Ladrão Que Rouba Ladrão



C... era daqueles funcionários que todo patrão gostariam de ter, chegava pontualmente na hora e saía depois dela, sem reclamar. Economizava e exigia para os colegas fazerem o mesmo, ativo não esperava pelos outros, porem delegava como ninguém, resolvia tudo sozinho não era de levar problemas para o patrão. E acima de tudo C... era o cara mais honesto que M..., seu patrão conhecia. Em quinze anos de firma nem uma agulha tinha sumido. Mas C... só tinha um problema, C... era maneta. É ele tinha uma mão só, havia perdido a outra na antiga metalúrgica que trabalhou. Quando foi indicado para trabalhar com o seu M..., seu M... ria muito, aliás ria todo santo dia, e o C... odiava seu M... por isso, todo mundo sabe que relação entre patrão e funcionário é pura falsidade é só um pisar no calo um do outro e pronto vai dar briga. E seu M... pisava no calo do C... a todo instante, maneta pra lá maneta pra cá, nunca o chamava pelo nome, em quinze anos C... nunca se acostumou com a brincadeira.

Seu M... também tinha outro defeito além de caçoar da desgraça alheia, não confiava em ninguem, nem na sua sombra. C... concordava em que ele fosse assim afinal o velho ganhava muito dinheiro ali, muito mesmo, era um dos vinte mais ricos do ramo da metalúrgica. C... só tinha uma opinião sobre pessoas assim:"elas já foram motivo de desconfiança um dia para serem assim".

E ele tinha razão, a maioria das pessoas ricas hoje chegaram a possuir tal fortuna praticando alguma desonestidade, e pelo que se comentava do seu M... ele não era diferente, diziam que começou pelo próprio irmão, depois os sócios e hoje é o que é.

Mesmo C... sendo o homem mais honesto que M... já conhecera tinha restrições, por exemplo, C... tinha todas as chaves da fabrica menos a do escritório de seu M... e o pior é que toda parte administrativa ficava lá, quando o velho viajava era uma loucura. Mas porque tudo isso? Porque todo o dinheiro velho era guardado ali, eu digo todo mesmo. Parece loucura mas ele não queria nem ouvir falar em banco, e ele tinha motivos para isso. Em seu país tanto seu avô como seu pai perderam muito dinheiro quando o governo limpou as contas devido a uma crise política. Então ele falava que dinheiro dele só ia pra banco pra pagar contas. Por isso a chave do escritório só ia parar nas mãos de C... quando ele estava lá e mesmo assim o velho ficava em cima e de vez em quando subia para ver o que C... estava fazendo.

Devo ressaltar aqui que a porta e toda a sala era de aço, e a única janela da sala era gradeada. Aço não era problema para um metalúrgico mas ele gastou uma fortuna para restaurar a tal da sala, valeu a pena ele dizia. Mesmo toda de aço a sala era bem decorada, com quadros, flores e uma linda cabeça de alce atrás de sua mesa.

Um dia entupiu a pia e o vaso do banheiro que ficava dentro de sua sala. Precisava chamar alguém, mas ele não queria gastar muito. Chamou um dos empregados da faxina, o Z..., e pediu que ele fizesse o serviço. O Z... era uma piada só, não tinha um que não ria com ele. Curioso que só, já entrou na sala reparando:

-- Nossa que escritório bonito seu M...!

--Obrigado. O problema é lá no banheiro lembra.

--Sim já vou.

Z... continuou olhando quadro por quadro, planta por planta, e seu M... sentado na sua mesa mexendo em alguns papéis só de rabo de olho nele. Quando avistou o cofre olhou pra mim riu e foi pro banheiro. Serviço bem feito. Depois seu M... me disse:

--Curioso esse cara hein, não quero ele mais aqui dentro não.

Bem passado um tempo veio a bomba, roubaram o dinheiro do velho. Como? Pela porta da frente mesmo, e o pior sem arrombamento. A polícia investigou tudo e todos, mas não havia impressão, nem testemunhas, nem solução. Meses de investigação e nem um único suspeito confirmado, enfim o crime perfeito. A empresa fechou, o velho não conseguiu mante-lá, descobriu-se que ele tinha mais dinheiro em casa e não era pouco, pagou todo mundo e vendeu o que tinha e partiu para o interior, numa de suas fazendas.

E o C...? Bem o C... também foi embora pra outra cidade, comprou casa em bairro nobre, carro do ano, botou os filhos em escola paga, passou a frenquentar alta roda e montou sua própria empresa que em apenas seis anos o levou a 45º lugar dos mais ricos do ramo.

Nada mal não acham? Querem saber como ele fez isso? Bem, numa de suas entradas no escritório do velho C... sabendo que o velho ficava em cima para que ele devolvesse a chave bolou um esquema, enfiou um sabonete no bolso prensou a chave nele deixando a marca perfeita, e fez tudo isso com a mão dentro do bolso longe da vista do velho. O velho claro não percebeu e a noite C... foi lá e fez o serviço. E a polícia? Depois de insistir muito seu M... convenceu que não era necessário investigar o C..., o conhecia a anos sempre foi honesto, pra que né. O investigador que não era bobo nem nada pegou o C... na esquina de sua casa pressionou e confirmou o roubo, porem, ele não faria nada com o C..., bastava ele dar o tanto que ele queria, ou que valeria pra ele ficar de boca fechada. C... molhou a mão do cara com uma boa bolada e ficou paz.

Mas a história não acaba por aqui. Dez anos depois, dez anos de muita luxuria C... colheu o que plantou. Não foi literalmente roubado, mas uma crise política lhe custou tudo o que estava no banco. Vendeu o que sobrou e voltou pra cidade de onde tinha vindo recomeçar de novo.

Um belo dia entrou no bar que havia proximo á antiga firma onde trabalhava, precisava esfriar a cabeça. Sentou pediu uma cerveja, fitou os olhos na tv e ficou ouvindo as noticias da situação terrível de seu país. Sentado ao seu lado está um velho que lhe diz:

--Não lhe falei que dinheiro em banco era uma roubada.

--Seu M...?

O coração de C... gelou mais que a garganta em que descia a cerveja gelada. A prosa continuou com o velho dizendo que mais tarde descobriu que ele tinha lhe roubado. Mandou investigar o investigador do caso e viu uma boa quantidade de dinheiro em sua conta.

--Mas porque o senhor não fez nada?

--Ladrão que rouba ladrão 100 anos de perdão.

C... ficou pasmado. M... lhe contou toda a história de como havia ficado rico. Contou de como havia roubado o irmão, o que causou a morte de seu pai e a loucura de sua mãe, fora o mal que causou a todos os seu sócio e suas famílias.

--O que me ocorreu foi pouco em comparação ao que eu mereço.

Hoje seu M... já é morto mas C... e o filho do velho comandam juntos uma metalúrgica que montaram antes de ele morrer, que lhe rende mais do que a que os dois tinham separados e já são 5° colocados dos mais ricos do ramo.


Autor: Carlos Alberici


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