PROJETO PENSAR PENSANDO A VIDA, UMA EXPERIÊNCIA FILOSÓFICA NA ESCOLA PÚBLICA



Fábio César Pereira ( acadêmico do 4º semestre de filosofia)- [email protected]

Resumo

O presente texto quer apresentar o Projeto Pensar Pensando a Vida como sendo uma experiência filosófica na escola pública. Este projeto está vinculado ao curso de licenciatura em Filosofia da Universidade Católica Dom Bosco e quer ser um auxílio na prática da docência, haja vista que o curso é de licenciatura. Com o auxilio de textos filosóficos, realizamos discussões e reflexões a partir da filosofia. O projeto tem por objetivo ajudar os alunos da 2ª fase da Educação de Jovens e adultos (EJA) da Escola Estadual Adv. Demósthenes Martins no despertar para um exercício da cidadania. O Projeto Pensar Pensando a Vida é lugar de participação verbal onde eles, alunos da EJA, podem questionar sem medo. Lugar onde oferecemos, por meio do projeto, critérios filosóficos para o aluno julgar a realidade por meio da prática do questionamento, já que vivemos na era da informação e muitas vezes não nos damos oportunidade de refletirmos sobre os acontecimentos. Os temas trabalhados nos colóquios são sugeridos pelos próprios alunos no início do ano letivo e as atividades são planejadas semanalmente pelos acadêmicos inscritos no projeto. As reflexões filosóficas a respeito da vida, colaboram para que os sujeitos do projeto tenham uma postura mais crítica diante da realidade intra e extra muro escolar. Com isso os alunos saem da menoridade (Aufklãrung) e passam a pensar por si mesmos, sendo protagonistas de suas próprias vidas. No desenvolvimento dos colóquios filosóficos utilizamos: textos impressos, vídeos, músicas, dinâmicas, revistas, dentre outros. E a cada encontro um rico material é produzido pelos participantes e socializado entre os sujeitos. Concebemos a educação como um instrumento para elevar o homem e ensiná-los a exercer sua cidadania. E a escola, é um lugar propício para este trabalho, e de maneira especial a escola pública donde muitos de nós, acadêmicos envolvidos no projeto, fomos alfabetizados e seremos inseridos ao término da graduação.

Palavras-chave: Educação, Filosofia, Projeto

Área temática: Educação

O Projeto Pensar Pensando a Vida está vinculado ao Curso de Filosofia e é desenvolvido no campo da educação. Trilhar com jovens e adultos caminhos tendo como suporte a filosofia e buscando despertar para o exercício dacidadania significa aceitar um desafio constante. Daí nosso interesse pela sala de aula, nosso ponto de chegada e também de partida, local das possíveis realizações, do confronto entre a antecipação e o acontecimento, do desafio maior da concretização de nossas intenções educativas.

A filosofia está em sintonia com jovens e adultos, porque eles também não gostam que o mundo seja apresentado como algo imutável. Porque eles também gostam de pensar e explorar por que o mundo é aquilo que é e que outros mundos poderiam construir. Ela está presente no seu dia a dia sendo instrumento de formação e educação, mesmo sem muitas vezes nos darmos conta disso.

O local escolhido para o desenvolvimento deste projeto não seria senão a escola, a sala de aula, principalmente pública, aonde muitos de nós acadêmicos de licenciatura viemos e estaremos inseridos agora não mais como alunos, mas como educadores. A Escola Estadual Adv. Demósthenes Martins, situado Rua Ariramba, 215, no bairro Otávio Pécora em Campo Grande – MS recebe este projeto desde 2003. A partir daí, muitos acadêmicos já fizeram parte como agentes de transformação por meio dos colóquios filosóficos realizados com os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), público alvo do projeto.

Problemática

O grande objetivo do Projeto Pensar Pensando a Vida, desde o início sempre foi despertar nos alunos o prazer da reflexão, da busca da verdade, da crítica rigorosa, que isso fizesse parte do dia-a-dia de cada sujeito. O objetivo do Projeto Pensar Pensando a Vida, é o mesmo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96), no artigo 35 em seu inciso III prescreve "o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento da autonomia intelectual e do pensamento crítico".

Assim, a educação será uma formação para a vida, fazendo-os saírem de seu modo de pensar de suas verdades, para outro pensamento, outro jeito de ver a realidade, que tem fundamento nos grandes nomes e tem raízes profundas nas reflexões que levam a transformação da mentalidade. O projeto quer ser esse impulso de reflexão de cunho filosófico, saindo um pouco dos parâmetros normais das demais disciplinas, visando o entrosamento, levando-os a falarem sem medo, saírem do pensamento dos que "acham" e passarem a ter convicções firmes. Quer dizer, passarem a refletir filosoficamente fazendo com que se cumpra o papel do próprio projeto, a educação como formação para a vida de cada um dos sujeitos.

Tendo como ponto importante a base que cada um já trás consigo, só que colocando em comum torna-se mais maduro, não se quer que pensem como nós pensamos, mas que pensem e reflitam, afinal como dizia Montaigne no século XVI, "a filosofia deve ser uma matéria na educação dos pequenos para formar pessoas inteligentes, felizes e ajuizados, mais livres de espíritos." (Montaigne, 1984: p. 26) O Projeto Pensar Pensando a Vida que tem cunho formativo, e formação essa humanista, está ligado à formação de uma consciência ou capacidade critica. Tomamos por base o que muitos filósofos insistem em dizer que o compromisso fundamental do conhecimento é com a construção da cidadania.

O justo é educar oferecendo ao educando no caso os alunos da EJA, condições de conquistar pensamento autônomo. Sendo uma pessoa que sabe ter argumentos bem fundamentados,, no meio desta geração que anseia por respostas para suas indagações, a partir destes colóquios, buscamos despertar o pensamento autônomo nos sujeitos, ajudá-los a pensar, pensarmos juntos, refletir sobre as respostas alienadoras, não pensar como os "outros" querem, o objetivo é pensar filosoficamente. Abrir a mente para o pensamento ou reflexão filosófica, a partir daí o pensamento conhecerá suas razões, poderá assim rir de si mesmo, aberto a se corrigir e buscar ele próprio sua cidadania. Terá mais liberdade interior ajudará inclusive na vida cotidiana do sujeito, esse é nosso desejo.

O Projeto Pensar Pensando a Vida, assim sendo alcançará seu objetivo, ser um projeto que não ficou apenas na sala de aula, foi além dos muros que cercam a escola, foi formação para a vida, este também é o papel da filosofia. Além de ajudar na reflexão filosófica, ajuda aos alunos da EJA a serem humanamente mais abertos, um ser humano buscador de compreensão, onde o melhor não é o que se apresenta como sendo verdadeiro, como certo, mas sim o que se pode descobrir, questionar.

Com o pensamento filosófico se abre novas fronteiras, ampliando a visão de mundo, se consegue maturidade para refletir melhor. A melhor forma de levá-los a reflexão filosófica é partindo da realidade, tanto é que os temas dos colóquios são os alunos que escolhem. Desse modo, vamos juntos construindo saídas para o problema dado e saída concreta, com a participação dos alunos de forma dinâmica e expressiva.

O Projeto Pensar Pensando a Vida é lugar da participação verbal onde eles, alunos da EJA, podem questionar sem medo. Lugar onde oferecemos, por meio do projeto, critérios filosóficos para o aluno julgar a realidade por meio da prática do questionamento, já que vivemos na era da informação que não nos dá muita oportunidade de refletirmos sobre os acontecimentos. Daí se enche a mente com informações e nos perguntamos: Para onde vamos com tanta informação? Para que serve? São homens e mulheres que necessitam dar uma pausa no corre-corre do dia a dia e se perguntar: onde estou eu neste universo de coisas? O que restou de mim? O que posso eu fazer para mudar para melhor a realidade em que estou?

Não se tem resposta para tudo. Mesmo se encontrássemos todas as respostas não sabemos o que seria da humanidade. Mas queremos encontrar e apontar luzes para uma vida mais feliz. E a filosofia que trabalhamos neste projeto tem a finalidade de ajudar a cada participante, aluno e acadêmico "saber viver" melhor a vida de cada um e poder melhorar a vida do próximo.

Geralmente os alunos que são os sujeitos do projeto, que participam dele, são alunos de 15 anos acima, são pessoas casadas, que não tiveram a oportunidade de estudar quando estavam na época, ou também, como temos no projeto jovens que constituíram família antes do previsto, são sempre pessoas que lutam para conseguirem ao menos concluírem o segundo grau, trabalham em serviços gerais.

Na escola, tem jovens casais, pessoas de mais idades, há pessoas que são jovens mais que passaram do tempo de estudo normal. O projeto concentra seu foco na turma de 2º fase de EJA, que segundo o diagnóstico realizado apresenta o seguinte perfil: faixa etária variando de 17 a 40 anos, 30% são do sexo masculino e 70% do sexo feminino e, desse universo, apenas 30% não trabalham. Dos 70% que trabalham 23% recebem menos de um salário mínimo, 23% recebem até R$ 500,00 e 24% entre R$ 500,00 e 1.000,00.

As temáticas desenvolvidas ao longo dos colóquios são levantadas logo no primeiro encontro. Ou seja, são os próprios alunos quem sugerem os temas .O levantamento de expectativas apontou por ordem de prioridade os seguintes temas: Sexualidade, política, cultura, liberdade, direitos humanos, preconceitos, ética, globalização, meios de comunicação, esporte lazer e estética.

Os encontros continuam sendo quinzenais estabelecidos em calendário e os colóquios filosóficos observam o seguinte procedimento: a apresentação do tema via dinâmica de grupo através de diversas técnicas visando estimular e sondar o conhecimento prévio sobre o assunto; o desenvolvimento, ou seja, a exposição teórica pelo grupo de acadêmicos seguido pelo debate e, finalmente, a integração, isto é, a sistematização do conhecimento adquirido via síntese, relatório e avaliação do colóquio. Estes são sempre preparados antecipadamente, em várias reuniões nas dependências da UCDB, sempre assessorados pela Professora Celeida Maria que é a coordenadora deste projeto desde 2007, antes sob coordenação da Professora Marta Regina.

Ao final de cadasemestre são realizadas reuniões de avaliação com os diversos setores/grupos envolvidos no projeto. Os depoimentos de alunos, professores, coordenação e direção da escola são sempre positivos evidenciando o caráter contribuitivo do trabalho. A coordenação e membros integrantes do projeto também reúnem-se semanalmente para planejamento e avaliação, visando uma reflexão sobre o desenvolvimento do trabalho buscando identificar as possíveis falhas e replanejar com vista a qualidade do mesmo.

Objetivos

O projeto tem como objetivo primeiro instrumentalizar os discentes da 2ª fase da EJA da E.E. Demósthenes Martins para o debate como instância de exercício da cidadania. Ajudá-los dentro do processo educacional a continuar a sua formação na construção de um pensamento mais critico na realidade em que estão inseridos. Por meio do pensamento filosófico buscamos contribuir para que se tornem amantes da reflexão, saíam de seu mundo e se abram ao novo.

Também temos por objetivo fomentar nos discentes o interesse pela Filosofia por meio do conhecimento dos pensadores que marcaram a história da humanidade colaborando para que haja mudança na forma de ver a filosofia. Que os sujeitos envolvidos no projeto possam desconstruir a Filosofia vista como um emaranhado de conceitos, e possam construir uma nova visão da disciplina que seja interligada com o a realidade do contexto atual. A partir de si mesmos, começar ou continuar no seu processo de Aufklãrung (sair da menoridade), ou seja, pensar por si mesmo e não deixar que outros pensem.

Para os acadêmicos inscritos no projeto é a oportunidade de vivenciar a realidade escolar pública, na qual muitos de nós estudamos e iremos exercer a função de educadores. É de certa forma na escola pública onde se há uma maior carência e defasagem na educação, muitas vezes precisando ser reforçada para um maior aproveitamento. Neste contato, os acadêmicos participantes tomam contato, agora com uma nova visão, não mais como alunos, mas sendo educadores e exercitando, pondo em prática o que se aprende teoricamente na Academia.

Por fim, temos outro objetivo de propiciar a interação entre a Universidade e a Escola Pública. Ou seja, estreitar estes laços entre a Universidade e a escola, entre a comunidade acadêmica e a comunidade que a circunda. Perceber que a Universidade é um meio para um melhor desenvolvimento da sociedade. Para que isso possa acontecer é necessário que ela (a Universidade) esteja presente por meio de seus agentes, que seja parte integrante e agente de mudança e não mera telespectadora.

Metodologia

O que o projeto visa é sempre o aluno, sujeito alvo e pensante do projeto. Assim, no início do projeto com a turma, é feito um levantamento sócio-político-econômico-cultural de cada aluno. Por meio deste sabe-se quem é o público e a melhor forma de desenvolver os trabalhos. Nestes questionários também os alunos propõem temas que gostariam que fossem trabalhados nos colóquios. Sempre temas ligados a atualidade como política, sexualidade, liberdade, direitos humanos etc.

Depois de feito um levantamento e estudo a respeito do tema a ser desenvolvido com os alunos da escola, é pensado pelo grupo a forma de desenvolvê-lo. A preocupação dos executores do projeto é a de sempre buscar uma metodologia que integre e desperte a atenção. Ou seja, apresentar o tema de forma a atraí-los para uma boa participação, debate e confronto de idéias, pois este é um dos objetivos do projeto.

Já que se falam tanto que a filosofia é uma disciplina chata, enfadonha, cansativa e até se questiona se é necessário tê-la na grade curricular, é preciso que seja apresentada a eles de forma atrativa. Nos colóquios utilizamos várias ferramentas para desenvolver o trabalho como data-show, jornais, revistas, vídeos, filmes, etc. Fazemos uma apresentação oral do filósofo e do tema em discussão.

Tudo é combinado com antecedência e uma vez na semana os acadêmicos do projeto, juntamente com a professora coordenadora, se reúnem para avaliar e planejar todas as atividades a serem desenvolvidas na escola. A partir dos temas já escolhidos pelos próprios alunos da escola é feita toda a programação com os respectivos temas a serem apresentados e discutidos.

Para a execução das atividades planejadas na escola, temos os dois primeiros tempos de aulas. Além da exposição oral do tema os acadêmicos por meio de dinâmicas, músicas, brincadeiras, apresentação cultural, vídeos, etc, incrementam o assunto exposto, dinamizando e abrindo para a exposição dos alunos que dialogam, questionam e partilham experiências.

O trabalho em grupo é um importante instrumento utilizado para a socialização entre os participantes. A interação e a dedicação na confecção de painéis, e na elaboração dos textos propostos mostram a aceitação do projeto pelo público alvo.

O colóquio é sempre encerrado com uma confraternização entre acadêmicos e alunos, regado a refrigerante ou suco, além de biscoitos e bolos. Esta é uma forma de além de entrosamento acadêmico e aluno, aproveitarmos muitas vezes para continuar a reflexão, de forma mais personalizada, interrompida pelo término do horário.

Nos encontros de preparação dos colóquios avaliamos o andamento dos mesmos. É avaliada a participação dos acadêmicos inscritos no projeto, o tema, a forma como foi trabalhado. Nas avaliações, é que se percebem os acertos e os erros a serem corrigidos a fim de atingir os objetivos propostos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Projeto Pensar Pensando a Vida, deseja ser um meio de formar seres humanos para uma realidade que está aí. Mas podemos dizer que todos os participantes do projeto (acadêmicos, alunos e escola) gostam dos colóquios desde o inicio, e vão gostando ainda mais depois que percebem que é uma aula diferente, forma própria do projeto. Então aí sim o projeto assume o seu papel, sendo formador de opinião. A pergunta filosofia comporta um certo posicionamento perante o mundo e perante as possíveis respostas a ela.É justo lembrar que perguntar filosoficamente exige um certo tempo de questionamento interior.

O que o projeto quer é dar a eles a oportunidade de falarem sem medo, de exporem suas opiniões, de saírem de si. Primeiro fato constatado é a abertura que têm alguns, que percebem que "vale a pena falar da vida". Porque o projeto por ser filosófico, trata de assuntos da realidade a luz de pensadores filósofos, e isso para eles é de grande importância.

Quando eles percebem que não é nossa intenção torná-los professores filósofos, essa disciplina deixa de ser mais uma matéria a ser estudada e se torna "pérolas preciosas aos seus olhos", como diz Isaias nos textos da bíblia (Isaias 43, 4). Assim eles vão percebendo o quanto é importante o pensar filosoficamente, e que na realidade, não podemos aceitar verdade dos outros como última palavra, nossa voz precisa ser ouvida, precisa ser respeitada. No dizer de Espinosa,

o intelecto com sua força nativa faz para si instrumentos intelectuais e por meio deles adquire outros forças para outras obras intelectuais, graças as quais fabrica outros instrumentos ou poder de continuar investigando e assim prosseguindo gradualmente até atingir o cume da sabedoria! (ESPINOSA, 1989, p.49).

Fiz questão de citar essa fala de Espinosa porque, aí a filosofia é identificada com a razão instrumental descrita de forma muito objetiva, para ser uma forma de nos clarear nesta reflexão. Para que o projeto Pensar Pensando a Vida atinja seu objetivo e assim é feito ele sempre quis no dizer de Kant, "ensinar a filosofar", não se ensinar filosofia, a filosofia já está ensinada, agora por meio dela se abre novos pensamentos filosóficos, se descobre novos horizontes, possibilidades são abertas.Creio que no pensamento filosófico e especialmente neste projeto, nunca colocamos um ponto final, às vezes uma vírgula, que segue logo de outro questionamento, porque dúvidas são dúvidas, questionamentos são questionamentos. Pode ser que para uma pessoa está claro, porém para outro não é bem assim. E esse é o objetivo do projeto, fazê-los pensar filosoficamente, um projeto que em si não trás nada pronto, mas que se constrói junto.

A alegria maior é ouvir da parte dos alunos desejo de saber, desejo de que a realidade possa mudar. No dizer de Larrosa:

a prática de filosofar comporta riscos, não promete tesouros certos no final do caminho. Ela é uma forma de abrir o pensar a si mesmo e ao novo, abrir o pensar ao novo no pensar e a pensar de novo. Uma experiência de pensamento, é em contraposição a um experimento, uma vivência única finita, intersubjetiva, intransferível e irrepetível. (LARROSA, 1996, p. 23s) .

O querer saber, o querer esclarecer é próprio do ser humano, somos levados pela situação da realidade mundial, a nos questionarmos e questionar os outros, e quando pensamos que estava tudo certo, resolvido ou pelo menos respondido vamos descobrindo novos rumos, novos questionamentos, ou melhor, não é que do jeito que pensamos estava errado, mas existe um jeito melhor de responder, uma forma diferente de confrontação. Mas para que isso realmente aconteça tem que existir um desejo, uma vontade de descobrir o que parece ser de um jeito, e na verdade é de outra forma, mas é também muito mais.

Na nossa vida é assim, no Projeto é assim, nas culturas é assim. Nas religiões é assim, na política é assim, etc. Não se conclui totalmente um pensamento, se ajuda a pensar de forma ampla, se ajuda a alargar os horizontes. E quando talvez alguém chegar a pensar que seu pensamento agora está pronto, se percebe perdido em um mundo de descobertas constantes, de mudanças diárias, as verdades que talvez tenhamos, são questionamentos, e o que tenhamos como resolvidos ou solucionados são "colocados em xeque", surgem novas atitudes, novas perspectivas são apresentadas.

A toda hora rola uma história, que é preciso estar atento, a todo instante rola um movimento que muda o rumo dos ventos, quem sabe remar não estranha, vem chegando a luz de um novo dia, o jeito é criar outro samba, sem rasgar a velha fantasia [...] (Paulinho da Viola)

Existe uma nova realidade, em tempos de pós-modernidade, onde a máquina de escrever é substituída pelo computador, onde o disquete é substituído pelo pen drive e muito mais. E com o pensamento muito mais rápido, pois o cérebro não pára de pensar, de querer respostas novas ou pelo menos mais argumentadas, onde sua fala se não bem articulada, pode ser causa de ridicularizarão.

Toda experiência deseja ser tão bem aceita que se transforme em vivência na caminhada de cada um de seus membros. O "Projeto Pensar Pensando a Vida", deseja ser e crer está sendo na vida dos alunos do EJA sujeitos deste projeto, um esforço pelo menos em direção à construção de uma sociedade pluralista, tolerante e democrática. É fato que os sujeitos participantes do projeto não aprimoram apenas a argumentação mas exercitam a discussão, realizando assim um intercâmbio de idéias e conhecimentos. Segundo as palavras de Jean Piaget toda conduta humana é social e individual, ele diz assim:

...uma reflexão é apenas uma deliberação interior, isto é, uma discussão que se tem consigo mesmo, do modo como se agiria com interlocutores ou opositores reais e exteriores. Pode-se então, por um lado, dizer que a reflexão é uma conduta social de discussão interiorizada (...) de acordo com a lei geral, segundo a qual se acabam por aplicar a si próprio as condutas adquiridas em função de outros, ou, por outro lado, que a discussão socializada é apenas uma reflexão exteriorizada ( PIAGET, 1969, p. 44).

Será sempre a intenção do Projeto Pensar Pensando a Vida, estimularnos sujeitos envolvidos, a reflexão e discussão e que possa essa participação ajudá-los a superar egocentrismo infantil, justamente porque a reflexão que lá fazemos, supõe a disponibilidade de trazer o outro para dentro de discussão. Ajudar o jovem e o adulto participante a refletir de forma mais crítica exige de nossa parte um esforço necessário. Educar, ou pelo menos tentar educar, para a reflexão pluralista, baseada na formação da identidade autônoma e crítica, ao mesmo tempo, na capacidade de admitir e aceitar as diferenças não é tarefa fácil, porém no mundo em que estamos se faz cada vez mais necessário.

No dizer de Paulo Freire "a filosofia está a serviço de uma crítica, tolerante, responsável e pluralista." (FREIRE, 1996, p.20). É levar o aluno do EJA ao exercício do diálogo, de aceitação do olhar divergente, hoje em dia muitas vezes camuflado e escondido, ou diria manipulado, onde muitos pensam e agem com alguns querer, onde o poder de argumentação se camufla, na vontade daqueles que estão com a palavra. O Projeto Pensar Pensando a Vida tem o desejo, sem dúvida alguma, de fazê-los por meio de uma reflexão filosófica, com base nos grandes nomes da filosofia, pois no dizer de Bernardo de Chartres; " somos anões nos ombros de gigantes...", aceitar e acreditar na construção de autônomas de valores que se encontram subjacentes às condutas pessoais.

A experiência filosófica que se faz no projeto, leva a reconhecer queos alunos trazem também consigo experiências, ainda que fragmentadas e difusas. Então se percebe a necessidade de iniciar com eles o processo de crítica deste conhecimento, sem perder de vista que o projeto é um colóquio filosófico, com as exigências de rigor e disciplinas intelectuais.

Filosofia é uma forma de posicionar-se perante o mundo e a mídia que nos enche de informações. Este posicionamento crítico se faz necessário em todos os campos da sociedade, porque em todos eles somos bombardeados com todos os tipos de comentários, textos, idéias, etc. Quer a filosofia, através do projeto Pensar Pensando a Vida ser um instrumento, um meio para levar aqueles que o projeto assiste a se posicionar criticamente perante tais argumentos e não deixá-los ser depósitos de informações distorcidas. Pode ser esta iniciativa uma gota d´agua no oceano imenso que é a sociedade, mas o oceano é feito de pequenas partículas e estas fazem toda a diferença.

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. MEC. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. (Lei Nº 9.394/96, no artigo 35 em seu inciso III). Disponível em http://www.portal.mec.gov.bracessado em 18/09/09

ESPINOSA, B. Tratado da reforma do entendimento. São Paulo: Ed. Nova Cultura, 1989.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de janeiro: Paz e Terra. Ed. 29. São Paulo, 1996.

LARROSA, Jorge. "Tecnologias do eu e educação". In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.). O sujeito da educação: estudos foucaultianos. Petrópolis:Vozes, 1994.

MONTAIGNE, M. Ensaios. São Paulo: Abril Cultural, 1984. (OsPensadores).

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro:Forense, 1969.




Autor: Fábio César Pereira


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