Formação da personalidade segundo uma perspectiva personalista



É indiscutível que se pense o homem e sua personalidade como um ser de abertura e possibilidade. O homem é pessoa "não- objetivável, inviolável, livre, criativo e responsável... encarnada em um corpo, situada na história e constitutivamente comunitária" (Mounier. E); portanto é plural, aberto ao múltiplo e ao variável. Como nos diz Herder: "o homem é um ser de linguagem", ou seja, um ser de relação, que se comunica com seu mundo circundante (Umwelt), mas não permanece circunscrito a este. Porque, com efeito, "o homem vê abrir-se diante de si o espaço ilimitado do seu WELT, do seu mundo propriamente humano." Ainda sobre relacionalidade encontra-se a ideia do homem em Hegel: o homem se relaciona com os diversos níveis da realidade, como um "movimento de natureza dialética", que encara o homem em sua totalidade. Esses níveis de realidade com os quais - para Hegel – o homem se relaciona são: o mundo natural, a cultura, a história e o Absoluto.

O homem moderno com sua capacidade tecnológica, sua perspicácia cientifica, sua vida pragmatista, não pode esquivar-se desse postulado hegeliano, pois, mesmo que não queira, é inevitável o contato com esses níveis de realidade. Podemos destacar, dentre todos os fenômenos da realidade pessoal, algumas características basilares na formação da personalidade humana: liberdade, individualidade, dimensão comunitária e transcendentalidade.

A liberdade está intimamente ligada à vida autêntica, ou seja, é através da liberdade que a personalidade se define. A liberdade, a priori, não pode ser entendida como "fazer o que se quer", mas sim "fazer da melhor maneira aquilo que deve ser feito". Logo, a liberdade não exclui os condicionamentos próprios da vida humana, todavia realiza-os de forma criativa e responsável. A individualidade, por sua vez, é a descoberta do "si mesmo"; da singularidade própria de cada personalidade que torna o homem senhor de uma personalidade única, irrepetível. Essa individualidade é "o aquilo" que diferencia Pedro de João e vice – versa. A individualidade, entretanto, não nega a dimensão comunitária, pelo contrário, realiza-a plenamente. Com efeito, uma não subsiste sem a outra, pois de que é feita a comunitariedade senão do encontro de individualidades? E o contrário, também é verdadeiro, pois como se constrói um indivíduo senão da percepção da diversidade, que só é possível no confronto com o diferente presente na comunidade? Por fim, a transcendentalidade é percebida na medida em que a personalidade autêntica se apropria de um sentido supremo, capaz de dar o colorário e o fundamento de sua existência a nível natural, cultural, histórico e espiritual.

A formação da personalidade é um processo dinâmico do qual a pessoa é o artífice fundamental, mas não único, de sua vida autêntica. A personalidade é o veículo de uma realidade pessoal misteriosa – que, como nos diz Mounier – "... não é 'uma coisa' que se pode encontrar no fundo das analises... é, exatamente, o não inventariável... centro da liberdade. É mais uma presença, do que um ser exposto; presença ativa e sem fundo."

Referências bibliográficas

MOUNIER, Emmanuel. O personalismo. Tradução João Bénard da Costa.Lisboa: Livraria Morais, 1960. 212 p.

LIMA VAZ, Henrique C. de. Antropologia Filosófica. 8 Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006. 274p.


Autor: Carlos Alexandre Gonçalves de Jesus


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