécie de enquadramento que coloca fora do mundo da realidade a afirmação contida na obra." ( WELLEK; WARREN, 1971 p. 30).Portanto, deverá ser apreendida, fundamentalmente, nesta concepção estética. Não podemos negar a influência de uma obra literária e não seria lícito negar ao homem esta influência visto que, por meio da interação com a obra o leitor entrelaça informações do universo fictício para com o mundo real. Ou seja, nova experiência vivida e portanto novo conhecimento adquirido.Faz-se necessário enfatizar que a função de educar da literatura dá-se mediante o próprio leitor, educação que seconcretiza apenas quando este interage com o texto. Para Martins (apud) (2006, p. 91)"o estudo da literatura poderia ser justificado por sua habilidade para ajudar os alunos a compreenderem a si próprios, sua comunidade e seu mundo mais profundamente."

Candido (2002, p. 83) direciona o seguinte:

A literatura pode formar, mas não segundo a pedagogia oficial, que costuma vê-la ideologicamente como um vinculo de tríade famosa - o verdadeiro, obom, o belo,definidos conforme os interessados dos grupos dominantes, para reforço da sua concepção de vida. Longe de ser um apêndice da ilustração moral e cívica, ela age com o impacto indiscriminado da própria vida e educa como ela- com altos e baixo, luzes e sombras.

A literatura, longe de servir como manual de virtude e boa conduta, forma na medida em que atua sobre o sujeito. E como nos sugere o fragmento acima, ela atua como impacto no processo de formação do homem, a partir do momento em que o mesmo consegue usufruir do texto como objeto estético. Neste sentido, podemos salientar que não serão apenas as obras literárias que trazem em seu enredo personagens que representam um bom comportamento e uma série de virtudes, que irão formar, positivamente, o homem. Aliás, o 'usufruir' se descreveria, também, pelo prazer e estranhamento que causa uma determinada obra. Porque a reflexão, mesmo que despercebida pelo sujeito de seu universo, dá-se no instante em que a obra consegue penetrar no sujeito com todo seu teor artístico. Ou, digamos que: no instante que o sujeito passa a descobrir na obra elementos peculiares a sua vida ou estranhos a ela e, portanto, passíveis a uma indagação e reflexão.

O lapso que se encontra no ensino de Literatura descreve-se, paradoxalmente, a esse ponto de vista: sua utilização como instrumento que educa severamente através de 'modelos' ou como suporte para o ensino de outros conhecimentos. Na verdade, a literatura não impõe nada a nenhum sujeito, pelo contrário, a ela proporciona através de sua linguagem a construção de um universo singular, construído de forma diferente conforme cada leitor mediante sua cultura, sua formação, sua concepção de mundo e, essencialmente, sua sensibilidade. Ressaltamos, então, a participação do leitor como co-autor do texto e, portanto, considerando esta afirmação, cada cenário fictício, mesmo que seja de uma mesma obra, constitui-se de peculiaridades.

Os próprios PCN (2000, p. 60) se debruçam nesta perspectiva:

O texto literário é por excelência polissêmico, permitindo sempre mais de uma interpretação, e se admitimos que cada leitor reage diferentemente em face de um mesmo texto, pensamos que o passo inicial de uma leitura literária seja a leitura individual, silenciosa, concentrada e reflexiva. Esse momento solitário de contato quase corporal entre leitor e a obra é imprescindível, porque a sensibilidade é a forma mais eficaz de aproximação com o texto.

Podemos observar através do fragmento extraído dos PCN (2000) que o caráter polissêmico do texto literário se eleva e portanto, é uma via para o educador trabalhar a sensibilidade de seus alunos e explorar nos mesmos, formas de expressar sua sensibilidades e aptidões. É viável indicar então, que os próprios PCN (2000)orientam o educador em sua prática e enfatizam a literatura como instrumento para reflexão e construção do conhecimento que a literatura não prescreve, mas integra.

Salientamos, desde então, que o caráter da obra literária como objeto artístico deve ser empreendido e valorizado. O prazer, o ato de criação de um universo para-real, o uso dos sentidos contribuem imensamente para a formação do sujeito e mais importante, de forma agradável. É neste sentido que a literatura pode educar. Na medida em que estimula o sujeito a um ato reflexivo, proporcionando ao mesmo, através de uma livre interpretação, experimentar emoções e sensações de outro universo.

Segundo Zilberman (1988, p. 94) :

Da mesma fora que os falantes se uma língua só podem atribuir significado a frases nesta língua por compartilharem de sua gramática, os leitores de literatura só podem atribuir significado literário às obras que lêem porque compartilham de certas atitudes, habilidades, normas, expectativas e conhecimentos que respondem pelo sentido literário de um determinado texto.

Neste sentido,compreendemos que qualquer atribuição de valor ou significado de um texto literário,apenas será viável quando o leitor compartilhar sua experiência com este texto. Podemos então considerar que a abstração do texto influencia o sujeito na medida em que ele propicia uma interação. Na literatura o sujeito contempla, uma figuração do objeto sendo na maioria das vezes ele mesmo o objeto visualizado.

Como ressalta Zilberman (1988, p. 88) sobre o sujeito, este "contempla-se contemplando e contemplado, numa espécie de reduplicação infinita que, quanto mais próxima fica da relação possível com o objeto da reflexão sobre literatura: o texto, que não tem em si, mas somente em outro."

Consideramos, então, que o sentido do texto se constrói mediante a interação do leitor com a obra. Sem a relação de um para com o outro tornam- se apenas esferas isoladas. Desta forma não será pertinente a exclusão de uma obra em decorrência dos exemplos nela contidos. Por mais que a literatura seja admitida como uma para-realidade, seja construída com aspectos da vida do homem, não se atribui para essa, a função de educar. Em controvérsia, esta educação acontece, mas não em uso dos textos literários como manuais de boa conduta, e, sim, na medida em que o sujeito reflete, recebe e constrói informações, vivencia novas experiências.

Na abordagem da função social da literatura, ressaltamos que é viável observarmos que as demais funções já mencionadas mantêm uma relação intrínseca com a vida do homem e mais, precisamente, com sua posição dentro de um contexto social. Contudo, nos bastará dentro do texto que se segue compreender de forma mais nítida a respeito desta função. Porque embora tenhamos afirmado que ela se manifesta numa representação à vida do homem, mesmo que de forma enigmática, como presenciamos através da literatura fantástica. Tais representações são sugeridas pela realidade de quem escreve ou pela realidade do leitor.

Candido (2006, p. 85) afirma o seguinte:

A obra literária significa um tipo de elaboração das sugestões da personalidade e do mundo que possui autonomia de significado; mas que esta autonomia não a desligue das suas fontes de inspiração no real, nem anula a sua capacidade de atuar sobre ele.

Então, podemos avaliar que a literatura torna-se relativa mediante as possibilidades de atuação sobre o sujeito. Pois sendo a literatura considerada como arte tem por finalidade maior entreter, jogar com o lúdico, tornando-se impar a cada sujeito que dará a sua leitura traços peculiares de acordo com sua cultura e vida em sociedade.

Face ao fragmento de Samuel (1985, p. 14) temos:

A arte não só reproduz a realidade, mas dá forma a um tipo de realidade. E aliteratura não substitui a sociedade e a política como maneiras de explicar a sociedade. A arte não obedece ao princípio da imitação da realidade estabelecida, mas ao princípio da negação desta realidade, que não é meramente negação, mas transposição da realidade para superar os problemas. Como parte da sociedade, a literatura está imanente à realidade (está nela). Mas como ficção, como imaginação, ela transpõe essa imanência, criando uma realidade possível para opor à realidade concreta.

Através do exposto, é possível estabelecermos a princípio que a realidade do homem em sociedade é evocada através da arte. Detendo-nos, aqui, nestas evocações manifestadas através da literatura,que se constrói a partir do que o homem vivencia. Como exemplo, compete-nos focar que algumas manifestações literárias que através dos estilos de época que retrataram sentimentos de uma dada época, marcada pela revolta como o Romantismo, pelo decadentismo como é ocaso do simbolismo ou dos modernos que se manifestaram no desejo de reforma. Em ênfase citemos o regionalismo, que enquadra uma dada região, através da linguagem, cultura entre outras expressões, o que muitas vezes suscita um conteúdo documentário. È bem verdade, que as obras deste tipo de literatura não podem ser apreciadas simplesmente face ao seu valor histórico. Não é função de a literatura divulgar esses fatos, embora muitos destes venham a ser transmitidos dentro do texto literário. Ela apenas contribui para historia ,como para a pedagogia, para psicologia entre outras áreas do conhecimento, e caracteriza-se com elementos sugestivos de uma cultura às vezes em menor ou maior intensidade.

Deduzimos, então, que em decorrência de sua natureza e construção, a literatura possui uma função social. Podemos partir da seguinte frase: o homem é um produto do meio. E o meio é a sociedade. Neste sentido, a partir do momento que há uma ação sobre esse "produto", o meio, inevitavelmente será modificado.Destacamos que essa ação acontece de forma muito agradável. Porque ela, entendida como arte,ainda assim "educa", sem molduras, sem prisões, pois é característica da literatura o uso pleno da liberdade, na medida em que proporciona ao sujeito o livre arbítrio pra interpretações e possíveis reflexões.

Samuel (1985, p. 16), afirma o seguinte:

O mundo fictício contém mais verdade do que a realidade cotidiana mistificada pela necessidade natural. Quando a realidade concreta parece falsa, ilusória, é quando nos libertamos dela. Essa destruição se dá por amor à vida. E desta maneira se estabelece a relação entre a literatura e a sociedade.

Propomos através do título deste capítulo tratar da função social da literatura, analisando – a como manifestação de conhecimento do mundo e do ser. Assim como o homem vincula-se diretamente a sociedade , assim o conhecimento se voltará sempre para o ser humano. Numa instância artística, homem que produz arte e outro que descrevemos como aquele que possui uma co-autoria na criação. A partir do ponto como este visualiza a produção, em usufruo do que já sabe , viveu e deseja.

Mediante este ensejo, consideramos que a função social da literatura consiste na identificação do ser com o texto literário, seja para aquele que escreve quanto para quem lê, pois, para aquele que constrói o texto será reflexo do que ele sabe, percebe, indaga e conhece. Para aquele que lê, além de um encontro com as idéias do autor, oferece ao tecido literário um novo contorno, recriado conforme seu conhecimento de mundo e aprendizagens adquiridas , historicamente, ao longo de sua vida.

REFERÊNCIAS

CANDIDO, Antonio.Textos de intervenção. São Paulo: Duas cidades, 2002.

CASTAGNINO, Raul M. Que é literatura? São Paulo: Editora Mestre Jou,1969.

EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura. 4ª Ed. São Paulo : Martins Fontes, 2001.

GERRA, Abel. Elementos de composição literária. 2ª ed. Porto:Tipografia Porto Medico l.da

MOISÈS,Massaud. A Criação Literária: poesia.16ª ed. São Paulo: Cultrix, 2007.

POUND, Ezra. ABC da Literatura. 14ª edição. São Paulo: Pensamento, 2002.

SAMUEL, Rogel (org). Manual da Teoria Literária. Petrópolis: Vozes, 1985.

WELLEK, René .WARREN, Austin. Teoria da Literatura.2 ed. Nova York:Publicaçoes Europa- América,1971.




Autor: Josiane Costa


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